Ironias da Vida escrita por Cahxx


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Bem, desde que comecei a escrever esta fiction eu nunca havia planejado algo grande pra ela. Então perdoem a simplicidade do enredo e a infantilidade do texto.

Cahxx



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Capítulo 3

Sam estava com o braço apoiado na janela e uma mão apoiando o rosto, pensativo, tentando assimilar tudo que havia acontecido. Dean simplesmente dirigia o carro, mas sem prestar atenção a paisagem a sua frente. Apenas fitava o nada. Até que Sam finalmente cortou o silêncio:

– O mais estranho de tudo isso foi aquela coisa já estar morta quando chegamos no local – disse – E ainda mais todas aquelas luzes e faíscas que vimos.

Dean apenas permanecia em silêncio, do mesmo jeito.

– E a conversa dos dois... A Hirmone disse algo sobre missão... Reparou?

Ainda mudo.

– E você ouviu o ruivo? Ele parecia surpreso com a irmã ter ficado assustada.

Dean começou a contorcer o lábio, segurando um grito ou algo do tipo.

– Isso tá...

E Dean socou o volante explodindo:

– DÁ PRA FICAR CALADO UM SEGUNDO?! VOCÊ NÃO PARA DE FALAR DESDE QUE SAÍMOS! TÁ ME DANDO NOS NERVOS!!!

– Está irritado só porque se apaixonou pela garotinha e agora descobriu que ela não é tão boazinha assim!

– Chega Sam! Eu não quero mais falar sobre isso!

– Faça como quiser – resmungou o irmão finalmente calando-se. O resto do caminho foi puro silêncio humano e barulho de motor. Chegaram à casa americana antiga que haviam alugado e Dean desceu do carro batendo a porta. Subiu as escadas pisando forte e foi para seu quarto. Depois disso, Sam não viu mais o irmão durante a noite.

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Sam acordou e encontrou a casa vazia: sem sinal algum de Dean. A princípio se preocupou pensando se Dean havia saído para aprontar alguma coisa, mas logo procurou relaxar. Decidiu que iria sozinho à casa da vidente averiguar tudo.

O carro não estava na frente da casa, significando que o irmão realmente havia saído. Foi andando, não se importava, caminhar lhe ajudava a pensar. Chegou ao centro comercial da cidade que estava movimentado como sempre. Tudo parecia normal por ali. O dia estava ensolarado e o céu azul limpo. Parou no meio da rua e deu uma olhada ao redor; não sabia bem o que estava procurando, mas fez isso por instinto.

– Uma limonada, por favor. – disse a um senhor barrigudo, numa barraca de guarda-chuva vermelho. Tomou o suco ainda observando as pessoas e algo chamou sua atenção: uma juba de cabelos claros e ondulados destacava-se no meio de um emaranhado de pessoas. Hirmenone – ele não se lembrava direito o nome da garota – atravessava a rua carregando uma gigantesca pilha de livros muito pesados. Sem enxergar a guia por cima dos livros, a garota tropeçou e derrubou metade no chão, exclamando algum xingamento que o moreno não conseguiu ouvir.

Sam largou o copo e correu até ela.

– Deixe que eu ajudo – disse sorrindo e pegando um dos livros. Hirmone sorriu envergonhada – São livros demais para alguém tão jovem.

– Eu gosto muito de ler.

– É, percebe-se. Gosta de ler o que, exatamente?

– De tudo um pouco. Literatura, romance... Prosa! – explicou-se ela na mesma hora – Não romance romance!

Sam riu.

– Eu entendi. Mas tô vendo livros didáticos também... Administração... Biologia...

– Bem, gosto de saber um pouco de tudo. Gosto de poder conversar com pessoas de diferentes cursos.

O rapaz sorriu mais uma vez. Ele a entendeu perfeitamente. Ele também era assim. Era, antes de tudo... aquilo... acontecer. Chacoalhou a cabeça para afastar aqueles pensamentos e concentrou-se na jovem.

– Você tem algum compromisso?

– Bom, não exatamente. Estava indo pra casa, levar isso aqui.

– Ah, porque queria saber se está a fim de tomar um café.

Hormen... É... A MENINA sorriu.

– Pode ser.

– Ótimo!

Sam ajudou a carregar os enormes livros até uma lanchonete e ambos pediram cappuccino. Ele reparou que a garota estava desconfortável, encolhida na cadeira, encarando a mesa, um pouco corada. Por instantes achou-a uma graça, mas novamente esforçou-se para esvaziar a mente.

– Sinto muito por aquele dia – começou – Não queria que você e seus amigos passassem por aquilo...

– Ah, está tudo bem. Não foi tão ruim assim... Quero dizer – e ela pareceu mudar sua fala quando Sam arqueou a sobrancelha – meus amigos realmente se assustaram, mas eu... Bem, assisto a tantos filmes de terror que não me assusto tão fácil e...

Quanto mais tentava se explicar, mais confusa ela parecia. Com toda certeza ela não parecia o tipo de pessoa que assiste a essas coisas.

– Tudo bem, tudo bem – Sam acalmou-a balançando as mãos. – Já passou. A questão é: a polícia esta com o corpo e logo, logo entenderemos o que aconteceu.

A menina remexeu-se na cadeira, parecendo mais desconfortável ainda.

– Posso te fazer uma pergunta? – ele começou. Ela ergueu os olhos claros bem assustados e Sam reparou que ela tinha belos olhos. Chacoalhou a cabeça, irritado e voltou a falar: Antes de tudo, me diga seu nome porque não consegui me lembrar.

– É Hermione, senhor.

– Ah, certo. É meio complicado. Bom, Hermione – finalmente – Se incomoda se eu fizer uma pergunta? Não quero parecer intrometido e nem chato...

– Não, tudo bem senhor. O senhor é policial, é normal que queira fazer perguntas... – ela respondeu cabisbaixa, encarando as mãos.

– Como? Eu sou o que? – perguntou confuso.

– Policial! Você e seu irmão...

– Ah, sim, claro – e ele lembrou-se do disfarce. Nervoso, tentou se consertar – Sim, isso eu sei que eu sou. Fiquei confuso quanto ao “senhor”... Me acho muito novo pra ser chamado assim.

– Desculpe.

– Não se desculpe. Só me chame de Sam. É meu nome. Bem, o que aconteceu depois que saíram do local, naquela noite? Quero dizer: pra onde foram e o que fizeram?

A menina ficou muda e assustada.

– Tudo bem. Não precisa responder. Entenderei se não quiser f...

– Não! Eu fui pra casa. Bem, fui deixar meu amigo em casa primeiro.

– Não deveria ELE a deixa-la em casa?

– Ele havia bebido um pouco, sabe? Não podia fazer isso.

– Você é do tipo que segue as regras, hum?

– Sou do tipo politicamente correta. Demais às vezes. Muitos se irritam comigo por causa disso. Mas fazer o que: simplesmente não consigo quebrar regras.

Sam ergueu-se de olhos arregalados. Estava vendo a si mesmo, ali, no corpo de uma garota! Via-se adolescente, falando do mesmo jeito, agindo do mesmo jeito, usando aquelas palavras do mesmo jeito! E nos segundos após isso ele pensou que ela não poderia ser uma má pessoa. Não mesmo! E mesmo que tivesse algo a ver com o incidente, era vítima de uma grande armação. Porque ele não podia deixar seu outro EU sofrer.

Conversaram por horas naquela mesa, rindo e chorando de rir. E a cada minuto Sam descobria mais coisas em comum: as mesmas séries favoritas, mesmos filmes, reparavam nos mesmos detalhes e se irritavam com as mesmas coisas... pensavam da mesma forma e se entendiam na mesma proporção.

– Vamos, vou deixa-la em casa...

E seguiram pelo caminho, ainda conversando. Não se calaram por um minuto se quer. E não se enjoaram de falar. Sentiam-se como se já se conhecessem há dez anos!

– Bom, chegamos – disse ela. A casa da garota era branca, de primeiro andar, com um jardim muito bem cuidado. Ainda no portão, Hermione virou-se para Sam e timidamente lhe entregou um de seus livros.

– Toma. Fica com você. Depois você me entrega. Assim, vamos ter um motivo para nos ver novamente.

Sam sorriu e aceitou. Hermione entrou e a porta se fechou. Sam começou a sentir algo forte por ela. Algo totalmente fraternal. Sentiu necessidade de protegê-la... De preservar seu novo EU. Pois ela era, a partir daquele dia: a irmã que nunca tivera, mas que sempre sonhara ter. Ou quem sabe a “mãe”?

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Sam chegou em casa e encontrou Dean na cozinha, sentado, comendo. O mais velho mal levantou o olhar para o moreno.

– Você estava certo – disse Sam. Ele pensou que deveria fazer algo para Dean voltar a falar normalmente consigo – Hermione não é má pessoa. E com certeza não tem nada a ver com o incidente.

Dean parou a colher a meio caminho da boca e o encarou.

– Que cê tá falando?

– Encontrei-a hoje, na cidade e conversamos a manhã inteira. Acho que tô gostando dela...

– Gostando? – repetiu Dean surpreso – Gostando como?

Sam riu por dentro do repentino ciúme do irmão. Sentiu vontade de aproveitar-se daquele momento, mas mudou de ideia. Ao invés disso, contou a Dean todo o acontecido, a conversa, os sentimentos, o quanto se sentiu parecido com ela e tudo mais.

No final do relato, Dean apenas continuou encarando o irmão. Levantou, jogou o prato na pia e saiu.

– Vou deitar.

Sam encostou-se a cadeira, pondo as mãos atrás da cabeça e se esticando, sorridente. Dean poderia ainda estar mal-humorado por fora, mas por dentro estava bem. Só era e sempre fora orgulhoso demais para admitir. Sam também era assim. E agora ele sabia que Hermione também é assim.

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