Mudança De Ares. escrita por Cici


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Esse cap ficou enorme e foi um dos que eu mais gostei.
Prontos pra saber por que a Elise foi para o Rio?
Boa leitura.
Cici
PS: Me sigam no tumblr
http://apenas-uma-escritora.tumblr.com/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/252620/chapter/4

Elise vagou pelos corredores de pedra do Instituto até sentir cheiro de comida. Seu estomago roncou. Não comia nada desde seis da tarde do dia anterior.

Seguindo seu olfato, ela foi até o lugar de onde o cheiro vinha. Era uma sala de jantar. Na mesa, estavam Jordan, mastigando preguiçosamente uma torrada e Demitri, que estava deitado sobre uma tigela que, Elise constatou, devia ser seu café da manhã.

-Bom dia. –Ela murmurou, se sentando em uma das cadeiras livres.

-Acordada tão cedo?  -Jordan perguntou.

-São 10 da manhã em London. Ainda estou acostumada à hora de lá.

-Entendo. –Ele falou, dando outra mordida na torrada. –Demitri, seu retardado, está com a cara na tigela de cereal de novo. –Ele falou, cutucando o amigo, que deu um salto, derramando um pouco de cereal com leite na mesa.

-O que eu perdi? –Ele perguntou, limpando a cara suja de leite com um guardanapo.

-Nada, só estava estragando uma boa tigela de cereal atoa.

-EU ESTOU COM SONO. Isso não é crime. –Demitri falou.

-DEVIA TER UMA LEI CONTRA AS PESSOAS ACORDAREM TÃO CEDO. –Diana berrou, entrando na sala e se jogando em uma cadeira. Ela estava usando ainda o seu pijama, uma blusa de alcinhas e um shortinho de malha e não parecia se importar de estar de pijama em volta de outras pessoas, principalmente dos meninos. Nesse momento que Elise percebeu que eles também usavam seus “pijamas”. Jordan estava com uma blusa sem mangas e uma calça de moletom e Damitri usava um short largo e uma camiseta rasgada.

-APOIADA. –Demitri falou, deixando a cabeça cair na mesa, quase acertando a tigela de cereal de novo, mas Jordan impediu, a puxando no último instante. 

-Por que vocês estão acordados, já que estão com tanto sono? –Jordan perguntou.

-Ela me acordou. –Diana choramingou, apontando para Elise. –Não consegui voltar a dormir.

-E você Demitri?

-Tem um pássaro na minha janela que vai servir de alimento para o Neve em breve. –Ele murmurou, com um olhar maligno.

-Falando naquele monstro peludo, ele está trancado em algum lugar certo? –Diana perguntou encolhendo as pernas sobre a cadeira.

-Está no meu quarto, ou estava na hora que eu sai. –Ele falou, puxando a tigela de cereal pra perto dele, e pegando uma colher.

-Mas a pergunta que ela faz foi, você fechou a porta quando saiu? –Jordan perguntou, e Demitri parou a colher cheia no ar, e levantou os olhos para Diana.

-Hum, não? –Diana gritou, dando um salto e ficando em pé na cadeira.

-VÁ OLHAR AGORA. –Ela berrou, apontando para a porta.

-O que está acontecendo aqui? –A mulher que ontem tinha saído correndo perguntou, aparecendo, apoiada no batente da porta.

-Ele não trancou aquele aspirante a demônio. –Ela falou, apontando agora para Demitri, que comia seu cereal despreocupado.

-Não chame meu gato de aspirante a demônio. –Ele falou, olhando curiosamente para Diana.

-É o que ele é. –Ela deu ombros, continuando em pé na cadeira e cruzando os braços. A mulher suspirou, ela devia estar acostumada com essa discursão. O gato apareceu na porta, sentando ao lado dos pés da mulher.

-Segure a bola de pelos por favor. –Ela falou, pegando o gato e colocando no colo de Demitri.

-Senta Diana. –Elise falou, puxando a beira da blusa de Diana.

-Não solte isso. –Ela falou, apontando para Demitri.

-Sua calcinha está aparecendo. –Ele respondeu, apontando par Diana com a colher. Ela enrubesceu, puxando o short pra cima e se jogando na cadeira. Jordan estava com a mão sobre a boca, claramente tentando segurar o riso. Elise deu uma risada, recebendo um olhar maligno de Diana.

-Tá bom, parei. –Elise falou e a mulher olhou para ela, como se percebesse ela pela primeira vez.

-Você é...?

-Elise James. I came from London Institute. (Eu vim do Instituto de Londres) –Ela piscou por um momento.

-Ah sim, claro, Mage falou comigo, que cabeça a minha, me perdoe. Meu nome é Maria.–A menção ao nome de Mage fez Elise ficar um pouco triste.

-Conhece Mage? –Ela perguntou, olhando para mulher, que pareceu um pouco espantada com a pergunta.

-Ah sim, Mage é uma antiga amiga minha. –Elise queria se trancar no quarto e se encolher na cama. Ela sentia mais saudades de casa do que nunca.

-Eu vou estar na... –Elise fez uma careta, com raiva por não conseguir lembrar a palavra do lugar que queria. –Livros.

-Biblioteca? –Jordan perguntou.

-Isso. –Ela respondeu, levantando da cadeira com pressa. 

-Não quer tomar café? –Demitri perguntou, colocando mais uma colher de cereal na boca.

-Mas você não queria companhia? –Diana perguntou, fazendo menção de levantar, mas Maria estendeu a mão.

-Ela quer ficar sozinha. –Elise ouviu ela murmurar, antes de sair do salão.

Ela vagou pelo Instituto por mais ou menos 10 minutos antes de conseguir achar a biblioteca, que ficava do outro lado do Instituto. O lugar parecia com a de Londres, o que fez Elise se sentir pior do que antes.  

Ela vagou pelas estantes, passando de leve os dedos em suas lombadas, até que, em um canto, ela achou um livro que reconheceu. Sua pequena capa branca com um menino em pé em um planetinha e várias estrelas em volta. Ela levou o livro nas mãos, sentando num sofá que tinha. Ela encarou a poltrona vermelha que estava do outro lado da biblioteca por um segundo, tentando tomar coragem para abri-lo.

-Le petiti prince. –Ela falou, com a voz baixa, passando a mão pela capa do livro. Encontrar aquele livro, principalmente em francês, trazia várias lembranças para Elise, lembranças da biblioteca de Londres, quando ela sentava e lia em voz alta... Ela balançou a cabeça, tentando se livrar da cena que passava pela sua cabeça.

Com as mãos tremendo, ela abriu a capa, olhando nervosa, para o primeiro paragrafo do livro.

- Lorsque j'avais six ans j'ai vu, une fois, une magnifique image, dans un livre sur la Forêt Vierge qui s'appelait "Histoires Vécues". Ça représentait un serpent boa qui avalait un fauve. Voilà la copie du dessin. 
On disait dans le livre: "Les serpents boas avalent leur proie tout entière, sans la mâcher. Ensuite ils ne peuvent plus bouger et ils dorment pendant les six mois de leur digestion". 
J'ai alors beaucoup réfléchi sur les aventures de la jungle et, à mon tour, j'ai réussi, avec un crayon de couleur, à tracer mon premier dessin. Mon dessin numéro 1. Il était comme ça... –Ela leu aquelas palavras conhecidas, sentindo as lágrimas virem, mas ela balançou a cabeça, e passou as costas da mão, impedindo-as de caírem.

Ela levantou a cabeça, descansando o livro sobre o colo, e quase caiu da cadeira.

Ela via Maxinne sentada na poltrona à sua frente, as pernas que nem chegavam a alcançar o chão, balançavam entusiasmadas. Seus cabelos loiros cacheados caiam sobre seus enormes olhos azuis claros e suas mãos se apoiavam na poltrona, um de cada lado do corpo.

-Vamos Elise, leia mais pra mim. Só mais dessa vez. Por favor. –Ela ouviu a voz de Maxinne ecoar em seus ouvidos e as primeiras lágrimas escaparam.

Ela levantou da cadeira, sem tirar os olhos da pequena figura que a encarava.

-Mas você... –Ela falou, sem se importar para as lágrimas que escorriam mais e mais por seu rosto.

-Vamos Elise, só mais um pouco. Eu prometo que é a última vez. –Nunca era a última vez, sempre que Elise acabava, Maxinne voltava com o livro em mãos, pedindo para que ela o lesse mais uma vez e prometia que essa seria a última, mas não era possível.

-NÃO!  -Ela gritou, jogando o livro contra a poltrona e caiu de joelhos, sentindo o rosto ficar vermelho de raiva. –PARE COM ISSO. ESTÁ ME ENLOUQUECENDO. –Ela gritou.

Ela levantou os olhos, mas a pequena figura que a um momento atrás, estava sentada na poltrona, não estava mais lá.

-Isso está me enlouquecendo. –Ela murmurou e depois simplesmente ficou lá, ajoelhada no chão, fitando as próprias mãos cruzadas sobre o seu colo, balançando levemente pra frente e pra trás.

Ela pode ouvir quando, alguns segundos depois, a porta da biblioteca se abriu, e tamém pode ouvir os passos se aproximando dela e a pessoa, que se ajoelhou ao seu lado, chamando seu nome, mas ela parecia estar dentro de uma bolha, onde os barulhos pareciam estar a quilômetros de distância. Ela estava chorando na frente de alguém, mas, nesse momento, ela não ligava.   

Ela pode sentir quando um braço passou pela sua cintura, a ajudando a levantar, mesmo ela não querendo e começando a andar, mas continuou com a cabeça baixa. Elise ainda não conseguia reconhecer a pessoa que a carregava. Ele, ou ela, abriu uma porta e entrou, levando Elise junto e a colocando sentada numa cama, a sua cama, ela reconheceu, mas ela simplesmente continuou encarando as mãos e observando as lágrimas rolarem de seu rosto, molhando o lençol.

-Elise? –Ela ouviu a mesma voz da biblioteca chamar. Lentamente, ela levantou a cabeça para encarar Jordan, que estava sentado na frente dela, olhando-a preocupado. –Você está bem?

Ela levou as mãos ao rosto, encobrindo os olhos e deixou escapar um soluço, depois outro e depois outro.

-Ei, não chore, por favor. –Ele falou, colocando a mão no ombro de Elise. –Me conta o que está acontecendo. –Elise tirou as mãos dos olhos, fitando Jordan por um segundo. Estava tudo preso em sua garganta. Ela nunca tinha conversado com ninguém, nem mesmo com Adrian sobre isso. Não que ele não soubesse o que tinha acontecido. Elise suspirou.

-I can`t stand it anymore. (Eu não aguento isso mais) –Ela murmurou.

-O que você não aguenta?

-Uma coisa que aconteceu em London. O motivo de eu estar aqui. Promete que não vai falar isso pra ninguém? E nem vai dizer que você me viu chorando?

-Prometo. –Ele falou. Elise esticou a mão, colocando-a em um bolso da mochila e bolso da mochila e de lá puxou uma foto, que ela mantinha lá, com a pretensão de nunca olhar pra ela, e a entregou para Jordan.

Na foto estavam ela, Adrian e Maxinne. Adrian fazia careta e Maxinne morria de rir, enquanto Elise levava a mão ao rosto com uma expressão que dizia “Como isso é ridículo” mas tentando segurar o riso.

-Essa é Maxinne. –Ela falou, apontando para a figurinha que gargalhava na imagem. –Ela chegou no Instituto com dois anos. Eu tinha onze. Ela falava um pouco de francês e ninguém sabia de onde tinha vindo, como eu. Eu acabei me apegando a ela, a tratando como se fosse uma irmã. –Elise falou, sem ligar para o fato que estava chorando.

-Muito linda. Parece com você. –Ele falou, fazendo Elise abrir um sorriso involuntário.

-É... Ela tinha 7 anos. Foi mês passado. Tinha sido uma semana chuvosa e vários ataques estava sendo reportados por toda London. Era uma segunda a noite, eu me lembro bem, Adrian, meu amigo, -Ela apontou para o menino da foto. –Estava dormindo, e eu estava lendo um livro, quando Maxinne veio me puxar.

“Ela queria tomar chocolate quente.

-Vamos Elise, por favor, aproveitamos que não está chovendo. –Ela choramingou para mim, puxando a manga do meu suéter. Eu, que não aguentava mais ficar trancada em casa, concordei. Em alguns minutos, tínhamos deixado um bilhete para Adrian e ido para a cafeteria a beira do Tamisa.

 Aconteceu quando estávamos voltando para casa. As ruas estavam vazias e nós estávamos chegando de volta no Instituto. Um demônio Ravener. Eu fui lenta, estava despreparada, não consegui pegar minha lâmina serafim a tempo. Quando eu consegui, já era tarde de mais.” Elise falou. Ela estava louca pra se livrar disso por um tempo, mas não tinha a coragem de falar em voz alta.

-É minha culpa, eu estava despreparada, não soube o que fazer. –Ela falou, deixando mais um soluço escapar. –Eu fico vendo Maxinne em todos os lugares, como um fantasma me perseguindo.  Toda vez que eu vejo ela, parada me olhando, eu jogo o que estivesse mais perto contra a parede, com raiva. As vezes era um abajur, outras um relógio, outras um prato ou dois. Eu soquei um espelho, de tanta raiva. 

Ela levantou os olhos para Jordan, esperando que ele a estivesse olhando com cara de horror, ou até de nojo, mas ele a observava com pena e um pouco de simpatia.

-Não foi sua culpa Elise. –Ele falou, sentando do lado dela.

-Claro que foi.  Eu DEVERIA TER SIDO MAIS RÁPIDA. –Ele simplesmente passou o braço sobre o seu ombro, a abraçando.

-Não foi. –Ele falou, e ela descansou a cabeça no ombro de Jordan.

-Adrian. –Ela falou, quase em um sussurro. –Tem como você me conseguir um telefone? 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O trecho que Elise leu é o primeiro paragrafo de O pequeno Principe.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mudança De Ares." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.