Virei a chave na porta e ouvi a voz do Vince.

–Tava aonde Emy? –Ele perguntou.

–Fui andar pelo shopping com a Nat. –Murmurei, escondendo a sacola que estava na minha mão atrás das costas.

–Comprou muita coisa? –Ele perguntou, como se ele tivesse qualquer dúvida.

–Não comprei nada não. –Tentei mentir, mas Vince me conhece de mais.

–Tanto não, que tá escondendo a sacola da livraria ai atrás. –Ele respondeu, sem nem levantar a cabeça. Joguei a sacola em cima da mesa, me jogando numa cadeira. –Quais livros?

–Divergent, Beijada a meia noite, Tempest, Cidade das Almas Perdidas e Circo da Noite. –Murmurei.

–Vou ter que ler todos né? –Ele zoava com a minha cara por que eu só sabia falar sobre os livros e ele não entendia bulhufas do que eu falava...

De boa, quem fala bulhufas?

Tá, eu falo Bulhufas.

Voltando ao que interessa, não que a minha vida seja de grande interesse...

Cacete, eu to foda hoje.

–A Nat tá mega nervosa com o encontro. –Falei, fazendo finalmente o senhorito Vincent desgrudar os olhos do caderno.

–Eu também to.

–Percebo. Onde vai levar-la? Putz, Levar-la é foda. Levar ela. –Falei.

–Ela te deu café ou guaraná natural?

–Haha. –Ri sarcástica. Ele me olhou, levantando as sobrancelhas. – Guaraná Natural. Você sabe que eu não gosto muito de café. O meu negócio é chocolate quente. Responde a merda da pergunta.

–Eu não sei. Quero ajuda.

–Leva ela pra ver aquele filme de rock dos anos oitenta, compra pipoca e balinha de gelatina, depois chama ela pra tomar sorvete.

–Opa, rock dos anos oitenta? Eu gostei disso.

–Faz isso e o sucesso é garantido. Só não esquece de deixar ela em casa e o beijinho no final, super inocente. Ela vai amar. Agora vai se arrumar, por que já tá quase na hora.

Já tinham passado, o que? Acho que uns 20 minutos desde que o Vince saiu pro encontro dele. É, deve ser por ai, sei lá. Eu perco muito a noção te tempo quando eu to lendo.

Ah, sim, alguém bateu na porta, mas eu acho que só ouvi na quarta vez. Já disse que eu voo muito quando eu to lendo?

Levantei resmungando e abria a porta pra encontrar minha irmã, Jia, parada me olhando.

–Mamãe mandou eu dormir aqui hoje. –Ela falou, passando por mim e olhando em vonta. –Cadê o Vince?

–Nossa boa noite pra você também. Saiu, somos só eu e você.

Pra quem tá se perguntando o por que da minha irmã se chamar Jia, a minha mãe nasceu na Itália e viveu lá até os 7 anos. Ela queria botar no nome do meu irmão de Vinchenzo, mas o meu pai não deixou e ficou Vince. Ai ela quis por meu nome de Emília, mas meu paizinho também vetou, e eu fiquei Emily, quando a minha irmã nasceu, minha mãe armou um barraco, dizendo que se ela não pudesse escolher o nome dessa filha, ela se separava do meu pai, e ele nunca mais ia ver nem ela, nem o bebê. Eu e o Vince que se explodam né? Ai, meu pai, pressionado, aceitou, por isso, ela é Jia. Eu prefiro chamar de peste mesmo.

–Quero comer pizza. –Ela resmungou, se jogando no sofá e pegando o controle do Wii. Joguei o telefone pra ela.

–No papel do lado da mesa tem o número. Pede de muzzarella.

–Mas eu quero de Alho. –Ela fez uma carinha de pidona.

–Que nojo menina. Pede duas médias. E não esquece o refri. –Falei, pegando o meu livro, meus cobertores e indo para a cozinha.

Arrumei um cantinho de baixo do balcão, com o chão de cobertores quentinhos, um travesseiro nas costas e uma manta sobre as pernas com o livro no colo.

Você deve estar se perguntando por que eu sentei na cozinha, eu vou explicar.

Preguiça de subir as escadas. É uma boa explicação tá?

Eu lia com atenção, murmurando num sussurro cada palavra do livro.

–Tá falando sozinha? –Jia perguntou, entrando com as duas pizzas na mão.

–Já chegou as Pizzas?

–Não, isso é uma ilusão. –Jia respondeu, me entregando a minha pizza, um copo de coca e guardanapos.

–Vou dormir no quarto do Vince, ele que me tire de lá quando chegar.

Lembra que eu mencionei que o tempo passa rápido de mais quando eu to lendo... então, quando eu olhei por relógio, já eram quase 1 da manhã, e o Vince tinha acabado de deixar a Nat em casa. Como eu sei?

Meu telefone tá tocando.

~Ligação On

–AMOUIIIII. –Nat berrou no meu ouvido.

–Vou ficar surda assim, sua vaca.

–Muuuu. –Ela respondeu, arrancando risadas minhas.

–Como foi?

–Perfeito, ele me levou pra ver Rock of Ages e cantou TODAS as músicas comigo. Ele me deixou em casa, e me beijou, super lindamente. Migaa, to in love com o seu irmão.

–Sei que sim. –Hahahaha, meu plano deu certo. Conhecia ela muito bem pra saber que ela ia amar.

–Tava lendo né?

–To suspirando de mais? –Falei em resposta. –É que veiiiii.... Ele beijou ela, ele o Jem lindo e maravilhoso beijou a Tessa e eu to aqui quase morr...

–PARO! NÃO FALA, EU NÃO CHEGUEI NESSA PARTE. O WILL AINDA TÁ CONTANDO A MALDIÇÃO DELE POR MAGNUS E...

–O Ragnor Fell apareceu. Lá se foi a sua teoria que ela era o Ragnor Fell.

–Merda. Tá bom. Eu vou dormir. Boa noite.

–Boa noite. –Murmurei, ouvindo a porta abrir. –OI VINCENTE. TEM UMA CRIANÇA NA SUA CAMA TÁ?

–Que criança? Fez ninho na cozinha de novo? –Ele perguntou, me olhando.

–Jia. Quer me levar no colo? –Ele me fitou por uns segundos, depois se aproximou de mim, me pegando no colo e jogando os cobertores em cima de mim.

–O que seria de você sem mim?

–Provavelmente, continuaria sentada no chão da cozinha.