No terceiro horário nós nos separamos e eu fui pra mesma sala de Luke. Ele ainda estava deprimido por causa da Theresa, afinal, ele a ama. Decidi não dirigir a palavra a ele, decidi deixá-lo com seus pensamentos enquanto eu ficava com os meus. A aula foi entediante. Eu não conseguia parar de pensar no Filipe e em como seria bom se eu tivesse coragem para dizer que eu o amava. Parei por um instante de pensar nele e foquei na minha vida. Me lembrei de quando meus pais moravam juntos. Eles eram estranhos mas eram perfeitos. Eu os amava muito e vivíamos bem até que um dia meu pai decidiu ir embora. Ele nunca havia alterado o tom de voz com a minha mãe, na verdade, era ela quem fazia isso. Acho que meu pai foi embora para não ter que continuar daquele jeito, para não se magoar, para não magoar minha mãe e para não me magoar. Eu sinto muita falta dele. Admito que Valen seja uma ótima pessoa e que está fazendo minha mãe feliz, mas era com meu pai que ela deveria estar agora. Deveríamos ser uma família feliz se não fosse... Acho que é melhor eu focar na aula antes que a professora Louise chame a minha atenção.
         O recreio chegou rápido. Fizemos algumas atividades e o sinal bateu. Tentei parecer estar calma mas acho que fiquei mais nervosa ainda. Resolvi me sentar ao lado de Luke e seus amigos: Claire, Angela e Eric. Eles me aceitaram ali de bom grado então decidi andar com eles quando estivesse sozinha. Após comer um pequeno pedaço de pizza, não me contive e virei para a mesa de Filipe que estava ali sozinho. Fiquei por um momento olhando pra ele esperando que seu olhar encontrasse o meu. Não demorou muito até que isso acontecesse. Logo, ele me chamou para sua mesa. Fiquei tão animada que me arrumei rapidamente e despedi de meus novos amigos porém, antes de chegar a mesa, Lauren veio até ele. Naquela hora eu senti vontade de pegar aqueles cabelos e arrancá-los mas meu pai sempre me ensinou a não usar a violência como solução. Então para não fazer uma loucura decide me afastar. Como sempre, agi como covarde. Deixei a bandeja na cantina e segui em direção ao corredor, o corredor onde Filipe havia conversado comigo pela primeira vez... Arg! Eu odiava pensar nele o tempo todo. Eu odiava amá-lo e não tê-lo. Odiava ainda mais saber que a Lauren tava ali com ele. Decidi ficar longe. Coloquei meus fones de ouvido e sentei debaixo de uma árvore florida que ficava perto do último corredor da escola. Eu estava esperando que a qualquer momento aparecesse alguém, e quem apareceu foi Theresa.

– O que você está fazendo aqui?

Tentando fugir de mim...

– Estou pensando na vida. E você?

– Estava procurando por você.

– Por mim? Por quê?

– Queria desabafar com alguém mas você é a única pessoa em quem eu confio.

– Puxa, obrigada pela consideração!

– Não há de que.

– Então, sobre o que você ia falar?

– Sobre o Luke.

– O Luke?

– Creio que você já saiba da história.

– Sim.

– Eu ainda não acredito que ele tenha me traído com ela! Theresa falou o “ela” com nojo e com olhar incerto.

– Mas ele disse que foi apenas beijos.

– Mas tinha que ser com ela? Todos os garotos daqui já ficaram com ela!

Todos?

– Filipe também?

– Ainda não, mas parece que ele é o próximo a ser atacado por aquela cobra.

O Filipe não podia ficar com a Lauren. Eu não iria suportar! Agora sim eu entendo o que Theresa está sentindo.

– É melhor irmos Mogie, o sinal baterá em breve.

– Ok.

– Ah! Você poderia ir comigo até Get Down’s. Lá tem muitas lojas de vestidos de festa.

– Seria uma boa ideia, mas, você vai ao baile?

– É claro! Eu não vou com o Luke mas vou com Seth. Ele é amigo do Filipe e já havia me convidado, porém eu não havia aceitado, ainda.

Puxa! Ela sabe como dar a volta por cima.

- Tudo bem, eu aceito.

– Ok, depois nós combinamos um dia certo.

– Certo!

Vi um sorriso brotando do rosto dela. Isso era bom! A próxima aula era de história mas eu não estava nem um pouco animada. Resolvi me sentar no fundo da classe. Senti os olhares me rodeando, mas o mais intenso era o dele. Decidi olhar diretamente para a frente e não olhar para os lados. Ao sentar, notei a chegada dela: Lauren. Ela estava andando na direção em que Filipe estava. Aquilo já era demais! Vi que ela estava chegando cada vez mais perto dele até que Filipe se levantou e se sentou na primeira carteira perto da porta. Naquela hora eu tive vontade de gritar “Yes!” no meio da sala mas preferi ficar ali quietinha vendo o olhar derrotado da Lauren. Logo, Seth chegou a sala e se sentou atrás de Filipe. Vi quando Filipe se virou e olhou para Seth. Então, Theresa iria ao baile com o Seth. Ele parecia ser um cara legal. Era alto, magro, tinha cabelos castanhos e parecia ser filho de advogado, mas não era melhor nem pior que Luke. Eles estavam conversando baixo, até que Filipe me flagrou olhando pra ele. Desviei o olhar por instantes e quando voltei ele ainda estava ali, esperando pelo meu olhar. Ele deu um sorriso igual aquele de quando estávamos no restaurante e eu retribui, afinal, como negar um sorriso para ele? Ficamos assim, até que Seth disse algo e Filipe caiu na risada. Era uma risada baixa, porem intensa. Ele continuava me olhando até que o Sr West chegou a sala e o olhar foi cortado.

Caminhei o mais depressa possível. Não queria continuar na escola e esperava encontrar Filipe no estacionamento. E ele estava lá no carro esperando por algo ou alguém, talvez, esperando por Lauren. Entrei na Ferrari que por coincidência estava ao lado do Mitsubishi e joguei a mochila lá dentro. Quando liguei a chave e engatei a ré vi que estava dura, ou seja, estava travada. Tentei não parecer nervosa mas não foi possível. Filipe notou e bateu no vidro. Abri e olhei com um olhar de “Tá tudo bem, o que você quer?”.

– Está com problemas?

Sim!

– Não.

- Então por que ainda está aqui?

Pensei em uma resposta e quando vi ele já havia saído do Mitsubishi.

– É a ré.

– Imaginei. A caixa do seu carro deve ter quebrado. Mas o seu carro é muito novo para ter problemas.

– Acho que ele foi comprado na loja de seminovos.

Havia um recibo no carro com o nome do Valen, o nome da loja e o nome do carro e a loja parecia ser de seminovos.

– Huum. Então ai está a resposta.

– Acho que sim.

Demos uma risada, ou pelo menos ele deu uma risada.

– Você tem que ver isso com um mecânico mas eu vou tentar fazer alguma coisa para resolver uma parte do problema. Posso entrar?

– Pode, claro!

Ele entrou no carro. Senti um cheiro novo no meu ambiente. Inalei para identificar qual perfume ele estava usando mas cheguei a conclusão de que aquele era o cheiro dele, o doce cheiro dele...

– Você tem uma chave por ai?

- Tem as chaves do carro!

Um novo sorriso apareceu. Um sorriso do tipo “mesmo você sendo uma idiota, eu gosto de você!”.

– Chave de fenda?

– Acho que não.

– Vou procurar no meu porta malas.

– Tudo bem.

Fiquei olhando ele sair. Engraçado como eu nunca tinha reparado em suas roupas. Eram roupas de marcas populares e caras. Ele parecia gostar de roupas em couro preto. Acho que ele gostava mesmo de preto, afinal, seus cabelos também eram pretos. Tentei não ficar hipnotizada por ele mas os meu corpo não estava obedecendo aos meus comandos. Então fiquei como uma idiota olhando pra ele, todo preocupado procurando uma chave de fenda para concertar meu carro. Mas como ele iria usar essa chave, e onde ele iria usar essa chave? Eu não sabia a resposta então deixei por conta dele.

– Aqui está!

Ele entrou no carro de uma forma tão encantadora. Fiquei com medo de babar na frente dele e ele me achar uma idiota. Mas acho que ele já achava isso.

– Você sabe mesmo fazer isso?

– Não acredita em mim?

– Acredito.

– Então deixe comigo!

Fiquei ali procurando uma forma de me livrar deste feitiço. Eu não acreditava em como podia haver uma criatura tão perfeita e tão linda. Ele ficou ali cerca de cinco minutos mas para mim se passaram horas. Ele conseguiu destravar a ré e eu fiquei ali, olhando pra ele. - Tá tudo bem com você?

– Ãnn? Ah, sim. Está tudo bem eu só fiquei perdida em você. Oh meu Deus, eu havia feito isso de novo! Eu odeio pensar muito alto.

– Oh!

Ok. Eu havia dito isso então iria continuar.

– Não acho isso justo.

– Isso o quê?

– Deixar as pessoas enfeitiçadas com apenas um olhar.

– Eu deixo as pessoas enfeitiçadas?

– Você não tem noção de como.

– Eu deixo você enfeitiçada?

– Na maioria das vezes. Só quando eu não me esforço pra te evitar.

– Você se esforça pra me evitar?

– Frequentemente.

– Porque?

– Para não cair no seu feitiço.

Ele soltou uma gargalhada.

– Você é incrível.

– Achei que me achasse idiota!

– Também.

– Sério?

– Sim.

– Dessa nós rimos juntos. Eu não compreendia o quão grande era o poder do sorriso dele sobre mim. Aquele sorriso que me fazia viajar, que me fazia esquecer da minha vida, esquecer as minha desilusões...