Os Jogos tinham sido adiados por pelo menos uma semana. Erick estava se recuperando e eu e Gale íamos visita-lo hoje. Pelo tanto de vezes que Gale estralou as mãos cheguei a conclusão que ele estava nervoso. Entramos no elevador enquanto eu arrumava sua camisa.

- Você está tão bonito – disse enquanto arrumava seu cabelo.

- Só não o beije ok? Não depois de tudo o que passamos ontem.

- Gale...

- Só isso. Eu posso deixar vocês sozinhos e você pode ficar com ele quanto tempo quiser, mas, por mim, não o beije.

- Não vou – disse e então o beijei – eu sou sua, lembra?

- Estou tentando não me esquecer disso.

Saímos do elevador e entramos no carro de Plutarch. Nada luxuoso. Apesar de grande e moderno, era o novo carro popular. Ninguém na Capital tinha direito a glamour a não ser que pagasse por isso. E trabalhar oito horas por dia não era muito a cara deles. Gale segurou minha mão o caminho inteiro e eu me lembrei de quando cheguei a Capital com Erick. Quando nós éramos quase um casal. E agora eu estava com Gale. O quão estranho àquilo era? Estar com Gale me deixava mais confiante do que com Erick, isso eu precisava confessar. Gale sempre estava pronto pra me levantar do chão enquanto Erick só oferecia sua mão. Era como se com Erick eu sempre tivesse que me esforçar quando com Gale eu podia ser carregada. Isso parecia terrível. Desliguei meus pensamentos quando chegamos ao hospital. Um estacionamento vazio anunciava que o lugar que estávamos entrando não era usado com tanta frequência. Quem ligava pra violência real quando podia ligar sua TV e se deliciar? Eu e Gale saímos do carro de mãos dadas, mas parei na porta do hospital enquanto Plutarch seguia até a recepção.

- Acho melhor...

- Como sempre não é Johanna?

- Eu vou falar com ele Gale. Quando ele não estiver em uma maca num hospital fantasma. – Dei um beijo em sua bochecha e soltei sua mão da minha.

Entramos no hospital e uma enfermeira logo veio me avisar que Erick estava ansioso pra me ver. Droga. Deixei Gale na sala de espera e fui conversar com ele.

- Cresta – disse correndo em sua direção e o abraçando até ouvir um gemido de dor – me desculpe.

- Gosto quando você me abraça – ele disse com uma voz fraca.

- Está se sentindo melhor?

- Um pouco.

- Um pouco? Você tem que se recuperar completamente. Você faz a maior falta. – sento-me a seu lado e começo a mexer em seus cabelos que tanto me lembram de Annie. – Falou com sua irmã?

- Sim. Ela sente sua falta. Anda tendo algumas crises, mas nada fora do comum.

- Vamos visita-la. Quando isso acabar.

- Visita-la. Você não pretendo mesmo ir morar no quatro, certo?

- Pretendo sim. – meço minhas palavras e as faço correr por minha mente algumas vezes – por Mike. Quero ajudar a cuidar dele. Como um filho.

- Você vai levar Gale? – Erick deixa escapar.

- Erick.

- Eu entendo. Vocês estão juntos. E eu estou aqui jogado numa cama. Nem pra treinar meus tributos eu vou servir mais.

- Pare com isso – digo apertando com força sua mão – você sabe o quanto é importante pra todo mundo.

- Pra você?

- Principalmente pra mim Cresta.

O silêncio reinou por alguns segundos que mais pareceram séculos.

- Você o ama? – indagou Erick.

- Eu não sei Erick. Ele me faz feliz. Você me faz feliz. De maneiras tão diferentes e tão maravilhosas que não consigo me decidir sobre como me sinto em relação á vocês dois. Mas não posso negar que estou saindo com ele.

- Beijando ele.

- Não tanto quanto um casal normal faria.

- Mas está.

- Como beijava você.

- Quando isso aconteceu? – Erick acariciava minha mão enquanto se esforçava pra sorrir.

- O que? – perguntei esperando não ter que responder nada muito difícil.

- Quando você deixou de gostar de mim loucamente e passou a gostar dele loucamente?

- Eu não gosto de nenhum de vocês loucamente. Eu sou louca o suficiente sozinha.

- Mas você gosta dele como gostava de mim.

- São amores diferentes – engoli seco – Conheci Gale primeiro, me apaixonei por ele primeiro e então você surgiu e...

- Então eu cheguei tarde? – Erick me interrompeu e começou a tossir e resolvi deixar aquele assunto para depois.

- Não é uma boa hora, certo? Vamos conversar sobre isso depois.

- Sempre depois.

- Erick, me desculpe. Mas existem coisas que eu não posso controlar. Como os meus sentimentos por Gale. É tudo tão confuso. Eu disse pra ele ir embora, mas ele resolveu ficar e lutar por mim. Eu não posso jogá-lo para o lado. Eu nem quero fazer isso.

- Nós daríamos um bom reality show. Nós três. – Erick disse rindo.

- Se eu tivesse que conviver com vocês dois – disse enquanto acariciava seus curativos – eu nunca poderia escolher.