Ayesha Loveless escrita por Lua


Capítulo 21
Capítulo 18.5.2 Ironicamente Angelical


Notas iniciais do capítulo

EU
NÃO
MORRI
O/
E aí está a continuação do capítulo narrado pelo Sun. Pois é.
Aproveitem ^^



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Senti uma pontada de dor em minha tatuagem.

12 - a idade que entrei na guange.

7 - o número da base do Brooklyn.

69 - o nome da gangue.

12769 estaria escrito ali para sempre.

Passei a mão pela tatuagem e dei partida no carro.

Antes de sair da casa de Ayesha, pedi para que eles fossem para um médico e depois ligassem para a delegacia. Eu precisava encontrar Ayesha de um jeito ou de outro. Fui para a floresta, por algum motivo sentia que devia ir para lá. E quando estava me aproximando do Metal Otaku Bar, que eu iniciara a frequentar assim que voltei para o Brasil, o farol iluminara um grande corpo em pé ali em frente, no meio da penunbra.

Parei, pois não poderia passar por cima do homem. Ele caminhou até a janela de motorista e bateu nela como se batesse uma porta. Desci o vidro e percebi que o homem ussava uma jaqueta preta e um óculos espelhado, mesmo de noite. Ele desceu os óculos, os prendendo na nuca, revelando um olhar que conhecia muito bem:"já matei e não tenho medo de matar de novo". Eu mesmo já tive esse olhar. 

— Olá, meu nome é Carlos. Também conhecido como ponte do mercado negro norte-americano. - ele disse com uma voz grave, levantando a mão direita para um comprimento. 

— Apelido estranho. - comentei, ignorando a mão estendida. 

— Digamos que eu ligo cada milícia, cada assassinato, cada trafico entre o Estados Unidos e o Brasil. Imagino que você entenda do que estou falando, Jhonson, 12769. - ele desceu a mão novamente. Como ele sabe sobre mim? 

— O que você quer? 

— Eu acabei de sair de um serviço, e por concidência, estava relacionado a uma amiga sua. - arregalei os olhos, percebendo que ele falava de Ayesha. - E já estou atrás de você a muito, muito tempo. 

— Cadê ela? 

— Podemos fazer do jeito difícil ou do jeito fácil. - ele continuou, ignorando minha pergunta. - Você me acompanha até os seus antigos colegas e quem sabe te conto algo sobre a senhorita Loveless. Lembre-se, meu envolvimento com ela foi puramente profissinal.

Empresários do mundo negro, pois é.

Pensei por um momento e disse:

— Entra no carro.

Ele me fez sair do banco do motorista, então fiquei no passageiro. Antes de partir, ele pegara meus pulsos, juntando-os e prendendo com um lacre de plástico. 

— Por questões de segurança. - ele explicou.  

— Só me leve até ela.

Antes de pousar minhas mãos, Carlos observou as juntas da minha mão direita, com sangue e reboco. Reprovando com a cabeça, ele me largou e ligou o carro. Sério, esse cara é muito estranho.

Foi uma longa viagem até o aeroporto, que também ficava meio fora da cidade, que nem a casa de Ayesha, mas no outro lado. Acho que adormeci ali mesmo.

*

Eu segurava a arma com certa facilidade. Parecia que eu tinha nascido para isso. A verdade era que já tinha treinado com uma arma antes. Mas era a primeira vez que iria matar alguém. Asher estava no meu lado, mandando eu controlar a respiração, mas apenas por hábito, pois estava completamente calmo. Calmo demais. Lembro de rir com orgulho de mim mesmo, quando puxei o gatilho, o cano da arma encostado na cabeça já ensanguentada, pelo meu chute anterior na têmpora do homem. O coice que a arma fez sobre meu pequeno corpo foi mais forte do que aparentava, pois firmara os pés de um jeito que não perdi postura.

O homem sem vida no chão olhava para mim com seus olhos vidrados, com resquícios do medo que tinha ali segundos antes de atirar. 

— Sabia que você seria capaz. - esse foi o modo como o Asher me elogiara.

Dei de ombros como se esse não fosse a primeira vez que matasse. Aliás, me sentia exatamente assim.

Eu tinha 13 anos.

*

— Acorde. Já comprei nossas passagens. Vá pro banheiro e nos encontramos na frente do portão 8. Saíremos daqui a meia hora. - Carlos disse com aquele seu tom empresárial.

Desencostei a cabeça do painel do carro, e o ser de óculos de sol ainda na nuca tirou minha algema improvisada. Desci do carro e andei cambaleante até o banheiro. Algumas pessoas me encaravam durante o longo caminho da garagem até o salão de embarque. Estava ainda descalço, de calça moletom, a primeira blusa que encontrara, que no caso era uma folgada regata branca suja de molho barbecue, com a mão direita ensanguentada e o rosto amassado por ter dormido de mau jeito naquele carro.

No banheiro, tinha apenas um senhor já de alta idade, lavando as mãos. Encarei meu reflexo no banheiro. Minha cara era ironicamente angelical, palavras de Asher. Lavei a mão direita, sentindo um ardido que gostei de sentir. A água numa coloração entre vermelho e marrom. Sequei a mão na camisa mesmo. 

— O que o aflinge, ainda tão novo? - o senhor ainda lavava a mão e perguntou, sem virar o rosto pra mim. Deduzi que era para mim pois era a única alma viva daquele banheiro, tirando o velho e os possiveis ratos. 

— Novo... - bufei. Idade não significa nada. Perdi o posto de criança a muito tempo. 

— É uma menina, meu bom jovem? 

— Mais ou menos... - encarei o rosto do velho pelo espelho, que me encarava de volta. 

— Já pensou que cada coisa ruim que você passou poderá fazer você amá-la mais e ela idem? - ele perguntou. Fiz uma cara de confusão e o senhor barbudo de cabelos platinados continuou. - Fui um adolescente sapeca. Minha doce Marcy também. Mas ela era apenas por um trauma da infancia. Eu, gostava mesmo. Um dia ela foi presa. Eu, já experiente, a ajudei a fugir. Nunca nos descobriram.

Que maravilha, um fugitivo me dando conselhos amorosos. 

— O que quero dizer é: pode ser que agora pareça algo horrível para ambos, mas isso pode ser algo essencial na história de vocês. - ele sorriu, mostrando dentes dourados. Me perguntei se ele os conseguiu legalmente. - Quem garante que se toda a confusão da prisão não acontecesse, eu me casaria com Marcy? Eu tinha vergonha de já ser um fugitivo, mas Marcy aceitou isso em mim. - suspirou. - Minha doce e assassina Marcy.

Cada doido que me aparece.

Carlos apareceu, avisando que deveríamos embarcar imediatamente. Seguimos até o portão 8 e adentramos o avião. Carlos me indicara o assento com a cabeça. Me sentei.

Ficamos em completo silêncio até o avião decolar. Eu realmente não acreditava que ele meio que tá me sequestrando, eu aceitando isso, e estávamos dentro de um avião da Tam.

— Obrigado por escolher a Tam. -  a voz feminina disse, ecoando pela aeronave. Me lembrei da última vez que ouvi isso. Diferentemente da aeromoça, a Ayesha falara com sarcarsmo, pouco antes de... eu quase a beijar.

Meu ser ainda não aceitou o fato de que a Ayesha estava de certo modo dessaparecida, eu estava indo para o Brooklyn, pouco depois de eu ter feito a Ayesha gemer só com beijos no pescoço. Senti que sorria de lado. 

— Ela decolou faz 4 horas. Está indo para Las Vegas. - Carlos informou do nada. - A senhorita Loveless, digo.

Las Vegas? Eu estava indo para o Brooklyn. Tinha que arrumar um jeito de despistar qualquer coisa que deveria fazer lá e ir atrás da Ayesha... 

— Por que alguém dos Estados Unidos fez você me sequestrar? - perguntei, me tocando que não descobrira o porque de Carlos querer me levar para lá, algo provavelmente "puramente profissional". 

— Asher quer resolver algo contigo, só sei isso. - Carlos folheava uma revista, com desinteresse. 

— E pediu para um empressario do mercado negro me sequestrar... Imagino que queira jogar xadrez. - sussurrei com ironia. Carlos fez "shh" com a boca e continuou a folhear a revista.

*

Dormi a viagem toda. E sonhei com algo que já se passou na minha vida. Não sei se isso é considerado um déjà vu, mas como não tenho dúvida que já vivi isso, vou dizer apenas que sonhei com o dia que descobri que voltaria pro Brasil.

Eu estava no meio dos comparças. Apesar de ser o mais novo que já entrara, muitos já me aceitaram, me respeitavam. Os outros poucos que tinham dúvida se um garoto de quase 16 anos realmente deveria fazer parte do The 69, mudaram seus pensamentos. Ia completar quatro anos com aquela tatuagem em minhas costas, já tinha feito e visto muitas coisas, não ia ser matar o líder um ato que me assustaria. Crash estava morto, aos meus pés, nos chão.

Acho que era para mim ser o novo líder.

Os outros me olhavam com surpresa e receio. Eu tinha as mão e o rosto machucado, meu supercílio cortado, pelos socos que Crash me dera, mas não tinha sido o suficiente. Afinal quem estava morto ali? Nenhum dos outros comparças fizeram nada, é regra dos The 69, que quando ocorre briga dentro do grupo, os envolvidos se resolveriam sozinhos. Era matar ou morrer.Pra mim, só tinha uma opção: matar.

Sim, eu tinha matado Crash. E tinha amado a sensação. Por algum motivo, o tráfico não me chamava a atenção, o sequestro me era indiferente. Mas cobrança de dívidas, ah, como eu adorava. Ou pagava, ou morria. E, claro, ninguém pagava. Asher começou a me afastar da área de cobranças pouco tempo antes, talvez percebera que eu era melhor assassino que ele. Além do mais, se ele realmente ligasse mais pro The 69 do que pro seu orgulho, ele deixaria que um ser "ironicamente angelical" de 15 anos fizesse o serviço, afinal, quem suspeitaria? 

— Jhonson, 12769. - a voz de Asher, ligeiramente irritada, atravessou até mim. Eu limpei minhas mãos do meu sangue. Logo depois, passei-as no tronco baleado de Crash, ficando com seu sangue em minhas mãos. O símbolo de que eu que o matara.  -            Pelas regras, você deveria ser o líder agora. 

— Eu sei. - sorri como se tivesse ganhado um doce, enquanto passava dois dedos de cada mão em minhas bochechas, fazendo um desenho muito usado quando se está em guerra. - Creio que finalmente terão que me mostrar o vídeo.

Acontece que quando tinha 14, descobrira que todos ali me escondiam algo. O vídeo. E eu faria de tudo para ver o vídeo. A pessoa que tentara me impedir foi, felizmente ou não, aquele que nos liderava. E não lideraria mais nada. 

— Mas você não será. - Asher caminhava até mim abrindo caminho entre os homens em minha frente, como Moséis abrindo o mar (foi Moisés? Ah, tanto faz). - Tenho uma surpresinha pra você.Atrás dele vinha minha mãe, andando com passos firmes, cabeça levantada e a mulher alta e esguia não parecia nada fragil no meio daqueles homens.

Lembro que esperava um sorriso de satisfação da minha mãe, assim como toda criança espera quando faz algo que gosta muito de fazer e, bem, fez bem feito. Pelo jeito, minha mãe não achava tão incrível como eu uma pessoa de 15 anos conseguir matar alguém com o triplo da idade usando uma arma e poucos socos. Senti meu sorriso murchar. Era pra sentir orgulho de meu feito... não era? 

— Filho. - maldita pausa dramática. - Por todo esse tempo você escondera de mim - outra pausa. - SUA MÃE. - outra. - que você participa de uma gangue? 

— Senhora Johnson, creio que você tem assuntos a resolver com seu filho. E eu tenho com a minha gangue. - Asher falou calmamente, direcionando minha mãe para fora do local. 

— Como assim sua gangue?!! - gritei, enquanto minha mãe me arrastava junto com ela. - Eu serei o novo líder. - Asher sorriu marrotamente.

— Ninguém discorda, certo?

Sorte minha que eu estava com o CD em meu bolso. Eu veria aquele vídeo.

Mas no mesmo dia, minha mãe decidira. Voltaria a morar com a minha tia e primo, no Brasil.

*

Carlos me levou até a antiga sede do The 69 do Brooklyn, e foi embora sem dizer nada.

Quando eu entrei, encontrei vários conhecidos e alguns novos que entraram nesse último ano em que eu me encontrava fora. Um dos que eu conhecia, Adam, veio até mim.

— Cadê o Asher? - perguntei.   

— Foi tirar a virgindade de mais uma pobre coitada.

Fiz cara de nojo. Asher tinha um terrível costume de pagar pros donos de bordéis para tirar a virgindade de suas meninas. E quando eu digo meninas, de 14 a 18 anos.

— Sabe onde ele está? - perguntei de novo.

— Ele estava anotando algo naquela folha, antes de sair. - Adam apontou para uma folha sobre uma mesa.

Caminhei até a mesa indicada e peguei a folha de papel.

16, virgem, Loveless

Logo abaixo um endereço de Las Vegas e um preço, em dólar, com muitos zeros.

Isso não devia estar acontecendo.

Será que ele descobrira a importância da Ayesha pra mim, ou foi mais uma infeliz coincidência?

— Adam, me leve pra Las Vegas.

Eu tinha que interromper isso.


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Notas finais do capítulo

OBRIGADA POR LER (se tiver alguém aqui ainda né, essa história já estava pegando poeira aqui no Nyah)
Maaaaaaaaaaaaas eu JURO (pra ninguém, vide motivos acima) que amanhã já posto o próximo capítulo u.u
Valeu, Lua~~ (sim, mudei minha assinatura nbgdvwngeufdhf)



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