Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 46
XLI — Desespero.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado: [20/08/2014]. ~~quediabosta.



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P.O.V JANE SLANDER.

Paris, 22:12

Em casa, finalmente.

Agora é só voltar para a minha rotina de sempre e esquecer o que aconteceu naquela droga. Pensando bem, me vingar pela última vez de Ambre não seria uma má ideia. Só que... eu acho que tenho idade suficiente para encarar isso como uma brincadeira da parte dela. E uma vingança gera outra guerra... E eu não quero isso. Só vai atrapalhar a atrasar minha vida.

Ambre que se foda.

Ambre que vá pro inferno.

Ambre que vá transar, porque isso é falta de sexo.

Menina mais chata!

E olha no que eu estou pensando. Parabéns, Slander!, eu deveria estar dormindo, amanhã é meu primeiro dia no laboratório de informática. Eu quero que tudo ocorra bem, e espero muitas dúvidas vindas dos estudantes, para que possa ajudá-los e reconhecer a minha capacidade.

* * *

Acordei antes mesmo do despertador tocar.

Parece que os dias de insônia voltaram... e minhas olheiras devem estar mais roxas do que qualquer coisa que é roxa.

Me levantei da cama e fui me arrumar. Como estava chovendo, acabei pegando uma carona de carro com a minha mãe. Mesmo saindo mais cedo de casa, eu quase me atrasei. Isso porque havia um pouco de trânsito.

Cheguei em cima da hora, mas a professora me deixou entrar na sala de aula. Assisti à todas as aulas com a maior atenção do mundo, porque eu não poderia deixar nada escapar. Em alguns minutos eu tentava não piscar, mas isso só tirava a minha atenção, e me deixava com vontade de dar risada.

A Slander retardada não morreu. Ainda.

— Jane Slander... — era aquela professora, aquela professora. Que quase me matou de susto na última vez que me chamou: — Poderia vir aqui?

Arqueei minha sobrancelha direita, encarando ela. Dessa vez, não parecia que ela poderia me dar um susto, ou uma notícia boa. Não protestei. Apenas assenti positivamente e saí da minha carteira, caminhando até ela.

— Sim?!

— Quero que dirija-se até a coordenação agora. Eles irão lhe explicar melhor o que aconteceu.

— Tudo bem, mas... é muito grave?

— Depende do seu ponto de vista — ela disse.

Dei de ombros e saí da sala de aula.

Fui até a coordenação e bati na porta. Uma vez, nada. Duas vezes, nada. Ninguém me atendia. O que estava acontecendo? Aquela mulher me mata de preocupação e agora ninguém atende a droga dessa porta?

Vão tudo pro inferno!

Depois dessa minha crise de raiva mental, algum ser humano abriu a porta:

Olá, Jane — falou a mulher, com um ar de preocupação: — Entre.

Nah, agora fodeu tudo.

— Obrigada — agradeci, cabisbaixa. — Aconteceu algo...? Eu fiz alguma coisa...?

Ela, primeiramente, apontou para que eu me sentasse. E, antes de me responder, ela se sentou à minha frente também. Entrelaçou as mãos na mesa e me encarou por uns dois segundos, suspirando pesadamente:

— Nós precisamos falar sobre a mensalidade do seu curso.

— O que tem ela?

Ela olhou para os lados. Então, levantou-se e abriu um armário, tirando alguns papéis de lá. E no final, ela colocou apenas dois papéis na mesa. Indiretamente, ela estava pedindo para que eu analisasse-os.

— Está atrasada em dois meses.

— Dois meses? — balbuciei.

Trêmula, peguei os papeis e li eles com cuidado. Com o maior cuidado do mundo. Minha mãe... Liv! Ela não tinha pagado a merda da minha mensalidade. E eu estava estudando bem feliz, pensando que estava tudo bem! Puta que pariu, ela vai se ver comigo quando eu chegar em casa.

Liv, você está ferrada.

E eu também, claro.

— No primeiro mês, cobramos sua mãe. Ela ficou de vir aqui pagar, mas nunca apareceu. Ligamos para ela, mas ela disse que não tinha dinheiro para tal — ela disse, calmamente: — Entramos em um acordo, então. Ela disse que devíamos esperar pelo outro mês, assim, ela pagaria duas mensalidades juntas. Concordamos, você é uma ótima aluna. Uma das melhores daqui.

— Minha mãe fez isso?

Ela assentiu positivamente, pegando os papéis.

— Sugerimos que você vá para casa e converse com a sua mãe. Não poderá continuar estudando, sabendo que tem uma boa quantia que nos deve... Mas o dinheiro tem que ser pagado até o próximo mês. Sem falta.

Eu queria bufar, mas minha raiva era maior:

— Tem a minha palavra.

Dito isso, eu saí às pressas da coordenação.

Como eu iria pagar todo aquele dinheiro em um mês? Sabendo que depois tem o terceiro mês atrasado da mensalidade... eu não sei como eu não enlouqueci até agora.

Talvez a ficha não tenha caído ainda.

Ainda.

* * *

— Mãe?! — chamei ela, abrindo a porta. — Ô, velha! Tá em casa? Temos que resolver alguns assuntos... aqueles assuntos que nem pro inferno você vai fugir de mim!

— O que você quer?

Parece que ela está em casa... coisa rara!

Aproximei-me vagarosamente da cozinha, nada dela. Fui até a sala e acabei vendo a minha mãe deitada no sofá, com os pés em cima da mesa de centro. Sem falar na visão do inferno que era ver ela com um copo de refrigerante em cima da barriga.

Cansaço.

— Minha mensalidade, mãe — ela olhou para mim: — Está atrasada em dois meses. E vai ficar em três, se você não pagar logo.

— Eu já disse que iria parcelar tudo.

Ela voltou sua atenção para a televisão.

— Mãe! Elas acabaram de me dizer que eu teria de parar de estudar se não pagasse tudo de uma vez. Como raios você esqueceu, ou parou de pagar? Com o que você anda gastando seu dinheiro? Eu sei que o seu salário pode pagar a minha faculdade!

Ela se levantou do sofá, calçando suas pantufas e fugindo de mim. De novo:

— Eu estou com dor de cabeça — ela falou, simplesmente: — Amanhã conversamos.

Senti meu sangue fervilhar. Segui ela até seu quarto, e, a impedi de fechar a porta:

— Foi a bebida, não é? — grunhi, forçando abrir a porta toda: — Você está torrando todo o seu dinheiro com a droga da bebida, não é?

— Jane, me deixa dormir. Por favor.

— Pois que vá dormir no inferno, Liv Slander.

Fechei a porta.

* * *

Três dias se passaram.

E em três dias eu decidi quebrar o meu cofrinho. Sim, eu tenho um pequeno cofre onde eu guardo as minhas economias. Na verdade, aquele cofre era apenas um meio de... de eu fugir, um dia.

Eu tenho crises, admito. E aquele seria meu refúgio. Se eu percebesse que estava no limite, eu o estouraria e fugiria. Mas não vou mais o fazer, porque esse dinheiro vai para a universidade.

Não era muita coisa, mas... era um começo.

Tentei ir mexer um pouco no computador para tentar esquecer toda a história, mas quando vi Armin disponível no bate-papo, eu só me imaginei contando todas as merdas para ele. E eu vou conseguir esquecer? Não.

Armin Hertz: Hey, menina bonita!

Soltei uma risada leve.

Jane Slander: Fala, gostoso.

Armin Hertz: Hmmm, deixe-me ver... tudo bem com você?

Jane Slander: Se eu falasse sim, estaria mentindo. Ou seja, não. E com você?

Armin Hertz: Opa! Eu estou bem, mas... bem preocupado. O que aconteceu?

Antes de continuar a digitar, ponderei. Eu não queria encher Armin com os meus problemas, mas ao mesmo tempo queria. Eu queria que ele me ajudasse, e me aconselhasse no que fazer... como sempre. Como sempre ele me ajudou a não perder a cabeça.

Tudo bem, eu consigo.

Jane Slander: Descobri hoje que a mensalidade da universidade está atrasada em dois meses. E eu tenho que pagar até no próximo mês... só que eu não tenho dinheiro. Muito menos a minha mãe.

Armin Hertz: Sua mãe? Ela...?

Jane Slander: Isso mesmo. Bebidas, Armin. Desde que meu pai morreu ela é assim. Não tem mais jeito, eu tenho que me virar sozinha. Mas eu não sei como! Eu estou literalmente desesperada!

Ele deve ter pensado que se eu estivesse desesperada, não estaria no computador. Ou ele não pensou isso, tanto faz.

Armin Hertz: Lembra quando eu te disse que amigos devem se ajudar?

Jane Slander: Armin, não ouse.

Armin Hertz: Não me impeça.

Quando eu fui responder ele — lê-se: xingar ele —, Armin saiu. Ficou offline. Fugiu. Morreu. Sumiu.

Ele já sabia que eu iria ficar brava. Ele já sabia o que iria acontecer.

Ele é louco ou o quê? Como ele vai me pagar isso?

Eu estou feliz e triste ao mesmo tempo. Porque é Armin que está me ajudando. Aquele cara que sempre ficou do meu lado, e eu nunca fui capaz de retribuir tanta gratidão que eu recebi dele em um determinado tempo!

Eu juro que me odeio!

Eu me sinto mal por isso. Ele é uma pessoa boa, talvez a melhor pessoa do mundo pra mim.

Talvez ele apareça aqui e diga: "Juntaremos as nossas economias!" e no final ele vai dizer que a gente vai ser feliz pra sempre. Que merda, hein, Armin.

Agora eu devo a minha alma pra ele.


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Notas finais do capítulo

vcs ñ tem noção de como eu to puta da cara hj.