Depois de me vestir desci para tomar um café da manhã adequado, afinal, estava morta da fome, comi uma maçã e tomei dois cafés sentada na frente da tv, assistindo house. Após alguns vários minutos escutei Lucas descer pesadamente as escadas e se encaminhar para a cozinha, depois sentou do meu lado com uma xícara de café em suas mãos e ficou em silêncio, me virei para o encarar e ele estava sério, estava estranho.

– Está tudo bem? - Perguntei o olhando, tentando captar qualquer sinal que demonstrasse o que se passava por sua cabeça confusa, nada, tentativa fracassada.

– Tudo. - Ele respondeu seco sem tirar os olhos da tv, tem algo errado, fui levar a xícara na pia e notei 3 ligações perdidas na bina, meu coração enlouqueceu, retornei a ligação com medo do que poderia vir.

– Hospital Regional Mônica, enfermeira Luzia falando. - Escutei uma voz mais rouca, parecia de uma mulher mais idosa com mais experiências a se compartilhar.

– Recebi ligações desse numero. - Respondi com a voz trêmula, escutei a respiração da mulher irritada do outro lado da linha e escutava também seu resmungo incessante.

– Luciana? - Ela perguntou com a voz mais firme agora, então percebi que já havia trocado de pessoa ao telefone.

– Sim. - Respondi.

– Seu padrasto já está liberado da UTI, ele poderá voltar pra casa amanhã de noite. - Ela falou.

– Ok. - Respondi e entrei em pânico, não, por favor não, a mulher continuava falando do outro lado da linha mas eu acabei desligando o telefone sem condições de responder qualquer outra pergunta por conta do pânico que possuía cada nervo do meu frágil corpo. Fiquei esperando qualquer reação do Lucas mas ele continuava vidrado em house tanto quanto eu em imaginar como seria amanhã, tinha uma unica pessoa que poderia estar disposta a me ajudar, mas não tinha coragem, nem cabeça para ir pedir a ela ajuda. Subi as escadas e sentei na minha cama, segurando no meu joelho e balançando um pouquinho pra frente e um pouquinho pra trás sem parar, depois de horas alguém parou na porta mas eu estava ocupada demais olhando fixamente para um porta retrato ridiculamente laranja na minha escrivaninha.

– Parece uma demente. - Ele falou com um traço de sarro na sua voz e escutei uma risada de fundo, então foi ai que percebi que ele estava com dois amigos, corri até a porta e fechei a mesma, a trancando, depois sentei e recomecei os movimentos, não ligando para o que havia acabado de acontecer, eu só não queria aquele otário do meu padrasto aqui em casa, perto de mim, perto de qualquer lembrança que consegui manter salva dele e da presença repugnante dele.

Mas o que eu mais tinha medo não era da presença dele aqui, era de estar sozinha contra ele, estar sem o Lucas para me defender, para cuidar de mim, afinal, eu sou dependente, dependente dele, da presença dele, das piadas dele, por incrível que pareça, posso me arrepender o mais profundamente, mas, acho que estou me apaixonando por ele.