Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 41
XXXVI — Ontem.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado. [04/08/2014].



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P.O.V JANE SLANDER.

O quê?

Finalmente a Íris ficou mais de meia hora na casa dela. E é claro que tinha um motivo... eu havia me lembrado de tudo da noite passada. E a voz dela estava decepcionada, mas misturava malícia e surpresa. Eu... Droga! Eu disse tudo com tanta dificuldade, e agora a Íris vai simplesmente me mandar repetir tudo o que eu havia dito.

Ela tinha gritado.

— Calma... — falei, de olhos fechados. — Eu tô me sentindo um lixo.

— Jane Slander! — ela gritou. — Você vai me contar tudo isso nos mínimos detalhes. Porque eu não me contento com um: "Fiz +18 com o Castiel" Vamos, comece a se explicar!

Engoli em seco. Sorte que os surtos dela não eram de raiva. Era porque ela estava surpresa e curiosa...

— Tudo bem, eu vou te dizer tudo. De acordo com o que eu lembro.

— Vai lá! — ela disse, animada. — Eu não sei se eu mato o Castiel ou quê. Anda, menina!

Se você parasse de falar, eu poderia te contar, Íris!

Revirei os olhos e soltei uma risada. Mas é claro que eu fiz isso forçadamente, porque por dentro eu queria deletar a noite de ontem e fazer tudo novamente, só que diferente. Sem bebida, sem loucura, sem tributo ao Arctic Monkeys, sem nada. Só eu, um sofá, o escuro e um pote de sorvete no inverno.

— Eu lembro de ver tudo meio embaçado, logo depois que eu bebi as minhas doses. E não vem dar sermão porque eu estou quase fazendo dezoito anos, dá na mesma beber agora ou depois.

— Tá, sim, continua! — ela implorou.

— Bem... O Castiel perguntou se eu queria ir pra casa, e eu neguei. Ele não protestou, então tomou um pouco também. Mas o fígado do Castiel é diferente do meu, e demorou muito para que ele começasse a ficar tonto — suspirei. — Deixando claro que ele não ficou bêbado que nem eu. Ficou menos. Eu estava precária!

— Muito?

— Demais — respondi. — Depois disso, começou a tocar Cigarette Smoke, e o pessoal enlouqueceu! Todo mundo começou a se empurrar e a famosa roda punk se formou. Eu entrei, porque eu gosto e o Castiel também. E quando eu comecei a me machucar, eu saí e me sentei numa mesa. O Castiel veio atrás, perguntando se eu estava bem, eu disse que sim. Mas ele não acreditou, decidiu que me levaria pra casa, porque eu estava muito bêbada.

Ihh, já entendi.

— Deixa eu continuar!

— Ai, desculpa! — ela disse, assustada.

— Tá, tranquilo até aí... a gente caminhou normalmente. Quero dizer, nem tanto, eu meio que cambaleava. Mas ainda estava consciente dos meus atos. Só que essa consciência foi embora quando ele entrou aqui comigo — falei, mordendo meu lábio. — Eu agradeci, e com isso, eu beijei ele. Eu beijei ele, Íris.

— Porra, Jane... — ela murmurou, boquiaberta. — Tu não presta pra beber.

— Eu sei — resmunguei. — Eu lembro que disse pra ele "eu ainda gosto de você", o que não é mentira. E nisso, eu mordi o topo da orelha dele, não me peça como, mas eu consegui. Estávamos sentados no sofá, foi fácil. Se eu não me engano, Castiel riu e disse que eu não devia fazer isso.

— Tu acha que é legal quase deixar ele de pau duro? — Íris se indignou.

Eu juro que eu mato ela.

Pau duro? Tá doida? Olha pra a minha cara e vê se eu consigo deixar ele assim.

— Continua, Jane. Você no fundo sabe que deixa ele doidinho.

— Ai, cala a boca! — gritei, rindo. — Eu dei risada depois e me aproximei dele. Íris, eu quase sentei no colo do indivíduo, ele disse: "Isso é tortura, Slander"

Nooooooossa, sua nojenta! — ela gritou. — Depois tem a cara de pau de dizer que não deixa o Castiel com a maior vontade de te...!

— Continuando — cortei ela: — Eu parei. Ficamos nos encarando por alguns segundos, então, o Castiel avançou em mim com a maior brutalidade do mundo. Ele me pegou pelos ombros e subiu em cima de mim. Me beijou violentamente, tipo, muito violentamente! Ele tirou a jaqueta dele... A-R-R-A-N-C-O-U minha blusa e...

— E aí a safadeza começou.

— Exatamente — concordei.

Ela balançou a cabeça negativamente e começou a rir. Eu realmente não via graça naquilo, sinceramente. Eu me sentia praticamente uma vadia! E depois a Íris começou a dizer que eu tive uma coisa digna com o Castiel. Que foi demais e não sei o quê.

Se eu tivesse uma escopeta, tinha estourado a cabeça dela 69 vezes.

69...

Ah, merda! Até assim?

Depois ela começou a me dar conselhos, eu fingia ouvir, mas minha mente só se voltava para ontem, ou mais propriamente, hoje de madrugada. Eu não conseguia acreditar que aquilo havia acontecido... foi do nada, simplesmente fluiu e eu não fiz nada para impedir.

— Usou proteção, Jane Slander?

Agora sua voz era séria.

Vasculhei a minha memória. Não encontrei nada que pudesse afirmar, muito menos uma insinuação de Castiel. Então, a resposta é não. Eu estou literalmente fodida. Eu me fodi sozinha, sem a ajuda dele! Tem coisa pior que ele? E se eu ficar grávida? Vou ter um filho com cabelo de menstruação.

Ou vai ser preto, porque o cabelo dele é preto. Ou loiro, o meu é assim.

Olha no que diabos eu estou pensando!!!

— Jane?

Balancei minha cabeça, tentando voltar à realidade.

— Ah, sim, sim! — menti. — Óbvio, que pergunta!

Nisso, ela saiu do quarto, dizendo que já voltava.

Joguei minhas costas na cama e fechei meus olhos.

Se for isso mesmo... eu acho que estraguei a minha vida. E a maior culpada disso tudo sou eu mesma.

* * *

Três dias se passaram.

Nesses três dias eu não corri atrás de Castiel, muito menos ele de mim. O que mais me doeu foi ele deixar a entender que não queria nada a mais que sexo. E eu fui burra em pensar que naquela noite a gente pudesse ter alguma coisa, ou voltar a ser aquele casal que briga, mas cinco minutos depois já está de volta.

Se Castiel queria terminar de me usar, ele conseguiu. Talvez não estivesse satisfeito com todas as minhas resistências durante o nosso namoro.

Por um lado, ele não vai mais precisar se preocupar com isso. Conseguiu o que queria, e eu estou indo à Paris. Ele não vai mais precisar olhar na minha cara e rir de mim, ou até mesmo debochar de mim. Eu acho que só depois de um certo tempo que você leva tanto tapa na cara da vida, que você se toca... E percebe o quão monstro ele é.

Encarei minha passagem por um tempo. Algumas horas de ônibus e trem, mas míseros quarenta e cinco minutos de avião.

Eu só preciso arranjar vergonha na cara para falar com a minha mãe e pedir abrigo na casa dela. Vai ser difícil, eu conheço ela. Ela é dura, ainda mais quando é fortemente decepcionada. Liv deve estar querendo o meu fígado desde hoje... Se eu não tivesse fugido, tudo estaria melhor agora.

Sem falar na minha probabilidade de... Droga!

— Jane!

Olhei para a porta e vi Íris escorada no batente dela. Sorri e assenti positivamente, mesmo ela não tendo dito nada. Peguei minhas malas e carreguei elas até perto de Íris, que me ajudou com uma mala.

Saímos da casa dela e entramos no táxi, que já estava a nossa espera.

O trajeto foi curto e silencioso.

Descemos do táxi e Íris me ajudou com as bagagens. Tratamos dos documentos e da passagem, enquanto o meu voo não chegava. Fora questões de minutos, até que eu me visse abraçando Íris e sussurrando: "Eu vou sentir sua falta!"

* * *

Havia desembarcado em Paris.

Não me dava bem com aquela cidade. Gostava de todas, menos de Paris, porque foi aqui que eu fiz merda. Eu nasci aqui, depois me refugiei pra uma cidade mais pequena que eu. Morei em Sweet Amoris e... agora eu voltei, voltei pra a estaca zero.

"Eu não vou te pedir desculpas, porque sei que eu não era o único que queria aquilo. Só estou um pouco preocupado, você sumiu."

— Idiota.

Levei minhas malas até um outro táxi. Em menos de dez minutos eu estava em frente ao apartamento da minha mãe, se ela ainda mora ali, claro.

Puxei as três malas que eu tinha ao mesmo tempo. Me dirigi até a recepção do prédio e perguntei se Liv ainda morava por aí, o tal homem assentiu positivamente e disse que lembrava de mim. Eu não me lembrava dele, mas não disse isso.

Ele fez questão em me levar até a porta de onde minha mãe mora.

Larguei minhas malas no chão e suspirei pesadamente. Teria muita coisa para esclarecer com ela... seria justo, estou arrependida. Não contaria tudo, só uma parte dos arquivos que consegui recuperar para a minha transferência, que não vai ser necessária. Eu acho que consegui passar de ano.

Toquei a campainha.

Demorou uns cinco minutos para que Liv me atendesse... e quando ela abriu a porta, encarou assustada a pessoa que via bem a sua frente. Ela não sorriu, tampouco mostrou reações.

— Será que... — eu sussurrei: — Você deixa eu voltar?

Eu voltei... E talvez não estejamos mais sozinhas, mãe.

Olhei para a minha barriga e mordi meu lábio inferior.

Voltei a encará-la, esperando alguma resposta.


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Notas finais do capítulo

usem camisinha pessoal.