-Pedro... Não faça isso. Não me mate.

  -Por que? Você matou minha irmã, não?

  -Sim, mas eu não estava consciente. Você está.

         Nesse momento Nico entrou na cozinha e se assustou com a cena:

  -Pedro, esse não era o combinado. Abaixe a arma.

  -Combinado? Você realmente achou que ela se afastaria do Felipe e ficaria com você?

   -Você o que? – Perguntei assustada.

   -Nós somos Xmor!

  -Agora conta uma novidade, Nico. – disse brava.

  -O combinado era que eu contava tudo que eu sabia daquela noite para ele e nós separaríamos você do Felipe.

  -Por que? Nós já terminamos há tanto tempo!

  -Porque você foi a única que eu amei.

  -Aí, chega de declarações de amor ou eu mato os dois! – Disse Pedro impaciente.

  -Pedro, abaixa a arma. – Disse Nico calmamente.

  -Ou o que?

  -Ou você também morre. – Nico tirou um revolver da calça e apontou para Pedro.

  -Você, estava com um revolver esse tempo todo.

  -Você também estava, não?

  -Você não me mataria.

  -Ladrão que mata ladrão tem cem anos de perdão. E você está ameaçando a mima.

  -Ela vai morrer.

   Foi ai que eu escutei um estalo, uma dor aguda no meu ombro e minha visão foi embasando aos poucos até se apagar por completo.

    Acordei em uma maca de hospital. Um menino dormia de cada lado de minha cama. Na maca ao lado, separada por uma cortina que estava aberta vejo David dormindo. Felipe dormia numa cadeira, com a cabeça apoiada na ponta de minha cama. Nico estava na poltrona, com os cotovelos sobre os joelhos e as mãos na testa.

      Nico levanta a cabeça e percebo que ele está acordado. Ele se aproxima e conversamos em sussurro:

  -Como você está?

  -Viva, graças a você. O que aconteceu depois?

  -Eu atirei em Pedro, mas ele não morreu. Está internado e será preso assim que tiver alta.

  -Eu não tenho como te agradecer.

  -Tem sim. – Ele segurou meu queixo e se aproximou, me deu um selinho longo e leve e se sentou novamente.

  -Nico, depois daquela noite eu fugi. Estava com medo, mas quero que saiba que a culpa não foi sua, você não me faz nada. Foi pelo que eu fiz. Eu estava errada.

  -Não, eu te maltratava, te traia e você fez coisas sem perceber, pois estava brava. Eu não sou digno de você, eles são.

  -Você foi especial, obrigada.

  -Algo especial deve terminar de um jeito especial-  ele se aproximou, me beijou com fervor e eu correspondi não me importando com a dor. Quando estávamos sedentos de ar ele se virou e foi embora.Para sempre. Eu me virei e tentei dormir novamente.

       Felipe levantou a cabeça e eu olhei para ele. Ele se aproximou devagar:

  -Mirela, por que você pediu para ele me tirar dali?

  -Tinham coisas que precisavam ser resolvidas e você não podia presenciar.

  -Agora você já pode me contar?

  -Posso, mas você tem que me prometer que nunca, nunca, nunca vai me abandonar. E que vai me deixar terminar.

  -Prometo.

    Contei toda a história a Felipe, inclusive da cozinha e ele disse simplesmente:

  -Não foi sua culpa, você estava fora de sua sanidade mental. Eu te amo pelo que você é agora, não pelo que você foi no passado.

  -Você é incrível! Deita comigo?

  -Mirela, você não pode se esforçar de forma alguma!

  -Você cuida de mim!

  -Sempre. – Me afastei dando espaço para ele subir na cama. Ele subiu e me abraçou. Dormimos até a manhã seguinte quando a enfermeira veio trocar o curativo e trazer o café da manhã e expulsou Felipe.

       Agora era só esperar David acordar e conversar com ele para tomar minha decisão.