Gale me soltou e correu em direção ao garoto. Era um dos tributos de Erick.

- Plutarch – eu gritei – fique com Lisa pra mim um segundo.Eu vou ajudar.

Gale examinou o pulso do garoto e balançou a cabeça negativamente. Ele tinha um corte profundo na garganta e nenhum sinal de luta.

- Erick – comecei a gritar – Erick cadê você?

Ouvi gemidos num canto e encontrei Erick meio desacordado com um corte na cabeça.

- Erick – me sentei ao seu lado e coloquei meus braços envolta dele – O que houve? Gale, pega um kit de primeiros socorros, por favor?

Gale se levantou e foi correndo enquanto as pessoas examinavam o corpo, abismadas. Os tributos já tinham sido levados aos quartos e a polícia já tinha sido acionada.

- Erick, por favor.

- Jo – Erick passou a mão em meu cabelo e tentou um sorriso

– Não fala nada. Espere, eu vou cuidar desse corte.

Gale chegou com o kit e me ajudou com o machucado.

- Você vai ficar bem – Gale dizia e olhava pra mim, desesperado, pedindo pra que eu ajudasse antes que Erick desmaiasse.

- Sim, você vai. Nós estamos aqui com você Erick.

Plutarch apareceu e levou ele, sem deixar que nós o acompanhássemos nos deixando naquele salão cheio de sangue, abismados e assustados. Gale me puxou pro seu colo e eu encostei a cabeça em seu ombro.

- Não acabou, não é? – sussurrei.

- Acabou sim Jo – Gale afagava meu cabelo, me deixando com sono – É só alguém procurando vingança. Mas nós temos Panem inteiro do nosso lado.

- Será Gale? – disse me virando em sua direção e olhando em seus olhos.

- Não importa. – ele colocou a mão em meu rosto e apertou minhas bochechas – Eu vou estar aqui com você. Sempre. E sei que metade do mundo também. Nós podemos vencer isso Jo. Você acredita nisso?

Entrelacei meus dedos nos seus e sorri.

- Enquanto eu estiver com você, eu acredito. Gale se aproximou e me beijou. Minhas mãos correram até seu pescoço e nós ficamos ali por alguns minutos tentando esquecer com o que teríamos de lidar quando nosso momento acabasse. E então eu adormeci em seus braços. Antes de dormir notei que Gale olhava fixamente para o lugar onde o corpo do garoto estava. Naquele momento eu só confiava nele, em Lisa e em Erick. As três pessoas que eu sei que não fariam aquilo com aquele pobre garoto. Qualquer outro que estava naquela sala podia ser o assassino, desde Connor até Marco. Acordei no outro dia na minha cama. Gale não estava por lá então ele provavelmente me deixou lá e saiu. Eu gostava da ideia dele me respeitar. Forcei-me a levantar, por mais atraente que minha cama fosse e fui para o chuveiro. Fazia tempo que eu não via um corpo. Minhas mãos passeavam no Box fazendo desenhos. Minha família. Minha mãe e meu pai se casando. Meus pais e eu. Meus irmãos. Todos nós juntos, como em uma foto que tínhamos em casa. Outro desenho. Eu, meus irmãos e Cody. Cody. Fazia tanto tempo que eu não pensava nele. Eu o amava. Ele ia ser o único homem da minha vida. A ideia de beijar qualquer outra pessoa era repugnante. E olhe agora. Fico pensando se ele me vê em sua televisão. Ou se o nojo é tão grande que ele a desliga assim que citam meu nome. Sinto um aperto no peito. Me sento e deixo minha mente vaguear. Estava evitando pensar em Finnick, mas era inevitável. O que ele faria? Com certeza a tarefa dele seria a que Gale executou. Ele iria ir ver se o garoto estava vivo. E então ele ficaria pensando naquilo o resto do dia, exatamente como Gale fez. Exatamente como eu estava fazendo. Saio do chuveiro, coloco um pijama quente, tomo meu café e vou para o elevador. Os treinos foram cancelados e Erick ainda não podia receber visitas. O golpe tinha sido um pouco forte demais e ele ainda estava um pouco desorientado. Cheguei à porta do apartamento de Gale e encontrei a porta encostada. Um Gale triste e com olhos pequenos estava sentado no sofá. Ele não havia dormido.

- Jo – ele disse baixo e forçou um sorriso – dormiu bem?

- Pelo menos dormi – disse enquanto ia a sua direção – diferente de você.

Me sentei ao seu lado e lhe dei um beijo na bochecha. Suas mãos frias cobriram as minhas e eu encostei minha cabeça em seu ombro.

- Eu sinto muito – sussurrei.

- Achei que não ia mais passar por isso. – ele respondeu.

- Eu também – apertei sua mão com mais força – me desculpe por não ter ido até lá com você.

- Você fez bem. Eu não queria que você visse aquilo. Não quero que você veja mais ninguém morto, nunca mais. Preciso acordar. Vou tomar um banho, você me espera?

- Claro – disse enquanto ele se levantava.

- Ou você pode ir comigo...

- Tchau Gale.

Ele riu e seguiu em direção ao banheiro enquanto alcancei o controle da televisão e coloquei no jornal local. Estavam falando sobre nós: “Johanna Mason, Enobaria, Erick Cresta e Gale Hawthorne são alguns dos jovens envolvidos no incidente. Os pais do garoto morto não quiseram divulgar informações ou fotos dele, porém dizem estar conformados, pois já sabiam que o garoto não ia sobreviver à arena. A questão é, será que os heróis dos distritos não tem algo a ver com isso? Por onde andam Katniss Everdeen e Peeta Mellark? Haymitch? Beetee? Johanna Mason será que você está conseguindo conter seu temperamento?” Desliguei a televisão num impulso e joguei o controle longe. Controlar meu temperamento? Qual o problema de vocês? Eu ajudei a salvar a merda dessa Panem e vocês estão falando que eu não controlo meus temperamentos? Espera. Eu não estou me controlando. Me forço a respirar algumas vezes e ouço a porta do banheiro se abrir e o vapor tomar conta da sala. Não me controlo, como assim não me controlo? Eu odeio a Capital. Odeio. Eu mataria todos vocês se pudesse. Johanna se controle.