Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 3
II — Cogitando uma guerra.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado, com algumas modificações, mas sem interromper a estória. [10/03/2014].



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No fim da aula, eu e Nathaniel tiramos quinze minutos para conhecer o colégio de modo rápido. Eu estava morrendo de fome e ele teria de ir embora, então algumas coisas me deixaram em dúvida à respeito do colégio. E, durante o percurso, esforcei-me em tentar decorar cada cantinho. Para que depois eu pudesse conhecê-los melhor sozinha.

— E é assim que se conhece o colégio de modo básico.

Ele ironizou e riu. Eu não achei graça alguma, mas soltei uma risadinha para não parecer muito chata.

— Ela é literalmente mais grande do que a outra em que eu estudava.

— É um bom colégio... — respondeu. — Mas de onde você veio, Jane?

— Da barriga de minha mãe?!

Nathaniel riu.

— Não, não... Eu quis dizer a cidade. Perdoe-me, mas acho que calculei mal a pergunta.

— Sem problemas! — nessa hora, atravessamos a porta, para sair. — Vim de Chamonix, cidade bem pequena. Fica à algumas horas de Sweet Amoris.

— Já passei por lá... Tem uns nove mil de habitantes, não é?

— Sim...

Ao tocar no assunto, lembrei-me de Emy e as merdas que fazíamos em uma cidade tão pequena. Lembrei-me também de quando saíamos em plena madrugada para tocar violão com nosso grupo na única praça da cidade. Iluminada pelas luminárias laranjas e silenciosas... Era assim que despertávamos a vizinhança. Tocando uma boa música do Zeppelin ou improvisando como fazíamos.

— Jane?

Ele me chamou. Chacoalhei a cabeça e o fitei:

— Sim?!

— Quer conhecer a cidade mais pela tarde?

— Hm... Com uma condição...

— Qual? — perguntou ele, um tanto encabulado.

— Se almoçar comigo.

— Pensei que poderia ser algo pior — riu. — Tudo bem, só espere eu avisar meus pais que não vou mais para casa.

Fomos para dentro da sala dos representantes, já que no corredor o barulho estava intenso. Ele fechou a porta e foi para o fundo, pegando seu celular e discando alguns números. Esperei no outro lado da sala, com alguns metros de distância.

P.O.V AMBRE.

Consegui ver os últimos passos da novata. Ela já estava acompanhada de meu irmão e os dois acabaram por ir ao Grêmio Estudantil. Eu não vi nada de ruim, já que o cargo de Nathaniel era mostrar o colégio para os alunos novos. Meu pensamento estava assim, até...

Até Li me cutucar e dizer: "Sério que você não acha ruim os dois entrarem em uma sala vazia?" Meus instintos despertaram. Várias coisas passaram-se pela minha cabeça, principalmente eles dois... beijando-se.

Saí da cadeira e corri para a porta azul. Tentei espia-los pela janela, mas acabei vendo apenas Nathaniel. Estranhei. E, então, abri a porta bruscamente. Escutei um barulho, Jane estava no chão.

— E a educação, loira azeda?

Ela indagou, passando as mãos nas costas.

Pelo que eu entendi, Jane estava escorada na porta e eu acabei machucando-a. Um ponto para mim, e eu nem sabia! Se continuar nesse ritmo, ela volta quebrada para o colégio e, eu particularmente, vou adorar.

— Vamos embora, Nathaniel.

Não dei bola para quem ele falava ao telefone, mas manti minha voz firme. Ele tirou o aparelho do ouvido e olhou para mim:

— Vá sozinha, Ambre. Irei almoçar com Jane. Nos vemos mais tarde.

Dei cinco passos largos a frente. Depositei um beijo na bochecha de meu irmão e um abraço. Girei meus calcanhares e, propositalmente, coloquei o salto agulha de meu sapato em cima da mochila dela.

— Ei! Vai rasgar o tecido!

Fechei a porta, fingindo não ter escutado nada.

P.O.V JANE SLANDER.

— Tua irmã é fogo, hein Nathaniel!

— Desculpe-me... Ela... Enfim! Vamos almoçar?

Assenti positivamente.

Peguei meu celular e avisei minha mãe de última hora. Disse para ela que iria almoçar com meu colega novo, e ela ficou com aquela voz: "Hm... Já arranjou namoradinho?". Na hora, eu tive vontade de entrar no celular e pegá-la pelos cabelos.

Neguei, é claro! Embora eu achasse ele um cara maravilhoso. Falei em códigos para minha mãe que ele era feio pra caramba, ela entendeu, mas não acreditou. Minha paciência esgotou e eu desliguei na cara dela.

— Há uma lanchonete aqui, quando fico sem tempo acabo almoçando nela.

— Podemos ir então.

Quando chegamos, sentamo-nos em uma mesa.

— O que vai querer?

— Um cheeseburguer e... Um suco natural de pêssego.

— Eu vou pedir um prato de saladas e água.

Estreitei os olhos para ele:

— Vegetariano?

Nathaniel corou e assentiu positivamente.

É gay, minha gente. É gay! Não, brincadeira, não tenho nada contra meninos vegetarianos. Ele deve ter uma causa, e eu acho bonito isso. Só é meio desnecessário, porque enquanto ele deixa de comer carne vermelha, tem milhões de pessoas fazendo isso por ele.

Fizemos um almoço rápido.

Nathaniel deixou-me na porta do meu apartamento e foi. Trocamos os números de celular para nos comunicarmos quando fosse preciso. Convidei-o para aparecer aqui algum dia. Ele aceitou, depositou um beijo na minha bochecha e foi.

Eu morri três vezes com a fofura dele.

Entrei em casa e joguei minhas coisas para qualquer canto. Liguei a televisão e assisti minha série favorita por uma hora. Depois disto, fui tomar um copo d'água, mas quando cheguei a cozinha... Vi um bilhete na geladeira.

Quando tem bilhete da minha mãe, nunca sai coisa boa.

Tentando não tremer as mãos, tirei o adesivo dele e o peguei para ler:

"Filha, tem louça para lavar, seu quarto para arrumar e o meu também. Faça bom proveito de sua tarde produtiva. Se fizer tudo direitinho, te pago quinze euros. Mamãe te ama."

Além de me fazer de escrava é pão dura. Ninguém merece.

Olhei para a pia de louças e quase enfartei. Coloquei as luvas amarelas que Liv tinha comprado para não estragar o esmalte da unha dela. Liguei a torneira e comecei a minha tarde produtiva.

Para me distrair, escutei algumas músicas e pensei no curto tempo que fiquei com Nathaniel também. Pensei na irmã dele, que se chamava Ambre. Em qualquer lugar que eu fosse, ela estava lá... Parecia um fantasma. Me perseguia, tirava com a minha cara, chamava-me de anã. Tudo isso em apenas um dia.

Eu tenho que descobrir porque ela faz isso comigo. Se a garota quer guerra, é guerra que ela vai ter.


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