O Daniel estava estranho.

O natal e o ano novo passaram como sempre. Reunião de família com muita comida, primos malucos e tias chatas, muitos abraços e beijinhos e bochechas apertadas. Alguns presentes legais, uma camiseta escrito “I’m sexy and I know it” que eu tenho que lembrar de emprestar pra Nat, por que é a cara dela e um guarda-chuva verde. Nenhuma novidade. O Dan e a Nat ambos voltaram no dia 2 de janeiro e a escola voltou no dia 3 e a vida continuou.

Mas o Dan estava estranho.

Uma hora ele tava louco pra sair e fazer alguma coisa e outra ele tava irritado e queria ficar trancado dentro de casa. As vezes ele tava super bem e as vezes ele tava com o pior mal-humor do mundo. Ele sempre dizia que tinha se desentendido com os pais dele. Sei lá, ele tava meio esquisito.

No dia 11 de janeiro ele queria sair.

–Emy vamos por favor! –Ele falou, empurrando o meu ombro. Eu revirei os olhos pra ele –Eu juro que vai ser legal e a gente nem precisa ficar muito.

–Ontem você não queria levantar da cama, hoje você quer ir pra essa festa. –Resmunguei. –Decide!

–Por favor Emy!! Por favorzinho! –Ele falou, puxando a minha mão pra levantar. –Deixa de preguiça! Emy linda perfeita amor por favor!- Eu sentei na cama e encarei ele. Ele me olhou com aquela cara de cachorrinho que caiu do caminhão de mudança. –Você vai?

–Tem opção? –Perguntei, suspirando. Ele comemorou e me deu um super beijo, depois eu expulsei ele do quarto pra eu trocar de roupa.

–Você fica linda de vestido. –Ele falou, me puxando pela mão pela rua.

–Você é maluco! –Falei rindo. Eu estava usando um vestido de manga cumprida, meia-calça e sapatilha e o Dan resolveu que ele ia passar o caminho todo me fazendo elogios. Olha por mim tudo bem, mas tava ficando engraçado.

–Por você. –Ele respondeu, piscando pra mim, me fazendo cair na gargalhada.

–Você é o ser humano mais clichê do mundo! –Exclamei.

–O que me denunciou? –Ele perguntou com falsa curiosidade exagerada. –Foi o piquenique domingo passado ou quinta que a gente ficou vendo as estrelas no telhado da minha casa? -(Imaginem a minha cara quando ele falou de sair pela janela e e ficar sentado no telhado. E eu posso ter quase caido de lá algumas vezes)

–Hum... Não sei agora. São tantos momentos! –Falei, fingindo pensar. –Não consigo decidir qual!

Ele pegou a minha mão e plantou um beijo lá. Depois passou o braço em volta do meu ombro e nós continuamos.

A tal festa que o Dan queria ir era um clube com luzes piscantes, cheio de gente e música alta. Eu não sou muito fã disso não, mas só uma vez, que mal podia fazer?

Eu não danço na frente dos outros. Isso é um fato. Eu danço em casa, dentro do meu quarto, quando ninguém está olhando se é que o que eu faço pode ser considerado dança. Eu jogo Just Dance com a Nat no Xbox, mas eu não danço na frente dos outros.

O Dan, ignorando esse fato, estava de todos os jeitos tentando me fazer dançar. Ele puxava o meu braço, me balançando e me fazendo rir, mas o máximo que eu conseguia fazer e ficar balançando de um lado pro outro no ritmo da música. Depois de uns vinte minutos com só ele dançando (o que ele saber fazer bem) ele desistiu e foi pegar alguma coisa pra beber. Eu aproveitei pra fugir do meio das pessoas dançando e me encostei num canto.

O Dan voltou com uma coca cola e alguma bebida colorida, que ele me ofereceu, mas tinha um gosto esquisito. Só que ele agora tava distraído com alguma coisa.

–Dan, tá tudo bem? – Perguntei. Ele levou um minuto pra me responder, mas balançou a cabeça, me puxando pra perto dele.

–Huhm, eu só gosto dessa música. –Ele respondeu. Tava tocando uma música que eu nunca tinha ouvido na vida, mas eu dei ombros.

A próxima meia hora foi ficando pior. Eu tava de saco cheio. O Dan continuava bebendo aquela bebida colorida de gosto ruim e ele tava ficando cada vez mais esquisito, o que tava me deixando puta, por que ele dizia que tava tudo bem, mas ele nem ouvia nada que eu falava e ficava olhando em volta, distraído.

–Dan, eu vou ao banheiro. –Falei. Ele concordou com a cabeça e me deu um beijo de leve.

Me locomovi pelo lugar cheio e escuro que mal dava pra ver a pessoa do seu lado até eu achar o banheiro, que não era tão ruim quanto se pode imaginar. Tinha uma menina passando mal em um Box, com a amiga dela segurando o cabelo dela, e outras três meninas passando maquiagem.

Eu devo ter levado uns cinco minutos pra chegar lá, mas cinco no banheiro e cinco pra conseguir voltar pra onde o Dan estava. No caminho eu estava pensando que eu estava sendo muito chata e pra ter um pouquinho de paciência, ele só queria se divertir um pouquinho enquanto My Songs Know What You Did In The Dark do Fall Out Boys tocava num volume ensurdecedor. Mal eu sabia...

Estava escuro e difícil de ver as pessoas, mas eu consegui ver o que estava acontecendo, como se nada estivesse em volta e estivesse tudo claro.

O Daniel, meu namorado, estava aos beijos com ninguém mais ninguém menos que a Heyva.