Merat, três meses depois...

A luz do sol trás um novo dia a Merat e, os raios de luz de uma manhã de primavera atravessam os véus negros dos dosséis da cama de Lícia, fazendo com que a ruiva acorde. Seus olhos amendoados se abrem lentamente, e ela, ainda deitada, se espreguiça, para então se sentar na cama.

Apesar de ter dormido a noite inteira, ainda está com sono e, estranha isso, pois normalmente ela costuma dormir pouco e não sentir sono, mas, ultimamente, por mais que ela durma, parece que ainda não é capaz de matar todo o sono que a consome.

Volta a se espreguiçar para, em seguida, se levantar. Caminha pelo grande quarto até onde uma bacia com água quente fora colocada para ela lavar o rosto e, ela o faz imediatamente. Após lavar o rosto, o seca com uma toalha e, vai direto para o quarto de vestir, onde escolhe uma mini blusa negra e um short, também preto. Tira a camisola a fim de colocar a mini blusa, mas, no momento em que vai coloca-la, percebe que ela está apertada e simplesmente não entra.

Estranha, pois não percebera que engordara, pois seus braços e suas pernas continuam magros como sempre foram.

Caminha até um grande espelho que está no final do corredor do quarto de dormir, e, se olha, percebendo os seus seios inchados e, ligeiramente maiores, além disso, tem a impressão de que se sua barriga está um pouco maior.

Tenta colocar o short que está em suas mãos, mas, percebe que ele não fecha, o que serve para confirmar o que ela vira no espelho: a sua barriga está realmente maior! Estranha, pois onde foi que engordara que não percebera? Realmente, de uns tempos para cá vem comendo um pouco mais do que seu habitual, mas, mesmo assim, acha que isso não é motivo para ela ter engordado.

Percebendo que não vai ter como mesmo vestir o que quer, Lícia acaba por escolher um vestido, também preto e até a altura de seus joelhos, com um decote revelado, e que antes era um pouco folgado, mas que agora ela acha que vai lhe servir perfeitamente bem. E suas suspeitas se mostram mais do que certas, pois ao colocar o vestido, percebe que ele lhe cai bem e que não está mais folgado na altura de sua cintura, muito pelo contrário, está justo.

Ao notar o seu reflexo no espelho, percebe que precisa começar uma dieta o quanto antes, pois não quer engordar mais! Penteia os seus longos cachos vermelhos e em seguida deixa os seus aposentos, a fim de ir tomar um café da manhã para em seguida ir ter com o Mago das Trevas, que está lhe esperando.

Três meses se passaram dede as últimas derrotas que tiveram, pois, apesar de terem conseguido matar alguns daqueles maguinhos que lutam pela justiça, não conseguiram as relíquias. Duas delas já foram encontradas e estão nas mãos dos inimigos, o que significa que estão perdendo a busca pela Pedra Suprema, o Coração dos Quatro Elementos e, por isso mesmo que seu Soberano anda tão irritado.

Mas, sabe que ele tem um plano para mudar toda esta situação e, é por isso mesmo que ele a mandou chamar para esta reunião, pois darão um passo importante, se não o último passo, que os levará a Pedra Suprema e, consequentemente, a vitória, pois finalmente, depois de tantos anos, verá o Mago das Trevas conquistar verdadeiramente o mundo em que vive, e, este é o momento pelo qual ela esperou desde que se entende por gente!

Sem perder tempo, Lícia deixa os seus aposentos e, começa a caminhar pelos corredores do castelo, até chegar a cozinha, a fim de tomar o seu café da manhã.

Ao chegar à sala de janta, encontra a mesa posta pronta para ela, e, não perde tempo em se sentar e se servir com alguns pães e um copo de leite. Toma o café da manhã normalmente, mas, quando se levanta, sente uma tontura, seguida por um forte enjoo e, segue para a latrina mais próxima, colocando todo o seu café da manhã para fora.

Após vomitar todo o café da manhã, a Mensageira da Morte se sente um pouco melhor, estranhando ter se sentido mal, pois ela tem uma saúde de ferro!

Mas, ela não pode pensar nisso agora, pois está mais do que atrasada para se encontrar com o Mago das Trevas e, sabe como o homem odeia atrasos, por isso, ela caminha o mais rápido que as suas pernas permitem, até que chega aos aposentos privativos de seu soberano, e, encontrando a porta aberta, ela adentra o aposento com passos apressados, se sentando em uma cadeira em frente a poltrona em que o Mago das Trevas está sentado.

― Está atrasada, Lícia. – a voz do Mago das Trevas se faz ouvir.

― Perdoe-me, Meu Soberano. – fala Lícia, com a voz carregada de respeito – Prometo que isso não vai mais acontecer.

― Assim espero. – o Mago das Trevas volta a falar – Pois, como bem sabe, eu não tenho tempo a perder.

― Estou aqui para ouvi-lo, Meu Soberano.

― Como você bem sabe, duas das relíquias já foram encontradas e, estão sob o poder de nossos inimigos.

― Sim.

― Acontece que, ao longo destes três meses eu andei pensando e, um plano veio se formando em minha mente, agora ele está completo.

― E pode me contar qual é este plano, Meu Soberano?

― Certamente, Lícia, até porque você, como meu braço direito, terá uma participação fundamental nele.

― Estou ouvindo, Meu Soberano.

― Deixarei que meus inimigos encontrem as duas relíquias restantes, para, em seguida, ataca-los com força total e roubar, de uma só vez, as quatro relíquias deles.

― E não acha que eles vão desconfiar se pararmos de atacar?

― E quem disse que nós vamos parar de atacar? Porém, secretamente, o nosso foco não serão as relíquias e sim matar o maior número deles possíveis! E, quando o momento chegar, eu terei as Relíquias, que me levarão ao Coração dos Quatro Elementos!

*****

Caio caminha pelos corredores do castelo que ao longo de três meses ele aprendera a conhecer tão bem com uma bandeja em suas mãos, rumo ao mesmo trajeto que vem fazendo nos últimos três meses, a fim de alimentar a bela prisioneira do Mago das Trevas.

Ao longo deste tempo, conseguira exatamente o que se propôs, a confiança do Mago das Trevas, tendo acesso a prisioneira dele. Mas, ainda não encontrou uma forma de salvá-la, até porque, ao longo destes três meses, não conseguiu sair do castelo em nenhum momento, a fim de tentar ver seus amigos e dizer como está indo a missão.

Pensa que, assim que tiver uma oportunidade, é isso mesmo que ele vai fazer, pois, precisa contar que já tem livre acesso até a jovem, e, com isso, só precisam da oportunidade certa para resgatá-la.

Com este pensamento em mente, Caio começa a descer pelas grandes escadarias circulares, que dão acesso as masmorras, um caminho que faz sentindo o seu coração batendo de ansiedade, só para ver mais uma vez a moça chamada Tita, prisioneira do Mago das Trevas.

E, a razão para o seu coração estar acelerado deste jeito é porque, sem que ele ao menos se desse conta, foi se apaixonando pela jovem, de tal forma que, quando se deu conta, já não era mais capaz de bloquear este sentimento que tomou conta de seu coração.

Inicialmente, pensara que era apenas pena, mas, pouco a pouco, foi percebendo que estes sentimentos são bem diferentes de pena, e que já não é capaz de viver sem ela.

No começo, demorara para ganhar a confiança dela e, ela não queria acreditar que ele fora mandado pela senhorita Cat para ajudá-la, mas, pouco a pouco, ele foi ganhando esta confiança e agora, para a sua sorte, Tita confia inteiramente nele.

Chega a porta da cela da masmorra em que a jovem está encarcerada e coloca a bandeja no chão, a fim de pegar a chave do grande cadeado e abri-lo. Em seguida, volta a pegar a bandeja e adentra a cela, fechando a porta atrás de si.

O cheiro do lugar é insuportável, e, pensa como ela consegue aguentar, neste lugar tão terrível.

Tita encara Caio com seus inocentes olhos azuis carregados de tristeza, mas, mesmo assim, ela se esforça e sorri para ele.

― Que bom que você veio, Caio. – a voz de Tita se faz ouvir.

― E você achou mesmo que eu não viria? – pergunta Caio, com um sorriso em seu rosto.

― Eu não sei... – responde Tita, levando uma de suas mãos aos seus olhos, a fim de secar uma lágrima antes que venha a derramá-la – A verdade é que tenho medo...!

― Tem medo de que o Mago das Trevas volta a lhe machucar?

― Não. Na verdade, não me importo mais comigo mesma. Não me importo com o que o Mago das Trevas venha a fazer comigo e, se ele quiser me matar, tano melhor. Mas, tenho medo do que ele possa fazer por você, pois, não quero que você passe pelas mesmas coisas que eu passo...! Não quero que você sofra por tentar me ajudar...!

Ao ouvir as palavras de Tita, Caio sente o seu coração se enternecer e, o amor que sente por esta jovem aumentar ainda mais, pois, apesar de todo o sofrimento dela, e, ele é testemunha vida deste sofrimento, pois ao longo destes três meses ele vem assistindo o Mago das Trevas tortura-la de todas as formas possíveis, tendo de usar todo o seu auto controle para se manter impassível, ainda assim ela se preocupa mais com ele do que com ela mesma.

E, é este coração de ouro, tão cheio de bondade e ternura é que o fez se apaixonar por ela. É claro que a beleza dela lhe chamou atenção logo de cara, pois, mesmo maltratada do jeito que está, ela continua a ser linda, mas, este coração de ouro é que o conquistou por completo, e agora ele não consegue imaginar uma vida sem que ela esteja do seu lado.

― Não deveria se preocupar comigo, Tita! – a voz de Caio se faz ouvir – Eu vou ficar bem, o Mago das Trevas jamais irá descobrir a verdade e eu vou conseguir encontrar uma forma de te tirar daqui...!

― Eu agradeço a sua preocupação, Caio. Mas, eu não tenho mais qualquer esperança, e, não é porque eu não confie em você, mas é porque conheço o Mago das Trevas melhor do que você e, por isso mesmo, é que eu não quero que você morra nas mãos dele.

― E quem disse que eu vou morrer nas mãos dele?

― É isso que vai acontecer se ele descobrir sobre você.

― Mas ele não vai descobrir, você precisa aprender a confiar em mim, e, não se preocupe! Não sei quanto tempo vai levar, mas, eu a tirarei daqui, ou pelo menos vou ajudar, afinal é para isso que estou aqui, me fingindo de Mensageiro da Morte para o Mago das Trevas e, como três meses já se passaram e ele ainda não descobriu, pode-se dizer que eu estou me saindo bem, não é mesmo?

Ao ouvir as palavras de Caio, um sorriso tímido surge no rosto sofrido de Tita e, este sorriso já é mais do que suficiente para fazer com que o coração de Caio comece a bater em disparada em seu peito.

― Eu confio em você.

― Ótimo! Agora tente se alimentar para se fortalecer. Eu preciso ir, mas, já sabe, assim que possível eu voltarei. Enquanto isso, por favor, seja forte, como você vem sendo até aqui, pois eu sei que você consegue!

― Não se preocupe comigo, Caio. Agora vá, pois eu não quero que o Mago das Trevas comece a desconfiar de você.

― Já sabe, eu vou, mas assim que possível voltarei.

Caio então coloca a bandeja de comida ao lado de Tita, para então, com o seu coração na mão, deixar a cela da jovem, com o seu coração na mão.

*****

O Mago das Trevas caminha pelos seus aposentos, com um sorriso que é pura maldade em seu rosto. Após dizer a Lícia o seu plano e dar a ela todas as instruções para que possa colocá-lo em prática, percebe, que finalmente o jogo está virando para o seu lado.

Os seus inimigos podem ter duas das relíquias, mas em por isso ele está em vantagem, muito pelo contrário, fará com que os idiotas consigam para ele as duas relíquias restantes, para então tomar os quatro de uma vez e, nada do eles façam irá poder impedi-los.

Muito pelo contrário, tudo o que os idiotas fizerem contra ele, só irá aproximá-los mais e mais da morte e, é isso mesmo que ele quer que eles façam, que cavem a própria sepultura, para a qual ele irá mandar pessoalmente, cada um deles!

Desde o começo, os idiotas deveriam saber que é impossível lutar contra ele e que o destino de todos aqueles que tentam é o mesmo: uma morte lenta e dolorosa, com muitas torturas pelo caminho!

E, tem aqueles que ele quer fazer sofrer mais do que os outros, como por exemplo aquela idiota que se diz sucessora do Mago Guardião da Casa do Fogo!

Quando todos eles estiverem mortos e, só então é que ele matará aquela sucessorazinha, mas antes, fará com que ela conheça o inferno em vida, por ter tido a ousadia de juntar aqueles vários magos a fim de enfrenta-lo, na pior escolha que ela poderia ter feito na vida, pois, ela não condenou apenas a ela mesma, mas também a todos que estão juntos com ela e que ousam se colocar em seu caminho!

Só de pensar nisso, um sorriso de pura maldade estampa os seus lábios, pois ele sabe que está cada vez mais próximo de conseguir tudo aquilo que sempre desejou: ser o único dominante de Merat!

Há três meses, tirara a maior ameaça para seus planos de seu caminho e, agora, tudo o que precisa é continuar com a estratégia que planejou e, para isso, basta que Lícia continue executando todas as suas ordens e, em breve, tudo estará terminado.

Pensar em Lícia faz com que se lembre da conversa que tivera mais cedo com ela e, em como ela parecia ligeiramente diferente. Aliás, nos últimos tempos ela vem estando diferente, só que somente agora, com seu plano mais do que formulado, é que ele efetivamente notou!

Nos últimos tempos, vem notando a sua mais antiga Mensageira da Morte agindo de forma demasiado estranha, chegando atrasada a reuniões, comendo pouco no café da manhã e, principalmente, reparou hoje, os seios dela visivelmente maiores.

Uma teoria começa a se formar em sua mente e, se comprovada, terá de agir e fazer com que a Mensageira da Morte confesse onde foi que ela arranjou isto, e, mais importante, até quando ela pretendia esconder isso dele!

*****

Lícia volta a seus aposentos particulares, pois não está se sentindo nada bem. A ruiva sente-se cada vez mais enjoada e estranha isso, pois ela sempre teve uma saúde de ferro. Corre em direção até onde está a latrina e, começa a colocar para fora todo o café da manhã que ela tomou.

Após vomitar, a Mensageira da Morte lava a boca várias e várias vezes, até tirar todo o gosto de vômito de sua boca, para então voltar ao quarto principal e, sentindo-se mal, se deitar na cama.

Não entende o que está acontecendo, pois nunca antes em sua vida se sentira assim, aliás, ela sempre teve uma saúde de ferro!

Espera sinceramente que este mal estar passe logo, pois simplesmente detesta se sentir assim. Desde que se entende por gente raramente fica doente, e, por isso mesmo é que está estranhando estes enjoos que ela vem sentido ultimamente.

Mas, não pode pensar muito nisso, pois tem muito trabalho para fazer, isso se ela quer mesmo levar os planos de Seu Soberano adiante. E, ela tem te leva-los, pois eles estão mais perto da vitória, como nunca antes estiveram.

Sem perder tempo e, sentindo-se um pouco melhor, Lícia deixa os seus aposentos, para em seguida deixar o castelo, pois tem um trabalho a fazer.

Começa a caminhar pelo reino do vento, quando, novamente, é tomada por este estranho enjoo. Sabe que está perto de uma cabana, onde vive uma senhora curandeira e, resolve ir até lá, pois sabe que a mulher é uma ótima curandeira, uma das melhores de Merat e, certamente irá receitar a ela alguma erva que a faça se sentir melhor, com relação a este estranho enjoo que ela vem sentindo.

Sem perder tempo, Lícia muda a sua rota, adentrando a floresta e se embrenhando cada vez mais na mata, a fim de encontrar logo a casa da tal curandeira. Não demora muito e, ela encontra a casa que procura, bem humilde e, com uma aparência mais do que decadente.

Sem perder tempo, a Mensageira da Morte adentra a casa e, encontra velha senhora, com todos os seus fios de cabelos brancos a trajando uma túnica negra.

― Em que posso ajuda-la, Mensageira da Morte? – pergunta a velha mulher.

― Como sabes que sou uma Mensageira da Morte? – questiona Lícia.

― É mais famosa do que pensa, Lícia. E, se veio me matar, é melhor que o faça logo.

― Não tens medo da morte?

― Como podes ver, eu sou uma senhora idosa, há muito não temo a morte. Se é o que você quer saber. Portanto, se veio me matar, faça-o, apesar de esperar pela morte, não desejo ser torturada, quero uma morte rápida.

― Não vou matá-la hoje, vim por outra coisa.

― E o que seria?

― Eu ando doente, e, preciso de um remédio.

Ao ouvir as palavras da Mensageira da Morte, a velha mulher arqueia uma sobrancelha, intrigada.

― O que você vem sentido?

― Enjoo. – responde Lícia – Há vários dias – E o mais engraçado é que, apesar de estar vomitando sempre, notei que engordei um pouco, e meus seios estão inchados.

― Deite-se naquela cama. – ordena a velha mulher – Precisarei examiná-la.

Lícia faz o que lhe é pedido e, se deita na cama, para ser examinada pela velha curandeira. A mulher encara a jovem e bela Mensageira da Morte, e, começa a examiná-la, primeiro a região de seu ventre e, em seguida, os seios.

Após fazer isso, faz sinal para que Lícia se levante.

― Vai me dar um remédio a fim de curar-me? – questiona a Mensageira da Morte.

― Não será necessário. – responde à velha.

― E por que não?

― Porque não é uma doença que a faz se sentir enjoada, e sim o filho que está em seu ventre!