Cartas Para Eduarda escrita por Rachel Sales


Capítulo 5
Dupla traição


Notas iniciais do capítulo

Me desculpeem! Eu tinha deixado a história mas meus personagens insistiram para que eu voltasse. A partir de agora vou tentar escrever sempre *-* Boa leitura!



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O despertador tocou mas eu já estava acordado. Pra falar a verdade acho que tinha passado a noite toda pensando em como contar a Lisa que havia levado uma suspensão.

Me levantei e fui para o banheiro. Enquanto escovava os dentes pude perceber que minha cara estava péssima. Olheiras profundas circundavam meus olhos e faziam com que eu parecesse um morto-vivo. E talvez fosse mesmo.

Tomei um rápido banho e vesti uma roupa qualquer. Peguei um bloco que tinha comprado no dia anterior especialmente para conversar com Eduarda.

"E agora?"

Eu perguntei.

"Minta."

Ela respondeu.

Dei de ombros. Até que a resposta de Eduarda não era tão ruim.

Desci as escadas e dei de cara com Lisa toda arrumada e com uma leve maquiagem. O susto que levei foi tão grande que o meu mau humor matinal passou.

– O que é isso? - meus olhos estavam meio arregalados. Lisa nunca usava maquiagem.

Ela me olhou meio confusa.

– Estou feia? - Lisa perguntou, magoada.

Na verdade ela estava bonita. O único problema era que eu ainda não entendia o motivo para essa beleza.

– Vai sair de novo? - eu perguntei, ignorando sua pergunta anterior. Talvez fosse melhor assim. Lisa estranharia se me visse escrevendo durante horas.

– Vou sim. - ela sorriu. - O almoço está na geladeira.

Eu me encolhi de medo ao lembrar da lasanha assassina do dia anterior.

Tentei disfarçar minha expressão de desespero e fui até a mesa onde estavam mamãe e papai. Ela me deu um beijo na bochecha.

– Bom dia, Ethan! - ela cantarolou alegremente. Hoje não era dia de academia ou aulas de pilates. Era legal quando mamãe ficava em casa.

– Bom dia. - eu respondi. Olhei para o meu pai. Ele apenas me cumprimentou com um aceno de cabeça.

Sentei e peguei uma maçã.

– Só vai comer isso? - minha mãe se espantou.

– Estou sem fome. - eu respondi. Meu estômago parecia estar colado.

– Você tem que comer pelo menos um pouco de cereal. - Lisa me olhou feio e empurrou uma tigela.

Revirei os olhos mas comi sem reclamar. Lisa ficava furiosa quando eu desrespeitava suas ordens.

Depois de um tempo não pude mais enrolar. Peguei a mochila e saí pela porta.

Acho que andei durante um bom tempo. Não podia voltar pra casa porque mamãe estava lá e não podia ir à escola porque o diretor não queria olhar pra minha cara por um bom tempo. Que vida.

Puxei o bloco de dentro da mochila.

"Vamos naquela lanchonete?"

Eu perguntei. Mesmo conhecendo Eduarda há apenas dois dias eu sentia que precisava da opinião dela. Isso era estranho.

"Vamos andar muito!"

Ela respondeu. Eu franzi o cenho.

"Eu vou ter que andar muito. Você apenas flutua."

"Quem disse?"

Fiquei meio espantado. Eu sempre imaginei Eduarda flutuando ao meu lado como um anjo da guarda.

"Então vamos pra onde?"

"Naquela sorveteria à caminho do centro"

Dei de ombros. Pelo menos eu poderia sentar um pouco. Eu estava andando em círculos por um pequeno terreno que ficava à algumas ruas de casa. Minha pernas doíam tanto que comecei a suspeitar que nunca mais voltaria a andar.

Chegamos bem rápido à sorveteria. Sentei em uma canto um pouco afastado do resto das mesas e pedi um sorvete de morango bem grande com bastante calda de chocolate. Vamos concordar que eu merecia isso.

"Quer sorvete?"

Eu escrevi e dei uma risada curta.

"Engraçadinho"

"Você não pode tomar sorvete?"

Eu impliquei.

"Não é isso. Eu só não gosto do sabor morango"

Eu ri mais alto dessa vez. Uma garota ruiva e com sardas no rosto olhou pra mim meio desconfiada.

Abaixei a cabeça e resolvi ficar um pouco mais quieto.

O balconista finalmente trouxe o meu sorvete. Peguei uma colher e comecei a devorá-lo como se fosse o último sorvete da minha vida.

"Eduarda? Você está aí?"

Eu escrevi enquanto comia o sorvete com a outra mão.

"Não me faça mais essa pergunta. Isso é uma carta e não um ritual para invocar espíritos"

Dei uma risada baixa.

"Sua boca está suja"

Eu podia imaginá-la bufando.

Peguei um guardanapo e limpei a boca.

"Assim está melhor?"

"Está"

E um sorriso apareceu desenhado na carta.

"Por que você está aqui?"

Eu escrevi. Ela demorou um pouco a responder.

"Porque quero te ajudar"

"Você vai embora algum dia?"

Senti um pouco de medo que isso acontecesse. Não sabia dizer o que era mas uma sensação estranha se apoderava de mim quando eu pensava nisso.

A resposta de Eduarda não veio. Em vez disso senti aquela mesma sensação de quando Eduarda segurava a minha mão mas dessa vez era na minha bochecha esquerda, como se ela estivesse alisando meu rosto. Devo admitir que achei legal.

A situação não se prolongou por muito tempo pois alguns segundos após Eduarda ter me tocado eu vi Lisa entrando na sorveteria.

Era agora que eu iria descobrir quem era o par romântico de Lisa.

Esperei ansiosamente por uns dez minutos. Meu sorvete já tinha acabado e agora eu estava jogando "Jogo da Velha" com Eduarda. Ela era boa nisso.

"Quando será que ele vai chegar?"

Eu perguntei à Eduarda.

"Acho que ele já está aqui"

Ela respondeu.

"Você conhece ele? Por que nunca me disse quem era?"

"Porque você nunca perguntou. Lembre-se: não posso responder aquilo que você não perguntar"

"Quem é ele?"

Eu perguntei. Mas não precisei olhar para o papel para descobrir a resposta.

Porque no exato momento em que fiz a pergunta, meu pai passou pela porta da sorveteria.

Fiquei parado por um tempo tentando organizar os pensamentos. Então era isso?

Observei enquanto papai se aproximou da mesa e deu um beijo rápido em Lisa. Os dois pareciam dois adolescentes de ensino médio. Eu quis vomitar em cima deles.

Puxei o bloco e risquei a resposta de Eduarda. Eu não precisava ver aquilo.

"Eduarda? Por que eles fizeram isso?"

Lágrimas ameaçavam escapar.

"Vamos embora daqui, Ethan. Você não merece ver isso"

Senti que ela também estava chateada.

Levantei ruidosamente e quase tropeçando. Quando passei pela menina de cabelo ruivo acabei derrubando seu sorvete.

– Ei! - ela reagiu.

– O que foi? - eu gritei. Minha visão estava nublada pelo choro.

A garota se encolheu um pouco e me olhou assustada. Todos da sorveteria olharam pra mim.

– Ethan! - Lisa e meu pai exclamaram ao mesmo tempo.

– Não é isso que você está pensando... - Lisa começou a se aproximar de mim.

– Me deixa em paz! - minha garganta doeu com o grito.

– Ethan, nós podemos explicar... - meu pai falou.

– Eu odeio vocês! - eu exclamei. O ar já estava entrando com dificuldade em meus pulmões e minha visão estava um pouco embaçada mas eu não iria dar o braço a torcer.

Saí da sorveteria com meu pai e Lisa gritando atrás de mim e corri o máximo que pude.

Meus ouvidos zuniam e minha cabeça doía mas eu não queria aceitar a ajuda deles.

Jamais iria esquecer essa dupla traição.


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Notas finais do capítulo

Reviews? :D