Rose Weasley.

Lá estava eu, em mais um plantão médico as quatro e meia da tarde. Sinceramente, eu não me lembrava de como esses plantões eram cansativos, mas, a noticia é boa é que Dr. Lewis me colocou em uma ala bem pouco movimentada no hospital, o que me rendia até alguns cochilos em meu minúsculo consultório.

Cansada de ficar ali olhando para os brinquedos e quadros coloridos jogados na minha pequena sala, com intuito de distrair as crianças enquanto eu as examinasse, sai em direção a cantina do hospital, me sentei em uma mesa e pedi um café expresso. A tarde de hoje estava muito monótona, examinei apenas uma criança com catapora, nada mais, em compensação a ala do clinico geral fervia de adultos com as mais variadas doenças.

Fechei os olhos por um instante, ansiando minha cama, quando sentir alguém tocar meu ombro gentilmente.

─ Dra. Weasley? ─ disse a enfermeira.

─ Sim? ─ perguntei me virando.

─ Tem um paciente pra você, está na sala de espera.

─ Ah, obrigada Mary, já estou indo.

Levantei e fui rapidamente em direção a minha sala, e assim que me acomodei pedi para que Mary chamasse meu pequeno paciente.

Alguns momentos depois, um homem acompanhado de um simpático garotinho entrou na sala. Eu estava com o olhar focado em meus relatórios, até que a voz grave do homem disse:

─ Rose?

Mas.. Eu conheço essa voz.

─ Rick? ─ falei, fitando-o com um largo sorriso.

─ Oh, não, aqui você é Dra. Weasley, me desculpe. ─ disse ele, brincando.

Eu apenas girei os olhos enquanto ele se sentava com o garotinho.

─ Então.. ─ comecei ─ não sabia que tinha filhos...

─ Oh não, ele não é meu filho, é meu sobrinho, né não campeão?

─ Ele é meu tio. ─ falou o menino, olhando para mim com os olhos arregalados, como se explicasse algo muito sério e de extrema importância.

Analisando-o agora, se parecia muito com Rick, tanto que dava para dizer que eram pai e filho. O menino tinha cabelos negros e olhos de um verde vivido, como o tio, e um sorriso encantador.

─ Oh, muito bem ─ disse sorrindo para o garoto ─ e como você se chama?

─ Bom.. ─ começou o menino ─ meu nome é Shane, mas eu gosto que me chamem de Steve.

Rick riu, bagunçando os cabelos do garoto.

─ Ainda com essa cisma, Shane?

─ Ah, mas por que Steve? ─ perguntei, franzindo o cenho.

─ Steve de Steve Rogers, como o Capitão América.

─ Ahh, como pude me esquecer? Claro, Capitão América. Você é um super herói.

─ Sim, eu sou. ─ ele disse, orgulhoso.

─ Bom, e o que o super Shane está sentindo de errado?

─ Ah, ele está reclamando muito de dores no estomago sabe?

─ Hummm, venha aqui. ─ falei me levantando enquanto Rick o colocava na maca. Me pus a ouvir seu coração, medi a febre, examinei os olhos ouvidos e garganta. Tudo em ordem.

─ Ele comeu algo diferente nas ultimas 24 horas? ─ perguntei a Rick.

─ Ah.. O pai dele foi viajar e o deixou comigo, então, de manhã, eu lhe comprei um pastel.

─ Um pastel de café-da-manhã Rick? ─ perguntei, com minha melhor expressão de zangada.

─ Ah... ─ disse ele, desconcertado ─ não tinha o que eu dar e.. O garoto gosta de pastel.

─ Ah, bom, tudo bem ─ falei ─ e o que ele almoçou?

─ Tio Rick me deu pizza.

─ Pizza? ─ perguntei, olhando para Rick.

─ Ah, mas você está grávida e também almoçou pizza, na semana passada, quando fui montar os moveis na sua casa. ─ disse ele, com ar vitorioso.

─ Isso... Isso é diferente. ─ falei reprimindo uma risada. ─ Muito bem, e o que comeu agora a tarde?

─ Dei a ele um sanduíche de pasta de amendoim.

─ Bom, até que não é tão ruim..

─ E o que ele tem?

─ Bom, as dores de barriga provavelmente são fruto da má alimentação, então, ele pode vomitar, o que aliviaria as dores, ou pode esperar até que todo alimento saia do seu organismo, o que pode demorar um pouco mais, por que ele aparentemente está demorando a fazer a digestão.

─ Minha rabiga dói tia. ─ falou Shane, olhando para mim com olhinhos tristes e passando a mão pelo estomago.

─ Está tudo ok. ─ falei passando a mão em seus cabelos ─ a tia vai lhe dar um remedinho e a dor vai passar. ─ falei.

Ele desceu da maca e correu para os braços do tio.

Fui até minha mesa e fiz uma receita rápida de um remédio que o ajudaria na digestão do alimento.

─ Só isso? ─ perguntou Rick.

─ Só. ─ falei.

─ Bom, então... Até mais, Dra. Weasley.

─ Até mais.

Ele já estava saindo, quando voltou e disse:

─ Daqui dois dias é páscoa, porque não almoça comigo e com Shane?

─ STEVE. ─ disse o menino.

Ele girou os olhos e corrigiu:

─ Por que não almoça comigo e com Steve?

Oh meu Deus, eu havia esquecido completamente da Páscoa, e com um aperto lembrei-me que, se não fosse pelo convite de Rick, certamente passaria sozinha.

─ Eu ia adorar. ─ falei.

Então ele voltou a minha mesa, pegou meu celular que estava sobre ela, e ligou para o próprio celular, deixando meu numero gravado ali.

─ Eu te ligo.

Então ele saiu do consultório, enquanto o garotinho sorridente acenava para mim.

Suspirei.

A Páscoa era sempre tão animada n’A Toca. Toda a família se reunia, almoçávamos juntos e todos, sem exceção, ganhavam chocolate.

Ah, como me fazia falta essa família, essa vida.

Mas eu não podia pensar nisso agora, não mesmo, não podia me remoer com o passado, com uma vida que já não me pertencia mais.

xx-xx

Acordei na manhã de páscoa, presenteada com um magnífico sol no alto de um céu limpo de nuvens, o dia estava lindo.

Rick me ligara na noite anterior, e havíamos combinado que ele passaria me pegar, já que eu não sabia onde ficava sua casa.

Tomei um banho rápido e coloquei um vestido rosa-claro bem larguinho, que deixava minha barriga a vontade, coloquei um sapato baixo e deixei meus cabelos soltos.

Não demorou muito para que o interfone tocasse, peguei minha bolsa e o grande ovo de páscoa do Capitão América que comprara a Shane e desci para o hall, encontrando os dois a minha espera.

─ Feliz Páscoa Steve ─ falei sorrindo e entregando o ovo ao menino.

─ Tio, olha só, é do Capitão América. ─ ele disse, transbordando animação.

─ Isso ai campeão ─ disse ele ─ agradeça a Rose.

─ Obrigado tia Louse. ─ disse ele, e eu não pude deixar de sorrir com a pronuncia errada e fofa do meu nome.

─ Não precisava se incomodar Rose, de verdade. ─ disse Rick.

─ Que isso, é páscoa. ─ falei.

Olhei mais uma vez para o pequeno Shane e não pude deixar de imaginar como seria quando fosse minha vez de ser mãe.