Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 45
XL — Festa.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado. [17/08/2014].



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P.O.V JANE SLANDER.

Alguns dias se passaram e eu estava começando a enjoar de ficar naquela cidade. Três dias em Sweet Amoris, esperando pela festa de reencontro. No primeiro dia foi normal. No segundo, fiquei o dia inteiro na casa de Íris. E hoje está a mesma coisa.

O único lugar interessante da cidade é o Morrison. Ah, e a loja do Armin.

Sem falar que eu convidei a Íris para sair há poucos minutos, e ela me respondeu isso: "Fica em casa. O dia da festa está chegando, lá você mata a saudade de todos!" Saudade? Que saudade? Eu pensei que já tinha feito isso com Armin, Alexy e ela.

Amanhã vai ser a festinha de merda. Depois eu vou voltar para o mundo que eu construí, no qual se baseia em livros, livros e mais livros. Ciência, tecnologia, e meu querido estágio na área de informática da faculdade.

Olha que beleza. Não preciso de mais nada.

Íris veio correndo para a sala, se sentando ao meu lado. Começou a repetir meu nome umas trezentas vezes, até que eu tirasse a minha atenção da parede e fornecesse à ela.

Sim, eu estava encarando a parede.

— O que foi, Íris? — perguntei, voltando a olhar para a parede.

— Acho que você precisa saber de uma coisa... — ela falou: — A Ambre... Ela saiu da cadeia. Cumpriu a pena, e consegui reduzir ela por bom comportamento. Todo mundo pensava que tinham pagado fiança para ela sair, mas não foi isso. Agora ela vai ficar sob vigia, mas vai poder viver normalmente aqui.

Arqueei minha sobrancelha, girando minha cabeça lentamente para encará-la:

— Sério isso? Aquele animal saiu?

— Sim... — ela sussurrou. — Aliás, cadê a preocupação?

— Preocupação? — ri, debochadamente: — Por que eu teria preocupação com ela?

— Sei lá — ela deu de ombros, encarando as pernas: — É que a gente colocou ela na cadeira. Se acontecer alguma coisa contigo ou comigo, não vai ser novidade.

Balancei minha cabeça negativamente. Íris tem muito medo.

— Assim como ela saiu da cadeia, ela pode voltar.

— Você sabe que a Ambre é esperta.

Voltei a olhar para ela, com a maior cara de pau do mundo:

— Tão esperta que já foi presa duas vezes, Íris.

O que eu disse não foi convincente para ela. Seu medo ainda era nítido. Seria por isso que a Íris não queria sair de casa nesses dias? Porra, que saco, Ambre. Agora ela tem que voltar pra a cadeia pra a Íris colocar o pé fora de casa?

— Espero que você esteja certa.

* * *

O chato de ter que ir a uma festa, é se arrumar. Podia ser uma festa à fantasia, e eu iria de Bananas de Pijamas, porque eles usam pijamas — Ah, sério??? — E a outra parte chata de uma festa, é a Íris tentando me arrumar. Pensei que eu conseguisse fazer isso.

Íris disse para que eu fosse com um vestido, porque ela também iria. Mas o problema era que eu não tinha vestido... então ela me emprestou um. Preto, com alças finas no ombro, rodado, ia até a metade da coxa.

Ela quase me convenceu a usar salto, mas acabei indo de sapatilha, da mesma cor do vestido.

— Vamos, Íris!

Ela não desgrudava do espelho. Tive de puxá-la pelo pulso para irmos.

A festa iria ser no Morrison. Tinha mudado, as festas não eram mais no portão da loja do Leigh — falando nele, ele tá vivo ainda? — O porão da loja dele tinha virado uma área de costura, ele e algumas pessoas faziam os próprios vestidos da loja. Que não eram feios, eram... legais.

PS: A Íris acabou de me dizer que o Leigh tá vivo sim.

PS²: "Credo, Jane!!! Isso é coisa que se fale?"

É sim.

Chegamos em frente ao Morrison. Quando entrei, senti um aperto no peito ao ver que os donos do local tinham tirado a área de jogos pra dar mais espaço na festa. Coisa chata.

Ah... a Ambre está bem no lugar onde eu joguei com o Armin.

Entendi o azar daquele dia.

— Olha ela lá... — sussurrou Íris.

— Eu vi. Será que ela não tá escondendo um pouco de cocaína nos cachos dela? Vou lá pedir.

Comecei a andar, mas parei, quando a Íris fixou suas unhas no meu ombro, implorando para que eu não fosse incomodar a "cobra". Dei de ombros e fiquei na minha, já que ela queria isso.

Íris foi buscar um pouco de bebida. A música estava literalmente alta, e o ambiente era iluminado por poucas luzes de cor roxa, verde e azul escura. Às vezes apareciam um pouco de amarelas.

Eu fiquei parada no lugar onde estava, esperando ela voltar. Todo mundo estava dançando, e eu queria procurar por Armin, mas tinha que esperar a bondade voltar. Enquanto isso, fiquei olhando para Ambre. Ela estava usando uma calça jeans rasgada, mas os rasgos eram bonitos. Usava uma blusa de seda rosa, sem mangas. E nos pés, um sapato alto preto. Ela estava mascando um chiclete, tinha as costas encostadas na parede e a cabeça também. Estava de braços cruzados.

E então ela olhou pra frente. Tecnicamente, na minha direção.

Para provocar, acenei para ela.

Ambre se desencostou da parede e veio em passos vagarosos na minha direção. Era como se eu fosse a presa dela, e ela estava pronta para atacar. E como sempre, sustentava um sorriso sarcástico.

— Oi.

Ela disse, parando bem perto de mim.

— Oi, Ambre — disse, sorrindo falsamente: — Como vai?

— Ótima — consegui sentir o cheiro de cigarro que ela tinha: — E você?

— Acho que estou bem.

Ela apontou para uma mesa e começou a andar até lá. Me ergui de ponta de pés para procurar Íris, acabei vendo ela conversando com Lysandre. Dei de ombros e caminhei até a mesa onde Ambre estava indo se sentar:

— Fiquei sabendo que está fazendo faculdade — ela disse.

Fiquei sabendo que tu é uma baita de uma drogada e presidiária!!!

Ok, sem preconceito agora.

— Sim — respondi. — E como vai a sua vida, Ambre?

— Normal — ela tossiu um pouco: — Olha, Jane, eu só quero me desculpar por tudo o que eu fiz, tá legal? Eu sei que isso é difícil e impossível... mas me dá uma segunda chance. Eu me arrependo de muita coisa que eu fiz, e eu vi o quão estúpida fui fazendo aquelas coisas com você.

Ambre começou a circular com o dedo indicador, um copo que havia na mesa. Ela não demonstrava emoções àquela hora. Então, decidi falar alguma coisa. Alguma mentira, para ser mais exata:

— Passado é passado, Ambre — respondi, pigarreando: — Deixa isso pra lá. Eu não vivo mais aqui para me importunar. Eu só queria um pouco de paz, e eu consegui isso.

Paz é o caralho, Jane Slander.

Tão mentirosa que chega a doer na alma.

— Um abraço?

Agora tu tá forçando a barra, Ambre. Tá exagerando na falsidade. Me superou.

— Claro! — respondi.

Me levantei da cadeira e fui até ela. Inclinei minhas costas para frente e abracei ela, mal encostava em Ambre, enquanto ela me abraçava forte. Aquilo foi estranho demais.

— Eu só não te peço para sermos amigas, porque eu tenho certeza que você não vai querer isso.

— Pois é — respondi.

Menina carente, nunca vi igual.

Voltei a me sentar na cadeira, à frente dela.

Depois disso, arranjei uma desculpa e saí. Caminhei apressadamente até a multidão, tentando encontrar a Íris. Ela estava com dois copos na mão ainda, ambos cheios, presumo que seja o meu e o dela. Só que o problema é que ela esqueceu de me procurar. Eu mereço isso?

— Íris! — chamei ela, erguendo o braço: — Íris, sua puta!

— Ai! — ela olhou para mim. Sorriu e entregou o copo: — O que há?

— Tem um desinfetante por aí? — falei, olhando para os lados, para me certificar que Ambre não estava nos escutando: — Abracei a Ambre. Sério. Não me faça perguntas.

— O quê??? — ela gritou.

Deixei meu copo em qualquer lugar:

— Qual a parte do "não me faça perguntas" você não entendeu?

Ela tomou um grande gole da bebida e voltou a me encarar, boquiaberta e de olhos arregalados:

— Como assim? — gritou novamente: — Você abraça ela e acha a coisa mais normal do mundo? Eu preciso de um relatório disto!

Me rendi, suspirando pesadamente. Puxei ela para um canto mais isolado da festa e contei tudo para ela. Fui paciente e detalhista, como ela gostava. Mas estava pronta para dar-lhe umas bordoadas quando me interrompia, fazendo perguntas. Era algo da sua natureza, então eu respeitei.

Após isso, voltamos para o tumulto. Todo mundo animado. Luzes piscado. E David Bowie tocando. Era Heroes, como eu amava essa música!

Me sentei e fiquei escutando a música, enquanto observava todos dançando animados. Não durou por muito tempo, até alguém parar na minha frente. E como eu sou pequena e não estava afim de erguer a cabeça, fiquei na minha, apenas levando meu pescoço um pouco para o lado para poder enxergar melhor.

E quando a pessoa se abaixou, eu vi que era Nathaniel.

Puta merda.

Que.

Vergonha.

— Oi, Jane.

Gaguejei um pouco, sem transmitir nenhum nexo com as minhas palavras. Respirei fundo e então lhe dei um cumprimento descente:

— Como vai, Nathaniel?

— Bem... — ele olhou aos arredores. — E com você? Eu te vi abraçando a Ambre, achei estranho.

— Vou bem — parei um pouco para recuperar o fôlego: — Sei lá o que deu na tua irmã. Ela pediu um abraço e eu fiz a caridade.

Ele riu, levantando-se e sentando-se ao meu lado.

Logo, uma música lenta começou a tocar. Isso tinha em todas as festas de reencontro. E o desgraçado do cara falou para cada um achar um par, ou pegar seu par, e dançar. E ninguém poderia deixar de dançar... não preciso nem falar que o chapéu serviu pra mim.

Ergui meus olhos e procurei por Armin, mas ele estava dançando com a Melody.

Acho que vou... chorei.

— Acho que nós sobramos — ele riu, olhando para os lados, e depois pra mim: — Quer dançar comigo?

— Pode ser.

Eu acho que corei.

Ele estendeu a sua mão, então toquei nela. Nathaniel me puxou delicadamente para a pista de dança. Eu não gosto de dançar, até porque eu não sei. Tentava evitar o olhar para Nathaniel, mas às vezes eu erguia a cabeça e perguntava se estava indo certa. Ele assentia positivamente e dava aqueles sorrisos que você tem vontade de beijá-lo.

Depois do fim da música eu fui sentar.

Só foi eu olhar para frente e ver a Ambre no palco, que eu quase caí da cadeira de susto. Íris correu até a minha direção e se sentou ao meu lado, dizendo que não queria perder por nada o que a cobra queria dizer. Acho que ela não vai fazer nada demais.

— Atenção, por favor! — ela disse, pigarreando. Logo em seguida, virou o rosto e tossiu: — Pessoal, por favor! Um pouco de silêncio!

E houve um quase-silêncio. Tirando as pessoas murmurando, ou tirando com a cara da Ambre. Se ela não saísse da cadeia, passaria menos vergonha.

— Eu prometo ser rápida. Porque minha intenção não é estragar a festa... — ela sorriu, juntando alguma coisa que ela tinha em mãos: — Mas, sim, torná-la mais excitante.

Dito isso, Ambre jogou alguns papéis. Na verdade, não eram papéis, eram fotos. Eu só fui perceber isso quando todo mundo olhou pra mim, rindo. Eu não entendi nada, até escutar um cara que eu não conhecia gritar:

— Conseguiu comer a novata, Castiel?

Arregalei meus olhos e não movi um músculo. O garoto veio até a minha direção, riu e jogou a foto na mesa. Com as mãos trêmulas, eu peguei a foto. Não era só uma, eram mais.

E quando eu vi, minha mesa estava cheia de fotos.

Eu no tributo ao Arctic Monkeys com o Castiel.

A outra nós estávamos na rua, caminhando.

A outra eu estava beijando ele.

E a última... estávamos nus, no sofá.

— Merda — murmurei, me erguendo, agora com todo mundo em silêncio: — Tudo bem! Eu só preciso de dois minutos da atenção de vocês.

Antes de continuar, procurei por Castiel. Ele estava de braços cruzados, olhando fixamente para mim. Estava irritado, pelo jeito. E havia outro garoto ao lado dele, que perguntou como era transar comigo. Castiel o ignorou.

— Quem aqui nunca fez sexo? Erga a mão, por favor — ninguém se pronunciou: — Viram? Pra quê tanta bagunça, caras? O que há de tão fantástico em ver duas pessoas transando? Vocês não assistem pornô, não? Que inferno! — suspirei, retomando: — Saibam que Ambre não passa de uma criança stalker. E eu só digo uma coisa para vocês: tomem cuidado! Fechem as janelas quando forem fazer isso, ela pode estar observando vocês.

Ri do que havia dito.

Sem saber muito o que fazer, eu saí do Morrison.

"Você foge de tudo e de todos."

Nisso, Castiel estava certo. Mas pelo menos, eu consegui encarar a situação de cabeça erguida, e achei que minhas palavras foram boas, para dar um tapa na cara de cada um dos retardados que estavam presentes lá.

Cada um.

Não demorou muito para que Íris viesse correndo atrás de mim, chamando minha atenção. Não queria saber o que ela tinha para me falar, mas não iria descontar toda a minha decepção nela:

— O que há?

— Todo mundo começou a te aplaudir lá... você não deveria ter saído. Deveria ter visto algumas pessoas tirando com a cara de Ambre. Foi tão pesado, que ela saiu de lá também — comentou. — Parabéns, seu humor venceu tudo lá.

— Tá, valeu — ela me abraçou de lado. — Eu preciso de um tempo. A gente se vê em casa.

— Para onde você vai?

— Parque.

Ela assentiu positivamente e beijou minha bochecha, depois voltou para o Morrison.

Segui para o parque.

Que se dane ela também... se quiser falar mal de mim, que fale. Quem não deve, não teme. E eu não devo nada para Ambre. Se ela continuar a me atacar com essas merdas, o problema vai ser dela. Eu vou estar muito ocupada com minha faculdade, para dar bola às brincadeirinhas dela.

— Ei! Pequena!

Me virei para trás, vendo Armin caminhar até mim.

— Ei, cara.

Ele veio rapidamente na minha direção e me abraçou sem pedir permissão. Abracei-o mais forte ainda e senti uma vontade pequena de chorar, mas consegui controlar.

— Como você está?

Ele beijou o topo da minha cabeça.

— Assustada.

Na verdade, a palavra certa seria acabada.

— Não se preocupa com ela, menina bonita. Como você disse, a Ambre é uma criança.

Eu assenti positivamente. Nos separamos por alguns segundos. Depois disso, Ambre saiu pela porta da frente do Morrison, e eu a encarei pensando que ela já tinha saído de lá.

Ela puxou uma carteira de cigarros, acendeu um e deu a primeira tragada.

— Bem vinda de volta.

Dito isso, jogou a fumaça na minha direção e saiu.


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Notas finais do capítulo

quase terminando!!!