Cartas Para Eduarda escrita por Rachel Sales


Capítulo 3
Melhor amiga


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez o capitulo é maior!! :D Boa leitura!



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Acordei de mau humor. Peguei o copo de água que estava em cima da mesinha de cabeceira e tomei em dois goles. A água estava com um gosto estranho.

Praticamente me arrastei para chegar ao banheiro. Geralmente eu acordava meio cansado mas hoje estava impossível manter os olhos abertos. Eu tinha tido pesadelos que haviam me deixado acordado boa parte da noite. E todos eles envolviam Eduarda.

Coloquei uma blusa preta de mangas compridas e um jeans escuro e desci para tomar café. Como de costume já estavam todos me esperando.

–  Bom dia. –  minha mãe sorriu e me deu um beijo no rosto.

Dei um meio sorriso e fui em direção ao cereal que Lisa tinha colocado na mesa.

–  Bom dia, Ethan. –  Lisa também me beijou. Hoje seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo bem mais elaborado que o de costume.

–  Vai sair? –  eu perguntei. Geralmente Lisa não saía de casa. Pelo que eu sabia ela não tinha nenhum parente vivo e não conseguia arrumar um relacionamento sério.

–  Vou sim. E você deveria passar a sair também. –  ela piscou. Eu bufei.

–  Está estressado hoje, Ethan? –  meu pai perguntou embora não tivesse tirado a atenção do jornal.

–  Não. Só estou um pouco cansado. –  eu respondi. Ele não acreditou muito mas também não perguntou mais nada.

–  Tenho que ir ou vou me atrasar. –  minha mãe me deu um abraço e se dirigiu à porta.

–  Onde você vai? –  eu perguntei. Minha mãe estava ficando cada vez mais tempo fora de casa. Se ela continuasse malhando naquele ritmo com certeza ficaria mais magra que um cabo de vassoura.

–  Hoje é dia de pilates. Volto antes do jantar. –  ela colocou os óculos escuros e passou pela porta sem dar maiores explicações.

–  Não estarei aqui na hora do almoço mas tem comida congelada na geladeira. É só colocar no microondas e esperar alguns minutos. –  Lisa sorriu.

"Você está tentando me ensinar a usar um microondas? Sério?", pensei.

Me levantei e pus a tigela de cereal em cima da pia. Peguei a mochila, me despedi de Lisa e de meu pai e saí para a manhã nublada.

–  Você ainda não contou pra eles? –  Dylan me repreendia enquanto andávamos até a escola.

–  Não. Mas eu irei contar, só não tive coragem ainda. –  eu respondi, dando de ombros.

–  O diretor vai te suspender e querer conversar com seus pais. É melhor você prepará-los pra isso. –  Dylan jogou as mãos para o alto. Olhei para ele.

–  E o Andrew? Ninguém está se importando com a reação dos pais dele. –  eu rebati.

–  Claro que não. Andrew tem uma briga diferente a cada semana. O diretor já suspendeu ele tantas vezes que provavelmente ele vai ser reprovado por faltas. –  Dylan continuou. –  Mas você não. As pessoas não estão acostumadas a ver alunos como você sendo punidos.

–  Eu já entendi. Prefiro esperar a decisão do diretor e ver o que vai acontecer. –  eu encerrei.

Dylan deu de ombros e começou a tagarelar sobre outra coisa qualquer.

Eu fiquei pensando em Eduarda. Será que meu surto psicótico já tinha passado? Ou eu teria de recorrer a um psicólogo?

E se não fosse um surto psicótico? E se tudo aquilo fosse real?

A expressão no rosto de Dylan me tirou de meus devaneios. Ele parecia estar esperando uma resposta minha para alguma coisa que tinha perguntado.

–  Pode ser. –  respondi, embora não tivesse ideia do que se tratava.

Chegamos à escola. O portão já estava cheio e eu podia jurar que algumas pessoas me olhavam de modo meio atravessado. Avistei o time de basquete parado do lado oposto mas Andrew não estava lá. Joshua estava de braços cruzados e me olhando com uma cara muito feia. Não que isso fosse diferente de sua aparência habitual.

Dylan olhou pra mim.

– Pode ir. – eu disse, vendo o dilema que ele estava enfrentando. Os jogadores do time eram seus amigos agora mas ele estava hesitante em me deixar sozinho.

– Não vai arrumar mais brigas? – ele perguntou.

Fiz uma expressão angelical.

– Você não tem jeito. – ele riu e se afastou.

Olhei para o relógio. Faltavam dez minutos para que o sinal tocasse. Peguei um caderno na mochila e um lápis. Será que as cartas para Eduarda funcionavam fora do meu quarto?

Resolvi testar.

"Eduarda? Você está aí?"

Eu escrevi.

"Eu sempre estou"

As palavras apareceram na caligrafia elegante de Eduarda. Era bem diferente da minha letra estranha e ilegível.

"O que você estava fazendo esse tempo todo?"

Resolvi perguntar.

"Não posso responder essa pergunta"

"Mas você não disse que responderia tudo o que eu perguntasse?"

Ergui uma das sobrancelhas. Minhas palavras tinham um tom irônico.

"Eu disse que só poderia responder o que você perguntasse e não que respoderia tudo o que você quisesse"

Eu ri um pouco. Olhei em volta para ver se alguém havia percebido mas pelo visto todos estavam absortos em suas próprias vidas.

"Eu sou muito engraçada"

Eduarda escreveu.

"Você está me vendo?"

Fiquei meio surpreso. Afinal, como ela poderia saber que eu estava rindo?

"Claro que sim. Estou em pé ao seu lado nesse exato momento"

Olhei para o lado. Não havia ninguém ali. Pelo menos ninguém visível.

"Estou segurando sua mão. Você sente?"

Ela perguntou.

Olhei para minha mão esquerda. Senti algo um pouco gelado e que fazia cócegas.

"Estou sentindo"

Eu escrevi.

Um sorriso igual ao de ontem apareceu desenhado na carta.

"Não é algo físico, é mais como uma corrente de energia"

Ela disse.

"A sensação é boa"

Eu respondi. Onde eu estava com a cabeça? Por que tinha escrito aquilo?

Eduarda demorou a responder. Pensei que tivesse ido embora mas suas palavras começaram a aparecer.

"Também achei"

O sinal tocou. Olhei para o papel e pensei que seria falta de educação não me despedir de Eduarda.

"Conversamos depois. Tenho que ir para a aula"

Segundos depois ela respondeu.

"Tudo bem"

Minha primeira aula era de Educação Física. Por sorte o jogo hoje seria de basquete. Entrei no vestiário e antes de vestir o uniforme de Educação Física lembrei que Eduarda tinha dito que sempre estava comigo. Será que isso inclua o vestiário? Imaginei Eduarda parada ao meu lado e rindo do meu constrangimento.

Fomos todos para a quadra. O treinador olhava para nós como se fôssemos condenados à beira da morte e ele fosse o carrasco.

– Formem dois times! – ele gritou.

Dylan correu até mim.

– Vamos lá, Ethan. O time está esperando. – ele sorriu. Olhei para o time de basquete.

– Não vou jogar no time deles. – eu retruquei.

– Mas você concordou hoje de manhã! – Dylan parecia bem surpreso. Como ele era mais forte e mais alto conseguiu me arrastar para perto do time. Tenho que começar a prestar mais atenção nas perguntas de Dylan.

Os times estavam formados. Joshua e Darrien, um garoto do time adversário, estavam parados no centro da quadra. O treinador jogou a bola para o alto.

Joshua conseguiu pegar a bola e passou para Dylan. Corremos atrás dele e esperamos ele passar a bola. Ele mirou em mim e jogou. Agarrei a bola e comecei a avançar para a cesta. Joshua veio atrás de mim e eu pude ver pelo modo que seus músculos se contraíram que ele faria qualquer coisa para me deixar com um hematoma. Passei a bola para Patrick, um garoto gordinho e com cabelo cacheado. Mesmo assim Joshua me jogou com força no chão.

– Você passou a bola para o time adversário, seu lerdo! – ele gritou e sua saliva espirrou. Nunca vi algo tão nojento.

– Você estava me marcando. Achei que você fosse passar por cima de mim! – eu rebati no mesmo tom de voz. Ele me lançou um olhar ameaçador.

Me levantei e continuei correndo atrás da bola que agora se encontrava nas mãos de Anthony, um dos jogadores do time de basquete. Ele tinha dois metros de altura e mesmo assim parecia ser burro como uma porta.

– Passa a bola! – eu gritei. Ele fingiu não ouvir.

Joshua ergues os braços.

– Passa pra mim. – ele gritou. – Eu vou passar para o Lewis.

Anthony passou a bola para ele. Virei e estendi os braços me preparando para receber o passe quando Joshua mirou a bola e acertou a minha cabeça.

O barulho foi horrivel. Achei que meu cérebro tinha saído pela orelha.

– O que foi, Lewis? Está passando mal? – ele zombou.

Olhei para ele. Minha expressão estava meio atordoada e minha cabeça doía um pouco. Sem pensar duas vezes eu parti para cima de Joshua. Ele me empurrou e armou um soco mas eu lhe dei um chute na barriga.

Toda a classe estava olhando e pude sentir que os jogadores do time de basquete estavam sendo influenciados pela briga. Dylan me segurou mas um dos socos de Joshua pegou nele.

– Ai! – ele reclamou. – Droga, eu não tenho nada a ver com isso.

– Eu vou matar você, Lewis! – Joshua estava me ameaçando.

– Não se eu te matar primeiro! – gritei de volta.

O treinador mandou que Dylan levasse Joshua e eu para a sala do diretor e não pude deixar de lançar um olhar raivoso na direção dele.

O diretor olhava para mim. Joshua já tinha ido embora e agora eu estava sozinho tentando evitar o olhar de reprovação que estava sobre mim.

– É a segunda vez em dois dias, Ethan! Você nunca foi assim. O que houve com você? – eu não pude evitar de pensar que essa era a pergunta que eu mais ouvia ultimamente.

– Não aconteceu nada. – eu murmurei.

– Você quebrou o queixo de um garoto! Isso não me parece "nada". – ele estava desapontado comigo.

Suspirei. Não era mais simples ele apenas aplicar a punição?

– Lamento, Ethan. Não tenho outra escolha. Terei que suspender você. – ele abaixou a cabeça e começou a preencher uns papéis.

Quando terminou ele me entregou o papel e fez uma cara triste.

– Eu esperava mais de você, Ethan. – ele disse.

Eu também, pensei.

Estava indo pra casa. Com certeza o diretor não ligaria para Lisa avisando sobre minha punição e eu teria um pouco mais de tempo para me preparar. Lisa ficaria muito brava comigo mas seria melhor se ela soubesse por mim.

Me lembrei da carta que estava escrevendo um pouco mais cedo. Sentei em uma parte alta da calçada e tirei o caderno de dentro da mochila.

"Você viu aquilo?"

Escrevi e esperei Eduarda responder.

"Sim. Lamento muito"

"Não precisa lamentar"

"Mas você sabe como dar um bom chute"

Não pude evitar de rir do comentário.

"Eu também chutei ele. Só que ele não deve ter sentido"

Dei outra risada.

"Obrigado pela ajuda"

"Irei te ajudar sempre que quiser"

"Como irei contar para Lisa que fui suspenso?"

Eu perguntei. Quem sabe Eduarda sugerisse algo que me ajudasse a escapar da fúria de Lisa.

"Simplesmente conte. Ela irá te perdoar. Acredite em mim, Lisa faz coisas muito piores"

"O que quer dizer com isso?"

Eduarda tinha uma péssima mania de escrever em enigmas.

"Nada. Você saberá quando chegar a hora. Agora vamos para casa. Essa rua parece ser muito chata"

Sorri. Guardei o caderno na mochila e me levantei. Continuei andando. Eu estava feliz apesar de ter sido suspenso.

Fui pra casa rindo à toa por saber que poderia sempre contar com minha nova melhor amiga.


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Notas finais do capítulo

Reviews? (eu aceito hihi!)



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