Ayesha Loveless escrita por Lua


Capítulo 20
Capítulo 18.5.1 Ironicamente Angelical


Notas iniciais do capítulo

A TUIXS POSTOU RAPIDO
PORRA
CARALHO
NEM TUDO TA PERDIDO
Ou o mundo está mais perdido ainda, mas enfim

Esse capítulo é especial, narrado pelo Sun

Aproveitem ~(*-*~)



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– Nossa, eu não devia te suportar mesmo. - Ayesha encarava a nossa foto enquanto crianças, eu completamente feliz abraçando uma Loveless carrancuda. - E você deveria me amar, né?

– Você nem faz ideia. - sussurrei pra mim mesmo, mas, graças ao bom Senhor, ela não escutou nada.

É possível se apaixonar quando criança? É possível se pegar amando aos 8 anos de idade?Eu acreditava que não. Enquanto crescia em Brooklyn, vivia aquela famosa frase: pego, mas não me apego.Lembrava nítidamente de meu "primeiro amor", uma menininha estranha, que a mãe morrera. Por algum motivo não conseguia esquecê-la. Nem da cena onde meu primo, que foi criado comigo como irmão, me empurrara e cai em cima da garotinha. Meu primeiro beijo. De certo modo. Mas era medroso demais, e sai correndo e chorando até minha tia, que chamava de mãe. Pois é.

Ela entrou em meu quarto, ignorando meus xingamentos.Quando confirmei que era meu quarto, Ayesha caminhou até os pôsteres. Merda.

Lá tinha a foto de uma outra cena que nunca consegui tirar da minha cabeça. Ayesha, com 8 anos, chorava muito. Sua mãe tinha morrido. E todos diziam para a pobre criança que a culpa era dela. A dor que meu coraçãozinho infantil sentiu naquele momento ficou ali pra sempre, até naquela época que pensara que não tinha mais coração. Tentei fazê-la feliz e fiz uma promessa que meu eu de 8 anos levou particularmente a sério. Iríamos nos casar. Ou era isso que pensava até chegar nos Estados Unidos, e achar que tudo aquilo não passava de brincadeira de criança.Mas as crianças que realmente sabem das coisas. Tem os sentimentos ainda puros.

– Por quê tem uma foto minha e do Reddon do lado de uma coelhinha da Play Boy? - Ayesha me perguntou, me pegando de surpresa.

– O quê? - perguntei. Caminhei rapidamente até seu lado e vi a foto. - Ah, isso. Bem, não é o Reddon nessa foto.

– Masoque? - ela aparentava confusa. Então ela achava que era o Reddon que vivenciara toda aquela cena com ela? Não sabia se devia ficar chateado. Talvez aquela cena não tenha marcado tanto para ela como marcou em mim. Ela devia só não ter reconhecido nessa foto. - É você?

– Estou te devendo um pirulito de laranja até hoje, né não? - sorri de lado. Não sabia se era uma boa, mas por algum motivo queria mostrar para ela que, mesmo ela não se importando sobre aquele dia, ele deixara uma marca em mim. - Mas acho que aquele já está velho. - com a cabeça apontei o anel de laranja completamente mofado amarrado num barbante e pendurado na cabeceira da cama.

– Você guardou até hoje? - Ayesha aparentava embasbacada. Okay, eu devia está parecendo um retardado naquele momento, mas vamos fingir que guardar doces por 8 anos é normal.

– Na verdade, aquele chupei tudo no mesmo dia, mas separei esse assim que cheguei em casa só para te dar. - olhei pro chão. - Mas não tive oportunidade.

– Você foi morar com seus pais nos Estados Unidos. - ela deduziu.Assenti com a cabeça. Ficamos em completo silêncio por alguns minutos.

Nesse silêncio, reparei o como a Ayesha ficava cada dia mais linda. E em como seus pandas cresceram nesse meio tempo de meses.

Ai meu Deus, eu preciso me controlar.

– Bem, você veio aqui por que mesmo? - perguntei tentando fazer minha mente agir normalmente. Ela ficou com uma cara engraçada como se não soubesse o que responder.

– Vim devolver seu celular. - ela respondeu, colocando a mão no bolso.

– Tava com você? Tinha pensado que tinha perdido.

– Eu roubei. - ela deu de ombros como se admitisse que roubava coisas dos outros todo dia.

Não aguentei e revirei os olhos.

– Okay. Me devolve. - eu disse.

Ela fez uma pose de filósofa, pensando sobre o assunto. Sorriu sarcasticamente e fez que não com a cabeça.

– E o motivo seria... - falei como se fosse uma pergunta.

– Estou com fome. - ela disse. Olhei para ela com uma interrogação desenhada na cara. - Vai fazer um sanduíche pra mim. Eu com barriga cheia, você com seu celular, que, acredite, eu não mexi em nada. Todo mundo sai feliz.

Pensei rapidamente. Bem, seria um bom motivo para ela continuar ali comigo, que, admito, não queria que acabasse tão cedo.

– Vamos lá. - falei, fingindo estar vencido. Fazer um sanduíche não é um preço caro a se pagar. Comparado ao que ganhei: mais tempo com a Ayesha ali, na minha casa.

Caminhamos até a cozinha, ela saltitando completamente feliz atrás de mim. Ri sozinho. A Ayesha é uma gorda por dentro.

Na cozinha, ela subira no balcão de mármore que ali tinha, ficando com os pés longe do chão. Ela balançava as pernas morenas, direita para cima, esquerda para cima, direita pra cima, esquerda para cima.Estava na posição perfeita para eu me aproximar do balcão e encaixar minha cintura entre suas pernas, que me laçariam. Suas mãos geladas passeariam pelas minhas costas desnudas e nossos rostos se aproximaram...Minha imaginação anda fértil demais.

Comecei a preparar o sanduíche sentindo o olhar de Ayesha em minhas costas.Não acreditava que preparava um sanduíche de mortadela para a garota que gosto desde meus 8 anos. Okay, de certo modo. Eu achava que era apenas coisa de criança, mas nunca esqueci aquela menininha de 8 anos, não importava quantos anos eu tivesse. E, quando voltei pro Brasil, seus pandas me conquistaram, se é que me entende. Caralho, a Ayesha me teve nas mãos a vida toda e só percebi agora.

Preparei o melhor sotaque francês que tinha em mim, e com o sanduíche no prato em minhas mãos, dei um giro e parei de frente para Ayesha.

– Voilà!

– Voar pra onde? - ela virou a cabeça, fazendo um bico confusa. Se não fosse a Ayesha que estivesse ali, com o short mais apertado devido ao ângulo do corpo e com um biquinho super sexy, essa pergunta seria broxante pra caralho.

Não resisti e me reprovei com a cabeça. Gostar de uma Não-amada é difícil.

– É "aqui está" em francês. Não "voa lá".

– Ah, mas parece. - ela respondeu, descendo do balcão.

Ela comia como se não tivesse amanhã. Eu estava sentado de frente pra ela e decidi: alimentaria a Loveless sempre. Eu estava com o cotovelo na mesa, a cabeça apoiada na mão observando quão linda ela ficava quando comia um sanduíche como se arrancasse a cabeça de um rato com os dentes.

Certo, eu tenho problemas.

Um pedaço de tomate saiu do sanduíche e foi parar na sua bochecha, não me pergunte como. Ri ao notá-lo.

– Táindiquê, acélo? - ela perguntou com as bochechas cheias de pão. Imaginei que essa língua alienígena deveria ser alguma pergunta relacionada a minha risada.

– Só percebi o quanto você fica fofa comendo como se não tivesse amanhã. - respondi, logo depois sorrindo. Consegui ver uma vermelhidão subir pelo seu rosto antes de ela pegar o tomate de seu rosto e acertar meu nariz.

Tirei o tomate do meu rosto e coloquei em cima do balcão mesmo, esfregando o braço no nariz para limpá-lo. Ayesha já terminara o sanduíche e se levantou. Caminhou até a porta de casa, dizendo:

– Bem, é isso aí. Tava muito bom, merece um prêmio de culinária e tals. Mas vou pra casa, falou e tudo mais. Muito obrigada por escolher a Tam.

– Nananinanão! - falei com um tom de reprovação, correndo até a fujona, que já abrira a porta.

Peguei em seu braço e puxei para mais perto, para poder encará-la rosto no rosto.

– Me dá meu celular. Fiz minha parte no acordo.

– Sacomé.... Num to afim. - ela sorriu maleficamente. Percebi o quão próximo nossos rostos estavam. De repente veio uma vontade incontrolável de beijá-la. Mas não podia.

Sorri maliciosamente e o sorriso dela murchou.

– Vai me fazer te obrigar? - perguntei de maneira capciosa. Creio que minhas segundas intenções eram um tanto evidente, mas ela ainda assim respondeu de modo que eu ganhasse meu dia.

– Sim. - ela tinha dúvida estampado em seu olhar.

– Você que pediu. - sussurrei e a prendi na parede. Foi tão rápido meu movimento, que até eu me assustei. Mas quando notei que meus braços apoiados na parede faziam um tipo de gaiola sobre a Ayesha, sorri.

Meus olhos se concentraram em seus lábios levemente rachados, me chamando a tentação. Fui aproximando meu rosto do seu, mas quando ela notou meu alvo, desviou a cabeça, tirando a boca de meu alcance, mas levantando o pescoço.

Ah, ela levantou o pescoço.

Levei minha boca até a lateral do pescoço de Ayesha, depositando ali um beijo demorado. Ela estremeceu. Comecei a beijar levemente cada área de seu pescoço, de vez em quando, dando leves mordiscadas. Ah, como eu tava adorando aquilo.

– Gringo maldito. Sun filho da puta. Néscio. Acéfalo. Cara de esquilo. - ela me xingava aleatóriamente. Isso me fez rir sobre seu pescoço, o que fez ela gemer rapidamente.

Cara, juro que só não dei um chupão nessa hora por que eu tinha outros alvos em mente. Beijei seu queixo, beijei sua bochecha, sentindo um leve sabor de tomate em sua pele macia. Fui em direção a sua boca...

Beijei uma tela de celular.

– Devolvido. - ela disse rapidamente. Demorei a entender o que realmente tinha acontecido. Peguei meu celular com a mão esquerda, deixando meu braço direito na mesma posição.

Eu quase beijei Ayesha Loveless.

Não me aguentei e comecei a rir. Gargalhei, deixando meu pescoço pendurado para trás. Ela me tinha nas mãos. Mas eu, por pelo menos um rápido momento, a tive em minhas mãos.

Eu quase beijei Ayesha Loveless.

Ela passou por baixo de mim e fora embora, me deixando sozinho com minhas risadas e minha incredulidade. Não me aguentei, e corri até a sala, me jogando no sofá que caíra com o encosto no chão, fazendo um baque surdo soar pela casa.

– Eu não acredito que quase a beijei! - gritei a pleno pulmões.

*

Estava em meu quarto, tocando Teenager do My Chemical Romance, minha guitarra ressoando pela casa vazia.

Já tinha levantado o sofá caído e limpado o tomate do balcão da cozinha. Já se passara 3 horas desde a saída da Ayesha e eu não conseguia parar de sorrir. Sentia que nada estragaria meu dia.

Estava completamente enganado.

Meu celular tocava e só percebi quando parei rapidamente de tocar para afinar uma corda. Andei até minha cama e peguei o celular. Na tela mostrava uma Jarely tampando o rosto com a mão direita, com apenas o dedo médio levantado. Tínhamos trocado o telefone na casa de Ayesha, após a festa. Atendi.

– Fala, Deville! - disse sorrindo, mas a resposta que veio tirou qualquer resquício de felicidade de meu rosto.

– Pelo amor de Deus, venha para cá agora. A Sophie e um cara invadiram e tão tentando levar a Ay... AAAAAAAHHHHH! - Jarely falou o mais rápido que pode, mas um barulho estranho, como se o celular dela estivesse caído no chão ressoou pouco antes de seu grito de dor. Tu. Tu. Tu.

Joguei meu celular em qualquer canto e coloquei a primeira camiseta que encontrei. Peguei a chave do carro de meu tio, e sai de casa descalço mesmo. Entrei no carro e dei partida. Tive que me segurar para não sair cortando todos na minha frente, afinal eu era um de menor dirigindo. Batia os dedos impacientemente no volante e mordia os lábios de nervosismo. Assim que entrei naquela estrada meio abandonada, onde Ayesha sempre caminhava bem no meio, como se pedisse para ser atropelada, acelerei. Estava bem perto da casa dela.

Desci correndo do carro e quando já me preparava para arrombar a porta, percebi que alguém já tinha feito o serviço pra mim. A maçaneta estava amaçada e pendendo pobremente para fora da porta. Empurrei-a e entrei na casa. A sala que encontrara estava completamente intacta, tirando uma enorme poça vermelha no sofá. Não precisei conferir, sabia que era sangue.

Caminhei até a cozinha e encontrei uma janela quebrada, um Reddon sentado ao lado com o olhar sombrio, enquanto enfaixava seu peito, do qual saia muito sangue. No chão, havia uma mancha de sangue em formato de um sapato, de alguém com o pé um tanto grande. Daniels enfaixava a mão de Jarely, que mordia os lábios, prendendo as lágrimas em vão.

Jarely levantou o olhar e me encarou.

– Levaram ela.

Foi a única coisa que ela disse. Uma raiva foi subindo por meu ser, e nunca quiz ter uma arma em mãos como naquele momento. Concentrei toda a raiva que sentia em meu punho direito, e com um movimento brusco, soquei a parede ao meu lado. Senti minha mão atravessar o concreto, minha pele se rasgando sobre meus ossos.

Penetrei fundo na parede, até umas pontas afiadas cortarem meu punho.

– Para onde a levaram? - olhando pro chão, com o braço direito ainda na parede, minha voz saíra grossa.

– Não sabemos. - Reddon respondeu, a raiva evidente em sua voz.Levantei a cabeça e tirei minha mão dali, mostrando o buraco que abrira. Minha mão tinha uns cortes nas juntas, com um pouco de reboco, mas não me importei. Mais nada era importante.

Ayesha tinha sido levada.

*

Eu com meus 12 anos comecei a andar com Asher e seus compassas. Eu com meus 12 anos, fazia parte da minha própria gangue. Onde ganhei minha tatuagem nas costas. Minha marca permanente de minha vergonha.Lembro claramente do rosto de Asher, um cara de 19 anos, me dizendo que o que tinha feito era algo memorável. Eu, um garotinho de 12 anos, espanquei um colega de sala. Claro, era memorável para a família que teve de levá-lo para um hospital em pleno horário de aula de uma quinta-feira. Foi minha primeira expulsão de uma escola, meu primeiro contato com os The 69.

The 69 era uma gangue de traficantes, que se iniciou na América do Sul, e se estendeu por toda a américa. Faziam todo tipo de trabalhos, como assassinos profissionais, vendas de drogas ilícitas e mercado na área da prostituição. Por ser um grupo de grande porte, há pequenas bases em cada região possível da américa e cada base é responsável de recrutar seus próprios comparsas, de acordo com suas definições e habilidades.

Eu, aos meus 12 anos, fui destacado.

Lembro do medo que senti quando Asher me levou até a base do Brooklyn, quando conheci Crash (não me pergunte como ele conseguiu esse apelido, nem qual é seu verdadeiro nome). Vários homens de idades e características diversas se encontravam num tipo de corredor humano, que conduzia eu e Asher para o fim da sala escura, onde Crash se encontrara.

Asher dizia garantir que eu seria perfeito pro serviço. Já não sentia medo de bater, de matar. E que com o treinamento certo, seria um grande membro no futuro. Além de que poucos desconfiariam numa criança de 12 anos.

– Se é para ele participar da nossa turma, tragam a máquina de tatuagens. - foi a resposta do moreno, com um olhar sempre frio, o que o dera o título de líder naquelas bandas.

– Ele é muito novo para isso, senhor. - um dos homens mais velhos ali, de 42 anos, disse relutante, trazendo uma máquina estranha em mãos

– Regras são regras. Você vai querer mesmo participar disso? - ele olhou no fundo dos meus olhos.

Tomei o maior número de coragem que consegui e respondi:

– Sim. - minha voz de algum modo ressoara pelo local. Com um esboço mal feito de um sorriso na cara, Crash mandara eu tirar a camiseta.

Meus gritos ecoaram pela sala, ecoaram, ecoaram.


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Notas finais do capítulo

Sim, vai ter a segunda parte que o Sun também narrará UHUUULLL
O Sun é incrível né? *v*
Eu ia, inicialmente, só escrever sobre o passado dele, mas eu TINHA que escrever ele narrando a cena entre ele e a Ay do último capítulo *O*

Beijinhos, até a próxima

(Rezem para ser tão próxima como essa foi)



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