My Happy Pill escrita por Gabby


Capítulo 40
Impotente


Notas iniciais do capítulo

É só eu falar que vocês estão sendo queridos e a fic flopa? ~apanha~ Agradecimentos ao Kevyn e ao Lord das Sombras, que comentaram no último capítulo. Pelo menos, nessa fic, eu tô conseguindo escrever o número de palavras ideal para um capítulo (nada de monstros de 3.000 e poucas palavras para cansar a beleza de vocês).



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Ulquiorra se sentia incomodado com Loly. Até irritado, em boas partes das vezes. Ele sentia que ela fazia de propósito e era isso, principalmente, que o deixava com raiva. Ulquiorra nunca fora de um confronto direto, principalmente com uma garota, e por isso se escondia no quarto sempre que podia.

A morena havia saído de noite — o que, afinal de contas, não era tão incomum — e deste então diminuíra as provocações. Ulquiorra realmente gostava de Loly, mas às vezes ela tinha umas fases e nem parecia mais a garota que Ulquiorra era amigo.

Faltava um dia para o início das aulas e Ulquiorra arrumava a mochila. Já havia comprado os materiais novos, e isso lhe proporcionara um certo prazer. Não eram grande coisa em relação ao preço ou alegoria, mas o cheiro do caderno, o lápis colorido e bem-apontado... Ah, era uma perfeição!

Ele já odiara a escola por muito tempo. Não em questão de estrutura, de aulas, mas sim dos seus colegas de classe. Eram pessoas muito idiotas, na opinião de Ulquiorra, e ele não conseguia se entrosar a elas — diferente de Neliel, que se encaixava em qualquer grupo. Logo, os alunos passaram a o excluir e algumas piadas em questão ao seu “jeitão” não era incomuns.

Em Karakura, era diferente. Certamente que Ulquiorra não ficou amigo de boa parte da sala. No entanto, havia construído amizades valiosas, alguém com quem lanchar que não fosse do mesmo orfanato que ele.

Embora não gostasse de algumas matérias, ele gostava de estudar. Não apenas para passar em uma boa universidade, mas se interessava em acumular conhecimento. Era por isso que lia tanto.

Decidiu mandar uma mensagem no Whattsapp para Orihime. Era ela que costumava puxar assunto, no entanto Ulquiorra não queria que fosse apenas ela que sustentasse a relação.

Animada para amanhã?

Como boa adolescente japonesa, Inoue não demorou nem cinco minutos para responder. Ficou um bom tempo digitando.

O que tem amanhã?

Ulquiorra revirou os olhos.

É Natal.

Orihime está digitando...

Não é não.

Ulquiorra suspirou e jogou o celular na cama. Deitou logo em seguida. Às vezes, era difícil conversar com Inoue.

Eu sei, né? ¬¬

Tá bom. Acredito ;)

Ulquiorra pegou o celular e o ergueu a cima do rosto, deitando de barriga para cima.

Aff.

Amanhã é o primeiro dia de aula, tonta.

Orihime está digitando...

Já sabia. Tava só te testando, tonto :P

Ulquiorra suspirou e, sem querer, derrubou o celular no rosto. Não era a primeira vez que isso acontecia e mesmo assim ele não parava de segurar o celular daquele jeito. Acabou por se sentir realmente “tonto”.

Isso nem faz sentido.

Faz, sim :P. Orihime escreveu.

“Ta bom. Acredito ;)” Ulquiorra citou.

Orihime riu. Ficaram conversando sobre banalidades por algum tempo, depois Inoue foi dormir, alegando que precisava de uma boa noite de sono para ficar disposta amanhã. Ela nem mencionou sobre o que Loly a fizera.

///

Ulquiorra estava inesperadamente ansioso para mais um dia de escola. Mesmo tendo se encontrado com a maioria dos amigos pelo menos uma vez nas férias, ele ansiava vê-los todos os dias, ouvir as conversinhas paralelas entre as aulas.

Ulquiorra era uma pessoa muito pontual, por isso acordou bem cedo e tomou um banho. Fez a barba, mas deixou para escovar os dentes depois do café. Seus cabelos estavam muito molhados e eram um pouco compridos, por isso ele esfregou bastante a toalha na cabeça.

Com o uniforme, perfeitamente passado e alinhado, foi chamar Neliel. Ele abriu a porta e a chamou, em tom de voz normal. Ela tinha um sono pesado e por isso nem acordou. O quarto de Nell parecia ser de criança, pois tinha grandes bichinhos de pelúcia em todas as prateleiras. Tinha paredes brancas, embora em uma delas tivesse uma grande flor pintada por Nell, meio murcha, um pouco estranha. Ulquiorra cutucou as costas de Neliel, estirada e embolada nos cobertores da grande cama de casal. Ela ronronou alguma coisa.

— Nell, escola. — Ulquiorra avisou, a cutucando com mais força.

Ela virou-se para ele, tentando abrir os olhos.

— Quê?

— Escola. — Ulquiorra repetiu. — Vai se arrumar.

— Uh, tá bom.

Ulquiorra andou até a porta.

— Pode deixar que eu faço o café.

A primeira que Ulquiorra acordou foi a última a se levantar. Neliel os atrasou, pois havia dormido novamente. Segundo ela, a garota havia perdido o sono e ficara assistindo uma maratona de CSI até as 4 horas da madrugada.

— Pelo menos, eu adorei a série. — justificou-se Nell.

Loly era extremamente prática, mesmo maquiando-se tanto quanto uma garota vaidosa. Ela era muito rápida e precisa com o lápis, com o rímel e a base.

— Você devia trabalhar nisso. — comentara Nell certa vez, quando Loly a maquiava para uma noite em um dance club, os olhos da garota delineados, adornados por uma sombra forte.

Loly descartara a ideia com um aceno de mão.

Grimmjow era surpreendentemente vaidoso. Ficava meia hora se olhando no espelho, arrumando a cabelo, fazendo pose, passando gel, inspecionando o rosto, passando ainda mais gel no cabelo. Ulquiorra odiava essa mania do amigo — apesar da implicância, eles eram próximos —, mas Grimmjow não parecia disposto a parar.

— Você é narcisista. — Ulquiorra o diagnosticara certo dia.

— Eu sou bonito. — retrucara Grimmjow. — É narcisismo gostar do que vê no espelho?

Ulquiorra apenas revirara os olhos.

Atrasados, os quatro jovens entraram pelo colégio, apressados, quase correndo e praguejando um pouco. Todos ligados por um lugar: o orfanato. Todos estragados, quebrados.

Ulquiorra ficava pensando em quantas coisas Karakura havia os dado. Aquela casa. Aquelas pessoas. Aquela cidade. Uma grande pílula da felicidade.

No ano passado, Ulquiorra era frio, fechado. Ele se abrira, se apaixonara. Antigamente, Neliel se cortava por causa da sua dor emocional, por não lembrar quem eram seus pais e por ser lembrada todos os dias disso — crianças chorando por seus pais mortos, a assistência social cuidando da mal conduta de outros. O orfanato lhe era nocivo. E Grimmjow. Descontando seus demônios nos outros, tentando preencher seu vazio com uma alegria violenta igualmente vazia, um rebelde sem causa em um sistema cruel.

Pessoas mudadas, agora com os cacos do coração restaurados, sabendo lidar com suas cicatrizes. Crianças crescidas mais maduras e felizes. E tudo graças a Karakura. Será que a cidade poderia exercer esse efeito benéfico em Loly também?

Conseguiram chegar a tempo de entrar na primeira aula, já que, como era primeiro dia de aula, a tolerância era maior. E lá estavam eles diante da sala, o professor de filosofia sorrindo para os quatro, os rostos um pouco sonolentos dos colegas de classe.

— Atrasados no primeiro dia de aula? — o professor ergueu uma de suas sobrancelhas. Tinha uns trinta anos e suas aulas eram sempre dinâmicas, divertidas, assim como ele mesmo.

Neliel correu e o deu um abraço, bem apertado. Era seu professor favorito. Ulquiorra deu um sorriso pequeno, pela ternura da irmã.

— Uau, que “oi” caloroso. — O professor gemeu, e Neliel se afastou. Ele deu um sorriso largo. — Sejam bem- vindos.

Os quatro assentiram, sorrindo e quase cintilando. Ulquiorra dirigiu o olhar para a sala, vasculhando-a, procurando uma carteira para se sentar. Reconheceu o rosto e o cabelo flamejante e inconfundível de Orihime. Observou ela com mais atenção, seu coração batendo forte quando viu o sorriso em sua face, as bochechas gorduchas e coradas, os olhos grandes brilhantes. Seu coração bateu mais forte ainda quando ele percebeu o corte no lábio superior dela, o hematoma roxo claro que ainda preservara-se em sua face.

///

— Orihime, o que aconteceu com seu rosto? — Ulquiorra perguntou para ela no intervalo.

Ela pareceu um pouco constrangida; seus amigos estavam ao redor dela, os observando com preocupação. Loly também estava enfiada no grupo, e os seus olhos estavam afiados; Orihime já podia sentir a dor da próxima surra se por acaso ela contasse. Havia visto umas palestras obrigatórias sobre bullying na escola, que dizia que a vítima deveria contar, entregar o agressor, mas mesmo assim ela não conseguia fazer isso. Gaguejou um pouco, pensando em sua irracionalidade, quase contou, mas seu medo falou por si. Ela riu um pouquinho e fingiu-se de burra.

— Pois é. Uma espinha bem no primeiro dia. Que azar. — ela riu, sem graça. Pelo menos a espinha realmente estava no seu rosto. Achou a sua risada demasiada fingida, e os seus amigos não pareceram também acreditar.

— Não é isso, Inoue. — contrariou Ichigo, balançando a cabeça. — O seu rosto...

— Ele está machucado. — complementou Rukia, a observando com muita seriedade. Desviou o olhar para Ulquiorra, mas voltou a olhar Orihime — foi um olhar bem rápido, meio desconfiado, que Ulquiorra pensou apenas que fosse impressão dele.

— Mas eu já disse para a Tatsuki-chan. — disse Orihime, o que realmente era verdade. Ela havia mentido para Tatsuki. — Caí da escada.

Renji fez um resmungo com a garganta, o que indicava que ele não acreditava nela nem um pouquinho. Hanatarou Yamada, que também estava no grupo de amigos, lançou um olhar para Renji, mas o resto continuou observando Orihime.

— Vocês sabem que eu sou desastrada. — explicou-se ela. — Caí essa semana mesmo. Estava distraída, tropecei no meu próprio pé. Sorte que consegui me agarrar antes que caísse a escada inteira.

— Você está bem mesmo? — indagou Hanatarou, preocupado.

— Deveria ter ido ao hospital. — opinou Tatsuki. — Ligado para alguém, sei lá.

— Mas que besteira, Tatsuki-chan. — disse Orihime. — Foi só um susto. Não foi preciso preocupar ninguém.

— Você nos preocupou mais ainda agora. — retrucou Ulquiorra. — Moramos um do lado do outro, ontem mesmo conversei com você no Whattsapp. Deveria ter comentado algo, pelo menos.

— Desculpa, então. — Inoue cruzou os braços.

— Desculpa por quê?

— Por ter caído da escada! — ela gritou e alguns do grupo tentaram falar alguma coisa, mas foram cortados por Inoue. — E não ter os notificado, porque me parece que eu sou propriedade de vocês!

Loly sorriu, satisfeita. Todos ficaram um pouco chocados.

— Só estamos preocupados. — ganiu Nell, implorando por mais compreensão de Orihime.

— Pois fiquem preocupados aí sozinhos. — Orihime se afastou, ainda de braços cruzados e cara fechada. — Vou procurar a Chizuru, pelo menos ela não é tão chata quanto vocês.

Ulquiorra observou ela se afastando, caminhando, os passos pesados, porém constantes. Era a primeira vez que ele a havia visto brava e não gostara nem um pouco. Sabia que ninguém era perfeito, mas nem parecia a Orihime que ele conhecia.

— O que diabos foi isso? — murmurou Renji, quando ela já estava a uma distância considerável. — Conheço essa garota há anos e nunca vi ela desse jeito...

— Quando Orihime fica irritada de verdade, o que não é muito fácil de se ver, ela grita um pouco, mas logo depois se retira. — contou Tatsuki. — Acho que pensa um pouco na situação, enquanto está sozinha. Volta mais calma. É melhor deixarmos ela fazer isso.

— Eu concordo com a Tatsuki. — disse Loly, antes que outro se manifestasse. — Quando eu fico irritada, pareço uma bomba. Explodo em todos que estejam perto de mim. É necessário um tempo sozinha para desarmar a bomba você mesma.

///

Assim que estava suficientemente longe de vista dos seus amigos, Orihime acelerou o passo para ir no banheiro. Não queria correr, por achar isso muito infantil, muito o-meu-namorado-adolescente-terminou-comigo. Segurava as lágrimas, tentando se concentrar na respiração. Não queria que ninguém visse ela chorando, ainda mais na escola e no primeiro dia de aula.

Quando entrou no banheiro, havia algumas meninas reunidas, conversando e arrumando os seus cabelos na frente do espelho. Respirou fundo e fez uma postura de pessoa perfeitamente bem. Até sorriu um pouquinho para as garotas, o que doía — Inoue nunca precisou forçar sorrisos. Eles sempre eram espontâneos, mas agora... Duvidava se iria conseguir sorrir mais uma vez o mesmo sorriso bonito e natural, verdadeiro, que todos tanto amavam, que ela amava.

— Oi. — ela saudou.

— Oi. — as meninas saudaram também.

Orihime entrou em uma das cabines e sentou-se no vaso sanitário, a tampa abaixada. Ela encolheu-se toda, os dedos dos pés enrolados com força. Respirou bem fundo e chorou baixinho, em soluços. Apertou as mãos em formato de punhos, mas se sentia impotente.

Como ela, fraquinha e com medo, poderia enfrentar Loly, a sua agressora? Nem pedir ajuda conseguia. Inoue estava se escondendo dela, chorando por ela. Parecia um ratinho, fugindo de seu predador faminto e poderoso. E por que os amigos precisavam ter lembrado-a disso? Ela ficaria bem se conseguisse ignorar isso, se conseguisse ignorar Loly e não pensar nunca mais no assunto, como na outra vez. No entanto, na última vez que fizera isso, ela havia abnegado Ulquiorra; e não estava nem um pouquinho a fim de fazer isso novamente.

Estou ferrada, estou muito ferrada. O que eu vou fazer?

Orihime martelava essa pergunta em sua cabeça, enquanto secava as suas lágrimas com papel higiênico. Quando viu que não tinha ninguém no banheiro, saiu da cabine e lavou o rosto. Não queria dar o gosto dos olhos vermelhos para Loly, e também não queria preocupar os amigos ainda mais.

O sinal bateu e ela correu, juntando-se a Chizuru antes de entrar na sala.


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Notas finais do capítulo

E então, gente? O que será que a Orihime irá fazer? Espero ter capturado bem uma parte do dilema das vítimas de agressão; no próximo capítulo tem mais um pouco. Depende muito de vocês a data da postagem dele ( quanto mais comentários e mais palavrinhas vindas de vocês, mais inspirada ficarei), mas já garanto que ele será mais agitado e provavelmente maior que esse. Eu estimo mais uns quatro capítulos para essa fic, talvez cinco, contando com o extra e o epílogo.
Espero que todos tenham gostado do capítulo, e lembrem-se que eu estou aberta a qualquer tipo de crítica construtiva. Também podem me contar como foi a volta as aulas de vocês ^^
Bye!