Terceiro Século da Nova Era – Ano: 7234

Ele fez um pacto com as sombras e sabia que seria cobrado.

Não era só o seu povo que estava colocando em risco. Era a vida de pessoas que confiavam em seu reinado e em sua direção. Uma direção que ele considerava perdida.

A rainha morrera no ultimo parto e suas filhas, uma recém-nascida e a outra ainda bebê, eram uma esperança sufocada pelos problemas que o reino enfrentava.

Os tributos não eram o que eles queriam. As terras cedidas que estavam escaçando não adiantariam por muito mais tempo. Uma coisa os satisfariam e ele nunca a daria.

Ele sabia que eles não hesitaram quando chegasse a hora de conquistá-la.

As provisões estavam sendo tomadas para que o seu bem mais precioso fosse retirado do território real e, levado para o mais longe possível, se despindo de sua verdadeira identidade.

Seus nomes eram Lunnya e Pameleen – suas filhas.

Tão pequenas; mal tinham consciência do poder que carregavam. Seus conselheiros fizeram testes e medições astrológicas. Estava confirmado que aquelas eram as crianças da profecia de séculos atrás, e que regia o destino da Terra – a nova Terra.

O brilho de sua pedra – a pedra que representava o centro de sua magia – estremeceu junto com ele. E não havia sido só por causa daquela lembrança.

O vento frio envolveu o ambiente á sua volta. Por baixo do arco de pedra de sua grande sacada, uma sombra negra apareceu, descendo e ganhando forma. Segundos depois ele se viu encarando os olhos que temia encarar de novo.

- Mais... – a voz rouca e rangida falou a palavra que ele muito vinha ouvindo.

Eles queriam mais. E isso ele não poderia dar.

- N-não podemos...

- Não interessa – a sombra chegou mais e mais perto e ele se afastou. – Você sabe o que queremos...

Encarou seus olhos tenebrosos e entendeu o que quis dizer no exato momento em que a sombra continuava a falar.

- A profecia... -

- Não! Isso vocês não terão! Deixe-nos em paz!

- Acontecerá exatamente como em Córienn... – a sombra falou e foi se aproximando, enquanto o rei se afastava de costas, já sabendo o que iria acontecer – Lokinom... E Tërof.

Ele sabia o que queria dizer. Aqueles não eram nomes estranhos.

Eram justamente nomes de reinos inteiros que haviam sido dizimados em menos de dois dias... Eles fizeram isso.

Usaria sua magia para impedir, mas já era tarde. Sua visão foi bloqueada pela escuridão total. Suas forças desapareceram. Ele sabia que sua alma estava sendo tragada, e em um ultimo pensamento , ele anulou sua morte total.

“Lumus...” – luz, no novo latim.

Seu corpo já estendido no chão frio não ouvira o que veio á seguir. Uma gargalhada perversa que misturava todos os gritos e gemidos das almas aprisionadas e atormentadas pelos Seether - ceifadores de almas.

Inclusive os seus próprios gritos.