Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 44
XXXIX — Tensão.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado. [15/08/2014].



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P.O.V JANE SLANDER.

Acordei normalmente, e ainda estávamos no ônibus. Não por muito tempo, porque Nathaniel disse que já estávamos na cidade vizinha e, em menos de uma hora, chegaríamos à Sweet Amoris.

Grande notícia. Eu estava tendo a impressão que tinha dormido por três dias.

Alguns minutos passaram, e o motorista se dirigiu para o terminal. Estacionou o ônibus em um local apropriado e falou que estávamos na cidade e poderíamos sair do veículo.

A viagem realmente foi cansativa, para voltar, eu vou me obrigar a ir de trem. É melhor, realmente.

Quando descemos do ônibus, me despedi de Nathaniel. Ele seguiu para o lado oposto de mim, entrando em um carro preto, muito bonito. Deve ser os pais dele... Mas eu ouvi rumores que ele mora sozinho com a Ambre, e que os pais dele não dão a mínima para ele e Ambre.

Vai saber.

Falaram também que ela tá viciadona em heroína, cocaína e maconha.

Tinha que ser a Ambre.

Logo o táxi veio. Coloquei minha mala no porta-malas e entrei no carro. O taxista não se deu ao direito de me ajudar, mas também, não era necessário. Era apenas uma mala.

Indiquei-lhe o novo apartamento de Íris e ele me levou até lá. Era um edifício muito bonito, queria saber onde ela está trabalhando pra conseguir morar num lugar desses.

Desci do carro e fui até o interfone. Me identifiquei e ela destrancou a porta do hall, para que eu pudesse subir até o apartamento dela. Foi cansativo, mas quando o fiz, ela já estava me esperando de porta aberta.

Larguei minha mala e corri abraçá-la:

— Íris! — gritei, quase sufocando a coitada: — Que saudades!

— Jane! — ela gritou no meu ouvido, vaca dos infernos: — Nem me fala! Como você está diferente...!

Nos separamos e eu dei uma verificada geral em mim:

— Ah, meus seios estão maiores — brinquei. — Não, espera... era brincadeira.

— Eu sei — ela zombou. — Vou chamar o google pra procurar seus seios.

— Vai começar com o bullying logo cedo, Íris? — cruzei meus braços, rindo: — Ok, mudando de assunto... onde eu deixo as minhas malas?

Ela virou para trás e apontou para o sofá. Dei de ombros e caminhei até lá, deixando ao lado do sofá, porque eu era educada. Isso mesmo, era. Ok, eu ainda sou, mas só um pouquinho.

Ela ligou a televisão e colocou em um volume baixo. Sentou ao meu lado e ficou me olhando por um tempo, depois deu risada. Tínhamos essa mania, quando a gente não tinha assunto, fazia isso. Era legal.

— E como andam as coisas? — indaguei. — Qual a novidade para me contar?

— Está tudo ótimo — ela deu um sorriso muito grande, muito mesmo. Seus olhos chegaram a brilhar: — Você não vai acreditar...! Jane, eu vou me casar!

Essa era a novidade? Que broxante.

Mas como ela é minha amiga, vou fingir que estou surpresa feat. feliz.

— Uau! — tentei passar a mensagem que estava animada: — Com o Lysandre, né? Nossa, Íris! Parabéns! Eu nunca imaginei que vocês se gostassem tanto!

Acho que eu fui convincente.

Ela sorriu largamente e pegou minha mão, se balançando como se tivesse um bicho na bunda:

— Sim!!! — falou. — Estamos muito felizes! O casamento vai ser ano que vem. Mais um motivo para me visitar de novo!

Dei um sorriso meio amarelo, do tipo: "Que porra é essa, Íris?"

— Claro... — falei, quase sem voz. — Eu venho sem falta! E como estão... os... outros?

— O Armin... — ela ponderou: — Ah! Você nem vai acreditar! Ele montou uma loja de jogos, está vendendo superbem. A gente pode visitar ele se você quiser!

Meu garoto... cresceu tão rápido!

— Eu fico feliz por ele — respondi.

Nos levantamos do sofá e fomos até a cozinha comer alguma coisa. Decidimos que depois disso iríamos visitar Armin na loja dele. Tivemos pouco tempo para falar dos outros indivíduos que eram nossos colegas, porque acabamos conversando sobre a festa de reencontro.

Depois, saímos de casa. Íris foi falando o trajeto inteiro de como se chegava lá, para que eu gravasse e um dia fosse visitá-lo novamente. Meio desnecessário, porque... eu não moro aqui.

Paramos em frente a uma loja bem grande. Dava para ver pelos vidros que ela era bem legal. Vendia jogos, camisetas de jogos, bonequinhos de jogos, videogames, e mais algumas coisas...

Não havia ninguém lá dentro, até o Alexy surgir do além:

— Oi, Íris!

Íris cumprimentou ele e então apontou para mim:

— Jane? — ele sorriu demais e correu até a minha direção, me abraçando e me rodopiando no ar: — Você é tão pequena que eu não te vi!

— Tá o mesmo viado de sempre — nós rimos, beijei sua bochecha: — Como você tá?

— Super bem, ainda mais agora! Céus... Eu vou chamar o Armin! Ele vai amar te ver!

Assenti positivamente e vi ele indo até o balcão. Havia uma porta branca atrás, ele entrou lá. Disse bem alto que havia uma pessoa querendo ver ele. Dei uma esticada no pescoço e o Armin olhou pra ele com uma cara de: "Vai se catar".Até ele olhar em direção a porta e me ver, até acenei um oi meigo pra ele.

O garoto se levantou da cadeira e saiu da porta às pressas. Não tirava o sorriso do rosto, sem falar nada, se abaixou um pouco e me abraçou:

— Ei...

— Ei... — falei de novo, sorrindo. — Tudo bem?

— Melhor impossível — ele sussurrou no meu ouvido. — E com você?

— Também.

Nos separamos e ficamos nos olhando por alguns segundos. Se eu falasse que nosso pensamento estava interligado sobre as tardes que passávamos juntos, com certeza estaria falando a verdade.

Sorrimos juntos. Então eu abaixei minha cabeça, percebendo que iria corar.

— Ahmmm... — Íris pigarreou. — A gente podia ir no Morrison hoje.

Morrison... Ah! Aquele bar!

— Seria uma boa ideia — olhei para Armin. — E aí?

— Combinado. Hoje no Morrison — ele sorriu. — De noite, às oito?

— De noite, às oito! — Alexy apareceu, confirmando.

Ficamos um tempo em silêncio. Até Alexy começar a rir sozinho... Entre risos, ele conseguiu dizer que estava lembrando de um dia que fugimos do colégio para ir ao Morrison. Aquele mesmo dia que eu tentei pular a cerca e caí de cara no chão, daí, Armin, o médico, tratou de cuidar de mim.

Quanta merda.

Após um tempo jogando conversa fora, eu e Íris voltamos para casa. Ficamos o caminho inteiro lembrando das loucuras que fazíamos no tempo que eu morava aqui. Era bom... eram coisas pesadas que eu nunca me arrependeria de fazer. Eu não me arrependo de nada que vivi aqui, pra falar a verdade.

* * *

— Vamos, então?

Íris deu uma última olhada no espelho e reclamou que estava começando a ficar gorda. Era uma grande mentira, porque Íris tinha um corpo muito bonito, daqueles esculturais sem exagero. Imagina o que o Lysandre não pensa dela.

Aaaah, brincadeira!

Íris estava usando um vestido, a noite estava agradável. Seu vestido era branco e rodado, superleve. Usava uma sapatilha da mesma cor, e a sua pele era levemente bronzeada, o que a deixava linda.

Mas e a Jane? A Jane tá usando um jeans, uma camiseta, um casaco de couro e um coturno. A Jane sempre usa isso, né, Jane? Aham.

— Vamos combinar de duelar hoje? — perguntei.

Ela assentiu positivamente. Eu e Íris sempre trapaceávamos. Armin ficava irado, porque vencer dele é quase impossível. Eu tenho dificuldade, mas venço. Só que pra a Íris ganhar do Armin, é complicado... ela mal sabe controlar um personagem em um jogo.

Saímos de casa e fomos até o local.

Antes de entrarmos, esperei Íris arrumar a sapatilha que estava machucando ela. Aproveitei para dar uma verificada no meu coturno, que já estava mais fodido do que eu. Sério, ele é velho e eu vivo usando ele. Então...

— Jane?

Não reconheci a voz.

Olhei para os lados e não vi ninguém. Na minha frente também não havia nada, mas, atrás... a praga havia aparecido para me atormentar novamente. Infelizmente:

— Ora, ora... — falei, desinteressada: — Castiel.

Íris sussurrou no meu ouvido, dizendo que iria entrar e distrair os garotos, porque imaginava que eu demoraria ali. Assenti positivamente, concordando com ela. Observei ela ir, e, então, olhei para trás novamente. Ele estava se aproximando, com um sorriso debochado no rosto.

E que a merda comece.

— Bom rever você, Slander.

Arqueei minha sobrancelha, concordando lentamente com a cabeça. Coloquei minhas mãos no bolso da minha jaqueta, dando indiretas para que ele falasse logo o que queria.

— Vai na festa? — ele perguntou.

Voltei a encará-lo, séria:

— Eu vim aqui por isso.

— Então a gente se vê — ele me olhou, seco: —, por aí.

— Talvez.

Crispei meus lábios e entrei no Morrison.

Logo que entrei, vi os três sentados em uma mesa. Não percebi se fiz barulho, mas consegui perceber três cabeças girando na minha direção. Eles levantaram animados, pedindo para que eu caminhasse mais rápido até eles.

Pegamos as duas guitarras que havia lá. Fizemos duplas, eu e Íris contra Armin e Alexy. Achei meio injusto, mas Alexy disse que se eu fosse com Armin o time ficaria muito forte. Então eu aceitei ir com a Íris.

Escolhemos Comfortably Numb no hard. Peguei a guitarra e encarei Armin, iria duelar contra ele. Como Alexy dizia: uma luta de gigantes. E iria ser, eu ia pender muito pra ganhar dele. Mas iria me esforçar.

Foram quase sete minutos de tortura. Eu estava perdendo. No começo da música, saí ganhando de disparada... até chegar o segundo solo, onde Armin me detonou com seus combos.

E eu perdi.

— Ganhei, Slander.

— Eu sei... — resmunguei, tirando a guitarra e dando para Íris: — Menino feio.

Ele parou, subitamente. Olhou pra mim:

— Você ainda lembra?

— Ahm... sim — eu acho que corei. Menina bonita, menino bonito... é, eu lembro dos nossos apelidos escrotos.

— Cara — ele se aproximou: — Eu te amo demais.

Soltamos uma risada rápida e nos abraçamos. Consegui escutar o Alexy dizendo que a gente ainda iria se casar, mas não dei bola. Eu não me casaria com o Armin, ele é meu irmão, de outra mãe. E irmãos não se casam.

— Vamos voltar a jogar — falei, me separando dele. — E dessa vez eu vou ganhar!

Jogamos duas partidas. Íris perdeu de Alexy. Íris perdeu de Armin também. Ela era uma ruim mesmo, mas eu entendia ela. Então eu quis revanche contra o Armin... e a novidade?

Eu ganhei!

— Até que enfim! — ergui a guitarra, cansada.

— O Armin deixou vocês ganharem!

Soltei a guitarra, deixando o apoio dela machucar meu pescoço. Virei-me lentamente para ele, que estava cabisbaixo e coçando a nuca. Poderia dizer que ele estava sexy, mas a raiva era maior.

— Isso é verdade?

E o desgraçado se fez de desentendido:

— Eu? O-lha... a minha cara de... quem — ele engoliu em seco: — faria isso.

— Não sabe nem mentir — balancei a cabeça negativamente e ri: — Vamos outra vez. Essa não valeu.

Jogamos mais três partidas. Ganhei duas, mas mesmo assim no placar eu fiquei perdendo pro Armin. Aceitei numa boa, até porque ganhar duas vezes dele é esforço e... sorte.

— Foi bom jogar com vocês.

Armin deu um sorriso terno:

— Não fica assim... — ele disse. — Quando a gente vinha aqui, você ganhava.

Eu trapaceava!!!

— Tem razão — menti. — É muito tempo sem jogar, deve ser por isso.

Fomos até uma mesa e nos sentamos lá. Conversamos por alguns minutos, até dar onze horas e os garotos irem. Eu e Íris decidimos ir também, mas antes passamos pela praça... aquela praça meio maldita, mas legal. Eu ia quase toda madrugada nela com o Castiel.

E foi aí que eu cogitei a possibilidade dele estar lá.

E estava, de fato.

— O que as menininhas fazem aqui?

Suspirei, revirando meus olhos:

— Vê se não é o encosto — murmurei para mim. — Inferno.

Íris ficou quieta, percebendo a tensão, enquanto Castiel se divertia com a situação:

— Íris, acho melhor a gente ir. Está tarde.

— Ou o Castiel está aqui? — ele disse. — Para com isso, novata.

"Novata", ele lembra? Sinceramente... ele não tem quem incomodar mesmo.

— É verdade — Íris gaguejou. — Vamos, Jane.

Não respondi, apenas fixei meu olhar em Castiel, como se eu pudesse matá-lo de diferentes formas possíveis.

— Não percebeu, Íris? — ele pigarreou, debochadamente: — Ela tá fugindo de mim. Como sempre fez.

Aquelas palavras vieram como um choque para mim. Encarei-o com a maior frieza possível, não acreditando nas palavras que ele havia dito. Seu nível de idiotice aumentava a cada suspiro que ele dava:

— Vai indo, Íris — falei, massageando meu pescoço: — Dessa vez eu não vou fugir dele.

Ela engoliu em seco e assentiu positivamente, desaparecendo rapidamente do lugar.

— Seja breve, Castiel.

Ele se sentou, rindo um pouco. Mas ficou sério logo em seguida, então, puxou uma carteira de cigarro, acendendo um no mesmo minuto. Me ofereceu, mas recusei.

— Ficou aqui porque quis.

— Negativo — respondi, sentindo meu rosto arder de raiva. — Eu só estou aqui para provar que eu não fujo de você, tampouco tenho medo de você. Cresça, Castiel. Você ainda é uma criança... — me aproximei de seu rosto: — uma criança perturbada.

— Perturbada?

Nessa hora, levantei-me e sentei ao seu lado:

— Você é uma criança perturbada... uma criança presa no corpo de um delinquente. Consegue entender?

— Sério, Slander? — ele usou o sarcasmo novamente, única arma que tinha: — Só porque eu tenho pesadelos com a Debrah? Só porque meus pais me abandonaram por um trabalho? Só porque eu uso todo mundo?

— Exatamente.

— Cara... que besteira.

— Primeira ação humana: negação — era a minha vez de debochar.

— Desde quando você aprendeu a revidar às minhas provocações?

Dei de ombros:

— Desde quando eu desisti de correr feito uma cadela atrás de você? É, acho que foi por aí.

— Remorso — ele disse.

— Eu não acho mais graça conviver com as pessoas, Castiel. Eu mudei, admito. Eu acho chato festas, odeio tributos, não jogo mais... não consigo me relacionar direito com meus colegas de classe. Não tenho amigos na faculdade. Sou uma pessoa extremamente isolada e focada nos estudos — suspirei, vendo a merda que estava falando: — Pensei que poderia tentar... tentar resgatar alguma Jane viva em mim. Eu morri, Castiel. Eu literalmente morri.

— Eu não duvido, Slander — ele ficou sério: — Você cresceu.

Isso não era verdade.

— E o que você sente por mim? — ele perguntou.

— Nojo, ódio, raiva, mágoa... — dei uma risada rápida, olhando para ele: — E o amor foi. Mas para onde ele foi?

— Eu não sei — Castiel jogou o toco de cigarro no chão. — Acho que nunca houve amor entre nós, ou ele não era recíproco.

— Eu amei você — disse. — Mas depois de tudo o que aconteceu... eu acho que eu nunca conseguiria perdoar você. Nunca.

— Eu entendo.

Respostas rápidas. Eu odeio isso nele.

— Eu tenho saudades dos meus amigos, mas não é a mesma coisa.

Ele olhou pra mim, arqueando a sobrancelha:

— Continua.

— A Tecnologia, meu curso, me preenche. Eu esqueço de tudo e de todos. É como se ele sugasse minha sanidade... Eu não sei bem.

— Não se assuste se... — ele levantou do banco: — eu dizer que provavelmente você está virando uma versão feminina minha.

Ele acenou com a cabeça e se virou de costas, caminhando até o final da praça. Se isso acontecesse há dois anos atrás, eu provavelmente estaria morrendo de tanto chorar. E, sinceramente, eu estou me sentindo muito bem que ele foi. Muito bem mesmo.

Ele virou para trás, chamando minha atenção:

— Vejo você na festa?

Assenti levemente minha cabeça, confirmando.


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Notas finais do capítulo

nunca se amaram, esses fiadaputa.