Apparent Killer. escrita por SevenSeasTreasure


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Não tenho mais noção nenhuma de tempo e não sei se esse capítulo demorou. Enfim, divirtam-se. a_a



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Amy se preparou para dormir. Vestia uma fina camisola que ia até a metade das suas coxas, mesmo com o frio que fazia. Ela era do tipo que não dormia bem com roupas compridas, por mais frio que estivesse. Lily e Trisha estavam mais discretas. Ambas vestiam bermudas e camisas largas, e pareciam mil vezes mais confortáveis. As três estavam em suas respectivas camas, concentradas em coisas diferentes. Amy pôs os fones de ouvido e começou a ouvir música enquanto fazia suas unhas. Lily estava concentrada em um shoujo.

Trisha preferiu deitar mais cedo, mas ainda não havia dormido. Estava pensando em várias coisas. Puxou o cobertor até o nariz, fechando os olhos. A sua conversa com Lily ainda estava na sua cabeça. Era a primeira vez que alguém sentou ao seu lado e a ouviu falar. Ao olhar para os olhos de Lily, Trisha podia ver que a garota não conversava com ela por pena. Lily realmente queria estar ali. E também, não podia deixar de pensar que já havia visto aqueles olhos em algum lugar...

Não pensou muito sobre isso. Preocupava-se mais em saber se Lily havia visto Trisha indo até o estacionamento e ajudado Gabe a se esconder na floresta. Não que isso importasse muito. Afinal, Gabe não tinha deixado escolha para ela. Era ajudar ou morrer, e isso estava claro. Mas, mesmo que estivesse sendo obrigada a ajudar, não significava que não estava gostando disso. Afinal, era Gabe.

Trisha, que sempre se interessou por criminosos, e que mantêm um arquivo enorme sobre os mais famosos da história em seu computador, sonhava com uma oportunidade de acompanhar um caso de perto. E agora, ela podia...

Ouviu-se um barulho. Era alto, e vinha de fora. Parecia algo como um tiro. Alguns segundos depois, mais um. E outro. E começaram os gritos. Trisha tentou disfarçar o fato de que já esperava isso, com uma falsa expressão de surpresa no rosto. Lily parecia ter a mesma expressão. Não era de se esperar outra reação. Trisha já tinha suspeitado de que ela a seguira até o estacionamento e a vira ajudando Gabe.

***

Gabe atirou para cima três vezes. Foi o suficiente para tirar vários estudantes dos chalés. Alguns nem tiveram a oportunidade de passar pela porta, e caíram mortos com tiros certeiros. Outros, apenas levaram tiros nos braços ou nas pernas. Mas a maioria saiu ilesa.

Os olhares dos alunos caíram diretamente sobre eles. Medo e repulsa eram os sentimentos que mais estavam explícitos nos olhos dos estudantes. Gabe não se incomodou com isso e tratou de agarrar o aluno que estava mais perto. Jogou-o sobre uma mesa, usando uma das mãos para movimentar o machado. Quem assistia a cena, entrava em desespero. Alguns tentaram correr para salvar o aluno, mas foram segurados. Gabe rapidamente abaixou o machado sobre as costas do rapaz. Mas parou a alguns milímetros.

— Se alguém der um passo, eu mato esse garoto. — anunciou Gabe. Um silêncio mortal tomou conta do acampamento.

Nicholas estava no refeitório vazio, apenas para beber um copo d’água. Como dormia tarde, ainda não havia se preparado para dormir, e estava vestindo suas roupas normais. Quando estava se virando para voltar ao chalé, ouviu os tiros. Esperou um pouco, e saiu do refeitório, vendo uma multidão de alunos e professores. Curioso, abriu caminho entre a multidão. Não conseguiu ficar na frente de todos, mas se esticou um pouco, e conseguiu ver um adolescente de cabelos castanhos jogado sobre uma mesa, com um machado encostado ao longo de suas costas. Nicholas gelou. O garoto que estava sendo ameaçado por Gabe Hillen, o jovem que estava com uma expressão de puro terror no rosto, era Joshua.

O silêncio foi quebrado. Assim que conseguiu entender o que estava acontecendo, Amy Hughes gritou. E correu. Pôs-se alguns passos a frente da multidão, desesperada, com alguma esperança de salvar o namorado. E assim, Joshua Lewis morreu.

Gabe tirou o machado das costas de Joshua, erguendo-o novamente. A lâmina estava coberta com o seu sangue. Amy gritava. Parecia ter perdido o medo de morrer. Gritava pelo nome do namorado, e chorava. Parecia a ponto de enlouquecer. Chamava Gabe pelos piores nomes que conseguia lembrar. O pouco juízo que lhe restava a impedia de tentar estrangular o assassino.

O resto dos alunos entrou em desespero. Alguns vomitaram ao presenciar aquela cena. Outros não conseguiam tirar os olhos do corpo sem vida de Joshua, que escorregava lentamente sobre a mesa. Em alguns segundos, ele cairia no chão. Ninguém o enterraria.

Trisha assistia a tudo, tentando esconder o fascínio. Mas ela tinha uma tarefa a cumprir. Gabe Hillen havia mandado, e ela obedeceria. Calmamente deu alguns passos, e segurou os ombros de Amy fortemente. A garota tentou várias vezes se livrar das mãos de Trisha, mas não conseguiu. Acabou a abraçando, e foi levada para longe dali. No caminho, Trisha sussurrou algo à Lily. As três seguiram para o chalé novamente. Gabe não tentou impedir.

Os estudantes choravam. Correram e se espalharam. Alguns, como previsto, foram para a floresta. Gabe Hillen não se preocupou com isso. Outros consideraram a ideia de tentar dialogar. Mas desistiram.

Nicholas assistiu a tudo, sem conseguir organizar os pensamentos. Tentou encontrar Lucas no meio do pandemônio que havia se formado ali. Teve que desistir. Precisava sobreviver.

***

Com a ajuda de Lily, Trisha levou Amy para o chalé. A garota chorava, se debatia e reclamava. Amy deitou-se na sua cama em posição fetal. Abraçou as pernas e apoiou a testa nos joelhos. Lily suspirou.

— O que fazemos com ela? — perguntou, olhando para Trisha.

— Apenas esperamos. — Trisha encostou-se à parede.

— Só isso? — Lily reclamou. — Tem um psicopata lá fora, matando nossos colegas de classe, e nós nem vamos poder assistir?

— Lamento. — disse Trisha, com um suspiro. — Gabe que pediu para trazer vocês aqui. — ela ficou na frente da porta, impedindo que qualquer uma das duas garotas saísse. Imediatamente, Lily ficou com uma expressão diferente no rosto. Era difícil saber se era medo ou ansiedade.

Amy também ouviu. Ela sentou-se na cama, com os olhos vermelhos. Enxugou as lágrimas, e olhou para Trisha.

— Por que está ajudando ele? Ele está te ameaçando? — ela perguntou, com a voz embargada. — Não faz sentido. Parece que você quer que tudo isso aconteça.

— E eu quero, mesmo. — Trisha respondeu, olhando para Amy. — Eu não sou uma menina mimada que fica o dia todo no facebook falando que vou matar “aquela amiguinha do meu namorado”. Se der uma arma na mão de uma pessoa assim, ela com certeza vai perceber que não tem coragem pra isso. Todas as meninas com quem eu já falei são assim. Talvez com algumas exceções — Trisha olhou de relance para Lily, mas logo voltou a olhar para Amy —, mas não vem ao caso. Elas são todas iguais. Todas as opiniões são iguais. Desprezam quem é diferente. Os garotos também são assim. Mas em vez de mandar indireta em rede social, eles simplesmente vão lá e dão uma surra no “amiguinho” da namorada deles. Isso é horrível.

— Ainda não entendi o motivo de você estar ajudando um assassino. — Amy havia percebido que estava no grupo das garotas ciumentas. Mas não falou nada sobre isso.

— Eu quero que esses jovens idiotas desapareçam da face da Terra. É por isso. — Trisha suspirou. Ainda não estava acostumada a falar tanto. — E por isso eu vou dar tudo de mim para ajudar o Gabe. Vou manter vocês duas aqui nem que eu tenha que usar a força e amarrá-las em uma cama.

— Você acha que consegue fazer isso? — perguntou Lily. — Nos obrigar a ficar aqui.

— Claro que sim. — a garota ajeitou os óculos. — Você claramente não tem muita força física, sabe. — Trisha fez um gesto com a mão, como se dissesse “você é baixinha”. — E a outra ali tá chorando demais. Está muito abalada. Deve estar bem fraca também.

Lily pensou um pouco. Fazia sentido. Já Amy, apenas voltou a deitar-se em posição fetal, apenas pensando em um jeito de sair viva dali.

***

Jenny observava tudo. É claro que já havia visto pessoas morrendo antes de ir para o Winter Camp. É claro que já presenciara alguns crimes.

Mas nunca em proporções tão grandes.

Gabe se movia rápido demais. A lâmina do machado estava completamente coberta de sangue, assim como quem o manejava. Cada cabeça decepada espirrava sangue para todos os lados. Agora, com a pouca iluminação, o chão parecia um mar feito daquele líquido escuro e nauseante.

Jenny estava tonta. Tanto pelo cheiro quanto pela visão. Definitivamente, aquela era uma cena doentia, e Gabe não parecia se importar. E não eram apenas sangue e cadáveres que havia no chão. Ao serem impiedosamente cortados, órgãos eram arrancados dos corpos.

À primeira vista, Jenny pensou que Gabe estava matando todos os jovens, sem exceção nenhuma. Mas não era o que acontecia. O ruivo apenas estava limpando o “excesso”.

Depois de um tempo, Gabe parou de se mexer. Abaixou o machado, que a essa altura, estava quase sem corte. Seu corpo estava sujo de sangue dos pés a cabeça. Sua respiração e seus batimentos cardíacos estavam acelerados. Seus olhos verdes brilhavam. Ele olhou em volta, e não pôde deixar de soltar uma risada. Estava próximo de conseguir o que queria.

Gabe estava pronto para seguir em frente. Soltar o machado, pegar a metralhadora. Juntar todos os alunos que haviam sobrado... Porém, antes disso, ele ouviu passos atrás de si.

Lucas Parker se aproximava lentamente. Sua expressão era difícil de decifrar. Mas era seguro afirmar que ele não sentia medo. Ele se aproximou o suficiente para poder tocar em Gabe, se estendesse um dos braços.

— O que você quer? — perguntou Gabe, mais curioso do que qualquer coisa.

— Eu quero conversar com você. — o moreno respondeu, cuidadosamente. — Quero saber mais sobre o seu mundo. Eu te admiro. Quero procurar entender seus ideais e motivos. Você é interessante, Gabe. E eu quero ser como você. — a expressão de Lucas demonstrava sinceridade. Gabe sorriu.

— Vá encontrar a sua colega Trisha. Diga a ela que te mandei lá. Talvez você possa ser útil.

— Obrigado. — apesar de achar desnecessário, Lucas agradeceu. Olhou no fundo dos olhos verdes de Gabe por um momento. Ele jurava ter visto aqueles olhos em algum lugar...

Mas não ficou ali por muito tempo. Obedeceu sem hesitar.

***

Nicholas havia voltado ao refeitório. Estava na cozinha, carregando uma mochila vazia, e a preenchia com o máximo de comida que conseguia. Ele planejava fugir, era verdade. Faria o possível para sair do acampamento pela floresta, mas não iria muito para dentro dela. Andaria de um jeito que passasse despercebido, mas pudesse enxergar o acampamento, até que chegasse à estrada. A partir daí, andaria por ela, pelo caminho que vieram. Chegaria à cidade mais próxima no dia seguinte, provavelmente por volta das oito ou nove da manhã. Gabe provavelmente demoraria a sair do acampamento, e não o encontraria, supondo que ele fosse embora a pé. E se encontrasse, bem... Nicholas improvisaria.

O garoto pôs a mochila nas costas e o plano em prática. Não levaria ninguém junto, pois só atrapalharia. Além de ter que respeitar o ritmo de caminhada dessa pessoa, todos estavam perdendo a sanidade. Não seria bom ter que consolar e amparar alguém assim. Ele precisava sobreviver, e faria as coisas do seu jeito. Lamentava por não tentar salvar um de seus amigos, mas seria arriscado demais. Se ele conseguia fugir, os outros também conseguiriam.

Nicholas saiu do refeitório pela porta dos fundos, e foi para a floresta.

***

Depois de procurar um pouco, Lucas tentou entrar no chalé das meninas. Assim que abriu a porta, uma Amy desesperada tentou sair. Trisha a segurou pelos cotovelos, impedindo-a de sair. Lucas entrou e fechou a porta.

— O que está acontecendo aqui? — o garoto perguntou um pouco confuso.

— Trisha enlouqueceu! — Amy gritou. — Ela quer nos manter aqui até Gabe chegar. Você tem que nos ajudar, Lucas! — lágrimas escorriam novamente pelo rosto dela. No fundo do quarto, alguém suspirou, e Lucas percebeu a presença de Lily.

— Amy, quantas vezes temos que dizer que não vai adiantar nada você tentar fugir? — a pequena disse, entediada.

— Ah, por isso que o Gabe me mandou encontrar você. — Lucas olhou para Trisha, que ainda tentava controlar Amy. O garoto se aproximou. — Deixa que eu cuido disso.

Amy ainda tentava escapar, até que Lucas a agarrou pela cintura e a jogou na cama. A garota gritava coisas como “você também está do lado dele?!” e “não me toque, seu tarado!”. Lucas a ignorou e subiu em cima dela, segurando seus pulsos, e olhou para Trisha.

— Tem uma corda aí? — ele perguntou. Trisha assentiu, e tirou uma corda da sua bolsa. Aproximou-se, ajudando Lucas a amarrar os pulsos de Amy em uma ponta da corda, e prendê-la na cama. Lucas saiu de cima dela, antes que a garota resolvesse lhe dar um chute em um lugar extremamente delicado.

— Vocês enlouqueceram. — de tanto se mexer, a camisola de Amy havia subido até a cintura, deixando sua roupa íntima exposta. Era algo extremamente vulgar, mas aparentemente, ninguém ligou. — Não vêem o que estão fazendo?! Vão morrer!

— Quem não vê é você. — Trisha cuspiu as palavras. — Não vê que Gabe não mata sem motivo? Não vê que ele só quer que as pessoas enxerguem a realidade, mesmo que por meio da violência? NÃO VÊ?!

— Cale a boca! — Amy gritou novamente. — Você é louca!

— Trisha, não discuta. — Lily falou, um pouco mais alto que o costume. — Não vai adiantar. A Amy é uma pessoa totalmente alienada. Ela nunca vai tentar ver o outro lado da história.

Amy continuou a gritar e a ofender a todos. Mas ninguém ligava.

***

Gabe Hillen havia usado a força e juntado todos os alunos que permaneceram ali, vivos. Ele os levou para o auditório, um por um. Eles estavam assustados demais para desobedecer.

Quando todos estavam ali, Gabe sorriu. Olhou o rosto de cada um. Uma garota loira do primeiro ano, que, se bem lembrava, chamava-se Suzanne. Um rapaz de 18 anos, repetente, que ainda estava no segundo ano, chamado Thresh. Uma menina ruiva do segundo ano, que quase ninguém sabia o nome. Algo como Rose. Eles e mais nove alunos estavam ali, diante de Gabe Hillen.

— Devem estar se perguntando por que eu poupei vocês. — Gabe começou a falar. A essa altura, ninguém mais tinha esperança de sair vivo. E se, por algum milagre, sobrevivessem, iriam ter pesadelos por um bom tempo. Nunca esqueceriam-se desse dia. Isso supondo que escapassem. Nesse momento, todos pensavam no que Gabe Hillen havia guardado para eles. Talvez as meninas fossem estupradas, e os garotos fossem forçados a trabalhar para Gabe. Ou então, os doze jovens teriam que matar uns aos outros, e o único que sobrasse, seria morto por Gabe. Era evidente que não havia escapatória.

Todos estavam sem esperança, até que Gabe falou novamente.

“Por ora, vocês estão salvos.”


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