POV Cristal

Não tive como ficar discutindo. Acreditei neles. Aquele monstro era muito real... A morte de Senhora Cristini era muito real. Era real até demais. Eu era filha de uma deusa. Ou de um deus. Wow!

– Vamos? – Repetiu Annabeth.

Olhei para Violet.

– Cristal... – Ela ia começar a fazer um discurso de gente ajuizada e eu odeio isso.

– Eu sei. Vamos. – Eu a cortei e fui correndo para meu quarto. Peguei minhas coisas e as joguei dentro da mochila.

Eu não iria sentir falta daquele lugar. Podia ter sido a minha casa durante esses 15 anos, mas a coisa que eu sempre quis era sair dali. Mas eu nunca imaginei que fosse assim. Nunca imaginei que sairia dali para enfrentar monstros... Espera, isso é brincadeira, não é?

Violet entrou no quarto e fez o mesmo que eu: jogou as roupas dentro da mochila. Menos de cinco minutos nós descemos. Ambas em silencio. Por isso eu consegui ouvir um trecho de uma conversa entre aqueles dois malucos:

– Eu conheço essa menina loira... Quer dizer... Conheço ela de algum lugar. – Falava Percy.

– Esquece isso, Cabeça de Algas. – Annabeth o cortou. Eu não ia cometer a falta de educação de escutar a conversa deles. Por isso, já fui descendo as escadas.

– Chegamos. – Violet disse assim que chegamos ao térreo. – Podemos ir agora?

– Sim. – Respondeu Annabeth. Em seguida ela pegou duas pequenas moedas de ouro e colocou em cima dos olhos fechados de Senhora Cristini.

Ela tinha morrido e a ultima coisa que eu tinha falado para ela era: “Você é uma louca!”, só que, na verdade, ela me disse a verdade. Ela queria que nós soubéssemos a verdade e eu fui uma insensata…

Afastei esses pensamentos melancólicos de minha mente e nós seguimos para fora do Orfanato. Annabeth disse alguma coisa sobre os deuses levarem o corpo de Senhora Cristini, o que eu achei bom, já que daqui a alguns minutos os pirralhos iriam chegar.

– Quer dizer que existe um Acampamento pra filhos de deuses e nós somos filhos de um? – Perguntei debilmente.

– Sim. Ou de uma deusa talvez. – Respondeu Annabeth entrando em uma van. Percy fez um sinal pra nós entrarmos também e o fizemos.

Eles nos contaram mais sobre os deuses e o Acampamento parecia ser um lugar maneiro. Annabeth nos explicou sobre as Oferendas e sobre os Chalés. Ela disse que como nós já tínhamos mais de 13 anos deveríamos ser assumidas no jantar. Percy não falou muito durante todo o percurso até Long Island.

– O Acampamento é logo acima da Colina. – Annabeth falou.

Descemos da van e fomos subindo lentamente. Violet parecia animada com essa ideia de ser Semideusa, e confesso que eu também. Lá do topo, eu observei o lugar lindo que se estendia. Tinha uma densa floresta, vários Chalés, um local para treinamento, um tipo de oficina… e uma enorme Casa para onde Annabeth nos levou. De dentro dela surgiu um homem com traseiro de cavalo… e, cara, eu quase morri de susto.

– Vocês devem ser Cristal e Violet Kane, estou certo? – Perguntou.

– Sim. – Respondeu Violet. – E o Senhor? – Ela perguntou.

Que abusada! Ela não tinha noção nenhuma, né?

– Sou Quíron. Diretor das atividades do Acampamento. – Respondeu ele, simpático. – Entrem.

– Quiron, se importa se eu e Percy fomos dar uma caminhada? – Perguntou Annabeth.

– Pode ir Criança. – Respondeu Quiron. Annabeth bufou, pegou na mão de Percy e saiu. – Garotas, essa é a Casa Grande. O principal ponto do Acampamento.

Entramos dentro de uma sala onde havia um homem sentado em uma mesa, jogando um jogo estranho. Ou melhor, ele era meio estranho. E antipático. E feio.

– Novas pirralhas, Quiron?- Perguntou o homem.

– Sim. Sr. D. Essas são Cristal e Violet.

– Não perguntei o nome delas. – Grunhiu.

Cara mal educado, pensei. Ele me olhou com raiva.

– Garota petulante! – Resmungou... Ele lia pensamentos?

Dei de ombros. Quiron acalmou Senhor D e voltou-se para nós.

– Vocês vão ficar no Chalé de Hermes até serem reclamadas por seu pai ou mãe Olimpiano. O que não deve demorar muito. – Acrescentou.

– Tudo bem... E onde é isso? – Perguntou Violet.

– Vou pedir... – Quíron começou a dizer, mas foi interrompido quando a porta da Casa Grande se escancarou.

 Um menino de cabelos escuros e arrepiados entrou, ofegante. Seus olhos eram negros, tipo, cor da noite… Noite tem cor? Ah, deu pra entender. Sua pele era branca e tinha um rosto másculo, marcante.  Devia ter uns dezessete anos, mais ou menos.

– Ô, Quíron... – Ele parou e olhou pra mim. – Eu e o Nico trouxemos a filha de Afrodite. – Ele continuou, mas não tirou os olhos de mim. Devo dizer recíproco? 

– Ah, sim! Ótimo Dean! – Falou Quiron. – Essas são Violet e Cristal Kane. Garotas esse é Dean Blake, filho de Nix.

Ele sorriu e apertou a mão de Violet e depois a minha.

– É um prazer conhecê-las. – Ele disse, sorrindo para nós.

– Igualmente. – Falei.

Violet segurava o riso, mas não liguei.

Que garoto lindo, meu Deus! Ele era tão...

– Dean, mostre o Acampamento a elas, por favor. – Falou Quíron me tirando da perversão mental.

– Claro! – Ele alargou o sorriso.

E lá vamos nós…

POV Violet

Eu tinha certeza que aquele garoto tinha perdido alguma coisa na minha irmã, ele não parava de olhar pra ela. Tive que me segurar pra não rir durante o tempo em que ele nos mostrava o Acampamento, porque o coitado ia sofrer se se apaixonasse por minha irmã. Digamos que ela é uma lerda pra isso.

Em nossa caminhada, percebi que ele era bem popular. Falava com todo mundo, todo mundo sorria pra ele e faziam piadinhas que eu nem entendia. E digamos que não me esforcei para entender.

– Vocês vão ficar nesse Chalé. – Ele apontou para o chalé onde havia vários garotos sentados na pequena varanda.

– Obrigada. – Agradeci.

– É, valeu. – Completou Cristal.

Fomos andando até a porta do Chalé. Os rapazes que estavam na varanda logo se viraram para nós e ficaram nos encarando, até que dois deles (que pareciam gêmeos) (“pareciam gêmeos” é do mal…) vieram falar conosco.

– Olá, garotas. Bem vindas ao Chalé de Hermes. Sou o Travis e esse é Connor. – Falou um dos rapazes.

– Sou Cristal e essa Violet minha irmã.

– Indeterminadas? – Perguntou o Connor.

– Sim. – Respondemos em uníssono.

– Venham. Vamos arrumar um espaço pra vocês ficarem. – Falou Connor simpático abrindo a porta do Chalé.

– Obrigada.

O Chalé estava abarrotado de gente, mas felizmente achamos um lugar pra nós (e não, não era no telhado, ok?). Alguns filhos de Hermes, muitos simpáticos, diga-se de passagem, vieram nos dar boas vindas e tal. Um deles até nos ajudou a arrumar nossas coisas… o ruim é que ele quase roubou minha carteira, não fosse o olho biônico de Cristal.

– Onde vocês moravam? – Perguntou ele, tentando tirar o foco de seu furto. Mas percebi que esse tipo de coisa era o que mais acontecia ali dentro.

– Em um orfanato. – Respondi. - Eu gostei da ideia de ser Semideusa.

– Confesso que eu também. – Confirmou Cristal.

– É... – Falou Travis, pensativo. – Tirando o fato de que você corre risco de morrer a qualquer instante e que não vai chegar viva aos vinte anos... É muito bom.

Fiquei paralisada com esse “discurso”.

– Ahn... Eu vou tomar um banho. – Avisou Cristal, constrangida, se levantando.

Os meninos ficaram olhando pra mim.

– Calma, baixinha. É brincadeira. – Connor tratou de me consolar.

– Eu não sou baixinha. – Devolvi.

– Não. Imagina. – Negou Travis e Mike e Connor riram.

– Vocês são uns chatos.

Depois de algum tempo me fazendo de alvo de um quase bulling olimpiano, eles pararam de me zoar e começaram a falar da tal Capture a Bandeira. Depois de alguns segundos boiando naquele assunto de armadilha e estratégia, comecei a sentir fome.

– Gente, estou com fome. – Reclamei interrompendo a falação deles.

Cristal saiu do banheiro com um short e uma regata rosa e se sentou ao meu lado.

– Também estou. – Ela disse fazendo uma careta.

– Vamos... Já deve estar quase na hora do jantar. – Disse Mike se levantando.

Todos o acompanharam. E lentamente, nós fomos caminhando até o Refeitório.

E, nossa, que jantar maravilhoso…