Revenge escrita por Shiroyuki, teffy-chan


Capítulo 41
Capítulo XLI




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Já era tarde quando Anna tornou a despertar. Piscou várias vezes e olhou à volta, confusa, mas tudo o que conseguia enxergar era um borrão escuro sem os óculos. Ainda se sentia exausta, com o corpo dolorido, e estava se perguntando por que tinha acordado agora, quando ouviu seu estômago dar um sonoro ronco. Remexeu-se entre as cobertas, embaraçada, e já ia se levantar para procurar alguma coisa pra comer, quando uma voz a chamou:


– Ah, não se levante ainda, Lewis-san! Você ainda deve estar cansada, precisa descansar mais - um borrão dourado depositou algo grosso e retangular sobre a escrivaninha, que Anna só podia concluir que era um livro, e aproximou-se dela, tocando seu ombro e fazendo ela se deitar novamente. Anna não conseguia enxergar quem era, mas reconheceria a voz de Tadase em qualquer lugar
Prince Charming... I'm hungry
– Ah, é claro! Você não jantou ainda, me desculpe - Tadase levantou-se de novo e correu para pegar uma bandeja de comida ao lado de seu livro
It's okay... what time is it?
– Quase dez horas, eu acho - Tadase respondeu, trazendo a bandeja para perto dela - Aqui, Lewis-san, eu pedi um pouco de comida pra você
Thanks – Anna agradeceu, embora ainda não conseguisse enxergar a comida diante dela - Err... I can't see...
– Ah, é claro! Seus óculos - Tadase esticou o braço e apanhou os óculos dela em cima da escrivaninha, depositando-os com cuidado no rosto da garota. Anna piscou várias vezes, focalizando o quarto, feliz em finalmente poder ver o rosto de seu Príncipe - Melhor agora?
– Muito melhor... - ela murmurou baixinho, sem conseguir conter um sorriso - S-So... how you say... i-itadakimasu! - ela exclamou, abocanhando um punhado de ramen enrolado nos hashis, se perguntando se tinha falado direito. Tadase apenas sorriu, o que deixou a garota feliz. Ela adorava ver seu Príncipe sorrindo, radiante como a luz dio sol, mas tê-lo olhando diretamente para ela enquanto comia era um tanto embaraçoso, então Anna tentou pensar em algo menos constrangedor para conversarem - S-So, Prince Charming... err... c-como estão os outros? Mais alguém ficou machucado?
– Estão todos bem, eu acho... tivemos apenas alguns arranhões, nada de mais - Tadase contou, lembrando-se de como Yaya, por exemplo, estava mais do que bem, correndo e saltitando pelos corredores à procura de gente para stalkear - Ah, mas Blanca-san parece que machucou a perna, e não está conseguindo andar, eu acho... e o Gonçalves-kun ainda não acordou
– Micchan ainda está inconsciente?! - Anna exclamou incrédula, com a boca cheia de ramen, e Tadase confirmou com um aceno de cabeça - But... já faz várias horas desde que the fight finish, right? Por que ele ainda não acordou??
– E-Eu não sei... quando fui buscar sua comida, quase uma hora atrás, eu passei pelo quarto dele e o Gonçalves-kun ainda estava inconsciente - o loiro falou - Bem, ele foi o que mais ficou machucado, então acho que é natural que ele precise de mais repouso...
– Awwnnn.... poor Miichan... - Anna lamentou, puxando tristemente mais um punhado de ramen dos hashis. Tadase sabia que era loucura, mas não conseguia deixar de se sentir incomodado com o fato de Anna estar preocupada com outro garoto
– Ele deve ficar bom logo, Lewis-san... o Shunsuke-san estava cuidando dele quando passei por lá - Tadase contou, remexendo-se incomodado em sua cadeira
Really?! Kyaaah como eu queria estar boa pra poder ver isso! - ela exclamou com a voz aguda, tão empolgada que quase derrubou o prato de comida
– Mas pra isso você precisa melhorar logo, e tem que comer direitinho pra que isso aconteça! - Tadase lembrou, amparando o prato dela antes que caísse no chão - Vamos, agora termine o ramen, falta pouco
Yes... thanks again, Prince Charming – ela murmurou, abaixando a cabeça, numa tentativa de esconder o rubor de seu rosto com a franja - You're always taking care of me... eu só te dou trabalho, não é mesmo? - ela fungou tristemente, abocanhando mais uma enorme porção de ramen em seguida
– Não diga isso nunca mais, Lewis-san! - Tadase colocou-se de pé e exclamou tão alto que assustou a garota - Você não tem nada que me agradecer, pelo contrário! Eu é quem deveria lhe agradecer... e me desculpar também. Não é certo que uma garota se arrisque por minha causa. Aquilo... acho que nunca poderei me perdoar por aquilo... - ele voltou a se sentar, cabisbaixo
P-Prince Charming... se está falando da luta, já falei que não tem problema. Eu agi por impulso, and I do not regret what I did... it was not your fault
– Eu sei, mas... ainda assim... - Tadase levantou-se de novo e, colocando a bandeja com o prato vazio dela de lado, sentou-se na beirada da cama e, antes que percebesse o que estava fazendo, segurou as mãos da Às entre as suas - Lewis-san, quero que me prometa uma coisa
O-Of course... what you want...
– Me prometa que nunca mais vai se arriscar desse jeito por minha causa
What?! B-But, Prince Charming...!
– Por favor, me prometa isso, Lewis-san. Não posso conviver com a humilhação de ter sido protegido por uma garota... e, pior ainda, não consigo suportar que essa garota tenha sido você. Se alguma coisa de ruim tivesse te acontecido por minha causa, eu... jamais me perdoaria... então, por favor, me prometa isso, Lewis-san! - ele segurou as mãos dela com mais força, encarando os orbes verde-esmeralda da garota com os rubis brilhantes que eram seus próprios olhos. Anna se remexeu, incomodada, sentindo um tremendo embaraço com a proximidade entre eles, e não teve outra escolha além de assentir
All right... s-se isso é assim tão importante for you, Prince Charming, então tudo bem... I promise – ela murmurou baixinho, feliz que a escuridão do quarto não permitisse que Tadase percebesse o quanto ela tinha enrubescido agora
– Arigatou... hontou ni arigatou, Lewis-san - em um impulso, Tadase atirou os braços ao redor do corpo da garota, e a envolveu em um aconchegante e cálido abraço. Anna paralisou de choque, e teria gritado se sua voz não tivesse sumido com o espanto que as ações do garoto provocavam nela. Depois de vários segundos, relaxou o corpo e apoiou a cabeça no ombro dele, deixando-se acalentar pelo abraço do jovem Rei. Eles ficaram assim por um tempo longamente indefinido, até Tadase a soltar e a mandar descansar mais um pouco, só para que a garota voltasse a dormir e a ter lindos sonhos com seu Príncipe Encantado.






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Há alguns poucos quartos de distância, Nagihiko enfim concluiu que Yaya devia estar ocupada demais espionando a vida alheia e não iria lhe trazer comida nenhuma, então resolveu descer até o primeiro andar e pegar alguma coisa pra comer ele mesmo. Assim que ouviu o barulho da porta de fechando, Stéffanie sentou-se na cama, finalmente abrindo os olhos. Não sabia definir o que estava sentindo naquele momento. Estava irritada com Nagihiko, e zangada por ele ser tão irritantemente cuidadoso e prestativo. Estava zangada por ele ter passado tanto tempo segurando sua mão e sabe Deus mais o que ele fez enquanto ela dormia, e realmente estava com vontade de bater nele, mas... ao mesmo tempo, não conseguia deixar de sentir uma pontinha de felicidade e alguma outra coisa cálida e aconchegante em seu peito que ela não sabia definir por ter sido ele a passar todo esse tempo cuidando dela, e odiava-se por isso.

Isso sem contar os machucados em seu corpo que ainda doíam bastante. Pensou em se levantar, mas assim que tentou colocar os pés pra fora da cama, sentiu o tornozelo que estava enfaixado repuxar dolorosamente, e logo desistiu da idéia, deixando escapar um gemido de dor.


– Ah... Blanca-san! - uma voz exclamou à porta, e a espanhola sobressaltou-se ao ver que Nagihiko tinha voltado, trazendo consigo uma bandeja com uma jarra de suco, copos, e alguns sanduíches - Finalmente você acordou! - ele entrou afobado no quarto, colocou a bandeja em cima da mesa-de-cabeceira de qualquer jeito, e voltou a se sentar em sua cadeira, ao lado dela - Como está se sentindo? Seus machucados... ainda doem?
Estoy bién – ela respondeu, e sua voz saiu meio rouca, talvez por ter passado várias horas sem usá-la. Ela pigarreou, tentando normalizar seu tom de voz - Só estoy... con hambre...
– Com fome, é claro... parece que acertei em trazer sanduíches, que bom - Nagihiko esticou o braço, pegou dois sanduíches, abocanhou um e entregou o outro à ela. A garota mordeu um pedaço, sem dizer nada, e olhou em volta para certificar-se de onde estava. Reconheceu aquele quarto como sendo o seu, mas de repente estranhou o fato de estar sozinha lá (principalmente o fato de estar sozinha com Nagihiko)
Donde estás Anna?– ela perguntou depois de engolir o sanduíche
– Ah... acho que estava no quarto da Amu-chan e da Rima-chan. O Hotori-kun estava cuidando dela, então não precisa se preocupar - Nagihiko informou, servindo-se de suco - Quer um pouco?
Yo misma puedo hacerlo – ela respondeu, começando a ficar incomodada com toda aquela gentileza de Nagihiko. Não queria ter que ficar devendo favores para ele afinal. Ela esticou o braço para pegar a jarra, mas estava muito longe, e quando ela se esticou um pouco mais para poder alcançá-la, sua perna machucada repuxou de novo, como um aviso silencioso de que ainda era muito cedo para ela se levantar. A garota deixou escapar uma exclamação de dor, e teria caído de cara no chão se Nagihiko não a tivesse segurado
– Cuidado, Blanca-san! Você ainda está machucada, não deveria levantar assim do nada! - ele exclamou, segurando-a bem à tempo, e Stéffanie corou furiosamente ao se ver nos braços de Nagihiko. Sentiu uma vontade louca de bater nele e correr pra longe daquele garoto irritante, mas não conseguia nem se manter de pé sozinha, então não poderia fazer isso. Ao invés disso, apenas arrastou-se com dificuldade de volta para a cama, ignorando a dor excruciante em seu tornozelo
Ya dije que estoy bien... no necessitas fazer todo esse escândalo - ela resmungou, virando o rosto para o lado, e aceitou de má vontade o copo de suco que o garoto lhe estendia
– "Está bem", sei... - ele repetiu descrente - Você não está conseguindo andar, não é? - Nagihiko observou, e ela mordeu os lábios, inconformada, recusando-se a admitir que ele tinha razão - Você devia parar de ser tão teimosa, e de fazer tantos movimentos bruscos, ou seu corpo nunca vai melhorar. Agora relaxe e descanse, se precisar de alguma coisa é só falar que eu pego pra você
Yo no necessito de su ayuda!
– Precisa sim. Do mesmo jeito que eu... precisei da sua ajuda durante a luta. Depois daquilo, cuidar de você é tudo o que eu posso fazer pra compensar, então... me deixe fazer isso, por favor - o Valete baixou os olhos com tristeza, e Stéffanie desviou o olhar dele para o suco avermelhado em seu copo, sem saber o que dizer. Tinha evitado pensar naquele assunto até agora, e não esperava que o garoto falasse sobre isso tão de repente
Está bién. Se esto és tán importante así para usted, entonces... puede hacerlo – a espanhola respondeu por fim, ainda sem encará-lo, mas com plena consciência de que os olhos dourados do garoto estavam fixos nela agora. Nagihiko pegou outro sanduíche depois que ela terminou o primeiro e estendeu para a garota sem dizer nada
– Nee... por que você fez aquilo? - ele perguntou depois de algum tempo em silêncio - Eu sei que foi você quem criou aquela parede de areia e me salvou do ataque dos Batsu Tamas. Por que fez aquilo afinal? Por que você descuidou de sua própria segurança, e... me protegeu?


Stéffanie cuspiu o suco que estava a meio caminho de beber, e engasgou-se com o pedaço de sanduíche em sua boca. Não esperava que ele fizesse uma pergunta daquelas, tinha evitado ao máximo pensar nesse assunto, isso porque nem ela mesma sabia a resposta. Depois de vários segundos tossindo, ela enfim conseguiu engolir o pedaço de pão com pasta de atum mal mastigado e respondeu:


– Eu preciso mesmo de um motivo pra fazer isso? Só me deu vontade de fazer aquilo e pronto, yo no piensei muito na hora... apenas fiz
– Mas por que? - Nagihiko insistiu - Blanca-san, eu pensei que você... me odiasse. Você está sempre irritada e brigando comigo, então achei que você não gostasse de mim. Mas aí, de repente, você arrisca a sua vida pra salvar a minha... eu não entendo porque!
Yo no te odeio - ela falou depois de algum tempo, colocando o copo de suco em cima da mesa antes que acabasse derrubando-o - Quero dizer... usted es implicante, y estas siempre me irritando... y la culpa eres sua por eu estar siempre de mau-humor! - ela exclamou, apontando acusadoramente para o garoto - Pero... no te odeio. Y lamento, pero no sé porque hiz aquilo. Como já disse, no piensei mucho na hora... y, cuando vi, já tinha feito
– Bem, mesmo que você não saiba o motivo... você salvou minha vida, então... obrigado, de verdade - ele a encarou nos olhos, e a espanhola sentiu seu rosto queimar outra vez
T-Tonto, no necessitas me agradecer! - ela virou o rosto para o outro lado, incomodada - Y-Yo haceria aquilo por qualquer un, entonces... no piense que usted es especial, nem nada así... n-no es como se yo estivesse preocupada por ti o cualquier cosa sí, ouviu?!
– Hai, hai... já entendi, não se preocupe - Nagihiko sorriu, feliz em vê-la esbravejando outra vez. Se a garota já estava gritando com ele de novo, provavelmente significava que ela já devia estar melhor - Ainda assim, obrigado. Mas... me prometa uma coisa
– O q-que??
– Prometa que nunca mais vai se arriscar daquele jeito por minha causa de novo - ele pediu
– Ah, puede acreditar que nunca mais hacerei aquilo, no te preocupes – a garota respondeu, tentando parecer que estava segura de sua resposta, embora não acreditasse muito nisso por dentro - Y, já que usted insiste em... c-cuidar de mí... entonces cuide direito y me dê outro sanduíche! Yo ainda estoy com hambre!
– Hai, hai.... como quiser, minha cara Rainha.






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Na manhã seguinte os raios de sol atravessavam o vidro da janela sem cortinas. Os pássaros piavam alegremente ao longe, mas não foi isso que acordou Miguel. Ele se mexeu devagar, mudando de posição na cama, mas alguma coisa segurava sua mão, tornando a nova posição desconfortável, e ele acabou acordando. Mesmo com o vidro da janela fechado, a luz do sol que entrava por ele parecia queimar sua retina quando o português abriu os olhos, e ele os desviou para outra direção, dando de cara com a "coisa" que prendia sua mão naquela posição, que ele enfim se deu conta de que era a mão de Shunsuke. Seus olhos sonolentos foram forçados a se arregalar bruscamente, e Miguel teria gritado se não estivesse com tanto sono, e tão exausto mesmo depois de ter dormido tanto. Shunsuke estava ajoelhado ao lado de sua cama, com a cabeça apoiada ao lado dele, a mão segurando firmemente a sua mesmo enquanto dormia. Miguel sentiu seu coração dar um poderoso salto enquanto seu rosto queimava de vergonha. Ele tentou puxar sua mão para longe da do mais alto, mas assim que o fez, Shunsuke despertou.


– Ah... Miguel-kun... - o loiro murmurou sonolento, ajeitando os grossos óculos que estavam tortos em seu rosto - Ohayou...
– B-B-Bo-Bom d-dia S-Sh-Shunsuke-kun... Miguel gaguejou com dificuldade, ainda perguntando-se porque raios o amigo teria passado a noite toda segurando sua mão - Err... p-por acaso você... p-passou a n-noite toda a-a-assim??
– Assim como? - Shunsuke levantou-se e se espreguiçou, parecendo que ainda estava sonolento demais pra pensar no que quer que fosse. Miguel começou a questionar-se se talvez Shunsuke tivesse dormido assim sem nem mesmo perceber - Como está se sentindo?
– Ah... bem, eu acho - Miguel respondeu, lembrando-se dos últimos acontecimentos do dia anterior. Era uma sorte que Shunsuke tivesse se afastado bem na hora em que eles foram atacados por Matthew, ou o garoto poderia ter se machucado também, sem nem ter nada a ver com isso. Pensando bem, lhe ocorria agora que devia uma explicação para Shunsuke sobre todos aqueles ferimentos, mas não conseguia pensar em nada que pudesse explicar aquilo. Tentou se sentar na cama, mas seu corpo todo protestou em resposta, e ele soltou um gemido de dor
– Cuidado, você não deveria ficar fazendo movimentos bruscos assim - o maior falou, forçando-o a se deitar novamente - Não vou perguntar como raios você se machucou tanto assim... - ele começou, e Miguel sentiu um enorme alívio preencher seu peito ao ouvir aquilo - Mas você realmente deveria se cuidar melhor, Miguel-kun! Não é porque você é um Guardião que você pode sair fazendo loucuras por aí! Então... tente não fazer mais nada arriscado ou estúpido, está bem?
– Está bem... desculpe - Miguel baixou os olhos, sem jeito - Foi você quem... fez isso, não é? - ele indagou, indicando as ataduras nos braços, e o curativo no rosto
– É claro, quem mais faria?! - Shunsuke exclamou, fazendo o português corar mais ainda - Quero dizer, aquela menina, Yaya-chan, bem que queria cuidar de você, mas... por algum motivo ela não me pareceu o tipo de pessoa que daria uma boa enfermeira, então...
– É, você tomou a decisão certa - Miguel concordou, imaginando que deveria estar parecendo uma múmia agora se Yaya tivesse cuidado dele, e deu uma risadinha com essa imagem mental. Todo seu corpo doeu ainda mais só com o esforço de dar risada, e ele soltou outra exclamação de dor
– Viu, eu disse pra você não fazer esforço! - Shunsuke exclamou novamente, enquanto penteava os cabelos para trás de qualquer jeito - Acho que é meio cedo, mas... vou descer pra tomar café da manhã, e trazer alguma coisa pra você comer. O que você quer?
– Qualquer coisa está bom...
– Certo, será sopa então, assim você não tem que mastigar. Eu já volto, então fique descansando direitinho, ouviu?! - o mais alto falou ao sair do quarto. Miguel sentiu uma grande dose de culpa invadir seu peito ao ouvir aquilo. Shunsuke não tinha nada a ver com as lutas deles, nem com o fato de agora ele se encontrar nesse estado deplorável, mas ainda assim estava cuidando dele. Aquilo estava errado, Shunsuke não tinha a obrigação de fazer isso, desse jeito ele estava sendo apenas um peso para o amigo. O português não pôde deixar de pensar, mesmo que por um instante fugaz, que talvez, houvesse uma remota possibilidade, de Shunsuke não estar fazendo aquilo apenas por amizade... e Miguel odiou-se ainda mais por pensar nisso.


– Waaahhh, vejam só, Shun-chan acordou! - Yaya gritou escandalosa na enorme mesa onde ela e os demais Guardiões agora tomavam café da manhã - Ohayou Shun-chan!
– Ohayou, Yaya-chan... ohayou, minna - ele cumprimentou, nem tão entusiasmado assim, sentando na ponta da mesa, ao lado de Kukai, e servindo-se do que estivesse mais perto
– Como está o Miguel-kun? - Amu perguntou para ele
– Bem, eu acho... ele acordou agora à pouco, e queria se levantar e tudo, mas eu achei melhor ele descansar um pouco mais - Shunsuke contou desanimado, abocanhando um onigiri
– Você fez bem, eu acho. Ele ficou mesmo muito machucado ontem, ainda deve ser cedo demais pra ele sair andando por aí - Kukai concordou, balançando a cabeça afirmamente
– Mas se ele já acordou, então já deve estar melhor! Yaya quer ir conversar com ele quando acabar de comer! - a ruiva exclamou, cuspindo farelo de biscoito pra todo lado enquanto falava
– Não sei se é uma boa idéia, Yaya... você é escandalosa demais, e o garoto precisa de repouso - Utau lembrou
– Ehhh?! Mas a Yaya quer ver o Micchan! - a Às choramingou - E você não pode falar nada, Utau-chan, é tão escandalosa quanto a Yaya!
– Mas eu sei me controlar quando é necessário - lembrou a loira - Já você...
– Ela tem razão, você só vai acabar piorando o estado do garoto se for vê-lo, baixinha - Ikuto concordou, com a boca cheia de peixe
– Não se preocupe, ele só precisa de mais um pouco de descanso, e daqui à pouco já deve estar bom o suficiente pra sair do quarto - Shunsuke falou, comendo com pressa para poder voltar para o lado de Miguel
– Awwnnnn... mas a Yaya queria ver o Micchan agora...
– Espere só mais um pouco, Yaya, ele precisa de descanso e silêncio agora, e não vai ter nada disso se você for lá - Kukai falou, sem conseguir conter uma risadinha
– Não é só o Gonçalves-kun que precisa de repouso, sabe... certas pessoas aqui também precisam de descanso, mas são teimosas demais pra isso, mesmo que não consigam nem andar direito ainda - Nagi olhou acusadoramente para Stéffanie, sentada de frente para ele. A garota tinha insistido em tomar o café da manhã com os outros, embora ainda estivesse mancando
– Que foi?? - ela exclamou, incomodada com o olhar acusador do Valete - Eu é que não ia ficar sola em aquello cuarto, no mismo!
– Mas você realmente ainda não parece muito bem... devia estar descansando, já que não consegue andar! - Amu exclamou preocupada
– Acha mesmo? Pois pra mim ela parece ótima - Rima discordou - Veja só, já está berrando com o Nagihiko e tudo. Já está novinha em folha
– Mas eu acho que o Fujisaki-kun tem razão. É cedo demais pra vocês ficarem passeando por aí, e isso inclui você, Lewis-san - Tadase falou para a garota sentada ao lado dele, que quase derramou seu copo de suco ao ouvir seu nome sendo citado na conversa - Eu poderia muito bem ter levado comida pra você lá no quarto, você deveria descansar mais um pouco!
B-But I already said I'm fine, Prince Charming... look!– ela estendeu os dois braços, onde antes haviam vários cortes, aparentemente feitos com papel. Agora a maioria deles havia desaparecido, e os poucos que restavam eram quase imperceptíveis - I'm already better then no need to worry!
– Ahh céus... por que será que as garotas são tão teimosas?! - Tadase resmungou, como se esperasse que a resposta caísse do céu. Shunsuke, que observava a cena com o canto dos olhos, comentou
– Que engraçado... não apenas o Miguel-kun se machucou, mas essas duas estão assim também... parece que apenas os três estrangeiros se machucaram, e todos ao mesmo tempo. Por que será, hein...? - ele perguntou para ninguém em especial, remexendo distraidamente o restinho de ramen em seu prato com os hashis, e todos se remexeram inquietos em suas cadeiras. O garoto tinha ficado tão calado que por um momento eles se esqueceram da presença de Shunsuke, bem como o fato de que ele não sabia sobre a existência de Shugo Charas, muito menos do inimigo deles, Matthew, então devia estar realmente confuso com essa situação (ou pelo menos era assim que os Guardiões pensavam)
– Ano, Shunsuke-san... - Tadase começou, sem ter a menor idéia de como terminar a frase - S-Sobre isso, bem... é que nós...
– Não quero saber. Não é da minha conta o motivo pelo qual vocês acabaram ficando assim, eu não quero me intrometer no assuntos de vocês Guardiões, então não precisa me explicar nada, Hotori-san - Shunsuke o interrompeu - Eu apenas... achei curioso o fato de apenas os estrangeiros terem se machucado, enquanto que vocês parecem perfeitamente bem. Só isso - ele levantou-se, e colocou um prato cheio de yakisoba e um copo de suco em uma bandeja - Eu vou levar isso pro Miguel-kun comer, com licença - ele se retirou, sumindo na curva do corredor. Depois que o garoto saiu, todos deixaram escapar um suspiro de alívio
– Me esqueci completamente disso... foi uma sorte o Shunsuke-san não ter presenciado a luta, mas ele deve estar realmente confuso com essa situação - Tadase comentou, sério - Nós devíamos dar uma explicação pra ele...
– Esquece isso, Tadase, o garoto acabou de falar que não quer se intrometer nesse assunto, é melhor deixar quieto - Ikuto falou, jogando os braços atrás da cabeça
– Mas ainda assim seria melhor inventar alguma desculpa para explicar o que aconteceu - Kairi insistiu - Seria pior se deixarmos ele tirar suas próprias conclusões. Ele pode acabar tendo uma impressão errada sobre nós... ou, pior ainda, acabar descobrindo a verdade
– Acho muito improvável que ele descubra a verdade... afinal, Shunsuke-kun é um garoto comum, não é? - Amu lembrou
– Yeah, he should not even dream of the existence of Shugo Charas – Anna concordou
Sin embargo, debemos al menos inventar alguma coisa para explicar lo que pasó – Stéffanie insistiu
– Talvez devêssemos falar com o Miguel-kun antes de sair inventando histórias, e ver o que ele acha melhor... até porque, poderíamos contradizer uns aos outros, e isso seria pior - Utau sugeriu, e os outros acabaram concordando
– Mas, numa coisa o Shunsuke-san tem razão - Tadase comentou - De todos nós, vocês três... foram os que mais saíram machucados - ele falou pesaroso, sentindo uma pontinha de culpa. Aquilo estava errado, ele era o líder afinal, era ele quem deveria estar ferido assim, e se sacrificar para proteger os demais, como um Rei que se sacrifica pelo seu povo, e não o contrário! Era como se aqueles três tivessem deixado seus países apenas para se machucarem
Prince Charming... - depois de muito hesitar, Anna respirou fundo, como se isso pudesse lhe dar coragem, e apoiou sua mão sobre a de Tadase – Don't say that things! I'm fine, eu já disse, não foi nada grave... estamos todos bem, não é? - ela olhou ao redor à procura de apoio
– Hunf... por supuesto que estoy bién. No me subestime, niño tolo! – Stéffanie exclamou, meio ofendida - Y yo aposto que Miguel también está ótimo, ele és um niño afinal
– Sem falar que ele arranjou um enfermeiro particular por vinte e quatro horas nee - Yaya lembrou, dando uma risadinha maldosa
Sí, esto también! – a espanhola apontou escandalosamente para Yaya, concordando – Así que no se deprime por tan poco, nem parece hombre! - ela concluiu, e Nagihiko deu uma risadinha, feliz por ela não ter se irritado com ele dessa vez
– Ah... h-hai - Tadase murmurou, tão confuso com as rápidas palavras em espanhol que nem sequer ficou ofendido com a última frase - Arigatou, minna.


Enquanto isso, no quarto de Miguel e Shunsuke, o mais alto lhe dava de comer, insistindo em lhe dar a comida na boca, não importa o quanto aquilo constrangesse o português.


– Ei, Shunsuke-kun, eu já disse que não precisa fazer isso... eu estou bem, sério, posso comer sozinho - Miguel insistia, falando com dificuldade com a boca cheia, mas Shunsuke apenas ignorava seus protestos
– Pare de falar de boca cheia e coma logo, Miguel-kun. Veja só, está deixando a comida toda cair desse jeito! - ele limpou um filete de molho shoyo que escorria pelo canto da boca do português com o dedo, deslizando-o pelo queixo, até o canto do lábio inferior, tocando-o levemente. Aquele simples gesto pareceu despertar algo nas profundezas da mente de Miguel, como se fosse um sonho distante, ou uma lembrança esquecida, que só poderia ser fruto de sua imaginação fértil, talvez uma alucinação provoca da por uma possível febre por causa dos vários machucados que tinha.


Miguel tinha plena consciência de que era impossível, mas uma cena insistia em projetar-se em sua cabeça, como um sonho que ele não conseguia se lembrar direito, mostrando a si mesmo, insconsciente de olhos fechados na cama do quarto, com Shunsuke ao seu lado, falando rápido demais em japonês, de modo que ele não compreendia o que o outro dizia. Mas lembrava-se de sentir um abraçado tímido e desajeitado, porém acalentador, que só podia ter sido dado pelos braços fortes de Shunsuke e, logo depois, algo macio e molhado tocando seus lábios. Se fechasse os olhos e se concentrasse, Miguel ainda podia sentir claramente aquele gosto doce, e ao mesmo tempo, apimentado em sua boca, não importando a grande quantidade de comida que tinha dentro dela agora.


– Miguel-kun...? Seu rosto está muito vermelho, o que houve? Não me diga que, além de tudo, você está com febre também?! - Shunsuke deixou o prato de lado e colocou a mão na testa do português, por baixo da franja, para verificar sua temperatura. Aquilo só fez com que o rosto de Miguel se afogueasse ainda mais
– E-E-Eu estou b-bem, é sério... n-não estou com febre - o Rei estrangeiro gaguejou com dificuldade depois de engolir a comida - Eu apenas... a-acho que me lembrei de um... s-sonho estranho
– Ah, é? Que tipo de sonho? - o maior indagou curioso, afastando a mão da testa dele
– E-Eu não tenho muita certeza, mas... b-bem, eu estava nesse mesmo quarto, só que de olhos fechados, então não podia ver nada, mas... eu sentia a presença de mais alguém no quarto - ele começou, achando melhor não contar para Shunsuke que tinha sonhado com ele - Esse alguém estava cuidando de mim... me abraçava, com muito carinho, e... d-depois essa p-pessoa me... err... m-me b-b-be-beijou.


Shunsuke teria deixado o prato de yakisoba cair se ainda o estivesse segurando, e sentiu seu queixo despencar com o que acabara de ouvir. Miguel estava narrando exatamente tudo o que ele mesmo tinha feito no dia anterior. O fato de que havia a possibilidade de Miguel ter escutado sua conversa consigo mesmo e descoberto que ele era na verdade Matthew o preocupou, é claro, mas curiosamente, estava mais preocupado que Miguel pudesse descobrir que ele o tinha beijado naquele momento. Respirou fundo uma vez, tentando normalizar sua respiração descompassada, e falou, num tom que ele pretendia ser brincalhão:


– Ehh... quer dizer que você sonhou que foi beijado, é, Miguel-kun?! Quem diria, hein... então você já deve estar bom mesmo, pra já estar sonhando com beijos e essas coisas, hahahahaha! - ele soltou uma risada nervosa - E então? Quem foi a pessoa misteriosa que te roubou um beijo, hein?
– B-Bem, isso é...
– Parem tudo!! - Yaya escancarou abrupdamente a porta do quarto deles, interrompendo o que quer que Miguel fosse falar - Parem o que estão fazendo e escutem a Yaya! Você precisa ficar bom logo, Micchan, e rápido... porque você não vai querer perder isso de jeito nenhum!! - ela sacudiu um folheto na cara deles, e Shunsuke o amparou para poder ler direito
– Um Festival?
– Isso mesmo, um Festival aqui na praia! - a ruiva confirmou alegremente - Vai ser amanhã à noite, então você tem que melhorar até amanhã, porque todos nós precisamos ir, ouviu?!
– Pare com isso, Yaya, parece até uma intimação... não é hora de pensar em Festivais, sua cabeça de vento! - Miguel resmungou, tampando os ouvidos de tão alto que a garota gritava
– Não parece, isso é uma intimação! - a garota afirmou na cara de pau - Então, Shun-chan, vê se cuida direitinho do Micchan, porque todos nós precisamos ir, ouviu?!
– Hai, hai... está bem, mas pare de gritar, não está vendo que ele precisa de repouso e silêncio pra melhorar? - Shunsuke respondeu, apontando para o português, que ainda tampava os ouvidos para não ter que ouvir os berros estridentes da garota
– Opa, foi mal! Então, a Yaya vai sair e deixar vocês sozinhos agora... e avisar aos outros sobre o Festival! - ela tomou o folheto das mãos de Shunsuke e saiu correndo e gritando pelo corredor - Onee-chaaaaan!! Adivinha só, a Yaya tem uma coisa incríveeeel pra te contaaaar!!!


Shunsuke levantou-se e fechou a porta, numa tentativa de abafar não apenas os gritos de Yaya, mas também os berros que eles certamente ouviriam Stéffanie dar depois que Yaya fizesse sua intimação.


– Bem, então... o que acha? Você vai no tal Festival? - ele perguntou, virando-se de frente para Miguel
– Não tenho escolha, não é? Aquela maluca é capaz de me arrastar pelos cabelos até o tal Festival se eu não for por conta própria - Miguel suspirou derrotado
– Bem, então descanse o máximo possível hoje, você vai precisar repor suas energias pra amanhã - Shunsuke concluiu, levantando-se de novo e fechando as pesadas cortinas para escurecer o quarto - Durma bem, Micchan...
– Q-Que foi que disse?? - Miguel exclamou, por algum motivo lembrando-se de Matthew, se perguntando se tinha ouvido direito
– Eu disse durma bem, Miguel-kun
– Ah, sim.... é claro. Obrigado - Miguel fechou os olhos e virou-se para o lado, acomodando-se melhor na cama. Ele devia estar muito cansado por causa da luta do dia anterior mesmo... como podia ter chegado ao cúmulo de confundir a voz preocupada e gentil de Shunsuke com a voz arrogante e cruel de Matthew?! Ele devia estar muito exausto mesmo... só podia ser isso.



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Notas finais do capítulo

Yoo minna! Teffy-chan~ desu!
É, já está todo mundo praticamente bem de novo... e o povo mal se recuperou (nem se recuperaram ainda na verdade) e a Yaya já inventou um Festival pra ir... típico dela né XP
Bom, o próximo é comigo de novo... e é o último capítulo dessa fic!!! Surpresos? Eu também, nem lembrava que já estava pra acabar '-' /apanha
Então, aguardem ansiosas pelo último capítulo dessa fic, queridas leitoras o/

Deixem reviews onegai e façam duas autoras muito felizes!!! *o*