Heat-Haze Days escrita por Bacon


Capítulo 10
O último dos últimos


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta pra vocês, meus queridos e queridas ♥
(Credo, tô parecendo uma daqueles garotas convencidas, SAI DE MIM e.e)

Enfim~
Muitíssimo obrigada à Neko Mimi que favoritou a fiiiiiic~ ♥ ♥
E desculpas pela demora, eu tinha dito que sairia sexta passada, mas acabou não dando >.<'
Culpem as provas, pois é u_u

Sem mais enrolação, vamos ao primeiro capítulo da nossa (nem tão) amada e curta Parte II, com algumas, uh, revelações e mais confusões >:3

Boa leitura! ♥



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Os relógios tiquetaqueavam incansavelmente, com aqueles sons fantasmas que já não deveriam ecoar. Os dois restantes estavam ali, parados à minha frente, encarando-me, como dois cruéis olhos frios. Um vento gelado, extremamente frio, percorreu a sala e o relógio direito se desprendeu da parede, flutuando brevemente até o chão. Caiu, espatifando-se em milhões de pedacinhos. Não era assim que geralmente acontecia.

Algo em meu coração me dizia que aquele dia não seria igual aos outros.

Acordei com minha gata branca que, como sempre, pulou em meu colo e miou, pedindo carinho. Sem tempo para saciá-la ou dar-lhe o mínimo de atenção que merecia, saltei da cama. Desde que acordara, meu coração estava disparado, de modo a fazer meu peito doer. Eu não sabia o que era aquilo, nunca acontecera antes. Mas doía de um modo tão intenso que deixou-me um pouco tonta. Parei na cozinha, vazia, e me apoiei na bancada da pia. Minha visão estava começando a ficar turva, então tive de parar para respirar. Peguei um copo de vidro e enchi-o de água gelada. Bebi. Não foi de muita ajuda, porém era melhor do que nada.

Rápido, rápido!, gritei mentalmente para mim mesma. O tempo está passando, corra!, e, assim, saí correndo em disparada para o parquinho.

O dia estava diferente.

Lenny não me esperava sentado no balanço enquanto acariciava aquele maldito gato de rua. Estava ajoelhado no chão de cascalhos, com a cabeça envolta por suas mãos, como se houvesse enlouquecido. Respirava fundo pela boca, que estava quase curvada num sorriso. Ele encarava a rua à sua frente sem desviar o olhar por nem um único segundo. Corri até ele e lhe sacudi pelos ombros, desesperada. Meu amigo pareceu recuperar a consciência, porém isso lhe desencadeou uma crise de choro. Ele me abraçou fortemente, tremendo.

– O-O que houve? – gaguejei, terrivelmente assustada.

Ele se afastou de mim, fazendo com que ficássemos cara a cara. Seus olhos estavam tão dilatados que eu mal podia ver suas íris castanhas. Lenny sorria, nervoso, e, quanto mais eu o mirava, mais ele parecia translúcido, como se desaparecesse.

– Você m-me avisou – disse. – Você me avisou e e-eu não acreditei. – Numa tremedeira louca, Lenny abriu um meio sorriso e deitou sua cabeça para um lado, como um robô defeituoso, tendo tiques de quase três em três segundos. Aos poucos adquiria um tom alaranjado. As lágrimas que jorravam descontroladamente de seus olhos começaram a estalar sobre sua pele, como se fervessem. Aos poucos, evaporavam em finas nuvens cor de laranja. – M-Me de-desculp-pe. Eu d-devia ter esc-cutad-do.

Eu não conseguia entender. Lenny mal conseguia falar mais, tão fortes e constantes eram seus tiques. Ele sabe das mortes, pensei. Mas era impossível! Como ele conseguiria saber, sem meios? Ele não deveria se lembrar, nunca se lembrava. O que estava acontecendo?

Meu corpo também já não me respondia, tamanho meu choque. Eu chorava, desesperada, encarando sem palavras meu amigo robotizado, sentindo-me tão impotente, tão inútil. Meu amigo, meu maior amor ali, precisando de minha ajuda, e eu sem nem mesmo saber como me controlar. Era possível ser mais ridículo que aquilo?

– Por q-que est-tá choran-do? – gaguejou ele. – Você g-ganhou! – e gargalhou, sacudindo os ombros para cima e para baixo, me encarando com aqueles olhos que já não eram mais dele, olhos mortos. Um risco de sangue começava a cair do canto de sua boca. Sua imagem começou a tremeluzir e desaparecer, como se fosse um holograma.

– NÃO! – gritei, finalmente retomando o controle de mim mesma e pulando sobre ele, de braços abertos, para agarrá-lo e impedi-lo de desaparecer.

Tarde demais.

Por um único instante, numa imensa onda de calor e lágrimas, Lenny voltou a ser ele mesmo, sorrindo daquele jeito que eu amava, sem sua arrogância habitual, e murmurou quatro palavras. As quatro palavras mais tristes que eu já ouvira, e as mais desejadas de toda a minha vida. Tudo num único momento, que logo desapareceu voando com o vento em uma névoa de calor e pó.

E então tudo mudou.

Eu não estava mais ajoelhada na calçada, encarando o parquinho vazio que começava a acordar com risos de crianças. Meu corpo de repente ficou frio, e as lágrimas que caíam de meus olhos congelavam em minhas bochechas para caírem no chão e se estraçalharem. Eu estava em pé, paralisada, assistindo em câmera lenta a um garoto, de cabelos louros como o sol que cuspia sangue, ter o corpo esmagado por um enorme caminhão vermelho. Seus grandes olhos azuis me fitavam, assustados com o que viam.

Sua expressão suavizou-se, porém. Antes do fim, pude notar aquela mensagem novamente, destruindo meu coração pedaço por pedaço. Embora o medo ainda estivesse presente em seu olhar, havia ali algo mais. Algo que, por toda a minha vida, fosse ela como fosse, eu nunca esqueceria. Porque o amor e o irmão que nunca tive são um só.

“Eu te amo. Adeus.”

Só então eu a notei. Ela estava ali ao meu lado, sorrindo daquele jeito desprezível, divertindo-se com a cena que tinha à sua frente. Como ela conseguia? Quão cruel ela poderia ser a ponto de rir daquele sofrimento?

Mas eu ainda não conseguia entender. Se Lenny morria, Len deveria sobreviver. Se eu sobrevivia, ela deveria morrer. Por que, então, ambos os garotos morreram? Deveria ser ela!, pensei, indignada. Por que era Len que estava sendo atropelado pelo caminhão? Não fazia sentido! As lágrimas continuavam.

E, assim, aquele momento passou, e nada mais eu poderia fazer – como se já fizesse antes. O louro caiu no asfalto, enquanto o caminhão fugia, numa velocidade maior do que antes. Ela soltou um suspiro cansado.

– Finalmente acabamos com isso. Vamos embora.

***

– O que você fez?! – gritei, tentando empurrar a outra eu, falhando, é claro. Caí no chão gelado da sala, com as mãos na frente de meu corpo para não me machucar. A Fria, como eu a chamava, já que recusava a chamá-la pelo meu nome, apenas riu da minha cara.

Estávamos em nossos estados “normais” novamente, eu com minha pele alva e cabelos castanhos e ela, bem... azulada e translúcida, com aqueles grandes olhos tão azuis e frios como gelo.

– Eu? Não fiz nada, querida – sorriu. – Foi só aquele idiota que se jogou na frente do caminhão. – revirou os olhos.

– Ele estava tentando te salvar, e você estava rindo. Rindo! Por quê?!

Por quê?! – gritou de volta. A temperatura pareceu baixar dez graus e Fria pareceu irradiar uma espécie de luz, poder. Dei um passo para trás. – Ele nunca tentou me salvar de verdade! Nunca! Apenas assistia e nem sequer mexia aquele corpo idiota! Você já foi atacada por uma matilha de cães, Rin? Foi? Não. Você não sabe como é, não sabe... Ele não fez nada, Rin! Ele apenas ficou observando enquanto eu morria. Só bem depois que tentou se mexer, mas era óbvio que não ia conseguir fazer nada. Nós passamos o melhor dia da minha vida... Eu realmente, realmente pensei que fossemos amigos. Nada como uma menininha iludida, não é mesmo? Ah, e aquele dia do prédio em construção? – soltou uma risadinha sarcástica. – Ah, foi maravilhoso. Eu nem tinha percebido a brincadeira ainda. Foi tão divertido! Ao morrer, quando lembrei-me de tudo, até mesmo ri. – E mirou seus olhos em mim, cruzando os braços. Parecia avaliar-me até a alma. – Você não conhece a dor, o sofrimento. Todos nós deveríamos estar mortos. Todos nós! Seria muito mais fácil, não seria? Ninguém para salvar, ninguém a morrer. Tão, tão simples.

– Não, não, não... – murmurava eu a cada palavra dela. Ela estava errada, completamente errada. – Isso... Isso é loucura. Ele sempre tentou salvá-la, nem por um único instante pensou em outra coisa. Ele é uma pessoa boa. Ele... Ele se sacrificou para poder salvá-la!

– Que então o fizesse antes do último relógio! Len é um covarde, você não entende? Ele sabia que o dia iria passar, morreu por egoísmo, por não aguentar mais a decepção de ser um inútil que não sabe nem mesmo salvar a princesinha em perigo. Ele sabia que...

Ele não sabia! Len não sabia de nada, apenas você. Você percebeu a lógica, não ele.

– Pois é um idiota!

– Pois não é um gênio como você. – cortei-a, rispidamente.

Ela recuou, arregalando os olhos em minha direção. Abri a ferida.

Fria era um gênio, afinal de contas. Sempre com as notas mais altas da escola, sem errar uma mísera questão em qualquer um dos testes, sempre com todas as respostas às perguntas. Ela sabia de tudo, decifrava todos os mistérios. Por mais que eu me recusasse a admitir, era algo evidente. Fria era dotada de uma inteligência incrível, além de ser realmente muito bela, com os olhos azuis, os cabelos louros e o corpo esguio. Porém sempre houve pressão demais sobre seus ombros. Ela deveria sempre ser a mais inteligente, a mais centrada, a mais perfeita. Depois de anos tentando ser o que todos esperavam dela, acabou desenvolvendo um pequeno... probleminha. Ela não confiava em ninguém, não amava ninguém. E, quando finalmente necessitava de ajuda e reconhecia isso, nada era capaz de salvá-la. Acabou por tornar-se isto o que era agora, insensível, quase sádica e até mesmo cruel.

Decifrou a brincadeirinha, como chamava o ciclo de mortes, em menos de cinco dias, como se não fosse nada mais que um exercício de matemática de seus livros.

– Como você ousa...

– Dizer a verdade? – tentei soar confiante, autoritária. Tinha que ganhar aquela discussão. – Não vou deixá-la xingar meu melhor amigo, nem meu irm—

– Irmão? Que eu saiba, você é filha única.

Minha cabeça latejou. Um turbilhão de informações invadiu a minha mente. Neve, uma competição, seguida por uma explosão sonora. Minhas têmporas pareceram explodir. Respirei fundo, voltando a mim mesma. Não poderia demonstrar mais fraqueza. Pigarreei.

– Foi simplesmente uma confusão minha, deixe de ser idiota. Mas você sabe que o que eu falei é a mais pura verdade, não tente mudar de assunto. Len não tinha como saber sobre o ciclo, nem sobre o último relógio. Ele simplesmente quis acabar com o seu sofrimento, a partir do dele. Toda essa sua paranoia sobre o mundo odiá-la é pura invenção sua. Você precisa fazer amigos, Fria. Tem que aprender a conviver com este mundo em que vivemos. Ou prefere continuar a morrer sozinha?

– Vadia...

Ela avançou em minha direção... e parou. Ambas sentimos algo mudando no ambiente. Algo havia se modificado, mas eu não consegui identificar o quê exatamente. Até escutarmos a voz.

– Meninas, meninas – ecoou uma voz masculina pela sala, hipnotizando-nos. Havia algo de muito errado com a pessoa que falava. Algo ruim, mau. Um calafrio percorreu minha espinha. – Chega de brigas, afinal, vocês ganharam. Conversemos juntos, sim?

Uma ventania extremamente forte começou, puxando a nós duas para algum lugar desconhecido. Fria, resistindo aos ventos que puxavam-na, lançou-me um último olhar cruel e, com um sorriso tão carregado de malícia quanto, socou a parede.

Assim quebrando o último dos relógios. 


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? 8D

Falando sinceramente, ficou até melhor do que eu pensei. Não tava levando muita fé em narrar como a Rin >.> BUT~ Sempre temos a nossa primeira vez, não é mesma? :3 (não soou bonito, Bacon)
Mas e aí, deixei vocês confusos de novo ou alguém conseguiu perceber alguma coisinha sobre o ~jogo~? *u*

Agora é sério, gente, o próximo capítulo vai explicar TUDINHO, do começo ao fim. Só espero conseguir fazer com que vocês entendam X3

Mereço reviews? Please, please, please~~~ ♥
No último cap veio um monte de gente nova, quero vocês de volta, hein? ù_u
Nem se eu dar um cookie? ;w; -n

well, that's it~
Tenho ido dormir muito cedo esses dias, lol
Espero comments, viu? ;u; ♥

Até o próximo, galera! O>