PDV Violet

Chegamos ao Refeitório e caminhamos para uma mesa que ia se enchendo cada vez mais, nos deixando com metade do traseiro pra fora do banco. Algumas mulheres bonitas apareceram e Mike nos disse que eram ninfas. Eu apenas pensei: uau! Incapaz de dizer qualquer outra coisa. Me servi, mas quando ia dar uma bela garfada todos se levantaram e se encaminharam para uma pequena fogueira no centro.

Todos estavam jogando parte da comida no fogo. Não entendi nada, e parece que Cristal também não.

– São para os deuses - nos disse Connor. - Geralmente para seu pai ou mãe olimpiano.

– Ah - disse Cristal -, mas nós não sabemos quem é nosso pai ou mãe.

– Então chutem - falou Travis rindo junto com o irmão.

Andei lentamente até a fogueira. À minha frente havia um garoto que me chamou a atenção. Ele tinha cabelos pretos meio bagunçado e olhos negros, pele cor de oliva; usava uma calça jeans preta, camiseta e jaqueta também pretas, além de um anel de caveira. Ele era lindo, mas parecia meio emo...Ele me encarou e eu sustentei seu olhar. O garoto parecia tentar entrar em minha mente… E, uau!, ele era muito lindo! Mas, pra minha decepção, ele se virou e saiu caminhando. Despejei um pouco da minha comida e pedi para que meu pai ou mãe me reclamasse logo. Esperei Cristal despejar sua comida para sentarmos juntas e quando o fizemos, minha irmã não perdeu tempo:

– Parece que aquele garoto gostou de você.

– Eu posso dizer o mesmo em relação ao Dean, não é Cris? – Revidei pra tentar pular a parte do constrangimento.

– O que quer dizer? - perguntou ela como se não soubesse.

– Ah, Cris, você sabe, parecia que ele tinha perdido alguma coisa em você.

– Eu sei... - ela disse nas nuvens. – Ele é lindo!

Sim, ela é bipolar.

– Parece que você também gostou dele. - Eu disse inocentemente enquanto mordia um pedaço de frango.

– O que? Eu não disse isso! - falou ela assustada, abanando ligeiramente as mãos.

– Até parece, você já esta sonhando com ele! - Sussurrei enquanto olhava pra mesa do garoto que avistei na fogueira.

– Vá ao Inferno, bitch! Quer dizer, ao Hades! – Ela revidou irritada. Eu digo que ela é retardada e ninguém acredita! Num momento feliz e no outro… Bum! Homicida!

PDV Cristal

– Até parece, você já esta sonhando com ele - sussurrou Violet olhando pra mesa do garoto que estava olhando-a.

– Vá ao inferno, bitch! Quer dizer, Hades! – Revidei. Violet tinha algo que me irritava profundamente quando estavamos falando de garotos…. - Aquele garoto ali também gostou de você. - falei apontando discretamente para o moleque emo.

– Fica quieta! Deixa pra lá! – Ela corou intensamente. Eu ri. Me lembrei de quando ela tinha 9 anos e um garoto a pediu em namoro! Vai ficar igualzinha, você vai ver.

Terminamos de comer e Travis nos disse que íamos pra fogueira fazer uma cantoria. Eu gostava de cantar, só não sabia se cantava bem, então, resolvi ver do que eles eram capazes. Fomos caminhando até o que Mike chamou de Anfiteatro. Dean nos acompanhou, diga-se de passagem. Nós conversamos durante boa parte do tempo, até que chegamos ao momento épico:

– Quem é ele? – Violet perguntou apontando para o Emo.

– Ah, ele é Nico di Angelo, filho de Hades. – Respondeu Dean com um sorriso gentil.

– Ah! - exclamou Violet.

Tradução: “Ahhhh! Agora eu sei o nome do garoto lindo! Eu vou morrer!”. Pois é. Estou falando sério.

Depois que a cantoria acabou (e confesso que fiquei caidinha pelos filhos de Apolo) nós caminhamos até nosso Chalé. Desabei na minha cama na mesma hora e apaguei.

*

*

*

Acordei as seis da madrugada (sim, odeio acordar cedo, mas eu apenas não consegui dormir). Virei de um lado para o outro e nada. Perdi a paciência e me levantei silenciosamente. Peguei meu casaco e saí pulando sobre os corpos dos filhos de Hermes que haviam dormido no chão do Chalé. Resolvi ir até a praia pra respirar e colocar minha cabeça no lugar. Eu estava levando bem o fato de ser semideusa, mas… Era estranho… Precisava pensar.

Me sentei na areia e peguei meu celular no bolso do casaco. Sim, sei que é errado, mas eu precisava dele. Tinha acesso a minha conta bancária dele e eu vivia mexendo nela e com esse meu sumiço…

Sim, eu tenho uma conta bancária. Todo mês misteriosamente recebíamos uma certa quantia em dinheiro e nem mesmo Dona Cristini, que administrou o dinheiro até meus quinze anos, sabia de onde ele vinha. Eu ficava pensando se era meu pai ou mãe, mas se tinham nos largado naquele inferno porque nos ajudavam? E, bem, não eram os olimpianos, já que eles não podem nos ajudar em nada…

– Sabia que usos de celulares são extremamente proibidos? – Perguntou uma voz debochada.

Me virei e dei de cara com Percy.

– Eu morreria sem ele, Percy, dê um desconto. – Respondi.

Ele se sentou na areia também e me encarou.

– Perdeu o sono, foi? - Perguntei.

– Na verdade, meu irmão, Tyson, vem me visitar. Eu resolvi acordar cedo e arrumar o nosso Chalé. – Ele começou a brincar com a terra fazendo um daqueles castelinhos de areia de crianças de três anos de idade.

– E por que não esta arrumando o Chalé? – Indaguei.

– Estou com preguiça.

Acabei rindo com sua resposta, mas ele me encarou sério.

– Alguma coisa errada? – Perguntei parando de rir e o encarando, preocupada.

– Você… Me lembra alguém. E eu não consigo lembrar quem… Isso me irrita profundamente.

– Quem sabe uma modelo famosa? – Eu ri com a piada, colocando a mão debaixo do queixo, mas ele continuou serio. – Foi brincadeira, tá?

– Não, eu sei… É só que… Ah, esquece! – Ele destruiu seu castelinho de areia.

– Sabe, você conheceu muitos deuses, certo? – Eu tentei ajudá-lo. – Eu devo ser parecida com minha mãe ou meu pai olimpiano por isso te lembro alguém!

– Não… Você não é uma semideusa qualquer. Se não eu não ficaria tão ansioso pra saber de quem você é filha. – Ele disse.

– Pareço com Afrodite? Eu daria uma bela filha de Afrodite… Ou de Athena… Hã, o que acha? – Eu o cutuquei rindo.

Finalmente, ele me acompanhou.

– Não você, definitivamente, não é filha de Athena. Se não, não poderíamos conversar civilizadamente…

– Mas Annabeth e você namoram, ué! Como pode?

– Digamos que demorou pra isso acontecer e que nós vivemos discutindo. – Ele sorriu.

– A prova de um amor verdadeiro. Acho que vou vomitar. - Fiz uma careta.

– Sim… Amor verdadeiro. – Ele ficou olhando para o mar. – Por que me soa tão familiar…?

– Hein?

- Esquece. Eu estou meio abobado por acordar cedo…

– Annabeth disse que você é assim o tempo todo! – Corrigi.

– É por isso que eu amo aquela menina! Mas, agora eu preciso ir arrmumar meu Chalé… Se não Tyson vai ter todo o trabalho e Annabeth me mata!

– Imagino… Vai lá então e deixa tudo limpinho, viu? Se não a Annabeth vai se incomodar e não vai querer fazer nada…

Ele parou de rir e me encarou sério. Seu rosto estava vermelhinho, ficou fofo! Hahaha!

– Cristal, eu vou fingir que não falou isso. – Ele disse se levantando.

– Não disse nada demais. – Devolvi rindo. – Você que levou para o buraco da malícia.

– “Buraco da Malícia”? Ok, depois dessa vou embora! – Ele riu. – Foi legal conversar com você, me sinto menos perturbado em relação a sua aparência…

– Mas, sério, meu pai, ou minha mãe, deve ser lindo! Quer dizer, eu tenho que ter de quem puxar minha beleza

– Claro que você puxou de um deus. De onde você acha que puxei a minha? Poseidon é um gato! – Ele riu e começou a fazer pose de macho.

– É, Percy, vai sonhando. Pode indo ir arrumar seu Chalé, anda… - Eu acenei displicente.

– Só vou porque preciso fazer isso! – Ele justificou. – Até mais.

– Até mais, peixinho!

– Não me chama assim. - Ele deu meia volta e se virou novamente pra mim.

– Posso te chamar de cavalo marinho? – Eu comecei a rir.

– Vou pensar no caso. – Ele disse. – Amplifique sua lista de apelidos enquanto isso.

– Com todo prazer, cavalo marinho!

Ele soltou uma praga em grego, mas acabou rindo.

Eu me deitei na areia e fiquei olhando a escuridão que restava se dissipando... Em minha mente, os nomes dos deuses vagavam a procura de algum que poderia ter me trazido a vida.

Pena que nenhum deles era o felizardo!