My Happy Pill escrita por Gabby


Capítulo 41
Onde Os Demônios Se Escondem


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos ao Kevyn, à Narumy, à Alessandra, à Ingyd e à Nana.



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Orihime quase faltou a aula no dia seguinte. No entanto, não queria demonstrar fraqueza diante Loly e por isso tentou recompor-se durante a tarde. Andou muito em volta da mesa, pensando no que deveria fazer. Ponderou se ligaria para alguém — um parente, um amigo, talvez para a polícia — mas desistiu. Mesmo sabendo que ninguém para que contasse a deixaria na mão, ela gostaria de resolver aquilo sozinha. Não abnegaria de nada nem ninguém, não chamaria ajuda, não precisaria de ninguém, para erradicar de vez Loly Airvine de sua vida.

Foi confiante para a escola, sabendo que Loly não iria tomar nenhuma atitude com todos a observando. Passou pelos portões, cumprimentou suas amigas e colegas de classe, conversou um pouco com elas até que Ulquiorra chegasse. Tatsuki estava no grupo também, porém Rukia ainda não havia chegado. Arisawa a observou um pouco crítica, com um olhar que pesava na consciência de Orihime — como melhor amiga de Inoue, aquele olhar pesava mais do que todos. A ruiva retribuiu o olhar, encarando Tatsuki até que, enfim, ela baixasse os olhos. Chizuru e as outras meninas notaram esse clima, mas graças á Deus não perguntaram nada sobre isso, temendo estar se intrometendo em algo muito pessoal.

Ulquiorra chegou com a sua turma, resmungando algo enquanto Lilynette não parava de bufar. Orihime e Loly trocaram um olhar rápido, porém afiado e cheio de significado. O sol pareceu ficar mais forte quando Inoue caminhou até Ulquiorra e o abraçou. O moreno ficou feliz por ter sua namorada de volta, tão calorosa e receptiva, porém Orihime só pensava em uma coisa: Loly, Loly, Loly. Olhava para ela por cima do ombro do namorado e Loly a observava de volta, venenosa.

Rukia chegou, um pouco exasperada com a sua bolsa embolada no fone de ouvido, e suavizou seu olhar ao ver Ulquiorra e Orihime abraçados. Inoue saiu do abraço com delicadeza e cumprimentou a Kuchiki-san.

O dia estava quente, mas nem se comparava ao dia que Ulquiorra e Orihime se beijaram, nem à semana que eles haviam ficado na praia. Estava, desta vez, um calor agradável — mas, mesmo assim, Orihime havia preso os cabelos em uma cola alta. O céu estava azul, com poucas nuvens. Um dia tranquilo, bonito, comum em Karakura — que não combinava nada com o que aconteceria.

///

Tatsuki observou Orihime durante a aula. Por conta do espelho de classe, Inoue sentava-se do outro lado da sala; por isso, Tatsuki pôde analisá-la sem nenhuma complicação. Orihime estava rígida, em uma posição defensiva, fechada — braços e pernas cruzadas, lábios em um pequeno bico, sobrancelhas levemente erguidas. Seu pai era psicólogo, então ela aprendera algumas coisas de análise comportamental com os livros que ele tinha em casa.

Inoue parecia sempre mirar em alguém; parecia estar protegendo-se de alguém. E deveria ser algo grave, pois Orihime esquecia as coisas facilmente e não era de guardar mágoas. Estava com raiva; pelo tanto que conhecia a ruiva, ela iria tomar uma posição passivo-agressiva.

Não poderia ser apenas coincidência que Orihime aparecera machucada e agora estava com esta expressão. Tatsuki notou, com espanto e raiva, que alguém havia batido em sua melhor amiga. E, quando ela descobrisse quem, este alguém iria pagar.

///

Halibel havia faltado à aula. Aparentemente, o ar condicionado do seu trabalho havia causado-lhe um resfriado — o que era irônico, já que tratava-se de uma empresa de remédios. Ela não estava acostumada à aquele frio; no orfanato, onde passara o final da adolescência, não tinha aquilo — muito menos na casa da vó. Ambos só possuíam ventiladores, que nunca causaram choque térmico ao sair para a rua, num calor escaldante.

Halibel espirrou, arrumou um pano de Lilynette — a menina tinha rinite, então havia lenços espalhados por todo o apartamento — e limpou o nariz.

— Saco.

O nariz dela estava vermelho como o de uma rena de natal. Halibel acordara com dor de cabeça, mas agora ela já havia diminuído. A loira pegou o not book e se jogou na cama com ele. Engoliu em seco, tentando umedecer a garganta inflamada, sem resultado. Ficar gripada, em casa sem fazer nada, era uma das coisas que ela mais odiava. No entanto, ficar espirrando na universidade era ainda pior.

Ela esfregou o nariz com o paninho mais uma vez, enquanto ligava o note book. Pelo menos, ela não teria nenhuma prova na faculdade. Poderia tirar o dia para estudar para a avaliação que teria dali a dois dias. Porém, antes disso, resolveu abrir um site de notícia, para ver o que estava ocorrendo no Japão e no mundo. Passou o olho rapidamente, lendo as que mais a interessavam. Invenções, descobertas científicas, um pouco sobre política. Resolveu pular todas as notícias que envolvessem celebridades e crimes, pois isso nunca a beneficiara.

No entanto, passando o olho rapidamente sobre os desastres naturais, reconheceu o nome da cidade onde morara por tantos anos, o bairro do orfanato. Um terremoto avaliado pelo sistema Shindo em 5 forte¹. Leu a matéria com o coração na garganta, de forma muito cuidadosa. Algumas casas parcialmente destruídas — telhados, fissuras na parede, coisas do gênero — , deslizamento de terra, pequenos acidentes de carro, alguns feridos — só um em estado grave — e, graças a Deus, ninguém havia sido morto.

Com as mãos tremendo, pegou o celular na mão e discou para a amiga Mila Rose. Ela atendeu no terceiro toque.

— Halibel? Há quando tempo, em!

Halibel respirou fundo.

— Está tudo bem aí? Li que houve um terremoto na cidade...

— Bom mesmo que perguntou! O telhado da porcaria da minha casa caiu...

— Sua casa é uma porcaria. — Halibel retrucou, internamente aliviada. Se tivesse acontecido algo grave com as suas amigas próximas, Mila Rose não iria começar contando pelo telhado da espelunca onde morava.

— Ei! — ela gritou, ofendida. Depois, riu. — Ta difícil de arrumar um emprego. To dividindo a casa com as pragas da Apacci e da Sung-Sun. Só a Apacci arrumou um emprego; a Sung- Sun só fica se gabando que passou pra federal. Quero nem saber; vai pagar a conta da luz!

Halibel sorriu.

— Aparentemente somos só eu e ela as inteligentes. — Mila iria protestar, porém Halibel continuou a falar antes que ela tivesse chance. — Mas o orfanato? Você tem visitado?

— Visitei essa semana, pra avaliar os estragos. Tá um horror. Um monte de coisa quebrada. Será que não podemos pegar um pouquinho da herança que o velho Kyoraku deixou pro Shiffer?

— Nem pensar! — Halibel protestou. — Já acho uma sacanagem o que fizeram com o guri; não vão contar pra ele até que faça dezoito anos. E até lá não vamos tirar nada da herança... Esta casa foi o Kyoraku que deixou pro Ulquiorra e é por isso que ele ta com ela.

— Ah, ta bom, ta bom. — Mila tossiu, o que lembrou á Halibel que ela estava com a garganta inflamada. — Caiu um armário numa menina do orfanato. Acho que ela quebrou uma perna e um pulso. — Mila Rose falou isso com tamanha desimportância, como se estivesse narrando um tombo ou algo do gênero. — Coitadinha.

— Qual é o nome dela? — Halibel apertou o celular no rosto, ansiosa.

— Queria que o armário caísse na Apacci... — ela finalmente ouviu o que Halibel falara — O quê? Ah, não sei, não. Era aquela menina que andava com a Airvine... Melody?

— Menoly! — Halibel corrigiu, irritada com a indiferença da amiga. — Nossa, a Loly vai ficar muito preocupada...

— Vem cá, as duas têm um caso lésbico? — indagou Mila Rose. — Sei lá, elas estão sempre juntas. E aquela Melody...

— Menoly!

— Isso aí mesmo. Ela não te parece lésbica? Porque pra mim parece lésbica. Tipo a Apacci. Ninguém ficou surpreso quando ela se assumiu...

Halibel desligou na cara dela.

///

Loly não acreditava que Orihime a enfrentara. Quando olha-se para Inoue, quando bate-se em Inoue, dá-se a impressão de que ela é frágil e submissa. Porém, é audaciosa. E insolente. Loly a colocaria no lugar já, já.

A decisão, porém, de mostrar sua resistência na escola havia sido inteligente. O que Loly faria no meio de tanta gente? Se Ulquiorra descobrisse, ficaria muito chateado com ela — ele, claro, não sabia que Loly só queria o melhor para o Shiffer. E Orihime não estava à altura do moreno, já Loly, sim. Os dois eram habitados por Passageiros Sombrios, que ansiavam um pelo outro. Trevas complementam trevas.

Loly viu Orihime beijando Ulquiorra na boca. O sinal já havia batido e eles já estavam fora da escola, caminhando até em casa. O ciúme era quase palpável; Loly sentia que havia formigas andando sob sua pele.

— Nell, hoje a tarde você vai na minha casa, né? — Orihime perguntou, já desgrudada da boca de Ulquiorra. — Temos uma maratona de filmes adolescentes para ver. Daqueles de colegial americano, como combinamos.

— Começa com “Meninas Malvadas” e termina com “A Mentira”. — disse Neliel. — Certo?

Inoue desviou o olhar para Loly, um pequeno desafio. Me bata com a Neliel na minha casa. Ela crispou os lábios. Se fosse apenas por Neliel, Loly sabia que daria conta das duas. Não tinha interesse em machucar Nell, porém o faria, caso fosse necessário. Mas Neliel era irmã adotiva de Ulquiorra e ele ficaria chateado caso Nell fosse machucada, e com certeza a moça não era de ficar de boca fechada, como Orihime.

— Não sei como vocês assistem essas porcarias. — resmungou Ulquiorra. — É praticamente um desrespeito para com a cultura japonesa.

— Como assim?

— Os filmes nacionais são tão ruins que vocês precisam assistir umas porcarias americanas?

Nell emitiu um som e revirou os olhos. Levantou um dedo:

— Primeiro: são. Nossos filmes são uma porcaria.

— Eu não acredito... — Ulquiorra replicou, revirando os olhos.

— E segundo! — Neliel gritou e ergueu outro dedo, para assim chamar atenção do irmão. — Você só fala isso porque tem preconceito com Glee!

Ulquiorra abriu a boca, indignado, e cruzou os braços.

— Não faz sentido eles cantarem no meio da escola e ninguém perceber!

— É o formato de um musical! — rebateu Neliel.

Grimmjow ergueu bem as sobrancelhas.

— Vocês realmente estão levando esta discussão a sério?

Loly deixou-se passear pelos seus pensamentos mais profundos, porque ela não estava levando essa discussão á sério. Imaginou um mundo onde Inoue Orihime não existisse, um lugar onde ela conseguisse pelo menos algo que desejasse.

///

Quando Ulquiorra, Neliel, Lilynette, Grimmjow e Loly chegaram em casa, ficaram surpresos com a porta já destrancada. Andaram pelo jardim e pararam na frente da porta.

— Cabeça de vento. — Ulquiorra xingou Neliel.

— Era pra Lilynette ter fechado a porta... — Ela defendeu-se, embaraçada. Não fazia ideia se de fato a obrigação de trancar a porta naquela manhã cabia à Lilynette, mas ela que não iria levar a culpa.

Lilynette não se defendeu, pois estava ouvindo música alta no celular. Continuou no modo automático, esperando que alguém fosse corajoso o suficiente para abrir a porta.

— E se fomos roubados? — indagou Grimmjow. — E se o ladrão ainda estiver aqui?

Neliel e Ulquiorra estremeceram, afastando-se um pouco da porta.

— Acho que ouvi um barulho... — comentou Ulquiorra; Neliel sussurrou um “Meu Deus”.

— Deve ser vocês, que não calam a boca em vez de tomar uma atitude. — rebateu Loly e se aproximou da porta. Já estava cansada de aturar tamanha covardia. Provavelmente eles só haviam deixado a porta aberta e mais nada.

Ela abriu a porta vagarosamente, para assim alimentar o medo do resto do pessoal. Ela ria internamente, enquanto adentrava com passos calmos a sala. Grimmjow estava ao lado dela — pagando-se de corajoso—, mas recuou quando viu a luz da cozinha ligada. Loly realmente ficou surpresa, parou os passos por um momento. Lilynette esbarrou em Neliel atrás dela.

— Ei! — gritou Neliel. — Vê se olha por onde anda!

— Então vê se não emperra que nem uma songa-monga! — rebateu ela.

Loly e Grimmjow riram, mas Ulquiorra estava sério.

O grupo de jovens ouviu passos; Ulquiorra tremeu-se inteirinho.

— Eu distraio o ladrão e vocês correm. — Grimmjow disse, nobre.

— Você vai é correr que nem um condenado e acabar caindo. — disse Ulquiorra. — O ladrão não vai nos perseguir porque ele vai estar ocupado rindo.

Loly e Lilynette riram. Halibel surgiu da porta, revelando ser o suposto ladrão. Usava um short jeans curto, revelando as coxas com os pêlos descoloridos. A regata era violeta cor de galáxia, com “Infinite” estampado. Tinha um lenço xadrez na mão, que rapidamente colocou no bolso, envergonhada.

— Oi, gente. — saudou ela. Estava com a testa franzida, séria. Sua voz soava um pouco morta. — Desculpa vir sem avisar, mas eu tinha a chave e preciso falar algo sério com vocês.

Ulquiorra, que tinha relaxado a musculatura, voltou a ficar tenso.

— Prefiro falar com a Loly primeiro, a sós. — disse Halibel, e uma descarga de energia percorreu a espinha da Airvine. — Loly, você pode vir aqui na cozinha comigo?

Loly caminhou até Halibel, imaginando o que seria tão sério a ponto de Halibel precisar falar a sós com ela. Será que era sobre Orihime? Halibel havia descoberto tudo? Embora estas teorias não parecessem prováveis, não paravam de martelar na cabeça de Loly.

No entanto, todas as teorias malucas sobre o espancamento de Inoue pararam de florescer em sua mente, quando Halibel suavizou levemente o olhar e encostou a mão nas costas de Loly, tentando soar reconfortante. Caminhando para a cozinha, ela sussurrou para a menina:

— É sobre Menoly.

Milhares de outras teorias ainda mais loucas surgiram em sua mente.

///

No dia seguinte, Orihime continuou sendo ela mesma, com um levíssimo toque de provocação. Não era nada boa em joguinhos mentais, mas ela havia sido espancada duas vezes e a sua mente havia desenvolvido uma defesa. Quando Sora morrera, ela frequentara o psicólogo por dois anos. Através de desenhos, jogos infantis, conversa fiada e amigável, sua psicóloga havia parcialmente “curado” Orihime. Só agora, mais crescida, é que ela percebia que não estava curada droga nenhuma, mas a sua mente é que havia se adaptado à morte do irmão. A psicóloga a acompanhara apenas para auxiliar sua sobrevivência em uma nova situação.

Na verdade, tinha muito medo de Loly. Mais até que conseguia demonstrar, porém muito menos que conseguia suportar. Torcia para que a Airvine não notasse, mas enquanto sorria suas mãos tremiam. Sua linguagem corporal sempre a traía.

Tatsuki ficava a observando nas aulas, com um olhar um pouco acusatório. Doía no fundo do coração mentir para ela, assim como doía estar usando Ulquiorra como objeto de provocação. Mas Orihime precisava, porque, se não, não daria certo — seu plano era irritar Loly, ao ponto de que ela mesma se entregasse.

Loly parecia mais irritada naquele dia, o que favorecia Inoue. Talvez, fosse hoje que ela se descontrolasse. Na frente da escola inteira, passaria por vilã, por barraqueira. Iria para a Direção e lá Orihime estaria segura para contar toda a verdade para eles. Loly iria ser expulsa e Ulquiorra daria um basta no relacionamento que ele ainda mantia com ela. Neliel nunca mais seria a mesma com a morena e provavelmente em alguns dias, talvez semanas, Loly estaria erradicada da vida de Orihime para sempre.

Quando bateu o sinal para o intervalo, Inoue resolveu ir ao banheiro. Todos correram como animais aprisionados enfim desfrutando de um pouco de liberdade, correndo para o pátio.

Ela entrou no banheiro, ainda vazio, e se olhou no espelho. Havia emagrecido uns dois quilos e sua camisa estava mais larga. Os hematomas já estavam ficando meio nítidos, o corte no lábio inferior já estava quase cicatrizado. Orihime não era uma menina que ligava muito para aparências, porém, quando os hematomas da luta com Loly ainda estavam vívidos, ela estava sentindo-se muito feia. Agora, embora seu cabelo não estivesse em seu melhor estado, sentia que estava com uma aparência melhorada.

Com cuidado, ajeitou os cabelos ruivos sedosos, experimentando o lado que gostaria de colocar. Daqui a um mês, deveria fazer novamente sua escova inteligente. Seu cabelo era comprido e costumava ficar muito cheio da metade para baixo. A escova inteligente reparava isso.

Atrás dela, Inoue teve um lampejo de algo no espelho. Depois, só o laranja dos cabelos voando para a sua face e a dor proveniente da cabeça atingindo o espelho, um caco de vidro perfurando sua pele.

Ela recuou e atingiu quem quer que fosse com o braço. Virou-se, mas sua visão estava nublada. Demorou um pouco para conseguir entender as imagens embaralhadas. Loly estava em pé na sua frente, com o braço levemente arranhado pelo vidro. Continha um olhar assustador que Orihime nunca havia visto antes — sombrio, nebuloso, odioso, até um pouco dolorido. Continha um daqueles brilhos febris — olhos completamente insanos.

Orihime cambaleou até a porta, porém Loly a empurrou e ela caiu no chão. Sua cabeça deu mais mil voltas; sentiu o caco de vidro em sua testa adentrando cada vez mais a carne. Seus olhos se umedeceram; lágrimas caíam sem controle, sem ela nem mesmo perceber.

— Tá chorando por quê? — indagou Loly. — Pensei que quisesse levar uma surra. Estava até me provocando.

Orihime se sentiu muito burra. Em sua distração, mesmo que por um instante, havia ficado sozinha. Agora, estava à mercê de Loly até que alguém viesse ajudá-la. E este não era o seu objetivo.

— Alguém irá entrar nesse banheiro e você vai estar ferrada, Loly. — cuspiu Orihime. Ela se levantou com cuidado, ainda um pouco tonta, mas da altura perfeita para peitar com Loly.

— E até lá eu vou te massacrar. — Loly sorriu. — Sabe quanto tempo demora para cortar a sua jugular e você sangrar até morrer? — Ela tirou uma faca da bolsa. Tinha um cabo marrom e uma lâmina grande e afiada. Uma faca de cortar carne. — Segundos.

Orihime, em vez de recuar, tentou avançar para o lado de Loly, assim surpreendendo-a. Seu objetivo não era atacá-la e sim chegar até a porta, onde poderia fugir e chamar ajuda. Porém, Loly foi mais rápida e fez um movimento curvo com a lâmina, que por pouco não atingiu Inoue. Ela recuou de última hora, tropeçou em um pé, mas conseguiu recuperar seu equilíbrio quando deu com as costas na parede fria.

Loly praguejou, em seguida avançou até ela com a faca na mão. Orihime gritou e conseguiu atingir a barriga de Loly com um chute. A morena recuou, ajoelhada e arfando. Inoue a observou por uns dois segundos, pensando em dar-lhe um outro chute, mas percebeu que se fizesse isso estaria se rebaixando ao nível de Loly.

Sem olhar para trás, ela correu até a porta.

E foi atingida, por uma Loly furiosa. A morena se empoleirou em seu ombro e a derrubou. As duas rolaram no chão, com violência. A faca passou de raspão na perna de Orihime, fazendo um filete de sangue escorrer. Inoue gritou, porém conseguiu fazer com que a faca deslizasse para longe delas.

— Você é a Miss Perfeitinha! — Loly ficou em cima dela, prendendo seus braços com as pernas fortes. — Tem tudo o que quer; os outros fazem tudo por você. Nunca precisou se esforçar para nada!

— E-está enganada, Loly. — ela gaguejou, tentando se soltar.

Os olhos de Loly se umedeceram e uma das lágrimas caiu no queixo de Orihime — as outras escorreram por seu rosto, borrando o rímel.

— Mas há pessoas que precisam batalhar por aquilo que querem! — ela deu um tapa forte em Orihime. A ruiva começou a chorar alto; a soluçar, a se engasgar. Não era por causa da dor — a adrenalina que corria em suas veias naquele momento quase a neutralizava — mas por causa da grande carga emocional. — E você simplesmente tira tudo de mim sem esforço!

Orihime pensou que receberia outro tapa, porém isto não aconteceu. Loly começou a se debater, buscando por ar, dando golfadas. Inoue viu um braço envolto no pescoço dela, como em um mata-leão. Loly ergueu os braços, tentando se soltar. Mas a pessoa se mantia resistente. Loly deu impulso para trás, saindo de cima de Orihime e fazendo o agressor a soltar.

Orihime respirou fundo quando viu que o agressor de Loly era, na verdade, Tatsuki. A amiga olhou para ela, de modo assustado.

— Vá chamar alguém, Orihime!

Inoue saiu correndo, batendo a porta do banheiro com força — corria o mais rápido que podia, mas ainda estava tonta.

Loly, ainda no chão, deu um chute em Tatsuki. Ela arquejou. Sentiu seu ar se esvair e uma dor horrenda. Respirou de modo desesperado, tocando sua barriga.

Loly se levantou com alguma dificuldade, mas rápida o suficiente para empurrar Tatsuki para a parede, a sufocando com as duas mãos. A cabeça da Arisawa bateu na parede de azulejos, fazendo com que ela gritasse. Tatsuki estava ficando sem ar, ao passo de que Loly só apertava mais a sua garganta.

Com cuidado, ergueu o seu trêmulo braço a cima da cabeça. E desceu com tudo, dando uma cotovelada no braço de Loly. Ela a soltou, mais surpresa do que com dor. Tatsuki respirou com dificuldade. Aonde estaria Orihime? Por que a ajuda ainda não havia chegado?

Não podia dar brecha para que Loly a atacasse novamente, por isso a empurrou. Ela caiu, quase mole, no chão de uma das cabines do banheiro. Era muito magra, toda pele e osso. Tatsuki cambaleou até lá, esgueirando-se por cima da frágil Loly, e levantou a tampa da privada. Lembrou-se de porque estava ali — para ensinar uma lição em quem havia machucado sua amiga. E, quando notou que Orihime havia desaparecido no intervalo, foi procurá-la em todo lugar. Encontrou-a, machucada, no chão do banheiro. Com Loly Airvine a batendo.

Com uma frieza que não sabia que tinha, ergueu a cabeça de Loly, com até delicadeza. Loly gemeu e resmungou algo que Tatsuki não ouviu.

— Como é? — ela perguntou.

Loly cuspiu.

— Você não é uma perfeitinha como ela. — Tatsuki não via os olhos de Loly, nem o rosto. Apenas o cabelo dela, as lindas madeixas escuras, todas embaraçadas, sujas, e o formato da cabeça redonda. — É mais parecida comigo.

Algo se ascendeu nos olhos de Tatsuki. Ela pegou a cabeça de Loly e mergulhou na privada, fazendo com que a morena bebesse aquele líquido. Ergueu a cabeça dela novamente, para que pudesse respirar e escutar o que Tatsuki queria dizer.

— Eu não sou como você! — ela gritou, lágrimas escorrendo pelos seus olhos.

— Ah é? — Loly tossiu. — Mas, para mim, você parece exatamente como eu, afogando alguém em uma...

Loly não terminou a frase, pois Tatsuki a mergulhou novamente.

Braços fortes agarraram Tatsuki pela cintura e a tiraram, à força, de perto de Loly. Ela se debateu, mas a pessoa continuava com o aperto.

— Arisawa. — Era a voz de Sado. Era ele quem a estava segurando. — Pare.

Neliel conseguiu arranjar espaço para passar entre eles e entrar na cabine. Loly estava sentada no chão, tossindo, como um frágil passarinho. Nell ajudou-a a se erguer, com um olhar indecifrável. Tatsuki teve uma compreensão de quão grave aquela situação estava, de quão longe ela havia chegado.

Chad virou-a de costas para Loly e a soltou. Ichigo estava observando-a com um olhar triste, grave e sombrio. Rukia estava lá também, os braços cruzados, a observando com os assustadores orbes de coruja.

— Vocês não entendem...

Ichigo ficou bem próximo dela, a ponto de Tatsuki sentir o seu hálito, e segurou seus ombros.

— Você quase a matou. — sussurrou.

Tatsuki quase chorou, mas conseguiu segurar suas lágrimas. No canto de sua visão, enxergou Orihime. Sua testa estava sangrando, os olhos estavam vermelhos e fixos nela, os lábios estavam trêmulos. Uryuu estava com a mão nos ombros dela, a puxando para perto e trazendo-a algum conforto. Tatsuki pensou que seria uma amiga muito melhor se estivesse lá, confortando-a, em vez de afogando uma menina.

Rukia andou com passos largos e elegantes, porém vagarosos, pelo banheiro. Abaixou-se e pegou um objeto, que reluzia na luz do sol vinda da janelinha. Parecia uma policial examinando uma cena do crime.

— Isto é uma faca? — ela indagou, segurando com delicadeza a lâmina. Todos os olhares caíram sobre Orihime e o corte em sua perna direita.


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Notas finais do capítulo

1-A Escala de intensidade sísmica da Agência Meteorológica do Japão(JMA) é uma escala sísmica usada no Japão e Taiwan para medir a intensidade dos sismos.
Shindo 5 forte 強 – A maioria dos pratos na estante e livros caem. Ocasionalmente, uma TV colocado sobre um móvel ou móveis pesados caem. Portas podem ficar deformadas impedindo a saída. Casas sem resistencia, podem ter paredes danificadas e podem ficar inclinadas. Túmulos podem tombar. Fica difícil conduzir um carro. Máquinas automáticas podem cair. Tubulações de água e gás são danificados, pode haver interrupção de fornecimento. Fissuras em solos moles e queda de rochas e deslizamento de terras em zonas montanhosas.

Acho que tá na hora de entender a vilã XD