The Chronicles Of Hardemshaws escrita por Snapelicious


Capítulo 2
Chapter One




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O sol maior já nascia no horizonte.

O sol maior.

 Depois dele, em uma fileira diagonal e irregular, os outros se erguiam - um menor do que o outro - em um espetáculo quase aplaudível.

Seus nomes: Rá, o sol maior; Febo, o segundo sol; Hélio, o sol alaranjado e Sun, o sol da antiga civilização.

O nome do sol do antigo mundo. O mundo que já teve um fim e que, agora, renascia.

O céu se formava em camadas. Uma pintura abstrata que mistura tons de amarelo, laranja, rosa e até o cinza, desaparecendo junto com os últimos rastros da noite sombria.

 O orvalho brilhava na grama alta do campo que o vento agitava. As campinas eram preenchidas pelo assovio contínuo e o farfalhar das folhas das árvores que se misturavam.

 Perto dalí, uma missão era dada.

Em uma cabana pequena, onde a chaminé emitia uma quase imperceptível nuvem de fumaça, no meio do nada, se ouvia um choro de criança.

- Tenha cuidado! Eles podem lhe descobrir a qualquer minuto!

- Eu sei o que tenho que fazer! Não é á toa que fui designada para isso!

- Marrie - havia preocupação na voz do homem de capa preta, e Marrie atentou pra isso. - Tenha cuidado. O mundo que conhecemos não é mais o mesmo. Nosso rei morreu e isso é só o começo! - ele pausou - Essas crianças ... São a solução dos problemas que a antiga civilização não conseguiu resolver, ocasionando o fim deles! ...

- Haim...

- Elas podem acabar com as sombras!

- Shh! Fale baixo!

 Os dois ficaram em silêncio por um tempo, observando os frutos da responsabilidade que carregavam.

 - Eu... tenho que ir - ele caminhou até a porta, colocando o capuz para cobrir o seu rosto. Todo cuidado é pouco.

- Você voltará? - ele suspirou

- Não sei. Agora que as trouxe aqui, a responsabilidade não é mais minha... Muito menos deles!

- Mas você é o mensageiro... E eles não podem esquecer delas assim tão fácil!

 Ele olhou para fora, onde seu Avohk o esperava. O Conselho ainda não fazia ideia do destino de Pameleen e Lunnya carregavam, por isso concordaram em entregar as irmãs para Haim.

- Elas ficarão seguras se eles não souberem da Profecia - disse Haim - Até lá, você deve mantê-las protegidas. Ainda há chances de alguém ter me seguido, portanto você terá que se mudar.

Marrie o olhou confusa.

- O seguido? Mas você veio... voando! - ela lançou um olhar assustado para o Avohk, do lado de fora da cabana. Ele os observava como se entendesse tudo que estava acontecendo.

- Nunca se sabe - Haim suspirou - Encontre um lugar seguro. É melhor eu ir. As sombras ficam mais fracas ao amanhecer.

Após observar a pequena cozinha pela última vez, saiu da cabana.

- Haim! - chamou Marrie, o seguindo para o lado de fora - O que você fará agora?

- Tentarei sobreviver - respondeu ele, montando em seu Avohk, no exato ponto onde o pescoço se unia ao tronco - Não tenho certeza se serei bem vindo no reino, depois do que aconteceu... - ele olhou para a pequena mulher, o encarando com lágrimas nos olhos. Uma das garotas comaçara a resmungar, dentro da cabana -  É aqui que nos despedimos, Marrie. Boa Sorte.

- Adeus, Haim. 

- Seika, vamos!

O enorme Avohk abriu as asas, e com um impulso, saltou no ar. A luz dos sóis da manhã refletiam nas escamas do dragão vermelho, o fazendo parecer uma enorme lantejoula voadora. O imenso lago Merdich se estendia no solo,  e Haim chegou a conclusão que os dois passavam pela Província de Nirn.

A asa direita de Seika entortou, e o dragão e seu cavaleiro entraram em queda livre em direção á água. Seis metros antes do impacto, o Avohk abriu as asas e se estabilizou. Uma espécie de fumaça negra começou a envolver os dois. Seether, pensou Haim, agradecendo internamente já ter deixado as garotas com Marrie. Se as sombras começarem a atacar, ele sabia que não tinha chances.

- Onde estão? - uma voz cortante soou pelo ar, vindo da mancha negra no céu, que aos poucos começava a tomar forma. Seika se contorceu levemente embaixo de Haim, com medo.

- Chegou tarde - respondeu o cavaleiro - Você nunca as encontrará. Você deveria estar morto. O Conselho destruirá sua raça de uma vez por todas.

A temperatura baixava quando a criatura ria. Haim quase não sentia o calor do sol. Mas isso não explicava porque aquele Seether estava lá, no auge da claridade...

- Não há mais conselho - sussurrou a sombra - Como não haverá mais Cavaleiros.

O ar começou a se comprimir em volta deles, tornando difícil de respirar. Seika voava cada vez mais lentamente. Seu dono sabia que ele sentia o perigo. Por mais que fosse um Avohk antigo, ainda temia seus inimigos naturais: Seethers. Sabendo que não havia mais tempo, Haim encarou os olhos vermelhos que antes temia. Uma incrível paz se apoderou se sua mente, e foi abraçando a morte que ele disse:

- Não tenho medo de você.

O ar ia ficando cada vez mais pesado, e Haim sentiu sua alma voar pra longe. Em um último suspiro, sentiu pela última vez o ar escasso, e o rugido de seu dragão se perdeu na escuridão.

17 anos depois

Gritos e risadas preenchiam o campo. As duas irmãs corriam desenfreadas pela grama, segurando a barra dos vestidos nos joelhos.

- Pam! - gritava Lunnya, mais atrás, tentando acompanhar a irmã mais velha. Ela segurava um grande saco de maçãs nos ombros – Pam! Vai mais devagar!

Em resposta, a Pameleen soltou uma gargalhada.

Era fim de novembro, e a colheita havia sido um sucesso. Em sete anos, nunca a safra havia rendido tanto para Tia Marrie. Dois anos de sobrevivência haviam sido garantidos, e, com sorte, um pedaço de carne no jantar.

A viajem até a cidade fora cansativa, mas Pameleem e Lunnya se surpreenderam ao encontrar dezenas de viajantes, disputando por provisões.

Eles devem ser da capital” dissera Malcor, o tecelão da região. “Não me admira que a situação esteja tão feia por lá”. Mas não quisera dar mais informações.

Pameleem chegou no limite da floresta e o ultrapassou. Lunnya a seguia de mais longe. As duas procuravam um lugar sossegado para relaxar e comemorar, apenas elas, longe de tudo e de todos.

Por mais que houvessem passado a vida toda em Tûrk, não se davam bem com os habitantes da pequena cidade. Os homens as importunavam para casarem com seus filhos, e as mulheres inventavam histórias para contarem em suas reuniões, longe dos maridos. Os únicos com quem mantinham relações saudáveis eram Tia Marrie e Stelle, a filha dos farmacêuticos da cidade. Bem, mantinham, até a garota se mudar com a família para a capital.

Lunnya tropeçou no vestido e amaldiçoou mentalmente Tia Marrie. Ela estava envelhecendo, e com essa desculpa deixava todas as tarefas da fazenda nos ombros das garotas. Depois de terem que colher dezenas de frutas, as duas tiveram que se arrumar para parecerem o menos possível consigo mesmas. Isso incluira colocar vestidos apertados e trançar os cabelos. Lunnya queria mais do que tudo vestir suas calças largas e botas, o que a etiqueta não permitia para uma dama.

Pameleem parou de correr e olhou em volta, ofegante. Havia adentrado o suficiente na floresta para enxergar só o verde das árvores ao redor. A garota não percebera, mas só havia silêncio. Lunnya havia parado. E não estava em nenhum lugar a vista.

O coração de Pam deu um salto ao ouvir o grito da irmã. Por mais que virasse a cabeça para os lados, não conseguia distinguir de onde vinha o som. Os gritos de Lunnya ecoavam por toda a floresta, fazendo pássaros assustados deixarem seus ninhos.

Desesperada, ela começou a retroceder. Tropeçou e caiu por cima de um galho que não havia notado antes, e levara vários arranhões nos braços, rasgando parte da manga do vestido. Praguejando, ela levantou-se e correu até uma clareira, onde Lunnya se encontrava encolhida em uma árvore, olhando assustada para o outro lado.

A princípio, Pameleem não enxergou. A cor esverdeada da criatura se misturava com a vegetação atrás. Ele não tinha menos de dois metros e meio de altura, sem contar com sua longa cauda. Escamas preenchiam todo o seu corpo, e grandes olhos negros as encaravam. Um par de asas estava encolhida ao lado do corpo.

Era uma criatura diferente de qualquer outra que Lunnya havia visto. Não se parecia com os estranhos quadrúpedes que os mercadores traziam, e – muito menos – com o cachorro do vizinho.

- O que é isso? - sussurrou Pam.

- Não faço ideia – respondeu a irmã, no mesmo tom de voz. Os minutos se passaram, e os três na clareira permaneceram imóveis. Até que Lunnya deu um passo a frente. De um jeito estranho, ela sentia-se atraída pelo animal. Não pelo brilho das suas escamas, ou pelo seu tamanho, mas por algo mais profundo, algo que ela não podia explicar. Isso parece um sonho, pensou.

- Lunny... - chamou Pam, mas ela não deu atenção. Na metade da clareira, jogou o saco de maçãs no chão, e, lentamente, ergueu a mão direita.

Alguns segundos se passaram, e o animal finalmente se moveu. Lunnya não sentia medo. Entendia que a criatura, o que quer que ela fosse, não ia machuca-la. Ele esticou o pescoço, que era maior do que elas imaginavam, e tocou com o focinho na mão de Lunnya.

- O que você é? - perguntou, perplexa.

Em resposta, ele ronronou baixinho e um leve clarão azul preencheu suas narinas.

- Lunnya, sai de perto desse bicho! - exclamou Pameleem, não se atrevendo a se aproximar – Vem, agora!

- Mas ele é tão lindo... - resmungou a outra, acariciando o focinho do animal.

- Nós nem sabemos o que ele é! E além do mais, ele pode ser...

- Pam? Cale a boca.

Pameleem correu para a irmã mais nova e a agarrou pelo braço, puxando-a para trás.

Imediatamente, a imensa criatura verde reagiu. Abriu levemente as asas, prateadas, e rugiu ferozmente. O som fez o chão tremer, e os dentes de Pam bateram. Ela deu dois passos para trás, e o animal ficou em silêncio. Esticou o pescoço e tocou a cabeça na mão de Lunnya, que riu.

- Ele não gosta de você – brincou.

- Ri enquanto pode, irmazinha – retrucou Pameleem, mantendo distância – Logo, logo você vai ser devorada por essa fera.

A mais velha colocou uma mecha loira de seus cabelos para trás da orelha e respirou fundo. Temia o que poderia acontecer com Lunnya, estando tão perto daquela estranha criatura. Por mais magnífica que ela fosse, ainda era perigosa. Seu tamanho era absurdo, e nem de longe as garotas poderiam detê-lo, se ele resolvesse atacar. Sem falar das presas, que transformariam as duas em picadinho.

- O que você acha que isso é? - perguntou Lunnya, agora acariciando o lado da cabeça do animal, que fechava os olhos. De repente, os olhos da morena brilharam – Será que isso é... Um dragão?

Essas palavras afetaram diretamente a criatura. Ela abriu os olhos assustada, estendeu as asas, e com um impulso, levantou voo. Uma forte corrente de ar derrubou Lunnya. As duas irmãs ficaram observando enquanto o dragão se afastava voando.

- O que foi isso? - perguntou Pameleen, perplexa.

- Ele se assustou com sua feiura – brincou Lunnya, catando as maçãs do chão. Ao longe, ouviram Tia Marrie chamar para o jantar – Seu vestido está todo rasgado.

- O seu também.

- Como vamos explicar isso para Tia Marrie?

Pameleem deu de ombros e olhou para o céu, com a esperança de voltar a ver a imensa criatura verde novamente. Por mais que pensasse, Lunnya não conseguia dizer porque se sentira atraída ao dragão. Que loucura, pensou.

Naquele momento, a Profecia começava a tomar direção. Longe dali, na capital, os Seether se agitavam.

E o caos reinava.


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