Depois disso, eu não tive coragem pra olhar pra ele. Mas que droga, eu devia ter me controlado, ou sei lá. Nem sei o que ele devia estar pensando de mim agora. Beijar alguém assim, que você mal conhece. Não sei o que deu em mim. Mas eu queria consertar isso a todo o custo, e claro eu precisaria de uma ideia pra isso, o que eu obviamente não tinha. Claro que ele ali tão perto, me olhando de canto de olho não me ajudava em muita coisa. Eu não conseguia achar algo pra me arrepender a não ser pelo ponto de vista racional. Era obvio que eu queria beija-lo, mas eu sabia também que não devia. A comida estava ótima, mas claro, sempre está. É a única coisa boa nesses jantares. A dieta vegetariana da minha mãe é terrível. Se não fosse a comida contrabandeada no armário do corredor, que eu e Evan mantínhamos, eu morreria de fome.

-Boa noite, senhores e senhoras! - um homem careca anunciou no microfone. Oh, não a tortura ia começar. Comecei a sentir falta dos meus fones de ouvido antes mesmo dele abrir a boca. - É tão bom ver vocês todos aqui, apreciando esta noite que teremos antes que o trabalho realmente comece. - ele riu. Patético. Realmente bom, não seria a palavra certa, o mais certo seria frustrante. E tudo o que eu queria era poder ficar sozinha de novo com o garoto do lado. - Agora, vou chamar nosso querido amigo e patrão, Sr. Needles para falar com vocês. - mas que puxação de saco sem fim. É, realmente ele era um patrão muito "amigável". Tanto quanto ele estava longe de ser chato, ou seja, já entenderam. Tortura mortal. Era só o velho Sr. Needles com sua cara de leão marinho falando, e falando, e falando e eu não entendia merda nenhuma. Acho que ninguém entendia, mas estavam todos preocupados demais em dar risadinhas sem graça nas horas certas. Um saco. Eu fiquei pensando o tempo todo em Thomas. Devia estar sendo muito pior pra ele. Se bem que, o velho poderia falar em Italiano e ele ainda assim não ia entender. Eu não sei se era a vontade de sair correndo dali, ou se o tempo estava de pegadinha comigo, mas eu achei que se passaram dias ao invés de horas. Vou te contar, aquilo nunca tinha fim.

Então eu percebi que Thomas havia me passado alguma coisa sobre a mesa. Era um guardanapo onde ele tinha escrito em italiano: "Desculpa por antes"

Eu senti meu rosto corar. Eu não sabia muito bem o que escrever. Por um momento me senti desapontada. Se ele estava se desculpando, é porque achava que tinha agido errado? Droga. E se eu entendi errado e ele não queria me beijar.. eu.. eu... não sabia o que pensar. Peguei a caneta que ele passara junto com o guardanapo e escrevi de volta, não sabendo ao certo como se escrevia em Italiano. Falar é fácil.

"Não tem porque se desculpar, eu acho" e sorri pra ele antes de devolver. Vou te contar, aquele sorriso com que ele retribuiu teria sido o suficiente pra me fazer levar um tombo se não estivesse tão seguramente sentada. Me senti uma perfeita idiota. Ele escreveu rapidamente algo e passou de volta, olhando cuidadosamente pros nossos pais, que mais pareciam hipnotizados ali.

"Está mais chato do que eu esperava." ele riu baixo enquanto eu lia. Eu sorri de volta e me apressei em escrever.

"Queria fugir". e passei de volta. A essa altura, ele nem usou o papel, apenas sussurrou, chegando mais perto.

-Vamos?