- O carro já deu problemas?       

 - Sim. Parece que foi a caixa de pressão que quebrou.       

 - Ah, eu notei certa dificuldade em engatar a marcha. Eu vou levar o seu carro á um mecânico e vejo o que ele pode fazer. Mas como você saiu da escola?       

 - O Filipe conseguiu destravar a ré.         

- Ah! Ele é mesmo um bom garoto e parece gostar de você.                - Na verdade eu também gosto dele, mas não posso porque minha mãe não gosta da família dele.         

- Só por isso ou porque você não tem coragem de dizer?         Vacilei em responder.       

 - Bem... Eu não sou do tipo “garota corajosa e destemida”.                   - Entendo. Mas é só uma fase da adolescência.       

 - Acho que eu já to passando dessa fase. Eu já tenho 17 anos.         - Verdade, mas mesmo não sendo adolescente você não é adulta.         - Ok! Eu já desconfiava de que eu era um ET.         

- Serio? Sua mãe sabe que gerou um ET?         

Caímos na gargalhada. Valen sabia como me fazer rir.         

- Acho que é melhor eu trocar de roupa, estou até imaginando o movimento na lanchonete. Afinal, hoje é sexta-feira!       

 - É mesmo! Vá, antes que sua mãe chegue estressada.        

 - Se ela não chegar estressada ela vai ficar ao descobrir que eu sou um ET.         

Rimos de novo. A nossa convivência “enteada e padastro” era boa. Eu não sentia vontade acabar com o casamento deles nem queimar suas roupas. Eu já estava me acostumando com Holds, afinal, aqui eu tinha minha mãe, o Valen, meu carro, uma escola, meu quarto, alguns amigos, um emprego, um clima completamente maravilhoso e o Filipe. Eu estava com uma vida muito boa, não tinha porque reclamar.
         Cheguei à lanchonete e fui direto para a cozinha. Ted, um dos garotos que me ignoraram, me disse que Frederico estava de cama em casa então, ele não iria aparecer hoje. Por incrível que pareça, Ted me apresentou a seus amigos: Korey, Jen, Tyler e Jasper. Fiquei satisfeita por eles não me ignorarem e sorri para Benny que estava isolado. Quando fiquei sozinha com Benny, aproveitei para perguntar sobre as investigações.       

 - Já tem ideia de por onde começar as investigações?       

 - Sim. Pensei em investigar o escritório do meu pai, mas depois vi que ele não é de esconder as coisas então é melhor que eu converse diretamente com ele.         

- Faça da maneira que você achar melhor.       

 - Pode deixar.         

- Parece que hoje as coisas estão melhores.         

- Estão sim. Frederico treinou Tod para substituí-lo nestes momentos.         

- Ah sim.       

 - Segundo meus cálculos, hoje nós sairemos pelo menos até as 19 horas.       

 - Deus te ouça!         

- É, mas pra ele ouvir temos que fazer nossa parte. Mãos na massa.       

 - Ok manda chuva!         

Benny soltou um sorriso. Era agradável estar perto dele, isso me fazia sentir bem. O resto do dia correu rápido. Como Benny previu, nós saímos às 18h32min. Na verdade iríamos sair às 18h25min, mas Tod perdeu as chaves. Ficamos por sete minutos procurando as chaves e achamo-las no banheiro masculino em um lugar não muito agradável: na privada. Foi divertido, mas acredito que Jasper não tenha achado o mesmo, afinal, foi ele quem pegou as chaves. Benny me deu carona até em casa porque a minha mãe já havia ido embora. Cheguei a casa às 18h48min, mas até atravessar o jardim da pequena casa eu demorei uns dois minutos. Nunca na minha vida eu tinha parado para contar quantos minutos eu levava pra fazer cada coisa. Então, digamos que a minha vida tinha dado uma pequena reviravolta. Interessante saber isso. Minha mãe se espantou com a minha chegada e Valen ficou animado em saber que agora tinha alguém pra conversar, já que minha mãe não estava dando atenção pra ele e sim para seus chás. Contei a Valen sobre o que havia acontecido hoje. Ele ficou contente em saber que eu estava me divertindo.         

- Vou subir, preciso de um banho para relaxar.         

- Ok.         

- Eu li no jornal que hoje é o jogo dos Mets contra os Rangers.             - E eu não posso perder! Obrigada Mogie!       

 - Não há de que, Valen.       

 Subi, tomei um banho e vesti o mesmo pijama desbotado de noite passada. Aproveitei que não estava com sono e comecei a estudar, já que a minha internet era bastante lenta e o meu computador estava lotado de vírus. Reli várias matérias e comecei a terminar atividades incompletas. Fiquei algum tempo organizando minha vida escolar. Amanhã seria sábado e com certeza Rita ou Valen iriam programar algo. Eu iria adorar jantar de novo no Harry Manson’s, quem sabe eu não encontraria os Wilkers de novo? Talvez, Theresa marcaria as compras pra amanhã. Eu pedi que ela me ligasse caso quisesse sair amanhã. Naquela hora eu me lembrei do baile e de que ele seria daqui a uma semana. Eu deveria achar a roupa certa para o baile. Não queria que Filipe passasse vergonha por minha causa e também queria estar diferente do natural: Pálida e seca. Após pensar no baile, pensei em como descobrir o porquê da raiva da minha mãe em relação aos Wilkers. Acho que devo começar fazendo algumas perguntas sobre sua vida pessoal ou talvez seja melhor que eu seja direta. Eu estava com várias dúvidas em relação a tudo isso. Decidi por fim que o melhor a fazer neste momento é dormir.
         Acordei ás 08h00min da manha e percebi que nunca havia acordado tão tarde. Eu estava acostumada a acordar ás 6 ou 7 horas. Desci para tomar café e vi que a casa estava bagunçada, literalmente. Notei um bilhete em cima da mesa:                 

“Bom dia Mogie,Espero que tenha dormido bem. Eu e sua mãe decidimos sair da nossa rotina e fomos ao shopping. Sua mãe disse que precisava renovar o guarda-roupa. Coisa de mulher, não é? Enfim, a casa está uma bagunça e creio que você já tenha notado. Já te disse que seu dom de percepção é muito bom? Pois é, agora você tá sabendo. Espero que tenha coragem para arrumar esta casa, mas se não tiver tudo bem, é só você esperar até o pôr-do-sol. Acho que você vai acabar se convencendo de que deve arrumar a casa. Bom, espero que seu dia seja agradável.                              

                     Com carinho,                                                

                          Valen”
         Já imaginava que minha mãe viesse a levar o Valen a falência mais não tão rápido! Como não havia conversado com meu pai durante todo este tempo, achei melhor mandar outro email falando sobre a minha vida. Desta vez, decidi usar a internet e o computador do Valen, já que ele não estava ali.

Assunto: Minha vida
       Oi pai, está tudo bem por ai? Aqui por incrível que pareça está tudo bem. Desculpe não ter te ligado nem dado um sinal de vida, é que a minha vida vem estado agradavelmente corrida. Valentim me deu uma Ferrari branca. Quer saber onde ele comprou? Na loja de seminovos. Mesmo sendo um seminovo eu estou muito feliz, pois agora não ando mais a pé. Hoje foi meu primeiro dia com ela, mas ela já foi dando problemas. Sorte que um amigo meu estava lá pra me ajudar. Sobre a minha vida amorosa, sinto em dizer que não ouve mudança desde que agente se viu. Na verdade eu acho que estou apaixonada pelo meu “amigo”, mas não tenho coragem o suficiente para dizer. Espero que você possa me ajudar. Vou me despedindo, a casa está uma bagunça e a Rita puxou o Valentim até o shopping. Não quero imaginar o que vai acontecer com o cartão de crédito dele. Tchau pai, espero que tenha um bom dia!PS: Aceitei ser chamada de Morgana Gallego Breslin. Espero que não se ofenda.                                       Morgana “Mogie” Gallego Breslin

    Decidi começar as minhas tarefas até que ouvi batidas leves na porta.