Batidas ao longe me tiraram da inconsciência de um sono sem sonhos, logo elas se tornaram insistentes até que percebi que vinham da minha porta. Quem era o infeliz que estava tentando me acordar a essa hora? Olhei para janela e vi que o sol ainda estava alto no céu, provavelmente o meio da tarde humana. As batidas continuaram, resmunguei um ‘já vai’ e me levantei sem nem me dar ao trabalho de colocar uma roupa. Quando alguém resolve aparecer no quarto de uma pessoa há essa hora já coloca sua conta em risco de encontrá-la em roupas de dormir, que no meu caso se resumia a um samba canção.

Abri a porta e dou de cara com Rose apenas de meia e moletom. Seus olhos inchados e vermelhos, denunciado que havia chorado. Perguntei o que havia acontecido, mesmo sendo desnecessário, já que não era a primeira vez que ela me acordava no meio da noite chorando.

Mas dessa vez ela não respondeu, apenas enfiou o rosto em meu peito e começou a chorar desesperadamente. Eu passei meus braços por ela, segurando e levando até a cama, nos sentei ali e esperei até que ela estivesse mais calma.

— Eu sonhei com Lissa. – Ela disse depois de um bom tempo.

Eu já esperava por essa, era sempre um pesadelo com o assassinato de Lissa ou muitos outros que envolviam Dimitri, então apenas a abracei e disse que estava tudo bem, afinal era só mais um sonho, mas a resposta dela me fez congelar no lugar.

— Não Christian, era como se fosse induzido pelo espírito. Ela estava mesmo lá. Eu sei disso.

— Ela está bem? – Foi a única coisa que consegui perguntar.

— Está. Ela está linda, Chris, linda. – Rose respondeu em um choramingo.

Era estranho saber que depois de morta Lissa conseguia induzir um sonho, mas acho que a ligação das duas era tão forte que nem mesmo a morte era capaz de quebra-la. Não pude impedir o ciúme que tomou conta de mim naquele momento. Porque Lissa não apareceu para mim também? Nem que fosse só uma passadinha, um oi, sei lá. Eu daria tudo para poder sonhar com ela também.

— E o que ela disse? – Perguntei depois de perceber que meu último pensamento saiu em voz alta.

— Que eu preciso parar de me culpar e que nós dois formamos um bom casal. – Ela disse com um pouco de ironia na voz.

Não podia acreditar, Lissa tinha aparecido depois de todo esse tempo para falar que éramos um bom casal? Eu ri com isso. Mas se Lissa achava isso era porque ela aprovava o que aconteceu mais cedo certo? Aquele sentimento quente me tomou novamente, Lissa sempre seria o amor da minha vida, mas agora me sentia melhor sabendo que poderia investir em Rose sem culpa.

Vi Rose bocejar e lembrei que logo o dia começaria para os Morois.

— Melhor a gente dormir.

— Eu... Eu não quero ficar sozinha. – Rose disse olhando para a cama, mostrando toda a sua insegurança.

Era naqueles momentos que ela ficava ainda mais linda. Rose era sempre tão firme e independente, mas ver toda a sua fragilidade e até seus medos, demonstravam que ela era apenas uma garota que passou por coisa demais na vida e isso só fazia com que eu a admirasse ainda mais.

Abri a porta do quarto e encontrei Rose encostada no quanto da cama, seus braços ao redor do joelho e sua cabeça enfiada entre eles. Pequenos soluços escapavam entre as lágrimas e eu me apressei em me sentar ao seu lado e abraça-la.

Nós ficamos ali por um bom tempo, até que do nada Rose começou a rir enquanto enxugava as lágrimas que ainda caiam e me olhava como quem se desculpava.

— Eu estava assistindo um filme, e ai o cara deixou a menina e então eu não consegui mais parar de chorar. – Ela fungou entre uma risada e outra.

— Por Deus, Rose. – Eu disse me juntando as suas risadas. – A Hathaway que eu conheço estaria xingando a menina por estar sofrendo pelo cara ao invés de ir atrás do que quer.

Ela deu de ombros deixando outra lágrima cair.

Me levantei e desliguei a TV que agora mostrava os créditos do tal filme. Voltei para ela e estendi a mão em um convite mudo. Ela a segurou sem hesitar e a levei para a cozinha.

— Bolo de chocolate com muita cobertura? – Perguntei pegando os ingredientes no armário e recendo um sorriso iluminado em resposta.

Peguei seu rosto entre minhas mãos, fazendo com que ela olhasse para mim, dei um leve beijo em seus lábios e nos deitei, colocando ela em meu peito.

— Se você roncar, te chuto daqui. – Avisei contendo uma risada enquanto nos cobria e voltei a dormir.

Acordei e senti a cama fria, tateei pelos lençóis em busca de Rose, mas só achei o vazio. Me levantei e tomei um banho quente, depois coloquei uma calça jeans e uma camiseta preta básica e fui direto para o refeitório sabendo que encontraria ela lá.

E eu estava certo, assim que entrei vi Rose sentada com Mia e o noivo que ela tinha me apresentado no dia anterior. Frederico Conta. Fui até eles e pude ver Rose fazendo uma careta para algo que o Conta havia dito, mas interrompi a conversa ganhando toda a sua atenção.

— Não quis te acordar. – Rose explicou dando de ombros.

Me sentei ao seu lado e peguei uma das rosquinhas que tinham na bandeja a sua frente, ela rosnou para mim, mas apenas ri e continuei comendo.

— É bom ver que vocês estão se dando tão bem, jurava que iriam se matar depois de uma semana juntos. – Mia disse rindo da nossa pequena cena.

— Vontade nunca faltou. – Rose murmurou e puxou a bandeja para o outro lado.

— Não foi o que pareceu ontem! – Provoquei me lembrando de como ela ficou após nosso beijo.

— Christian! – Rose quase gritou e percebi que ela estava juntando todo seu autocontrole para não me bater.

— O que aconteceu ontem? – Mia perguntou com os olhos cerrados.

— Nada. – Rose rispidamente e Mia e Conta ainda nos olhavam, mas ignorei e peguei outra rosquinha.

Dessa vez Rose me deu um tapa na cabeça que me fez engasgar.

— Da próxima vez perde a mão, Ozera. – Ameaçou.

— Você está precisando de um namorado para acalmar esses nervos Rose. – Mia disse entre risinhos.

— Argh. Ela só tem olhos para mim. – Disse tentando esconder o duplo sentido.

— Não sabia que era ciumento Christian. – Mia me provocou.

— Só cuidando do que é meu. – Respondi dando de ombros.

— Do que é seu é?

Corei ao me dar conta do que havia dito.

— Minha guardiã. - Eu corri com firmeza.

Mas quem sabe não seria outras coisas também? Me peguei pensando e para fugir do assunto e dos pensamentos convidei Mia para um treino, que topou imediatamente. Logo uma conversa sobre o elemento do Conta começou e então eles foram embora com a promessa de nos encontramos mais tarde.

— Estou feliz que ela tenha encontrado alguém. – Rose disse de repente.

— Está querendo casar também? – Perguntei brincando.

— Ah claro, minha lista de pretendentes é tão grande que posso me casar amanhã se quiser. – Ironizou.

— Se eu não encontrar ninguém melhor eu caso com você tá bom? – Propus ainda brincando, mas não consegui impedir minha mente de imaginar Rose em um lindo vestido branco caminhando até mim.

— Muito obrigada, aguardarei ansiosamente. – Ela respondeu revirando os olhos e eu ri.

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Nós caminhávamos até o dormitório dos guardiões depois que me troquei para poder treinar. Mia já estava nos esperando sentada com Conta que se levantaram assim que nos viram, mostrando que Mia também tinha se trocado e já não parecia mais a menina inocente e indefesa de sempre. Rose fez algumas perguntas sobre nosso local de treino e se sentou com Conta enquanto Mia e eu começamos a lutar.

Nós estávamos deitados no chão da sala do nosso apartamento em Nova Iorque encarando a janela que mostrava um céu alaranjado graças ao sol que estava de pondo.

— Acho que está mais do que na hora de você voltar a lutar. – Disse me virando para Rose que me lançou um olhar questionador. – Assim você pode me ensinar algumas coisas. – Completei.

Ela não disse nada, mas com um pequeno sorriso, o primeiro desde que Lissa morreu um mês atrás, começou a arrastar os móveis até que o centro da sala ficou livre e se posicionou em minha frente.

—Tenho dó do Strigoi que entrar no nosso caminho. – Ela disse empolgada.

E a partir de então nossos treinos se tornaram diários.

Sai das minhas lembranças ouvindo Mia suspirar cansada e indo se sentar no meio das pernas do Conta. Sentei ao lado de Rose que fez uma careta quando passei a mão no rosto que estava todo soado.

— Urg, vai para lá. – Ela disse me empurrando.

— Com nojo de um pouco de suor? – Perguntei já me aproximando novamente.

Segurei seus braços em um abraço, para que ela não tivesse como fugir, e antes que ela protestasse a beijei. Foi apenas um colar de lábios, mas puxei seu lábio inferior com os dentes antes de soltá-la. Rose ficou paralisada, me olhava em choque, mas o mesmo brilho de desejo de ontem estava presente.

— Ainda lembra como se respira, Hathaway? – Provoquei rindo, controlando meu coração que mais uma vez tinha acelerado por causa pequeno beijo.

Ela não me respondeu, mas me deu um belo soco que quase fez com que eu caísse.

— Wow! – Mia gritou. – Isso foi...

— Ótimo. – Frederico a interrompeu rindo fazendo com que Rose balançasse a cabeça exasperada.

— Vocês até que são um belo casal, bem estranho, mas combina. - Mia disse depois de um tempo nos olhando de forma curiosa.

— Você não é a primeira a dizer isso. – Rose murmurou baixo.

— Pretendem ficar aqui até quando? – Mia perguntou depois de mais um tempo.

Rose se virou para mim procurando por respostas.

— Estava pensando em ir Palm Springs essa semana ainda.

— Onde Adrian está? – Mia perguntou com um enorme sorriso.

— Você está falando sério? – Rose perguntou com uma nova animação.

— Porque não? Faz tempo que não os vemos, e gostaria de saber como Jill está. – Respondi.

Jill além de irmã da Lissa sempre foi uma grande amiga e seria ótimo vê-la, além de saber que Rose adoraria ver Adrian novamente.

— Eu adoraria. – Ela abriu um sorriso enorme e eu retribui, me sentindo bem só de fazê-la sorrir.