Mudança De Planos escrita por Clara Ferler


Capítulo 14
A ira da matemática


Notas iniciais do capítulo

Demorei? espero que gostem desse cap, bjs, comentem!!! boa leitura.



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(P.V. Cebola)

Eu entrei na casa dela, era uma casa grande e bonita, tinha uma cozinha gigante e uma TV parecida com a minha só que maior, ficamos sem dizer nada, eu apenas a segui subindo as escadas, ela abriu a porta de seu quarto, e eu quase deixei cair o meu queixo, o quarto dela era enorme, eu acho que as outras garotas deveriam sentir inveja dela, eu não entendia como alguém que tinha tudo poderia ter essa carinha tão triste.

-Então vamos começar? – ela perguntou fechando a porta.

-Tá. – concordei.

Nos sentamos na cama, e ela abriu a apostila de matemática. Logo comecei a explicar:

-A matemática é uma ferramenta com a qual o homem contemporâneo pode encontrar soluções que facilitem seu dia a dia. A Geometria Espacial, por exemplo, é um ramo dessa disciplina constantemente presente nas formas dos objetos e construções arquitetônicas que fazem parte do nosso cotidiano e procura estabelecer relações entre essas formas... – Eu falava enquanto ia olhando pra Mônica pra ver se ela estava entendendo, mas ela parecia estar confusa, ela tentava se concentrar, mas se perdia nas minhas palavras, eu parei de falar e perguntei:

-Você está entendendo? – indaguei olhando pro rosto confuso dela.

-Não muito bem. Como assim Geometria Espacial? – quando ela disse aquilo, me toquei que eu não precisava ler a apostila para fazê-la entender, o caso dela é que não entendia as palavras escritas, ela precisava de uma explicação mais direta, eu tinha que explicar pra ela com minhas próprias palavras.

-Desculpa Mônica, a culpa não é sua, sou eu que não estou te explicando direito, se você quisesse ler a apostila, já teria lido e aprendido, eu tenho que te explicar do meu jeito não é mesmo? Bom, vamos tentar de um jeito diferente... – eu fui explicando pra ela sobre as pirâmides e os objetos denominados sólidos geométricos, ela parecia estar indo melhor.

-Entendeu agora? – perguntei.

-Bem melhor que antes.

-Então... Quais os polígonos que podem ser observados nas faces dos poliedros?

-Ham... – ela pensou um pouco – retângulo, quadrado... E triângulo? – eu olhei para a apostila e a resposta estava correta.

-Você acertou! – falei contente.

-Sério? – ela perguntou surpresa – eu acertei mesmo?

-Sim! – eu exclamei.

-Ahhh, obrigada! – ela gritou de alegria. De repente ela se curvou para frente e me abraçou, eu me surpreendi, achei que ela não fosse do tipo de demonstrar gratidão e afeto por outra pessoa, porém eu retribui o abraço tocando eu suas costas, podia sentir sua respiração no meu pescoço e seu queixo se apoiava em meu ombro, eu sentia o cheiro de seu perfume de rosas, e tela perto de mim fazia meu coração acelerar de uma forma que eu não compreendia, era incrível como me sentia bem quando estava ao seu lado. Ela saiu de perto de mim com o rosto vermelho, envergonhada, mas ainda com um sorriso. Tentei não ficar em silêncio:

-Te-tente responder as outras perguntas da apostila – disse meio sem graça entregando a apostila pra ela. Ela começou a escrever as respostas facilmente, tinha entendido muito bem a minha explicação. Tentei puxar assunto enquanto ela escrevia:

-Então... Vai participar do show de talentos da escola?

-Ham... Eu não sei... Você vai? – ela perguntou sem olhar pra mim, ainda escrevendo na apostila.

-A-acho que não, eu não tenho coragem de cantar em público.

-Você se saiu bem na aula de música, devia tentar.

-Sério?

-Sério.

-Mas e você? Não acha que devia tentar?

-Não sei se tenho coragem! – ela falou agora olhando pra mim.

-Por quê? Você tem talento. – falei sorrindo.

-Vo-você acha mesmo? – ela perguntou sorrindo pra mim também.

-Claro, sua voz é tão boa de ouvir e você parece se sentir confiante quando canta.

-Mas quando cantamos na aula de música, foi a minha primeira vez cantando em publico, a única pessoa pra quem tinha cantado antes era pra Magali e pro... – ela parou antes de terminar a frase, se entristeceu, eu já sabia quem era.

-Pro Cascão? – perguntei.

-Como você sabe? – ela indagou desconfiada.

-É que...

-É que... – ela disse esperando que eu terminasse de falar.

-O Cascão me contou... Que vocês eram amigos e depois pararam de se falar

-O que? – ela perguntou um pouco irritada.

-Desculpa, não queria me intrometer.

-Tá tudo bem. – ela disse parecendo mais calma.

–Sério? Não está brava? – perguntei.

-Não. – fiquei surpreso, eu estava entendendo melhor o porquê dela ser tão insegura, o porquê de não sentir liberdade em conhecer pessoas novas.

-É por isso que não queria ser minha miga não é? – perguntei, ela me olhou, aquele olhar, como se eu tivesse descoberto o que se passava em sua mente.

-O que quer dizer? – ela perguntou olhando para o chão, tentando não me encarar.

– Estava com medo de se magoar de novo. Achou que eu seria como ele, que se você se aproximasse de mim, ia acabar se magoando, é por isso que nunca tentou fazer amigos de verdade, não era por causa do Tony ou dos outros que não te deixavam, é porque achava que quanto mais amiga ficasse de uma pessoa, mais ela acabaria te decepcionado, como Cascão fez com você. Sinto muito por ter te julgado, por ter falado mal de você antes mesmo de te conhecer, desculpe. Talvez você só se comporte dessa maneira, sendo grosseira com as outras pessoas, pra que elas se sintam limitadas a te julgar, a se aproximarem... E a te magoarem. – ela me olhou com os olhos prontos pra chorar a qualquer momento, mas ela parecia não querer chorar. Ela não conseguia dizer nada, algumas lágrimas começaram a escorrer deixando o seu rosto um pouco vermelho por causa do choro, eu também não dizia nada, e não havia mais nada pra dizer, eu sabia que era exatamente isso o que ela sentia, eu consegui a compreender somente olhando em seus olhos, uma capacidade que até eu mesmo me surpreendi, não entendo como eu poderia entendê-la sem ela precisar dizer uma única palavra. Ela não me olhava, apenas deixava as lágrimas caírem, eu não tive mais dúvidas do que fazer, me aproximei dela ficando ao seu lado, ela me olhou e sorriu, eu a puxei para um abraço, encostando sua cabeça em meu peito enquanto meus braços apertavam seus ombros deixando ela mais próxima de mim. Era tão boa aquela sensação, eu me sentia seguro, como se tudo fosse dar certo, nada podia dar errado, mas porque eu me sentia assim?

-Obrigada! – ela disse saindo de meus braços, senti como se o mundo caísse das minhas mãos, me sentia tão bem segundos atrás e agora tão mal.

-De nada. – falei meio sem graça.

-E desculpe por ter sido grosseira com você, mas apesar de tudo, obrigada por ser meu amigo. – sorri contente, Mônica e eu éramos amigos, não tinha coisa melhor pra se ouvir naquele momento.

-Eu sempre serei seu amigo! – disse. – e como amigo devo te dizer pra participar do show de talentos. – ela abriu um sorriso, as lágrimas simplesmente desapareceram e aquela menina ruim não existia mais, pra mim Mônica era uma pessoa completamente diferente do que eu imaginava.

-Tudo bem! – ela falou – eu participo do show de talentos com uma condição.

-Qual? – perguntei curioso.

-Que você participe também.

-Eu não vou conseguir, é sério, vou ficar mudo quando pisar no palco.

-Então porque não ficou mudo quando cantou comigo na aula de música? – “porque eu estava com você pensei”. Como dizer aquilo sem parecer estranho?

-Por... Por... Porque tinha pouca gente na sala, por isso! – inventei.

-É só fingir que não tem ninguém ali, e tudo vai dar certo! – ela falou. “tudo vai dar certo” era exatamente isso que eu sentia quando estava com ela, não existiam mais problemas, mais confusões, não existia briga, não existia tristeza ou infelicidade, era como se tudo fosse perfeito, não tinha como nada dar errado, porque eu estava com ela.

-Eu já terminei de responder todas as perguntas. – ela disse. Peguei a apostila e corrigi, todas estavam certas, era incrível, eu sei, sou um ótimo professor. Depois que terminei de corrigir, eu disse:

-Mônica, eu vou pra casa agora, espero ter ajudado na matéria!

-Ah, tudo bem, e ajudou bastante, obrigada!

-Não precisa agradecer, agente se vê amanhã na escola! – disse me levantando da cama, ela me acompanhou até a porta e se despediu.

Cheguei em casa e fiquei pensando na tarde que tivemos, tive certeza de aqui pra frente, eu e Mônica vamos ter uma conexão diferente.

(P.V. Mônica)

Acordei de manhã, tomei banho e coloquei um vestido branco florido, fazia tempo que não usava ele, me senti mais a vontade, me sentia eu mesma de novo. Desci as escadas, tomei meu café da manhã e depois saí de casa, quando fechei a porta da frente, vi Cebola que também estava saindo de sua casa, ele acenou pra mim e eu retribui, ele veio até mim:

-Oi! – ele falou.

-Oi! – respondi.

-E aí, pronta pra mais uma segunda-feira?

-Haha não, odeio segunda-feira!

-É, eu também!

-Então vamos? – perguntei.

-Vamos!

Começamos a andar, Cebola me disse:

-Hoje tem aula de matemática, está pronta?

-Me sinto mais segura pelas suas aulas, mas ainda odeio matemática.

-Ninguém gosta hehe.

-É.

Ficamos em silêncio o restante do caminho, às vezes os nossos olhares se encontravam e claro, ficávamos envergonhados. Chegamos ao portão da escola e entramos, estranhei um pouco, geralmente Tony me esperava no portão da escola, ele devia estar bem machucado em! Entramos na sala de aula e logo vi Tony, ele usava óculos escuros e uma jaqueta de couro e estava com arranhões na testa.

Ele levantou o braço pra mim indicando pra eu sentar ao seu lado, quando ele o levantou, parecia que tinha doido mexer o seu braço, realmente tinha se machucado. Me sentei ao seu lado e perguntei:

-Tony, por que está usando óculos escuros? – indaguei me fazendo de desentendida, queria fazer ele sofrer um pouquinho o fazendo pensar que eu não sabia da briga dele e do Cebola.

-Por-porque está muito claro aqui! – ele mentiu.

-A não está não, tira esse óculos vai!

-Não, eu to bem com o óculos. – ele insistiu.

-Ah para com isso, tira logo!

-Não eu gosto de usar.

-Tony, tira esse óculos. – ele hesitou um pouco e depois tirou, seu olho estava roxo e inchado.

-O que aconteceu no seu olho? – me fiz de desentendida como se eu não soubesse.

-E-eu cai – ele mentiu, porque os homens tem a mesma desculpinha barata de ter caído? O Cebola disse a mesma coisa quando eu perguntei pra ele sobre os arranhões. Eu simplesmente fingi que tinha acreditado no que ele disse. A aula prosseguiu e eu estava melhor do que antes, a professora até estranhou, mas ficou contente por eu estar melhorando. O sinal tocou e logo aquela manada de alunos saíram desesperados da sala (típico). Antes que eu saísse da sala a professora me chamou.

-O que foi prof? – perguntei.

-Queria dizer que melhorou em matemática, andou estudando?

-Na verdade, o Cebola me explicou melhor o conteúdo e consegui entender bem.

-Ah o aluno novo!

-Sim.

-Acho ele muito inteligente, meus parabéns Mônica, continue assim.

-Obrigada!

Saí da sala e fui para o refeitório onde como sempre, estava as pessoas que eu mais odiava esperando pra que eu me sentasse com elas, me sentei com eles mesmo sem ter vontade.

-Oi – falei.

-Oi – responderam todos. Fingi ter escorregado na cadeira e batido no braço de Tony sem querer, ele gemeu de dor.

-O que foi Tony? Está sentindo dor? – perguntei me fingindo de preocupada.

-N-não imagina! –ele mentiu de novo.

-Parecia que doía o seu braço, o que ouve?

-Nada, impressão sua.

-Tá bom.

-Aí, o Quim disse que queria que você ensinasse pra ele aquela jogada que você faz no campo de futebol, não é mesmo Quim? Aquele que vocês trombam um no outro e faz cair no chão, o que for mais forte fica de pé, tá lembrado? Você mesmo me falou, porque não mostra pra ele agora como se faz? – falei tentando tortura-lo um pouco.

-NÃO, hoje não vai dar, é que eu to meio cansado sabe?

-A vai lá Tony, mostra pra ele – falou Magali.

-É Tony, vamos, não está com medo está? – eu disse.

-N-não.

-Então faz a jogada pra gente ver!

-T-t-tá bom. – o Quim se levantou e o Tony logo em seguida, ouvi a coluna dele estralar só de levantar do banco. Então eles começaram, Quim foi para um lado e Tony para o outro e então eles correram na mesma direção com toda força e velocidade, Tony fechou os olhos porque sabia que aquilo iria doer.

-AHH! – Tony gritou quando caiu no chão, Quim ficou de pé.

-Você está bem Tony? – perguntou Quim preocupado vendo ele no chão gemendo de dor.

-Estou seu idiota, me ajude a levantar. – ordenou ele.

-Tudo bem. – respondeu ele ajudando Tony a se levantar.

-Bem feito! – gritei pra ele com toda a raiva.

-O que? Como assim bem feito? – ele perguntou confuso e irritado.

-Bem feito pra você, acho que agora aprendeu a lição por ir na casa do Cebola só pra brigar.

-O que? Quer dizer que você sabia que eu estava machucado esse tempo todo e ainda sim insistiu pra que eu me machucasse? – perguntou ele cheio de raiva.

-Ah não venha com conversa mole porque você mereceu por achar que pode mandar em mim, e ainda por cima não adiantou em nada porque eu e Cebola agora somos amigos e você ainda saiu todo machucado.

-Eu não acredito que você fez isso!

-Eu é que não acredito no que você fez.

-Rrrrr, mas eu tinha que mandar ele ficar longe de você.

-Por quê?

-Por que... Por que...

-Exatamente, você não sabe o porquê, só faz o que você quer e na hora que quer sem nem se importar com os outros.

-Não fale assim comigo.

-Gente, não vamos brigar aqui né?! – falou Tikara.

-E você fica quieto. – disse Tony grosseiramente.

-Para de ser tão grosseiro! – falei pra ele.

-Olha só quem fala.

-E você não me julgue, porque você é o rei dos idiotas, então não tem porque você falar mal de mim.

-Pare de ser mimada Mônica.

-Eu? O único mimado aqui é você. Quer saber, não quero ficar discutindo com você, cansei, eu vou embora daqui! – disse saindo dali o mais de pressa possível, voltei pra sala esperando o sino bater.

(P.V. Cebola)

Estava sentado conversando com meus amigos, quando ouvi conversas e risadas sendo direcionadas pra mim, eram aquelas garotas Carmem e a outra que eu ouvi falar que se chamava Irene, eu escutava comentários do tipo “é aquele ali que você tinha me falado?”  “ele é bonitinho”  “Você vai usar ele pra provocar ciúmes nela?”

Eu não entendia muito bem o que elas estavam falando, provocar ciúmes em quem? Será que elas estavam falando da Mônica? Eu não entendi mesmo, só tinha certeza de que elas estavam falando de mim, essa Carmem eu já esperava mesmo que aprontasse alguma, mas a Irene meu Deus, o garota irritante viu.

Elas se dirigiram até a mesa onde eu e os outros garotos estávamos sentados, eu estranhei, o que será que elas queriam?

-Oi Cebola! – disse Carmem.

-Oi. – falei com desgosto.

-Essa é minha amiga Irene. – disse ela apontando pra garota loira ao seu lado.

-Oi, porque você tá aqui me apresentando sua amiga? Agente nem se conhece!

-É que eu achei que seria legal se agente se conhecesse melhor sabe.

-Sei – falei a seco.

-Então, tá afim de no cinema com nós hoje à noite? – Irene me perguntou. Os garotos da mesa estranharam a atitude delas e eu estava desconfortável com a situação.

-Não obrigada! – falei.

-Por que não? –Carmem insistiu.

-Tenho compromissos. – menti.

-Que compromissos? – Irene perguntou.

-Cuidar da minha irmãzinha – inventei.

-Ah tá... Então deixa pra próxima! – disse Irene.

-Tá. – concordei ainda não gostando da presença delas.

Eu disse aquilo e Irene e Carmem se aproximaram e me deram dois beijos na minha bochecha, o que eu odiei.

-Tchau Cebola! – elas disseram acenando e saindo dali. Quando elas se afastaram, percebi que Mônica testemunhava aquela cena, então era por isso que elas tinham vindo falar comigo, pra provocar raiva na Mônica, mas porque comigo? Não funcionava só com os garotos que a Mônica estava a fim? Será que ela gostava de mim?


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Notas finais do capítulo

Desculpe não ter colocado muita coisa na parte da matemática, mas eu ainda estou na sexta série e também não sou muito boa nessa matéria... Quem odeia matemática COMENTAAA!!! kkk. Hi to achando que os comentários vão estourar agora rsrsrs!!!bjs.