Mudança De Planos escrita por Clara Ferler


Capítulo 21
Doce ilusão


Notas iniciais do capítulo

demorei?



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–Mãe? Pai?...

–A onde estava? – Disse minha mãe com o tom de voz firme. Mas seu olhar foi abaixando, indo direto ao gesso na minha perna. – Ai meu Deus! – Tampou a boca com a mão. – O que aconteceu com a sua perna?

–Calma, não foi nada. – respondi não ligando muito, como se tudo aquilo fosse comum, mas eu só queria subir para o meu quarto e acabar com aquela cena dos meus pais fingindo se importar comigo.

–Não foi nada? O que aconteceu e a onde estava á essa hora?

–Nós ficamos preocupados. – falou meu pai mais do que bravo, juntando as sobrancelhas.

–Tá, que seja! – disse.

–Como assim? Explique-me já o que aconteceu. – exigiu minha mãe.

–Ai mãe, larga de escândalo, não houve nada, eu só... Tropecei e caí. – Menti, lembrando da desculpinha do Cebola quando ele se machucou por causa do Tony.

–Você Caiu? Caiu e fez um gesso na perna? – perguntou meu pai não acreditando em nenhuma palavra do que eu falei.

–Não haja como se você se importasse! – Resmunguei chamando a atenção dos dois.

–O que quer dizer? – meu pai levantou a voz. Engoli á seco, mas já que comecei a falar, a única opção é terminar:

–Quero dizer que vocês não se importam nenhum pouco comigo, vivem sempre trabalhando e quando chegam já está em plena madrugada. – digo em fim.

–Querida já conversamos sobre isso, sua mãe e eu...

–Não, quer saber? MORAR AQUI É UM SACO! – Gritei.

–MÔNICA! – Resmungou minha mãe tentando me fazer ficar quieta, mas eu continuei:

–Eu odeio ter sempre que ficar em casa por que vocês estão sempre viajando e fingem estar preocupados comigo. Eu odeio não poder sair e fazer o que eu quero, tudo o que eu faço é ficar em casa trancada por que os meus pais querem ter a filha maravilhosa e comportada, sempre discreta e que nunca faz nada de errado.

–Isso não é verdade! Você está louca Mônica, está perdendo a calma. – disse minha mãe se surpreendendo com o jeito que eu gritava. – Quem te acompanhou até a porta foi o Cebola não foi? Você estava com ele esse tempo todo?

–Como você sabe? – pergunto envergonhada por saber que talvez ela pudesse ter visto o que aconteceu minutos atrás.

–Eu o vi saindo com o carro. – explicou. – Por acaso ele embebedou você? – acusou-me.

–O QUE? O que você acha que eu sou? Uma maluca alcoólatra? – me irritei.

–Não foi isso que eu quis dizer. – ela se defendeu.

–Sei bem o que você quis dizer. – ela suspirou tentando manter a calma e finalmente olha pra mim:

–Escute Mônica, eu não quero brigar com você... – ela começou a dizer. – Mas você está de castigo! – concluiu.

–O que? Não pode me colocar de castigo! – tentei me defender.

–Posso sim, sou sua mãe! Você sempre se comportou muito mal Mônica, sempre a garota sem respeito pelos outros que...

–Mas eu mudei! – gritei. – Eu não sou mais essa garota idiota de quem está falando.

–Ah você não é? – ela franziu as sobrancelhas. – Então como me explica o seu comportamento inaceitável? Você fugiu de casa pra ir á uma festa, aproveitando a situação de que eu e seu pai estávamos fora.

–Mas eu não fiz nada disso mãe. – defendi-me.

–Então onde estava? – insistiu ela. Eu não podia contar a verdade pra ela, porque seria muito pior do que ficar de castigo. Ela ia até o hospital e reclamar dizendo que eles deveriam ter ligado pra ela para avisar e blá, blá, blá... Eu Não ia tolerar isso então:

–Tá, você tá certa. – falei da boca pra fora, sabendo que era aquilo o que ela queria ouvir. – Eu vou pro meu quarto ficar de castigo. – revirei os olhos aceitando o castigo idiota. Subi os três primeiros degraus, quando então, parei quando minha mãe disse:

–Ah, e mais uma coisa... Não quero que veja mais esses seus novos amigos. – ordenou ela.

–O que? – perguntei indignada.

–Foi isso o que ouviu. Não quero mais te ver com nenhum desses colegas que estavam com você, principalmente o Cebola.

–Não pode me dizer com quem eu devo ou não sair.

–Eu estou avisando Mônica, se eu te ver com o Cebola novamente, eu vou...

–Você vai o que? – tentei faze-la continuar.

–Eu vou te privar de tudo, nada de celular ou televisão e nem internet. Não vai poder sair, só quando fizer 30 anos.

–Eu vou terminar a escola esse ano e ano que vem vou pra faculdade e daí não vou estar mais de castigo.

–Mônica você já parou pra pensar no que está dizendo? – juntei as sobrancelhas tentando entender o que ela dizia.

–Do que você está falando?

–Seus planos não eram ir pra faculdade com o Tony? – lembrei-me do que tinha planejado depois da formatura antes de conhecer Cebola, mal parei pra pensar nisso. Minha mãe prosseguiu: É por isso que estou te colocando de castigo, se você começar a sair e beber, não vai conseguir se concentrar em ir pra faculdade que você tanto planejou com o Tony.

–Mãe! – exclamei já irritada. – Eu e o Tony não estamos mais namorando.

–O que? Terminaram?

–É, e isso já faz mais de um mês, e você saberia se não estivesse trabalhando sempre. – terminei de dizer.

–Não fale assim comigo, eu me importo com você, estava preocupada.

–É, sei... Muito preocupada em não ser conhecida pela vizinhança como a mãe que não cuida direito da filha!

–Mônica! Não fale dessa maneira com sua mãe! – exclamou meu pai.

–E de que jeito devo falar? – perguntei olhando para os dois. – Vocês não se importam comigo, só se importam em tentar manter a imagem de bons pais, fora isso... Eu só sou mais um problema que nenhum de vocês tem tempo pra resolver. – falei lembrando o que Cebola me disse, lembrar dele me fez dar um leve sorriso despercebido.

–Nós nos importamos com você sim! – insistiu meu pai, mas eu ignorei, virei às costas e subi as escadas ignorando os pedidos deles para mim os dar atenção.

Fechei a porta do meu quarto com tanta força que faltou pouco pra ela não se partir em pedacinhos. Joguei-me na cama e enfiei a cara no travesseiro deixando as lágrimas fluírem.

Não acreditava no que estava acontecendo, não podia ver nunca mais o Cebola, isso porque minha mãe achou que eu estava fazendo festa quando na verdade estava de dedos cruzados para que eu não perdesse minha perna. Meu pai não engoliu a história de que eu caí e machuquei a perna, por isso, vou ter que dar uma desculpa melhor, mais cedo ou mais tarde. Durante o fim de semana inteiro, fiquei trancada no quarto chorando, mal comecei a me envolver com Cebola e agora vou ter que me distanciar. Não tive a coragem de abrir a janela pra ver se ele estava olhando por ela, porque se eu olhasse pra ele, iria chorar, eu sei que pode ser exagero, mas saber que não olharei pra ele nunca mais, já parte meu coração. Recebi algumas ligações, não atendi o celular, pois achei que poderia se ele me ligando pra ver como eu estava ou outra coisa.

Eu não queria ter que velo e falar na frente dele que depois do que aconteceu teríamos que nos distanciar. Infelizmente segunda-feira já estava chegando e eu sabia que ia ter que falar com ele na escola.


(P.V. Cebola)

Tentei ligar umas duas ou três vezes no celular da Mônica, mas ela não atendeu, tentei me convencer de que ela apenas estava ocupada. Sei lá, ela devia estar ocupada fazendo... Bem, isso não vem ao caso. Mal consigo pensar em outra coisa a não ser na noite retrasada quando nos beijamos. Nunca pensei que aquilo poderia acontecer, pelo menos não com ela. Eu não sei, pra mim ela fazia o tipo de garota que não sabe o que quer e se acha a melhor de todas, mas com o tempo ela foi ficando completamente diferente do que eu achava que ela era. Ela é incrível, e, além disso, se preocupa comigo, e eu nunca achei que poderia dizer o que eu realmente sentia á ninguém, mesmo que só fosse por alguns minutos. Acordei segunda-feira ás pressas pra ir logo pra escola e encontrar Mônica, não via a hora de falar com ela de novo. Desci as escadas, já pronto pra ir pra escola e saí batendo a porta atrás de mim, fui caminhando tão rápido que nem vi Cascão, acho que ele não conseguiu me alcançar. Cheguei ao portão e passei por ele, me dirigi até o corredor, e vi quem eu esperava ver, Mônica estava jogando alguns livros no armário. Cheguei por trás dela e coloquei minhas mãos sobre os seus olhos.

–Adivinha quem é. – falei.

–Cebola. – disse ela com firmeza, mas nenhum pouco sorridente, não entendi o motivo, apenas tirei minhas mãos dos seus olhos e ela se virou pra mim. – oi.

–oi – falei. – E aí, você tá bem? – perguntei um pouco tímido.

–Sim.

–O que aconteceu? – perguntei vendo sua carinha de desanimada.

–Hm... Nada. – negou ela.

–Me fala. – insisti. Ela suspirou e olhou pra baixo tentando decidir ou formular palavras para dizer alguma coisa, então, levantou a cabeça devagar e olhou nos meus olhos com seriedade.

–Escuta Cebola... Eu sei que pode parecer meio confuso, mas... – prestei mais atenção nas palavras que ela dizia, com curiosidade. – Não... Nós... Nós não temos nada, tudo bem? – ela disse tentando me encarar, senti meu coração parar de bater.

–Mas... Mas eu pensei que...

–Pensou errado. – concluiu ela.

–Então... Por que me pediu pra te beijar? – tentei encurrala-la. Ela ficou sem graça, mas ainda assim arrumou uma justificativa:

–Aquilo foi... Foi impulsivo, totalmente... – mas eu a interrompi, antes dela terminar:

–Olhe Mônica, se não queria nada comigo, você podia ter dito antes e...

–Mas esse é o tipo de pessoa que eu sou. Eu... Eu brinco com os sentimentos das pessoas pra depois destruí-los em pedacinhos. – disse ela, tentando me convencer de que ela tinha uma boa justificativa apenas por ser quem ela é, mas eu sabia que não era nada disso, tinha algo mais naquela história.

–Não, você não é desse jeito Mônica. – vi algumas lágrimas escorrendo em seu rosto. Aproximei-me dela, segurando seu rosto em minha mão direita e enxugando as lágrimas que caiam. – Não faria isso comigo. – ela se virou pra ir embora, mas eu a segurei pelo braço. – O que aconteceu? – perguntei já convencido de que havia acontecido alguma coisa pra fazê-la desistir de mim.

–Nada. – ela falou em um tom choroso, soltando o seu braço e saindo dali correndo. Eu fiquei ali, apenas olhando ela ir embora, pensando no que viria em seguida.


(P.V. Mônica)

Cebola não desistiu de saber o porquê da minha atitude. Ele ligou umas trezentas vezes no meu celular, deixou recados como: “ Oi, sou eu. Não sei o motivo de estar chateada, mas quero que saiba que ainda gosto de você” “Oi, sou eu de novo, me liga!”. Ele também bateu na minha porta várias vezes, mas eu fechei a porta na cara dele, eu sei que isso foi errado, mas se eu olhasse pra ele de novo, iria chorar. Depois de três semanas ele parou, me deixou em paz, ainda frequentava a escola, mas não conversávamos e tentávamos não nos olhar, nada daquilo aconteceu, pelo menos era isso que ele queria pensar, tudo não passou de uma doce ilusão, de algo que nunca deveria ter acontecido, pois como é fácil uma pessoa ficar tão próxima de você e depois ter que deixa-la. E junto com ela, deixar seu coração.


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Notas finais do capítulo

comentem!!!! bjs.