–EMY, PARA! –Eu ouvi o Dan me chamar, mas eu não parei. Continuei o mais rápido possível. –Emy, deixa eu falar com você. –Pensei por um segundo em parar, e escutar, mas a imagem dos lábios dele sobre os da Heyva queimaram nos meus olhos e eu continuei correndo e ele continuou me chamando.

–O QUE VOCÊ QUER COMIGO? –Eu gritei, parando de repente, quando eu já não aguentava mais ele me chamando atrás de mim. Ele parou também.

–Me escuta. –Ele implorou. Ah claro, eu vou escutar muito. Olha pra minha cara de vontade de escutar o que você tem a dizer.

–Eu não quero te ouvir! –Falei, mas não saiu exatamente como eu queria, e sim como uma criança que não tinha ganhado o que queria e estava fazendo pirraça. Saiu mais como um choramingo.

–Emy, por favor. –Ele falou. O encarei por um segundo, os olhos azuis dele pareciam tão tristes... Mas toda vez que eu olhava a mesma cena se repetia e tudo que eu conseguia sentir era nojo.

–NÃO FALA O MEU NOME, NUNCA MAIS FALA O MEU NOME. –Ai sim saiu como eu queria. Tudo saiu num grito só. –NUNCA MAIS FALA COMIGO, EU NÃO QUERO TE OUVIR NUNCA MAIS!

–Por favor. –Ele murmurou, estendendo a mão para encostar no meu braço, mas eu esquivei.

–NÃO ENCOSTA EM MIM, NUNCA MAIS. EU NUNCA MAIS QUERO OUVIR MEU NOME SAINDO DOS SEUS LÁBIOS, EU NUNCA MAIS QUERO OUVIR UMA PALAVRA QUE SAIA DA SUA BOCA , EU NUNCA MAIS QUERO QUE VOCÊ ENCOSTE EM MIM, NUNCA MAIS QUERO QUE CHEGUE PERTO DE MIM, EU NUNCA MAIS QUERO TE VER NA VIDA, NUNCA MAIS, ESTÁ ENTENDENDO? NUNCA! –Gritei, deixando todo o aperto que eu tava sentindo no peito sair na minha voz.

–Me deixa explicar. –Ele pediu.

–Explicar o que, Daniel? –Perguntei e eu não estava mais gritando, eu não estava mais histérica. Eu estava, uma vez na vida, completamente controlada. –Explicar que você estava, não tente negar por que eu sei exatamente o que eu vi, se pegando com a Heyva, que você sabia que era a maior inimiga da sua namorada, quero dizer, sua ex-namorada agora. –Ele arregalou os olhos quando eu falei isso, e pareceu tão machucado quando eu estava me sentindo agora. QUE DIREITO ELE TINHA DE SENTIR ISSO? –Explicar que você tava agarrando ela, enquanto a OTÁRIA da Emily Silver tinha ido ao banheiro?! É ISSO QUE VOCÊ QUER ME EXPLICAR, POR QUE ISSO EU JÁ ENTENDI.

–Emy, não faz isso, por favor, não é isso que... –Ele falou, mas eu o cortei.

–Daniel, você pode achar que não, que eu sou só uma garota maluca, que não sabe controlar o que sente, e que fala o que pensa e que não entende nada da vida, mas eu tenho o MÍNIMO de respeito próprio. –Falei, me abraçando. Eu estava congelando e o vestido e a meia-calça não estavam ajudando nada. –Eu não vou fazer nada com você, eu não brigar com você, dar um sermão nem nada. Eu só estou pedindo para você não falar mais comigo, nunca mais. –Implorei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, mas eu nem ligava para elas.

–Não faz isso, Emy, por favor. –Ele suplicou, com a voz baixa e machucada.

–Você quer me explicar o que? –Perguntei, ignorando o que ele pediu. –Você vai dizer que não foi nada do que EU vi, e que ela te agarrou por que ela me odeia e que eu to fazendo uma injustiça ficando irritada? –Ele ficou em silêncio e desviou os olhos para o chão. –Foi o que eu pensei. –Me virei, e segui andando, limpando as lágrimas com as costas da mão.

–Eu te amo Emy. –Ele falou e eu parei de andar. Aquela palavras que me congelaram, e que me fizeram a pessoa mais feliz do mundo quando ele falou antes...

Desatei correndo, deixando as lágrimas correrem, sem ligar pra quem estava olhando. Eu não sei se ele veio atrás, e eu não parei pra ver. Eu não queria. Eu só queria achar um lugar pra cair e chorar até dormir.

Eu corri, corri, corri, chegando a lugar nenhum. Minhas pernas ardiam, mas não era aquela sensação agradável. Meus olhos estavam queimando, e eu podia sentir cada lágrima quente que corria pelo meu rosto, nesse ponto já gelado. Eu estava toda congelando. Em algum lugar, o meu celular estava tocando, mas parecia que tinha uma bolha que me separava do mundo e fazia tudo parecer distante e estranho. Além do mais, eu não estava a fim de falar com ninguém.

“Me deixa explicar” “Não faz isso Emy, por favor.” “Eu te amo Emy.” As palavras dele rodavam e rodavam na minha cabeça, mas nenhuma delas parecia fazer nenhum sentido. Será que algum dia alguma coisa que ele falou fez? Quando ele dizia que eu era linda, ou que eu era inteligente ou engraçada, ou quando ele dizia que eu era “a Emy dele”, isso algum dia fez algum sentido?

Quando eu voltei pra casa, por volta de meia noite e meia, as minhas pernas não aguentavam mais e me carregaram para casa sem eu nem perceber. Quando eu abri a porta, a Nat e o Vince estavam lá.

–GRAÇAS A DEUS! –Natacha gritou. –VOCÊ TEM NOÇÃO DA PREOCUPAÇÃO QUE EU ESTAVA SENTINDO?

–Sério? –Perguntei, sem paciência. O Vince tentou me parar, por que ele já sabia onde isso ia dar, mas eu estava irritada e eu ia falar o que estava na minha cabeça. –Por que recentemente, você está mais pra namorada do meu irmão do que minha melhor amiga. – Ela me olhou com uma mistura de choque e mágoa na expressão. Ela abriu a boca pra falar alguma coisa, mas o Vince segurou o braço dela.

–Não faz... –Mas já estava feito. Tudo já estava feito.

–Não, agora eu vou falar. –Ela falou, se soltando do braço dela. –Eu sei que você fica ignorante quando você esta puta, e eu nem sei o motivo de você estar puta nesse momento, mas você não vai vir ser ignorante pra cima de mim.

–Natacha... –Vince murmurou, mas ela ignorou.

–Eu sou sua melhor amiga a ANOS, Emily Silver, por isso que eu sei, e eu sei que você fala o que você pensa quando tá puta. Mas antes de pensar isso, para e lembra que sou EU que fiquei do seu lado quando você brigou com aquela garota por causa de uma almofada quando a gente era pequena ou quando você briga com a Heyva ou com qualquer um, e que fui eu que ouvi os seus segredos e deixei você chorar no meu ombro quando algum garoto machucou você, ou por que você está se sentindo triste ou excluída do mundo, por que ninguém te ama. Mas eu SEMPRE te amo, e eu não me importo com nada disso, por que você É a minha MELHOR AMIGA, e por que você faz a mesma coisa pra mim quando eu estou desse jeito. Então eu vou ignorar o que você falou. Por que eu te amo, e eu me importo com você e eu sei que você deve estár sofrendo, e por que eu sei que você SABE que eu SEMPRE vou estar lá pra você quando você precisar de mim. –E ela foi porta a fora. Eu fiquei parada, e o Vince também. Depois de um minuto de silêncio, só com os ecos dos meus soluços na sala, o Vince fez menção de vir me abraçar, mas eu me afastei, balançando a cabeça.

Eu não queria ser abraçada, eu não queria ser confortada. O garoto por qual eu sou apaixonada (Eu sou, negar isso por que eu estou triste não vai ajudar em nada) acabou de me trair com a minha inimiga, e eu briguei com a minha melhor amiga por que eu sou uma grande idiota. É, é isso que dá ser eu.

Corri para o meu quarto, e me joguei na cama, sem nem me importar em trocar de roupa. Peguei o meu celular, que tinha varias ligações tanto do Vince, quanto da Nat quanto do Dan. Fui até os contatos e mudei o nome do Dan para “Nunca em hipótese alguma atender” por que, sei lá, vai que eu esqueço. Ele finalmente parecia ter desistido de falar comigo, mas só parecia. O que eu esperava? Se tem alguma pessoa tão teimosa quanto eu, essa pessoa é ele.

“Emy, por favor, fala comigo.” Foi a primeira mensagem que ele mandou. Ignorei, colocando os fones de ouvido e dando o play no random. Começou a tocar November Rain. Legal “Don’t you think that you need somebody? Don’t you think that you need someone?” (Você não acha que você precisa de alguém, você não acha que você precisa de alguém?) Nossa, obrigada Ipod, se você está tentando me deixar pior que eu já estou, você está conseguindo. Eu achava que eu podia contar com você.

“Emy, por favor, me responde.” Se ele parasse seria tão melhor para ambos. Só que ele não ia parar, até por que ele sabia que eu estava lendo. Agarrei o Felix, o gato de pelúcia, e escondi meu rosto na costura do bicho de pelúcia. O Lobo deitou do meu lado e me deu uma lambida de leve, como se ele entendesse que eu estava triste.

“Sabe, você disse que não queria ouvir nenhuma palavra que eu dissesse, mas não disse nada sobre ler” Eu segurei o riso, depois me irritando comigo mesma por rir. Eu não podia rir.

“Sabe, eu sou um idiota mesmo. Você deve estar pensando isso, e você está certa. Eu sou um babaca idiota, e você merece muito mais que isso. Eu sei que o que eu fiz foi muito errado e eu não devia ter feito e não tem explicação que eu possa te dar agora que vá fazer você mudar de ideia. Mas eu vou fazer de tudo pra que você pelo menos me de uma chance. ” Eu já estava chorando... muito. E estava tocando Dream On, do Aerosmit. O mundo resolveu ficar contra mim hoje a noite.

“Eu te amo, Emy, eu amo mesmo, e amo muito.”

–PARA, PARA, PARA, PARA COM ISSO POR FAVOR! –Gritei para o celular jogado nas cobertas, mas ele não podia me ouvir, claro que não.

“-Sabe que ela não pode te ouvir, né?

–Jura? Então pra que servem essas drogas de telefones? –Ele perguntou, com o tom de brincadeira de sempre.

–Sei lá. Talvez para jogar joguinhos. – Dei ombros.” PORRA, POR QUE A MINHA CABEÇA ESTÁ FAZENDO ISSO COMIGO? NÃO FAZ, PELO AMOR DE DEUS, SÓ PARA !

“Me desculpa Emy.”

–Por favor, eu não aguento. Por favor, só para. –Solucei. –Ain Felix, Lobo, por que ele não para? –Perguntei por gato de pelúcia e por cachorro que não iam me responder.

“Boa noite Emy.” Essa foi a última mensagem. Fechei os olhos, enquanto as lágrimas escorriam ainda mais e as mesmas palavras rodavam na minha cabeça, a minha costumeira resposta, selada pelos meus lábios.

“Boa noite, Dan.”