Capítulo 2: Será?

Assim que todos os embarcaram e pode ser ouvido o último apito, muitos se debruçavam nas janelas para se despedirem dos pais, alguns desses gritavam recomendações de última hora, mas quando o expresso de Hogwarts ganhou velocidade o último aceno ficou para trás. Agora todos se encaminhavam para suas cabines, já podia se ouvir a agitação e alguns já perguntavam quando o carrinho de doces iria passar, monitores se encaminhavam para reunião onde seus monitores chefes já esperavam e as equipes de quadribol do ano passado resolveram fazer uma reuniãozinha ao estilo do professor Horácio, Rose queria comparecer a reunião, mas isso só seria possível após receber todas as instruções e fazer sua patrulha pelo trem, enquanto se encaminhava para a cabine dos monitores, viu já alguns amigos de equipe já a caminho da “festa-reunião”, não a entendam mal, Rose amava ser monitora, lhe passava autoridade e responsabilidade reconhecida e ela amava isso, mas imagina ver seus amigos partindo para uma cabine para falarem de quadribol, quadribol e quadribol? Ela amava isso! Seu amor pelo esporte herdou do pai, que a levará em diversos jogos ainda pequena, era uma torcedora do Chudley Cannons, como nenhuma outra e seu time estava invicto no campeonato para seu delírio, de seu pai e irmão, até a mãe se contagiava pela felicidade e euforia do marido e filhos. Após receber as ordens de ronda da monitora chefe, que na verdade só passou um papel informando a hora das rondas de Rose e comunicando que a primeira ronda do trem era dela a dispensou, a ronda foi particularmente tranquila, tirando alguns novatos assustados por veteranos e algumas bagunças aqui e outras ali, Rose finalmente pode chegar ao compartimento onde estava acontecendo à reunião das equipes de quadribol do ano passado, assim que a ruiva entrou na cabine seu olhar cruzou com o de Scorpius...

- A ruiva mais linda de Hogwarts resolveu nos agraciar com a sua presença – Lysander levantou um copo na direção de Rose, fazendo com que a troca de olhares que estava acontecendo entre certa ruiva e certo loiro fosse interrompido.

- Olá pessoal. – Rose disse um pouco constrangida com todas as atenções voltadas para si e sentou-se ao lado de Alvo de frente para Lysander.

- Sabe você não morre tão cedo Rose, eu estava falando nesse exato momento em como você fica linda arremessando uma goles, quer dizer, você já é extremamente linda. Então, para não perder mais tempo, que tal ir comigo no primeiro passeio do ano para Hogsmeade?  – Lysander estava meio que inclinado na direção de Rose e deu uma piscadinha para a mesma enquanto Lorcan revirava os olhos do lado esquerdo do irmão.

- Mas já? Desculpe Lysander, você nasceu moreno e eu prefiro os loiros. – Rose sorria de forma sarcástica para o moreno a sua frente, mesmo que estivesse ligeiramente encabulada.

- Rose é apaixonada por mim, sempre soube disso. – Lorcan entrou na brincadeira da amiga.

- Oh, são seus cabelos, tenho uma queda por loiros. – Rose estava tão distraída na brincadeira que se esqueceu de que Scorpius estava ali que antes observava a situação toda com um olhar enigmático, mas agora tinha um sorriso contido.

- Ah é mesmo Weasley? Não sabia disso... – Scorpius tinha um brilho no olhar, quase desejosos pela resposta.

- Ora, é por que você deveria saber de algo Malfoy? – Rose mesmo nervosa com a pergunta e com a possibilidade de uma interpretação de duplo sentido em relação ao próprio loiro.

- Não sei, talvez porque eu seja loiro, está interessada na minha loirece, Weasley? – Então Rose percebeu que tudo não passava de uma piadinha, mais uma entre as tantas outras que ele já fizera, todos que estavam particularmente perto começaram a rir, mas a reação de Rose foi totalmente diferente, ela não ignorou e disse simplesmente para ele “crescer” como sempre falava a muitos anos, dessa vez ela se sentiu mesmo ultrajada pela forma como ele se referiu ao possível sentimento dela.

- Não. Sabe Malfoy não é porque você é loiro, capitão do time da Sonserina, inteligente e tem um grupo de meninas loucas atrás de você que todas as meninas estão interessadas em você, pois saiba que em relação a você eu simplesmente não sinto nada, entende o significado da palavra nada? Se entender muito bem, senão acho que você não é tão inteligente assim e agora com licença que tenho mais o que fazer! – Rose se levantou assentindo para o resto das pessoas que agora se encontravam ligeiramente assustadas e Malfoy mais do que todas elas juntas não sabia o que fazer enquanto a ruiva se retirava da cabine e fechava a porta atrás de si.

- Bem, eu vou atrás dela. – Alvo seguiu a prima ainda assustado com a reação da mesma.

- Ui, nervosa essa ruivinha. Com certeza eu a quero para mim! – Lysander comentou como se nada tivesse acontecido enquanto Malfoy também se levantava e saia da cabine, porém sem falar uma palavra ao resto do grupo.

Rose já estava virando em uma cabine quando Alvo a alcançou e a puxou pelo braço antes que entrasse.

- O que você quer? – Rose virou irritada para o primo.

- Nossa, é assim que você fala comigo agora? Vem vamos procurar uma cabine porque não quero conversar com a minha prima e melhor amiga assim no corredor. – Alvo ofereceu o braço para uma Rose totalmente envergonhada.

- Me desculpe Al. – Rose pegou no braço do primo e foram à procura de uma cabine vazia para poderem conversar. Depois de andarem por um tempo acharam uma cabine vazia e entraram para conversa. Rose se sentou em um lado e Alvo de frente para ela, a menina continuava com a cabeça baixa.

- Você pode me explicar o que houve? – Alvo se inclinou para frente apoiando a mão no joelho da prima, como quem da conforto.

- Eu não sei. – Rose sussurrou tão baixo que parecia que não quisesse que o primo a ouvisse.

- Como assim não sabe? Eu sei que você não é a maior fã das brincadeiras do Scorpius e na maioria das vezes ignora ou o manda parar de te perturbar e crescer de uma vez, mas aquela explosão que você teve? Rose, não me diga que... Não, não pode ser. - Alvo voltou a encostar-se ao banco perdido em seus pensamentos.

- Não pode ser o que? – Rose finalmente olhou para frente e encontrou um Alvo totalmente imerso em pensamentos.

- Rose você por acaso está mesmo, ér... Você pode assim por algum acaso sentir algo pelo Malfoy além de antipatia normal do melhor amigo do seu melhor amigo? Ok ficou confuso. Scorpius é meu melhor amigo e você é minha melhor amiga, sabe como isso é difícil?

- O que? Não, quer dizer, de onde você tirou isso? E por que seria difícil? Quero dizer, você não iria gostar?

- Bem, não é que eu não fosse gostar, eu não sei ok? Seria legal não ver vocês dois fuzilando um ao outro com os olhos, mas não sei se ia curtir muito a ideia de ficar ao lado de vocês quando estivessem dando um amasso.

- ALVO! Por favor, não fala isso de novo! Eu e o Malfoy, dando... Dando um amasso? Mas que ideia, eu não sei por que agi daquele jeito, talvez seja a tpm, ok? – Rose já estava desesperada para acabar com aquela conversa logo.

- Tudo bem, tudo bem.  Vamos acabar o assunto por aqui... Por enquanto! – Alvo avisou, sabia que a prima estava mais do que constrangida com aquela conversa mais ele não deixou de pensar no “será” assim como Rose não queria nem imaginar o “será”, mesmo que essa já estivesse pensando inconscientemente.

...

- Onde vocês estavam? – Hugo perguntou de boca cheia e com vários doces a sua volta.

- Não consegue parar de comer Hugo? – Alvo perguntou rindo;

- Eu sou filho de Rony Weasley, tenho que honrar meu sangue!

Rose roubou um sapo de chocolate do irmão antes de sair a procura de Cecília que ela sabia que estava a duas cabine a frente, estava cansada de ficar andando para lá e para cá, essa sem dúvida tinha sido a viagem mais conturbada pela qual ela já havia passado, para sua sorte a viagem já estava chegando ao fim. Encontrou a amiga sentada sozinha lendo uma revista.

- Por favor, me ajuda! – Rose pediu chorosa enquanto se jogava no colo da amiga e abrindo seu sapo de chocolate, que esse nem teve a chance de pular porque foi logo abocanhado pela ruiva.

- Merlin, o pobre sapinho não pode nem pular. – Cecília disse enquanto deixava a revista de lado e passava a fazer um cafuné na cabeça da amiga. – O que houve furacão ruivo?

- Há há há, o furacão ruivo está com problemas.

- E que problemas seriam esses?

- E se eu te falar que talvez meu coração não quisesse mais me obedecer, o que você diria? – Rose perguntou olhando para amiga que agora tinha uma cara de confusa.

- Eu diria “Hey coração da Rose, o que está havendo ai? Trate de obedecer a essa ruiva mandona”, mas como o coração é seu e você faz aquilo que quer tudo bem! Você me escuta o que é lindo, mas é sério Rose, o que aconteceu?

- Talvez eu esteja gostando, ok gostando não é a palavra, não chega a ser isso, eu não sei. Acho que acabei percebendo que alguém que eu não havia percebido antes é muito bonito e faz com que a gente perceba a sua presença assim de longe e tem um sorriso lindo e seus cabelos parecem raios do sol e... Acho que estou encantada... - Rose falava tudo tão rápida com medo da amiga perceber de quem ela se referia ou com medo dela mesmo perceber que estava usando essas palavras para definir ele.

- Por favor, para... Para e para! O que está havendo aqui? Rose Weasley está apaixo...Ok, se você quer a palavra “encantada” por um cara.

- É...

- E qual é o problema disso? – Cecília não estava entendendo qual era o problema, afinal é legal se apaixonar não é?

- O problema é por quem. – Rose agora tinha escondido o rosto entre as mãos.

Então Cecília parou e deu um gritinho colocando as mãos na boca para abafar a surpresa, porque finalmente ela havia entendido e ligado os últimos fatos com a descrição feita pela amiga.

- Você está falando... Será? – A morena tirou as mãos da amiga do rosto para olhar para ela.

- Esse é o problema... Será? – Rose parecia totalmente perdida e antes que pudesse falar mais alguma coisa o trem parou indicando que finalmente eles haviam chegado a Hogwarts.

- Depois, vamos conversa. – A morena avisou para amiga que estava agora em pé ajeitando as vestes.

- Eu não sei se quero conversar sobre isso. – Rose estava temerosa sobre a conversa e ter que admitir algo que ela ainda nem sabia o que era de fato.

- Ah, mas eu quero, agora vamos que temos um banquete pela frente.

E assim ambas saíram juntas para uma noite totalmente estrelada e entraram em uma carruagem.  O banquete foi calmo, calmo para quem não estava sentado perto dos Weasley e Potter que eram sem dúvidas a diversão da mesa da Grifinória, na hora da seleção do Chapéu Seletor foi o único momento que eles ficavam calados, afinal nenhum deles queria parar na sala da diretora no primeiro dia, a comida estava maravilhosa como sempre e logo após o jantar acabar os monitores chefes se encarregaram de mostrar o caminho para o salão comunal de suas respectivas casas com a ajuda dos outros monitores, quando Rose chegou enfim ao seu dormitório logo pegou sua roupa e se trancou no banheiro para tomar um banho, quando saiu Cecília já estava de pijama e sentada em sua cama.

- Agora não Lia... - Suspirou Rose cansada se jogando na cama.

- Vamos lá Rô, conte-me logo.

- Sério, agora não, hoje não, estou cansada demais e na verdade nem eu mesma sei, quer dizer eu não saberia explicar, me deixe tentar entender primeiro, eu prometo que você será a primeira, a saber, é sempre a você que eu recorro mesmo. – Rose abriu um sorrisinho para amiga, sabia que essa só estava preocupada e curiosa.

- Tudo bem, descansa... Quando precisar já sabe. Durma bem. – Cecília disse levantando da cama da amiga e fechando as cortinas da cama da mesma em seguida.

Rose se afundou na cama e puxou os cobertores até a cabeça, tudo que ela queria agora era esquecer, esquecer que pudesse estar se apaixonando, esquecer-se dos olhares, do ritmo que o coração tomou, queria dormir e sonhar, só não esperava que até mesmo nos sonhos ele aparecesse.