- Jo? – Gale me encarava, ainda com a toalha na mão mas completamente vestido – você está bem?

- Acham que eu tenho alguma coisa a ver com o assassinato.

- Quem disse isso?

- Um homem de cabelo azul.

- E você leva a sério um homem de cabelo azul? – ele disse enquanto se sentava no canto do sofá e me puxava para o meio de suas pernas – Vem cá, para de pensar nisso vai.

- Você teve notícias do Erick?

- Nada – Gale respirou fundo e soltou a frase seguinte – podemos ir ao hospital à noite. Tentar vê-lo.

- Seria muito legal – disse enquanto deitava em seu colo e deixava minha mão direita passear em seu rosto. – Você fez a barba.

- Você gostou?

- É diferente.

- Você gosta do diferente?

- Gosto.

- Talvez por isso você goste do Erick.

- Gale...

- Não estou julgando, eu entendo. Ele é legal, corajoso e algumas garotas acham ele bonito, o que eu particularmente não entendo – ele riu – é só que eu e você somos tão parecidos que tenho medo de que – ele levantou as mãos na minha frente a as junto com força – os opostos se atraiam e você o prefira. Principalmente agora que ele está machucado.

- Isso não vai acontecer.

- Você disse outras vezes.

- Foram as vezes que você estava sendo babaca Gale.

- Obrigado – ele disse fingindo estar chocado.

- Agora você vai estar comigo. E quando eu estou com você, eu não penso nele. Você tentando ajudar ele mostra que você está se esforçando pra mudar.

As mãos de Gale continuavam afagando meu cabelo enquanto ele pensava no que eu havia dito. Levantei e me deitei sobre ele novamente, mas dessa vez de um jeito que pudéssemos nos olhar nos olhos.

- Para com isso tá? – disse enquanto acariciava seu rosto – Você prometeu que ia estar sempre comigo. E eu sei que você vai cumprir. Eu vou fazer minha parte.

- Jo, eu... – sua voz falhou e um arrepio tomou conta do meu corpo. Eu não queria que o Gale falasse as três palavras. Não ainda porque eu não estava pronta pra responder. Eu não o amava ele. Quer dizer, eu amava, muito. Mas não estava pronta pra dizer isso ainda. – Você já amou alguém?

- Sim – eu balbuciei.

- Era bom?

- Era sim. Enquanto durou.

- Como era?

- Como você e a Katniss. Como eu e você.

- Não acho que amo você como amava a Katniss – Um silêncio chato tomou conta da sala e baixei meus olhos quando Gale segurou meu queixo e levantou meus rosto, fazendo com que nossos olhos se encontrassem. – eu amo mais. Muito mais.

Um suspiro me escapou e quando achei que tinha que encontrar uma resposta, Gale me beijou. Um daqueles seus beijos que me tirava o fôlego. Suas mãos que antes estavam entrelaçadas nas minhas agora passeavam em minhas costas. Gale soltou meus lábios enquanto me segurava pela cintura e trocou nossos lugares. Agora eu estava deitava no sofá enquanto ele beijava meu pescoço. Eu sentia seu peso sobre meus braços e pernas e sabia que era hora de controlar aquilo antes das coisas explodirem, mas eu não conseguia parar.

- Gale?

- Hm? – ele sussurrou enquanto beijava meu pescoço.

- Acho que devíamos parar agora.

Ele se levantou um pouco, olhou em meus olhos e riu.

- Também acho – e então me beijou novamente. Levei minhas mãos até o peito de Gale pronto para empurrá-lo, mas acabei tirando sua camisa.

Johanna, o que você está fazendo? Qual seu problema? Você nem sabe se o ama então sai daí agora.

- Gale?

- Sim Jo? – dessa vez ele realmente parou de me beijar. Gale estava sobre mim, sem camisa, com aquele sorriso lindo e a única coisa que eu queria era agarrar ele e não soltar nunca mais... Mas eu precisava me controlar.

- Acho que estamos indo longe demais. Me desculpe.

- Para de ser boba Jo. – Gale passou a mão em meu cabelo esparramado no sofá e riu – nós só vamos fazer isso quando você quiser.

- Obrigado – eu sorri, mas Gale continuava me encarando como um cachorrinho sem dono – O que foi?

- Eu posso pelo menos te beijar mais uma vez? – nós dois rimos.

- Contando que você se controle e me controle.

Então eu e Gale ficamos ali, nos beijando, conversando, rindo, nos beijando novamente, o dia todo. Por um tempo aquele apartamento pareceu nossa casa. Parecia que nós já tínhamos uma vida juntos.

- Dorme aqui – Gale falou enquanto pedia um jantar na máquina doida que fazia comida sozinha. – Só dormir, prometo.

- Tudo bem – eu disse sorrindo. - Vou pegar uns cobertores, nós ficamos aqui na sala.

- Tudo bem – ele sorriu.

Fui em direção ao quarto de Gale e encontrei outro mundo. As paredes eram cheias de mapas, projetos, coisas que só o Gale nerd e Beetee conheciam. Do lado da cama, vários porta-retratos. Uma mulher com algumas crianças. Seus irmãos. Eu os havia conhecido no distrito treze, uma família maravilhosa. Prim e sua cabra. Só as duas com um sorriso do tamanho do mundo. Também dava pra ver o rabo de ButterCup na foto. Nenhuma foto da Katniss. Odiava admitir, mas aquilo era um alívio. E então do lado da cama, num porta retrato, um pouco mais moderno, algumas fotos passeavam pela tela. E as fotos mostravam uma garota de cabelos e olhos negros, meio perdidos, um sorriso irônico e roupas coladas. Eu. Uma foto de quando cheguei à arena na primeira vez. Quieta, solitária, chorando. Uma quando venci. Com os longos cabelos soltos e graças aos meus estilistas e maquiadores, linda. Uma 3º foto, esta da minha segunda colheita. Uma foto de quando fui para o Distrito 13, quando conheci Gale. E a última foto era uma das últimas que tirei, no dia da votação em que decidimos fazer um último Jogo. Eu parecia feliz. Mas eu estava totalmente quebrada por dentro.

Fui para a cozinha e encontrei Gale sentado à mesa. Limpei a garganta num volume alto o suficiente para que ele conseguisse me ouvir. Me esforcei em segurar o porta retrato nas mãos trêmulas e não consegui evitar que meus olhos se enchessem de lágrimas.

- Jo – ele arfou – você encontrou.

- É – eu disse enquanto olhava as fotos. Ele se levantou e correu em minha direção.

- Me desculpe. Eu posso me livrar delas quando você quiser.

- Não faça isso – disse enquanto tirava uma câmera fotográfica do bolso. Presente de despedida de Haymitch.

- Jo?

- Você precisa de uma foto recente certo? Só me deixe lavar o rosto porque não quero sair com o rosto vermelho.

Gale segurou meu rosto tão delicadamente e deu um sorriso do tamanho do mundo.

- Eu sou seu, sabia? Completamente e para sempre.

Gale colocou seus braços em volta de meu corpo e esticou o braço pra tirar a foto. Nós sorrimos por alguns segundos e depois nos olhamos. E agora ele tinha uma foto digna do que sentíamos.