Estava chovendo, realmente muito forte. Dava para ouvir de longe as árvores da floresta batendo uma nas outras por causa do forte vento. Isso me lembra da noite do meu aniversário de 16 anos, não foi uma noite nada feliz... Não me lembro de uma noite ter sido feliz...

Aqui, as coisas não estão nada bem, depois da morte da Hort não vejo mais a Margarett com tanta frequência, ela parece estar sempre procurando algo para torturar, mas isso não me incomoda. Migg está muito mal, já faz 3 dias que a Hort se foi e até hoje não ouvi ele dizer uma palavra se quer, Garru e Bórnis estão tentando anima-lo de qualquer jeito mais eu sei que isso é praticamente impossível. A mesa que geralmente almoçamos e jantamos, já que essas são as nossas únicas refeições, está com dois lugares vazios, um entre o Nick e a Hannah e outro entre a Hannah e o Migg, lugares antes ocupados por Pucco e Hort. As tarefas, que já eram muitas, estão aumentando cada vez mais, antes tínhamos pelo menos 10 minutos para descansar, agora 5 minutos já é muito. O que mais está me incomodando é o fato da Laisa e o Pietro estarem sempre conversando baixo pelos cantos, por estarem sempre sumindo do nada ou aparecendo do nada, por sempre chegarem aos dormitórios encima da hora de recolher e por não estarem mais provocando ou incomodando alguém, isso não faz nenhum sentido pra mim, eles só podem estar armando alguma coisa ou até mesmo ajudando a Margarett com a próxima vitima.

Como disse, está chovendo aqui hoje, e como a chuva está realmente muito forte não tem como limpar o ‘’jardim’’ até que ela passe, mas para não ficarmos a toa, Margarett arranjou mais uma tarefa, mandou Hannah, eu, Nicolas, Bórnis, Migg e Garru pintarmos o corredor principal. Não é uma tarefa nada fácil ou agradável já que o cheiro da tinta é insuportável, mas antes de pintar teremos que limpar as paredes.

Pegamos os materiais de limpeza e nos dirigimos para o corredor, ao chegarmos lá nos deparamos com Laisa e Pietro que estavam conversando novamente baixo demais para ouvi-los, ao nos ver eles saem sem dizer nada, sem fazer nada.

Nos dividimos e começamos a limpar, ficamos calado e tudo o que é ouvido além do barulho da chuva é o barulho das escovam em contato com a parede realmente imunda.

–Laisa e Pietro estão armando alguma!

Hannah e eu dissemos em coro.

–Ah! Que novidade!

Bórnis grita do outro lado do corredor fazendo Garru rir e concordar.

–É serio! Vocês não viram como eles andam agindo? Sempre falando baixo pelos cantos, sem encher ninguém ou soltar o típico veneno deles, vocês não acham isso suspeito?

Digo sem me importar com a limpeza.

–Isso é realmente estranho...

Hannah concorda, e tinha como discordar?

–Ah para né! Vocês estão insinuando que Laisa e Pietro estão ajudando a Margarett a fazer suas vitimas?

Para o Nicolas tinha como discordar... Idiota...

–Não estamos insinuando estamos afirmando!

–E quem é você Samantha para dizer algo? Por um a caso você tem alguma prova?

–Você só está defendendo eles por que a Laisa é a sua namoradinha!

–Por que ta com ciúmes?

–Não to nem ai pra você e a sua namoradinha, quero mais é que vocês explodam!

A raiva tomou conta, e quando percebi estávamos gritando um com o outro no meu do corredor sem ligar para a limpeza. Bórnis, Garru e Migg continuaram a limpar, mas Hannah tentava fazer eu e o Nicolas calar a boca, uma tarefa meio impossível.

–Dá para vocês dois pararem com isso! Vocês vão acabar se matando! Ei meninos me ajudem aqui!

–Desculpe loira, mas não to a fim de levar um soco do Nicolas e nem um tapa da Sam.

–É Hannah, boa sorte ai.

–Nossa vocês não Server pra nada mesmo! Sam! Nicolas! PAREM JÁ COM ISSO!

–Olha Samantha eu sei que você é apaixonadinha por mim, mas não estou interessado.

–To pouco me linchando pra você Nicolas, sabe de uma coisa, você poderia muito bem ir lá e ajudar a sua namorada com mais uma morte o que acha?

–Sabia que inveja é feio Sam? Sua mamãe nunca ti ensinou isso não é mesmo? Ah não ela nem teve tempo pra isso.

Os meus olhos encheram de lágrimas, como ele pode dizer isso?! Eu simplesmente não acredito no que ele falou.

–O que você...

Comecei a dizer, mas não consegui, já estava chorando.

–NICOLAS! COMO VOCÊ PODE?!

Hannah parecia tão indignada quanto eu, os outros até pararam a limpeza para olhar, Nicolas não demonstrou nenhuma reação.

–Quer saber? Vocês dois se merecem mesmo, você e a Laisa, dois sem coração, sem nenhuma piedade, sem alma. Vocês dois poderiam queimar no fogo do inferno que ninguém sentiria sua falta, vocês se merecem, e desejo a vocês tudo o que estão fazendo de mal a essas pessoas, acho que o mais profundo do inferno não será o suficiente para que vocês se afoguem e paguem por tudo o que fazem. Agora eu entendo por que a sua mãe ti abandonou Nicolas, nem ela ti aguentava, pobre mamãe, por isso era viciada, melhor drogas do seu próprio filho não é mesmo? Quando você sair daqui você vai levar sua namoradinha para ver sua mamãe na prisão? Ou prefere ver o querido padrasto? Acho que a Laisa vai se identificar com ele. Vocês são duas cobras, e espero que se engulam no mais profundo fogo do inferno sem dó nem piedade, monstros!

Eu não sei o que me deu, as palavras saíram da minha boca sem que eu pensasse antes de dizer, apenas disse e não me arrependo.

Nicolas me olhou com fúria, ninguém dizia uma se quer palavra, ele deu um leve sorriso de lado e eu nem percebi a hora que ele me segurou pelos braços. Ele me apertou e me empresou contra a parede, seus olhos queimavam de fúria, mas eu não demonstrei nenhum medo, pelo contrario eu não ia deixar barato.

–Você pensa que é quem para dizer alguma coisa ao meu respeito? Ou ao respeito da minha mãe? Afinal, sua mãe está morta por sua culpa, você matou sua mãe.

–NÃO FALA DA MINHA MÃE!

–E POR QUE NÃO?! VOCÊ MATOU ELA! NÃO DEVE TER ALGUMA IMPORTANCIA PRA VOCÊ ASSASSINA!

–Parem vocês dois AGORA! NICOLAS! VOCÊ VAI MACHUCAR ELA PARA!

Hannah gritava e batia nas costas do Nicolas, mas nada acontecia, continuávamos berrando um com o outro.

–Vai lá atrás da sua namoradinha vadia! E combina com ela uma visita na cadeia! E de lá vocês podem ir juntos para o inferno!

–Cala boca! Laisa não tem culpa se você é incapaz de proteger sua querida mamãe! Que foi Sam? Tem tanto medo do papai assim?

Não me segurei e logo minha mão ardia, dei um tapa no Nicolas, como ele se achava no direito de dizer algo assim?!

Ele me soltou, e do outro lado eu vi Garru pagando Bórnis, sim eles apostaram quem bateria em quem primeiro.

Nicolas olhava para o chão, minha respiração falhava, não sabia o que estava acontecendo mais eu perdi o controle não conseguia nem pensar direito.

Hannah parecia desesperada, olha de mim para o Nicolas e vise versa, ela estava chocada, e eu continuava chorando.

–Você não sabe o que diz... Você não faz ideia do que é isso... Todos os dias eu me culpo pela morte dela... Todas as noites eu penso que poderia ter feito mais... Você não entende... Ninguém entende...

Eu sai correndo, sem olhar para trás, sem olha para onde eu estava indo, apenas corri. De longe eu ouvia Hannah gritar pelo meu nome, mas não me importava, estava tudo doendo.

Eu parei de correr e me sentei em um canto, chorava como na noite da morte dela, eu me sentia culpada demais, e certamente a culpa é minha sempre foi e sempre será.

Não vi as horas se passarem, não vi ninguém circulando ali por perto, não sabia onde exatamente eu estava, não vi a Margarett ou qualquer outro, não ouvi o sinal para o jantar e muito menos para se recolher. Eu fiquei ali sentada em um canto frio e escuro no chão em alguma parte do orfanato e adormeci...

No meio da noite eu acordei, com alguns passos, ouvia alguém cantarolando ao ritmo de uma música de fundo, uma música familiar, uma música de caixinha de música. Essa pessoa andava devagar e sem preocupações, pela luz fraca que eu via, só podia ser luz de vela ou lamparina. Como estava muito escuro eu supôs que já seria de madrugada e aquela pessoa só podia ser a Margarett.

Me encolhi mas perto da parede fria, e fiz o Maximo para não fazer nenhum ruído se quer, meu coração batia acelerado, estava apavorada, não sabia se eu estava muito longe do dormitório feminino e agora eu estava seriamente arrependida de ter saído correndo sem olhar para onde ia.

Os passos foram se afastando e aos pouco fui olhando para saber se o caminho estava livre, vi de longe os sapatos pretos da Margarett sumirem em uma curva, me levantei, eu estava mais apavorada do que antes, era agora ou nunca.

Sai do canto, tentei identificar o corredor escuro, mas era meio impossível, estava agoniada e sem saber para onde ir.

Fui seguindo pelas paredes para ficar mais fácil de me esconder caso necessário, meu coração batia acelerado, e se quer saber tudo isso é culpa do Nicolas, me sinto melhor culpando ele.

Ouvi um ruído e me encostei na parede, então algo pegou meu pulso e me puxou, fiz menção de girtar mais essa mesma pessoa tampou minha boca, a pessoa tinha força e me segurou firme quando me debatia tentando me soltar dos seus braços, ela me puxou para algum lugar e uma porta se fechou a minha frente.

Com qualquer esperança que tinha, mordi a mão que tampava minha boca e em seguida uma cotovelada no estomago, ouve um ruído de dor e eu me soltei.

–Você gosta mesmo de me bater né?!

–Nicolas?

–É... Ai...

Me aliviei por ser o Nicolas, até me lembrar que eu ainda estava com raiva dele.

–O que você está fazendo?

–Salvando sua vida, de nada.

–Não preciso da sua ajuda.

–Ótimo, não queria ti ajudar mesmo, fiz isso pela Hannah, ela está muito preocupada com você, agora se você quiser ir, não me importo.

Eu não queria ir, seja onde eu estivesse estava mais segura aqui.

–Onde eu estou?

–No dormitório masculino.

Que beleza, droga.

–Como você sabia que era eu?

–Eu não sabia, minha cama é perto da porta e como não conseguia dormi ouvi a Margarett passando, esperei para ver se ela voltava quando ouvi uns passos e uma respiração ofegante, então eu olhei pela porta e vi que era você, e como a Hannah é uma pessoa legal e me mataria se eu tivesse a chance de ti ajudar e não ti ajudasse eu fiz o que ela julgaria certo.

Incrível...

–Tá, agora como eu saio daqui?

Ele riu.

–Não sai.

–O QUE?!

–Da para falar baixo?! Tem gente dormindo aqui sabia?!

Respirei fundo.

–Por que eu não posso sair?

–Você pode, mas não deveria. A Margarett está rondando por esses corredores, e o dormitório das meninas e do outro lado do orfanato, você tem exatamente nenhuma chance de sobreviver.

–Perfeito, isso é tudo culpa sua!

–Minha culpa?! Foi você quem saio correndo sem ver para onde ia!

–Não sairia correndo se você pensasse antes de falar!

–Ah! Com coisa que você pensa no que diz!

Nós não podíamos brigar de novo, seria suicídio com a Margarett rodando por ai.

–Tá, e agora?

Nicolas deu um sorriso de lado e olhou para a cama vazia do lado da porta.

–Você só pode estar brincando!

–Olha se você quiser ir a vontade, não me importo se você morrer, mas se tiver ideia melhor também estou aceitando.

–Onde estão os meninos?

–Bórnis dorme na cama de cima da minha beliche, e o Migg e o Garru dividem uma beliche do outro lado do quarto.

–E o Pietro?

–Que foi prefere dormir com ele?

–Não sou oferecida igual sua namoradinha Laisa.

–Ele dorme no Fundo do quarto, mas por que você quer saber disso?

–Talvez juntos você pudessem me levar...

–Tá louca!Não estamos a fim de morrer garota.

–Tá.

Cruzei meus braços e pensei na possibilidade de me suicidar ao sair correndo daqui corredor a fora.

–Olha eu não mordo.

–Achei que você não se importasse comigo.

–E não me importo, mas como disse Hannah é importante pra mim e você infelizmente é importante pra ela.

–Não tem outro jeito não é?

–Se você quiser ficar acordada a noite inteira problema é seu.

Ele se deitou na cama deixando o maior espaço possível pra mim.

–Eu não acredito nisso...

Murmurei baixo e me sentei na beirada da cama, foi então que eu percebi que o Nicolas estava sem camisa.

–Vai vestir uma camisa agora!

–Nem vem morena, você está no meu território agora então se acostume.

Respirei fundo novamente, e mais uma vez pensei na possibilidade de sair correndo, mas sinceramente não queria morrer, não agora.

Me deitei, fazendo o possível para deixar o maior espaço entre nós, não tinha jeito, era isso ou morte eminente. Agradeci por adormecer rápido.