Miguel estava sentado sobre a sacada do hotel, com as costas apoiadas em uma das pilastras. Era quase noite agora, e o dia havia sido perfeito, com o sol brilhante e a temperatura alta. Apesar disso, ninguém aproveitou o dia na praia, como deveria, afinal, tudo estava estranho, desde o teste de coragem na noite anterior.

O português olhou novamente para o ovo negro em seu colo, acariciando-o distraidamente, como se ele fosse algum filhote de gato. Forçou a memória, mais uma vez, tentando se lembrar de qualquer coisa daquele episódio, mas nada vinha à sua mente. E ele até tentou falar com algum dos outros guardiões, mas ninguém tinha nenhuma ideia sobre isso.

— Ei, o que está fazendo aí, Miguel-kun? – a voz de Shunsuke despertou Miguel de seus pensamentos, e ele quase caiu da sacada com o susto.

— Ah, oi Shunsuke… - ele respondeu, sem muito entusiasmo. Seu coração havia acelerado misteriosamente, mas ainda, Miguel não conseguia falar direito com o amigo, mesmo que não soubesse dizer o motivo para isso.

— Tudo bem com você? Anda tão calado… não quer ir caminhar na praia comigo? – Shunsuke propôs, animadamente, fingindo não ver o ovo que Miguel mantinha cuidadosamente nas mãos.

— Não, obrigado… – Miguel respondeu de imediato, voltando a ficar de pé, e se precipitando na direção oposta, ao mesmo tempo em que guardava o ovo do coração no bolso - Eu vou ver como estão as meninas – disse a primeira coisa que vinha na sua mente, e, na maneira mais simples de se explicar, fugiu de Shunsuke, sem dar a ele a chance de dizer qualquer coisa.

Antes que percebesse, o garoto já corria. Ele não sabia por que, afinal, ele e Shunsuke costumavam se dar tão bem, mas ficar no mesmo ambiente em que ele era tão sufocante que Miguel sentia que não podia nem respirar direito. E não saber o motivo para tudo isso era ainda mais perturbador. Parando em frente ao quarto de Stéffanie e Anna, ele bateu, e assim que ouviu uma voz, abriu a porta.

Lá dentro, estavam todas as garotas reunidas, já usando pijamas. Anna estava deitada de bruços em sua cama, abraçada ao travesseiro, Utau fazia tranças em Stéffanie, e Amu sentada no chão lia um dos mangás da coleção da inglesa, enquanto Yaya comia doces, e Rima escolhia um filme para assistir. Era como uma festa do pijama… mas nenhuma delas parecia muito animada na verdade.

— No! – Stéffanie se ergueu, com apenas metade do cabelo arrumado, e apontou acusadoramente para o garoto – No quiero esto chico aqui!

— Por que? – Utau indagou – Você está brava com ele?

— Yo no sé… - Stéffanie baixou o tom de voz, meio constrangida. Na verdade, ela mesma não sabia o porquê, mas não queria ficar perto de Miguel de maneira alguma. – Lo que usted quiere aquí, Miguel? – Ela indagou repentinamente, para disfarçar o momento de hesitação, cruzando os braços e olhando o garoto com hostilidade. Ele se assustou com o uso do seu nome, pois já estava acostumado a ser chamado de Micchan pelas garotas.

— E-eu, bem… só vim ver se vocês estavam bem… - ele baixou os olhos, sentando ao lado de Anna na cama, mesmo que ela parecesse aérea demais para percebê-lo ali.

— Mentira. Nem vem, que essa não cola, garoto! – Utau se pronunciou, enquanto dava um jeito de forçar Stéffanie a sentar novamente para que ela arrumasse o seu cabelo.

— A Yaya tem certeza de que aconteceu alguma coisa! – Yaya se pronunciou, com o rosto todo sujo de bolo.

— Yeah… Micchan não parecia too happy em dormir with Shun no quarto last night… - Anna observou, encarando-o – In fact, you parecia até estar evitando ele… - ela franziu os olhos.

— Hum, para observar os outros, ela é esperta, nee… – Rima, revirou os olhos, desistindo de ver filmes, já que o drama todo no quarto parecia mais interessante de qualquer forma.

— Eu não estava evitando! B-bem, é verdade que eu vim até aqui para escapar dele, mas…

— Hey, não me diga que o Shunsuke fez algum… avanço? – Amu exclamou, chocada, ainda influenciada pelos mangás que andara lendo agora mesmo.

— Waaaa~ não brinca!! É isso mesmo? – Yaya se adiantou. Stéffanie apurou os ouvidos, curiosa.

— Não! Claro que não! Vocês tem a imaginação demasiado fértil! – Miguel cortou-as, irritado – Não aconteceu nada… entre mim e ele, parem de falar disso! É só que… hm… não aconteceu nada entre mim e ele… acho que é por isso…

— Ahhh, Micchan, você quer que aconteça, é isso?? – Utau se empolgou, terminando o cabelo de Stéffanie de qualquer jeito apenas para se focar na história.

— Claro que não! Ele é meu amigo, eu não quero estragar isso… como da última vez… - Miguel suspirou, mordendo os lábios – É que… bem, acho que eu acabei me iludindo um pouco, ou algo assim… e eu sinto como se Shunsuke tivesse, eu não sei… me rejeitado! É impossível que algo assim tenha acontecido, afinal, eu nem fiz nada, mas… ah, eu não sei explicar!

— I know how it feels ... Also can not explicar como esses desenhos aqui apareceram in my sketch book… - ela disse, pensativa, com o bloco de desenhos nas mãos. Mais do que depressa, Yaya puxou o caderno dela, e começou a olhar todos os desenhos, gritando alto a cada um deles.

— Eeeei, olha esse, olha esse, parece o Micchan!! Com o Shunsuke!! – ela gritou, mostrando os tais desenho para Miguel. Ele, assim como Anna ao perceber que todos olhavam para os seus rabiscos, corou até a raiz dos cabelos.

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— C-c-como você se atreve a desenhar algo indecente como isso…?! - ele acusou, escondendo os desenhos atrás das costas

— B-but… I… I do not know how isso foi acontecer! – Anna tentou em vão formular alguma defesa. Enquanto Yaya fazia alvoroço para os próximos  desenhos , e Anna pulava na cama tentando esconder aqueles, que eram justo de Tadase, e ainda mais indecentes que o outro, Miguel agiu rapidamente, sem que ninguém visse, e guardou consigo a folha com o desenho dele e de Shunsuke.

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— Você tirou inspiração de onde pra desenhar tudo isso, Anna-chan? – Utau exclamou assombrada. Ela, assim, como os outros, não tinha como saber que na verdade todos os desenhos foram feitos durante a loucura do teste de coragem, e esses de Tadase com Kairi haviam sido especialmente inspirados pela luta que os dois tiveram.

— I d-don’t know…

— A pesar de no recordar ninguna relación entre estos dos ... No puedo dejar de pensar que algo se pasó ... q-quiero decir, nada como nesse desenho, por supuesto! Pero ... ninguém se diera cuenta de que ni siquiera hablan mas...? – Stéffanie disse, e todas concordaram, pensando nesse assunto pela primeira vez. Anna aproveitou que os ânimos se acalmaram para recolher os desenhos que sobraram e esconde-los muito bem.

— Ikuto também anda estranho – Amu começou a falar – Ele sumiu de repente, eu não vi mais ele aqui no hotel…

— Ele disse, antes de sair, que estava cansado de todos esses pirralhos… - Miguel contou sobre quando o viu no corredor, durante a tarde. Yaya fez algum comentário, mas ninguém pareceu ouvir.

— E o Nagihiko – Rima começou a falar, olhando deliberadamente para Stéffanie – saiu sozinho para caminhar, e depois voltou ainda mais mau-humorado...

— Eu percebi! – Amu concordou – Ele parecia tão distante, eu nunca vi ele assim. Alguma coisa aconteceu?

— Por qué me lo preguntas? – a espanhola se colocou na defensiva – Como se eu pudesse saber por qué ese niño está actuando estranho ... él es siempre extraño! Y lo Prin… digo, Tadase, también va muy diferente, con esa expresión de culpa Igual cuando ni ... cuando aquela otra cosa ... ya sabes, lo que pasó ... – ela indicou Anna, discretamente, e a inglesa nem se deu conta de que era dela que falavam – Él está agindo igual daquela vez. Ustedes deviam interrogar a ella, para variar…

— Anna e Tadase são bakas demais pra fazer qualquer coisa, é claro que nada aconteceu! – Rima revirou os olhos, enquanto Anna erguia os olhos dos desenhos, surpresa por ouvir seu nome na conversa, mas também sem entender nada. Yaya riu alto.

— Mais importante do que isso… - Utau ergueu-se, apontando como uma especialista em ação – Shunsuke também anda estranho!! – ela fez o garoto, que até agora mantinha-se bem quieto, pular de susto – Nee, Micchan… certeza de que você não notou? Ele está tão calado… aposto como está sentindo alguma coisa a mais por você…

— Por que vocês insistem nessa história?! – Miguel se ergueu, parecendo irritado de verdade dessa vez – Não aconteceu nada! E nunca vai acontecer! Shunsuke não pensa dessa maneira em mim e… e o certo seria eu também não pensar nele… Então, vocês, garotas! Parem de se meter nisso! Nunca, nada do que você esperam, tem chance de acontecer, entenderam bem? E, insistir nesse assunto a cada hora… isso me deixa mal, também… - ele baixou os olhos, e sem coragem para encarar nenhuma das meninas, que olhavam atônitas para ele, depois da súbita explosão, virou as costas e saiu o mais rápido possível do quarto.

— Você exagerou, Utau… - Amu falou primeiro, ainda receosa.

— Eu? Foi a Anna que fez aqueles desenhos todos! – Utau apontou.

— I’m sorry, everyone… - ela se encolheu, arrependida, mesmo que não soubesse nem como tudo aquilo havia começado.

— Isso é o que acontece quando vocês não prestam atenção na Yaya!!! – a ruiva berrou, cansada de ser ignorada pelas mais velhas durante todo o tempo.

Todas as garotas começaram a falar ao mesmo tempo, fazendo um alvoroço tão grande, que logo nem lembravam mais o início daquilo tudo. Yaya se exaltou, e atirou um travesseiro que bateu direto na cara de Utau. A cantora se irritou, jogando-o de volta, mas ele acabou acertando Anna, que caiu da cama. A inglesa pegou novamente o travesseiro, e jogou-o aleatoriamente, acertando a cabeça de Amu. Ela jogou de volta e pegou em Stéffanie, que obviamente não deixaria algo assim passar em branco, e derrubou Rima com um golpe certeiro. Amu enterrou logo depois, Rima e Anna com uma única jogada, e as duas revidaram ao mesmo tempo, caindo sobre Utau. Logo, toda uma confusão de almofadas, travesseiros, e as plumas que saiam de dentro deles voando, havia se formado pelo quarto.

As garotas ainda estavam irritadas pelos acontecimentos dos quais nem se lembravam, e qualquer fagulha era o suficiente para começar um incêndio inteiro, com os humores daquela forma. Já não queriam mais brigar com os travesseiros, e depois de se darem conta de que alguém teria que explicar aquela bagunça toda, nem conversar umas com as outras queriam mais; as outras garotas voltaram para seus devidos quartos e foram todas dormir de mau-humor naquela noite, com penas nos cabelos, e uma total falta de animação.

Enquanto elas ainda brigavam com os travesseiros dentro do quarto, Miguel estava parado no corredor, sem saber para onde ir. Não podia voltar para junto das garotas… e ficar com os meninos, no estado de ânimo em que eles se encontravam, era desanimador, além de aborrecido. Nem mesmo com Shunsuke, que costumava ser seu bote de salvação nessas situações, ele poderia ficar agora. Era difícil não se encaixar em lugar nenhum dessa forma…

— Ei, o que está fazendo aí sozinho, Miguelzinho…? – a voz escandalosa da sua Chara podia ser ouvida a quilômetros de distância. Grace então apareceu, voando com outros Shugo Charas, que pareciam muito animados, a despeito do estado de espírito dos seus donos.

— Só pensando. – ele respondeu evasivamente.

— Pensando em queeeem? – ela insistiu, com um sorriso malicioso.

— Estava pensando que eu não tenho nenhum lugar para ir agora… Não posso estar com as meninas, e não quero ir lá com os meninos… isso é complicado… – ele bagunçou os já desalinhados cabelos castanhos. Em resumo, aquele era o grande problema da sua vida. E não se referia apenas a quartos de hotel.

— Ah, não se preocupe! – Temari disse, gentilmente – Você, algum dia, irá encontrar o lugar ao qual pertence. Eu sei que o seu problema não se parece com o do Nagihiko, mas eu sei que, assim como ele fez um dia, você tem que escolher entre dois caminhos muito diferentes. Há o caminho que você deseja seguir… mas o outro lado, parece tão mais fácil… não é? – a pequenina sorriu, e Miguel abriu a boca, assombrado com o poder de adivinhação dela – Apenas… deixe o tempo decidir por você, não há por que se apressar, e você pode ser que você deseja ser!

— Hm.. obrigado – ele riu sem graça, depois de receber conselhos de uma garotinha que tinha menos de 20 centímetros de altura – Você está certa, mas… bem, acho que temos problemas maiores por hoje. Por exemplo… vocês devem ter notado, não apenas eu, mas ninguém por aqui anda muito bem, certo? Estão todos tão… irritados, uns com os outros. Eu sei por que também me sentia assim, quero dizer… vocês acham que tem algo de errado? – ele indagou para os Charas, visto que a maioria deles estava ali.

— Eu não sei… mas nós deveríamos fazer algo para ajudar então, não é? – Eru, que estava mais perto, esperando para também aconselhar Miguel, por que adorava esse tipo de coisa, falou antes – Alguém tem alguma sugestão?

— Que tal fazer planos para a dominação mundial? – Kiseki foi o primeiro a se prontificar, mas ninguém deu bola para ele – Bando de plebeus sem visão…

— Um desfile de moda! – Grace sugeriu, animada.

— Leer libros… - Setsuna disse, timidamente.

— Desenhar! – Miki e Peach bradaram em uníssono, animadas.

— Deveríamos fazer um bolo juntos, desu~-  Suu disse, com um sorriso.

— Eu sugiro uma disputa limpa, em duelos, para resolver as diferenças – Musashi disse polidamente, ajeitando os óculos.

— Vamos apenas brincar de alguma coisa!! – Pepe choramingou, exigindo um pouco de atenção.

— Eu acho que seria mais legal fazer um jogo! – Daichi disse, falando alto para atrair a atenção de todos.

— Sim, um jogo! – Rhythm incentivou, excitado – Nada melhor do que esportes para aliviar a tensão, e refazer amizades!

— Yeeey! Isso vai ser demais! – Ran chacoalhou seus pompons, ainda mais animada para isso.

— Sim… um jogo… com os garotos suados… sem camisa… huhuhuhuhu – Grace riu perversamente, e Miguel revirou os olhos, mantendo a Chara ruiva bem segura na sua mão antes que ela começasse a falar besteiras demais.

— Certo, eu não vou negar que essa parece uma boa ideia – Miguel começou, aflito que alguém do hotel (ou Shunsuke) pudesse aparecer naquele corredor e pegá-lo “falando sozinho”. Seria terrível… principalmente se fosse Shunsuke. – Vou sugerir isso para os garotos, amanhã… quer dizer, se eles quiserem me ouvir, né… estão todos tão chatos, que acho que não vão querer sair nem da cama… Enfim, melhor irmos dormir logo, está ficando tarde…

Miguel deu as costas para os outros Charas, levando Grace na mão, sem ver eles se distribuírem em seus respectivos quartos. Na verdade, queria apenas ir logo para a cama, e assim, poderia fingir que estava dormindo quando Shunsuke viesse, e evitar qualquer constrangimento. Esse era o seu grande plano para resolver problemas. Se os ignorasse por tempo suficiente, talvez eles sumissem, ou se resolvessem sozinhos, era o que ele costumava pensar.

Mais uma vez, o dia nasceu na praia, prometendo muito calor e nenhuma nuvem no céu. O sol já brilhava forte, mesmo sendo tão cedo, e como prometido, Miguel propôs a todos jogar alguma coisa na praia naquele dia. Ninguém parecia muito motivado, mas como os Charas insistiram, acabaram cedendo.

Novamente, uma discussão se formou em torno da escolha de o quê jogar. Shunsuke não se meteu naquela briga generalizada, sentindo uma tênue e quase inexistente sensação de dever cumprido, por ter conseguido separar os guardiões, em termos. Essa sensação, que deveria ser prazerosa, ficava quase que completamente encoberta pela desanimação, e talvez até mesmo um pouco de culpa, por que daquela maneira, ele também estava estragando as suas próprias férias.

Continuando com a discussão naqueles ânimos exaltados, os jovens guardiões só conheciam o volume de voz alto, e o mais alto ainda, e foi aos gritos, que a decisão de jogar vôlei acabou vencendo, afinal, era a única coisa que todos podiam jogar juntos, na areia da praia. Depois de conseguir bola e rede de vôlei no hotel, eles começaram a dividir os times, e ficou decidido que seria garotas contra garotos. Rima faria o papel de juiz, já que era óbvio que ela ficaria parada na areia apenas deixando a bola passar direto por ela, e se desviando quando fosse acertá-la.

— E o Micchan joga com a geeeente! – Yaya bradou, agarrando-se ao braço do garoto antes que ele sequer tivesse a chance de se opor – Por que nós temos um a menos, e o Micchan é o único que pode ficar do lado das meninas… O Micchan e o Nagi, nee, mas a Yaya prefere o Micchan…

— Chega de tagarelar, sua linguaruda! – Nagihiko falou rapidamente, antes que Yaya desse com a língua nos dentes sobre o seu pequeno segredinho. – Vamos começar a jogar logo!

— Eeeei, Kukai, Nagi! Nada de trapacear!!! – Yaya agitou-se, referindo-se aos chara changes dos meninos.

— Vocês também, nada de trapacear com a Amu! – Nagihiko se defendeu.

— Eeei! Não seria mais divertido se a gente fizesse uma aposta? – Shunsuke, discretamente, propôs. A sua intenção desfazer toda a união entre os seus inimigos, ainda mais do que já havia feito, e enxergava nesse jogo uma bela oportunidade. – Que tal algo como… o time que perder, faz tudo o que o time vencedor quiser…?

— Ótima ideia, Shun-chan! – Yaya incentivou, ainda mais sedenta por confusões do que o próprio Shunsuke. Miguel bufou, cruzando os braços, por que ainda estava irritado com Shunsuke, e com a ás, que vivia fazendo insinuações sobre ele.

— Isso parece perigoso… - Amu murmurou, receosa.

Assim que as regras para o jogo e para as apostas foram definidas, as meninas, e Miguel, foram para o lado direito do campo demarcado na areia. Utau rapidamente as chamou, para o um pequeno conselho de guerra, antes do jogo.

— Nós não podemos perder para eles, okee? Vamos deixar de lado as brigas de ontem, e nos focar na vitória… - ela propôs, e todas concordaram – Não podemos deixar esses garotos nos vencerem!

— Eles têm o Kukai, o Nagihiko… o Tadase-kun não é tão ruim, e o Kairi joga bem…- Amu ia enumerando – Eu só não sei quanto ao Shunsuke…

— Ele joga muito bem também! – Miguel informou, temeroso.

— E quanto a nós? – Utau analisou rapidamente a sua frente de batalha. Stéffanie talvez até pudesse jogar bem… Miguel, talvez, mas ela não levava muita fé… agora, Yaya, e Anna… É, não havia milagre que salvasse aquele time. - Hm… certo, estratégia nova! – ela bateu palmas, chamando a atenção das garotas. – Tirem as camisetas!

— O qué? – Stéffanie indignou-se, agitando o cabelo amarrado em um rabo de cavalo longo e volumoso.

— Olha só… está bem óbvio para mim, mesmo depois de se livrar da Rima, nós não temos a menor chance de vencer isso! – Utau disse seriamente, encarando-a por trás dos óculos escuros que usava.

— Eu não vou ficar sujeita às vontades de alguém como o Ikuto, não mesmo… - Amu tremia só de pensar.

— E eu aposto como você não quer ter que obedecer ao Nagihiko também, não é Blanca-san? – Utau aproveitou para expor seu argumento – Então, essa é a minha ideia. Vamos usar nossos atributos femininos a nosso favor, e tirar a concentração desses garotos na marra. Assim, pelo menos, vamos ter alguma chance! – ela logo começou a tirar o vestido branco que usava por cima do biquíni, exibindo o corpo de idol sem nenhuma preocupação – Vamos lá, tirem vocês também!

Amu resmungou um pouco, mas começou a tirar a saia e a camiseta, deixando-as de lado também. Yaya já estava só de maiô, não que ela fosse um grande exemplo de atributos femininos ali, ainda mais com os cabelos em dois coquinhos, que a faziam parecer com um hamster… Stéffanie ainda relutou, mas ao erguer os olhos e ver o sorriso convencido de quem pensa que já ganhou no rosto de Nagihiko, enquanto ele conversava com os outros garotos, seu espírito competitivo inflou-se, e ela reuniu toda a coragem necessária para tirar o calção e a blusa que usava. Anna era a única que se agarrava ao seu casaco, com o rosto em chamas. Todas olharam para ela, esperando.

— E-eu... eu tiro my coat, if Micchan undress him too! – ela bradou, escondendo-se atrás do português. A única coisa visível eram os cabelos curtos, amarrados em duas maria-chiquinhas baixas.

— Isso, você também tem que tirar a camiseta, Micchan! – Utau ordenou – Nós precisamos do Shunsuke seduzido, você disse que ele joga bem..! – ela piscou um olho, e Miguel teria dito muitos desaforos a ela naquela hora, se não tivesse lembrado que ele mesmo sugerira o tal jogo, para fazer todos pararem de brigar, e não podia ser ele mesmo o primeiro a estragar tudo.

— Certo, certo… - ele se afastou, tirando a camiseta e revelando a pele lisa e bronzeada. Era melhor andar de bermuda do que ser forçado a usar um maiô como da última vez… e também, não era como se ninguém tivesse visto ele daquela forma antes!

 Sem mais argumentos, Anna foi obrigada a fazer o mesmo, ainda que estivesse prestes a chorar. Mesmo depois de tirar o casaco, ainda ficou encolhida atrás das costas de Miguel, com o rosto vermelho como se tivesse ficado debaixo do sol por horas.

— Agora estamos prontas! Para a luta, meninas!... e Micchan… - ela adicionou, depois do olhar severo do garoto.

Quando as garotas retornaram para a quadra delimitada, ficou bem evidente que o plano de Utau, talvez, pudesse dar resultados. Todos os garotos – e isso incluía Shunsuke, perderam algum tempo olhando para o time adversário, e quando Rima apitou, e Utau deu o saque, eles nem mesmo reagiram. Só quando Rima anunciou que o primeiro ponto era das garotas, e elas comemoraram, é que a ficha caiu.

— Droga, essas garotas estão nos distraindo! – Ikuto anunciou, mas parecia que nenhum deles conseguia ouví-lo.

— Hein? Disse alguma coisa? – Shunsuke disse, sem tirar os olhos de Miguel nem por um segundo. Não se lembrava de ele ser tão atraente assim da outra vez em que tomaram banho no lago… e essa comparação acabou desencadeando a lembrança do beijo daquela vez. Antes que pudesse perceber, já estava todo perturbado, e não bloqueou a bola que bateu direto na sua cabeça.

— Atenção! – Nagihiko gritou – Elas estão tentando nos distrair com… c-com essas coisas de biquíni – ele agitou as mãos indignado, corando furiosamente, enquanto seus olhos esquadrinhavam o corpo de Stéffanie sem nenhuma cerimônia.

— Vamos prestar atenção na bola! – Kukai berrou, bloqueando outro saque de Utau, e dessa vez, fazendo um ponto. o grito de comemoração dos garotos acordou Tadase, que estava com cara de idiota até agora. Ele corou furiosamente, forçando-se a desviar o olhar da distraída Anna, que estava observando os pássaros no céu, e nem se lembrava mais que estava em um jogo.

Foi a vez dos garotos sacarem, e Ikuto fez isso com facilidade, apesar parecer que ele não estava se esforçando nem um pouco. A bola girou, e foi direto na direção de Anna, mas ela estava distraída olhando para os passarinhos, e quase não a viu a tempo. Mas, mesmo depois de ver, ela ainda não sabia o que fazer, então começou a correr para todos os lados, completamente perdida, e o ponto foi dos garotos.

— Idiota, no te distraiga! Atención al juego! – Stéffanie berrou, perdendo o controle.

— I’m sorry…

— Certo, prestem atenção!! – Utau gritou, vendo que Ikuto lançava a bola no ar mais uma vez.

A bola veio, mas dessa vez, Miguel conseguiu rebater. Kairi pulou e a jogou para Kukai, que cortou a bola. Ela teria batido direto no chão, se Utau não tivesse se jogado e salvado a bola no último segundo. Voltando ao lado dos garotos, Nagihiko tocou de volta, para o lado de Stéffanie. Ela se preparou toda, fazendo pose para rebater em uma manchete, mas na hora… a bola bateu bem do seu lado, e ela nem teve tempo para defender.

— Y-yo sólo no estaba… p-preparada en esta hora! – ela justificou, jogando os cabelos para trás. – Na procima… yo consigo!

Com um sorriso convencido, Ikuto sacou mais uma vez. Indo direto para Amu, que tocou para Yaya, e surpreendendo a todos, a bola bateu no chão, fazendo ponto para as meninas.

— Yeeeeeeeyy!!! A Yaya conseguiu! É o primeiro ponto da vida da Yaya, que emoção!! – ela comemorou, obviamente surpresa pelo seu feito.

— Três para os garotos, dois para as meninas – Rima entoou, sem nenhuma emoção.

Miguel se apressou para sacar, e a bola foi para Nagihiko, que jogou de volta para Shunsuke, e então para Tadase, que estava na rede, cortar. Ele pulou, pronto para bater na bola com toda a força, e antes que pudesse perceber, acertou Anna, que estava logo a sua frente do outro lado, direto na cara.

— Oh, meu Deus, o que eu fiz! – ele correu ao socorro da garota, . Ela caiu sentada no chão com os olhos girando, e com os óculos caídos, e parecia muito tonta. – Você está bem, Lewis-san? Me perdoe, eu não quis machucar você, por favor! – ele dizia, enquanto segurava-a nos braços. só então pareceu perceber o fato de que ela estava apenas de biquíni, e ele a abraçava de forma direta agora, mas a culpa por tê-la machucado era ainda mais do que esse detalhe – Me desculpa…

— It’s all right, Prince Charming… - ela balbuciou, tentando encontrar os óculos do chão, já que não enxergava mais do que borrões sem eles. Na sua testa, havia uma enorme marca de bola, bem vermelha. Tadase, sem muito jeito, conseguiu coloca-la de pé, e segurando os óculos dela na mão, conduziu-a até um canto onde estavam as cadeiras, debaixo do guarda-sol.

— Continuem sem nós! – Tadase gritou de volta para os outros – Eu vou cuidar da Lewis-san…

— Ok!! Cuida bem da princesa, Prince-chaaaarming!!! – Yaya cantarolou, deixando Tadase corando até as orelhas. O jogo recomeçou, mas eles já não prestavam mais atenção.

— Deixe-me ver… - Tadase ergueu a franja de Anna com uma das mãos, delicadamente, examinando a marca que estava em toda a cara dela – Seu nariz está doendo? – ele desceu a mão até o nariz da garota, tentando ver se estava fraturado.

— No, i’m fine, is true! – ela murmurou, corando furiosamente ao sentir os dedos suaves de Tadase examinando todo o seu rosto. – My glasses estão inteiros, so, it’s fine.

— Eu não queria acertar você, me desculpe, Lewis-san… - ele voltou a lamentar, sem coragem para encará-la diretamente.

— I told you, não precisa se desculpar, eu estou bem! – ela sorriu, tentando tranquiliza-lo. Ele tentou sorrir de volta, sem muito sucesso, e com todo o cuidado, colocou os óculos de volta no rosto da garota.

— D-demo… eu sinto que devo me desculpar por mais do que apenas isso, e-eu… - ele se atrapalhou – Q-quero dizer, parece que eu fiz algo muito errado, que não deveria fazer em hipótese alguma, mas não consigo pensar no que possa ser… Eu fiz algo que te incomodou, Lewis-san? – ele indagou, temeroso.

— E-eu não acho… I m-mean… don’t remember nothing que o Prince Charming tenha feito, que eu não gostasse… - Anna respondeu, meio confusa.

— Yokatta…Bem, eu não estou com muita vontade de voltar a jogar… dakara… você não quer um sorvete?

— But, I don’t have my money now…

— Está tudo bem, eu pago para você! É o mínimo que eu posso fazer, depois de acertá-la com uma bolada…

— Sendo assim, I think it's okay… - Anna sorriu, ajeitando os óculos na fonte do nariz que ainda doía um pouco. Tadase sentiu seu coração agitando-se somente com aquele gesto simples, e mais uma vez, ele tomou consciência completa do fato de a garota estar vestindo apenas um biquíni. Mais do que imediatamente, correu para o quiosque ali perto, apenas para disfarçar todas aquelas reações estranhas que andara tendo.

— Não está dando certo… - Shunsuke, bufou para si mesmo, vendo ao longe Tadase e Anna conversarem tranquilamente, enquanto no jogo, Stéffanie finalmente conseguira fazer um ponto em Nagihiko, e agora vangloriava-se; Kukai havia ido correr atrás da bola que voara para longe, com um dos saques “Jornada às estrelas” de Ikuto, e agora o neko e Utau riam e se lembravam de quando eram pequenos e jogavam bola, e Tadase sempre acabava chorando. Yaya adorou ouvir isso, e começou a pedir por fotos de Tadase criança. Nagihiko logo se interessou nessas fotos, para aumentar a coleção que ele usava para chantagear, embora ela não estivesse sendo muito usada ultimamente. Talvez, ele pudesse vender essas fotos para Anna, e conseguir dinheiro para uma nova bola de basquete…

Vendo que os guardiões conversavam novamente, e pareciam estar superando as diferenças mais uma vez, Shunsuke se viu na obrigação de formar outro plano, antes que eles ficassem unidos de vez. Discretamente, mandou uma mensagem por celular para a pessoa que tinha acesso ao controle dos batsu-tamas.

— Ei, eu vou comprar bebidas para todos! – ele anunciou, acenando, e saiu correndo na direção oposta antes que Kukai retornasse com a bola.

Miguel ficou o observando se afastar, com aquele pensamento incomodo de irritação quase passando. Desejou ter ido se oferecer para ajuda-lo com as bebidas, quando se lembrou da conversa na noite anterior com as garotas. Bem, era melhor não misturar as coisas… e talvez, manter-se afastado por um pouco, atenuasse aqueles sentimentos conturbados de uma vez.

—… Vocês acham que ela me pagaria em libras…? – Miguel só ouviu metade da conversa de Nagihiko, que estava discutindo com Yaya sobre dividir os lucros, e vender também os vídeos que ela tinha de Tadase em várias situações diferentes.

— Olhem! – Kairi disse subitamente, alarmado, apontando para o céu – Tem uma nuvem negra se aproximando!

— É um bando de pássaros? – Kukai sugeriu, tentando enxergar alguma coisa.

— No! Son los huevos negros!!! – Stéffanie foi a primeira a distinguir.

— Onde estão os Charas?? – Nagihiko olhou ao redor, mas não havia nem sinal deles.

Antes que pudessem reagir apropriadamente, os Batsu-tamas chegaram, dando um voo rasante pela areia da praia, rasgando a rede de vôlei, e acertando todos os guardiões, inclusive Anna e Tadase, que haviam corrido para perto assim que avistaram o bando ao longe.

Por trás dos batsu-tamas, que agora voavam em círculos ao redor dos guardiões na praia deserta, outra enorme sombra se assomava. Com um arrepio agourento, e o coração se acelerando inexplicavelmente, Miguel foi o primeiro a reconhecê-lo, erguendo-se de pé antes dos outros, para encará-lo diretamente. Era Matthew, mais uma vez, com sua esvoaçante capa negra, e o capuz que cobria completamente seu rosto. Seus olhos brilharam, e um sorriso de escárnio se formou.

— Sentiram minha falta, my sweethearts? – ele cantarolou, com a voz alterada pelo sotaque, e pela forma diferente da entonação. Todos os guardiões se levantaram, rodeados pelo muro de ovos negros, fitando o vilão com ar de desafio. Os Shugo charas ainda não haviam aparecido. – Eu senti a de vocês, não sabem o quanto! Well, well, acho que não gosto muito de reencontros melosos, não faz meu estilo. Então… vamos brincar?