Estava entediada naquele dia. Nem me pergunte por que, mas é só que ficar olhando sempre pras mesmas paredes cor de rosa bebê, descascada pelo tempo, os velhos móveis antigos que estavam ali desde que eu tinha três anos. Nada de televisões ou o que quer de moderno que você possa imaginar. E quando digo moderno, não quis dizer exatamente falta de tecnologias de ponta, quis dizer falta de qualquer tecnologia inventada depois de 1930. É um milagre que tenham concordado em me dar um computador. Mas ele ficava bem longe do meu quarto. Eu ainda tinha a minha estante de livros se você for pensar, mas eu já tinha lido todas aquelas prateleiras inúmeras vezes. A vida se torna meio chata quando você tem que crescer meio ausente de pai e mãe, ou com um irmão que tenha tanta diferença de idade quanto o meu. Porque o Evan ainda não tinha saído de casa? Sinceramente não sei. Eu ja teria feito isso, se pudesse.

–Claire, você quer, por favor, abaixar a música? - ouvi minha mãe do andar debaixo. A senhora Suzan Damonn era uma mulher de meia idade, com os cabelos loiros e realmente compridos, o qual às vezes eu acho que ela tem mais apreço do que a mim. Olhos verdes, um pouco escuros, amante de tudo o que é velho. Ela é uma restauradora de coisas velhas se assim posso dizer. Restaura esculturas e pinturas em museus, igrejas e coisas assim. Peter Damonn é um homem sério, calmo e calvo. Ele já não tinha mais os fartos cabelos castanhos que minha mãe tanto fala quando eu nasci. Tem os olhos escuros, iguaizinhos os do meu irmão e uma barriga que ele tenta esconder a todo o custo, sem muito sucesso. Evan Damon é uma cópia idêntica do meu pai, quando era novo, e eu realmente não sei o que ele faz da vida aos seus 23 anos. Quanto a mim, eu moro em Liverpool desde que eu nasci, e tenho um pouco de cada coisa da minha familia, só que eu sou um bocado rebelde as vezes. E o fato é que o final de semana havia apenas começado. E eu não tinha feito nada. Nada ainda.