Rose Weasley.

Acordei com o bip do celular.

Meus olhos se abriram lentamente, enquanto a luz fustigava meus olhos, praguejei pelo novo apartamento não ter uma cortina.

Estiquei o braço e fechei os dedos em torno do celular, trazendo-o para mim. Dominique me ligara vinte e cinco vezes e Lily me mandara exatamente trinta e sete mensagens de texto durante a madrugada. Eu chegara na Flórida no dia anterior as seis da tarde e com a bagunça que estava o meu novo apartamento e com todo o meu empenho focado em tentar organiza-lo, me esquecera completamente de avisar meus primos que havia feito um boa viagem, e eles estavam, aparentemente, desesperados.

“Rose, como você está? Essa é provavelmente a milésima mensagem de texto que eu te mando e você não atende nossas ligações, estamos preocupados. Responda assim que puder. xxLily”

Respondi a ela pedindo desculpas pela demora e assegurei que a viajem havia sido ótima, larguei o celular no colchão e olhei em volta.

Eu passara a noite em um colchão jogado precariamente no chão, e a maioria dos móveis estavam desmontados. O apartamento estava desocupado a um bom tempo, e tudo estava um caos, apesar dos meus esforços do dia anterior em deixar tudo em ordem, era visível que eu precisaria de muita ajuda para obter algum resultado significativo.

Me levantei e tomei um bom banho, troquei minhas roupas e depois de tentar deixar a sala de estar mais apresentável, liguei para o telefone que um funcionário da imobiliária me dera, aparentemente  de um homem que viria até aqui para montar minha mobília.

Depois de três toques uma voz grave atendeu.

─ Oficina Jones.

─ Ahn... Olá. ─ falei meio insegura ─ Sou Rose Weasley.

─ Ah, claro ─ falou ele, com a voz mais leve ─ John me disse que você me ligaria.

─ É, eu preciso de uma mãozinha aqui, com a mobília.

─ Claro ─ falou ele ─ estarei ai logo, logo.

─ Obrigada ─ respondi ─ como você se chama?

─ Rick.

─ Bom, então nos vemos daqui a pouco Rick.

─ Até mais.

Ligação finalizada.

Bom, parece-me que o pessoal da Flórida é bem simpático, tomara que sejam todos como Rick.

Me joguei no sofá, cansada pela limpeza da sala e com um pouco de fome.

Deslizei a mão pela minha barriga, lembrando com uma pontada de culpa que não me ocorrera uma vez sequer o que o meu bebê estaria sentindo com toda essa mudança.

Mas estava tudo bem, ele estava muito bem protegido em meu ventre, sem fuso-horários ou apartamentos bagunçados.

Abri os armários a procura de algo para comer, mas é claro que tudo estava vazio, acrescentei então mais um item na minha lista de intermináveis coisas a fazer: ir ao mercado.

Batidas na porta interromperam meus pensamentos.

─ Só um minuto ─ falei, indo em direção a porta.

Abri a porta e dei de cara com um homem alto, forte, de cabelos escuros e profundos olhos verdes. Apesar de não estar, em hipótese alguma, interessada em homens, tenho que admitir que ele é muito bonito.

─ Você deve ser Rose, eu sou Rick. ─ falou ele, sorrido ─ Vim te ajudar com a mobília.

─ Ah, claro, entre por favor. ─ falei dando espaço para que ele entrasse.

Ele andou até a sala, então se virou e me fitou.

─ Seria mal-educado de minha parte perguntar de quantos meses você está? ─ ele indagou, coçando a cabeça com uma das mãos.  

─ Bom, seria se eu não estivesse grávida. ─ respondi rindo.

─ E você está? Por favor, não me diga que eu soltei essa bola fora? ─ ele disse, visivelmente preocupado.

─ Sim, eu estou grávida ─ respondi, dando uma gargalhada, e percebendo imediatamente que era a primeira vez que eu fazia isso em dias ─ E estou de quase cinco meses.

─ Ufa ­─ falou ele suspirando aliviado ─ garoto ou garota?

─ Decidi que será surpresa ─ falei, encolhendo os ombros.

Ele apenas sorriu e dirigiu a atenção para sua maleta, retirando dali varias ferramentas.

─ Bom, então, ao trabalho.

As horas seguintes passamos em silencio, ele trabalhava na mobília do meu quarto, e eu cuidava de limpar a cozinha, enquanto esperava a pizza que havia pedido para o almoço.

Já podia até ouvir Dr. Lewis dizendo, como uma grávida deveria se alimentar bem, e claro, eu sabia muito bem disso, afinal era médica, mas realmente não havia tempo ou vontade preparar uma refeição, por isso pizza me pareceu a melhor opção.

A campainha tocou, minha pizza chegara. Paguei o entregador e coloquei a grande caixa sobre a mesa. 

─ Vamos Rick, venha comer. ─ chamei-o, acenando com a mão. 

─ Obrigado Rose, mas já estou terminando aqui, não precisa se preocupar comigo. ─ disse ele. 

─ Ah, deixe disso ─ falei, empolgada com uma companhia para comer ─ Ninguém nega uma boa pizza. 

Ele me fitou com seu olhar divertido por um instante, e então, se dando por vencido, se juntou a mim na mesa. 

Nos conversamos bastante enquanto comiamos, ele me contou que nasceu na Califórnia, e veio para a Flórida com apenas oito anos de idade, e também não demorou muito a perceber meu sotaque britânico, me fazendo então, contar um pouco mais da minha vida em Londres. 

Claro que eu não disse algo relevante, apenas contei que morava lá, até receber uma boa proposta de emprego aqui. Ele não perguntou nada sobre o suposto pai do meu filho, o que me deixou realmente aliviada. 

Ele logo voltou ao trabalho, e até o final do dia estava tudo montado. 

─ Bom, é isso, acho que terminei por aqui. ─ falou ele, limpando as mãos no macacão azul-marinho. 

─ Nem tenho como te agradecer Rick, de verdade, não sabe o quanto me ajudou. 

─ Que isso Rose, e quando precisar, é só me ligar. ─ falou ele, me dando seu cartão. 

─ Obrigada ─ sorri ─ até mais então. ─ disse abrindo a porta. 

─ Até logo. ─ falou ele, e saiu porta a fora. 

Olhei em volta. É verdade, agora minha casa está bem mais organizada, com os moveis montados. Só me resta limpar tudo e arrumar meus objetos pessoais, cada um em seu devido lugar. 

Algo me diz que isso vai levar um bom tempo.

A breve sensação de lar que eu tive com Rick aqui desapareceu rapidamente, e a realidade me atingiu com força. 

Eu estava sozinha  num país novo, no qual eu nunca colocara meus pés. Havia acabado de conhecer um montador de móveis, e isso era o mais proximo de um amigo que eu tinha, e mesmo assim tinha a sensação de que nunca mais iria ve-lo. 

Cansada, triste e sozinha. Isso sim é um otimo começo.