Aquela casa abandonada no meio da floresta há sabe Deus quanto tempo, provavelmente não via uma agitação tão grande quanto essa há muitos anos. Com absolutamente todos os Guardiões no Chara Change, não poderia acontecer nada mais do que reinar o caos sob aquele lugar. E era exatamente isso que estava acontecendo agora. Tadase havia se irritado com Kairi por atrair a atenção de Anna (ainda que involuntariamente) e agora cismava em desafiar o mais novo para um duelo.

– Não acho uma boa idéia duelar com o senhor, meu Rei, eu não quero te machucar - Kairi falou um tanto convencido, ajeitando os óculos com uma das mãos
– Me machucar?! Há! Não seja convencido, Ex-Valete! O único que vai se machucar aqui é você! - Tadase bradava, apontando acusadoramente para o garoto de óculos - Você pagará caro por ter roubado a atenção da minha Princesa!
– Bem, já que o senhor insiste.... então vamos lá - o mais novo acabou cedendo, e ergueu sua espada em posição, pronto pra atacar. Tadase ergueu a Royal Sword, e bloqueou o golpe do samurai quando este o atacou, uma, duas, três vezes. O loiro até que estava conseguindo se defender muito bem dos ataques de Kairi, mas estava tendo dificuldades em contra-atacar - Desista, Majestade, o senhor jamais será páreo para um samurai de verdade em um duelo! - Kairi bradava, atacando com cada vez mais força, aparentemente se empolgando com o duelo
– Não seja ridículo! Um Rei nunca desiste de nada, ouviu bem?! NUNCA!!! - Tadase se irritou com a provocação dele e, colocando um pouco mais de força na espada, conseguiu finalmente contra-atacar. Kairi recuou alguns passos com o impulso do golpe, mas aquilo só pareceu deixá-lo ainda mais empolgado com a luta.

Enquanto os dois duelavam, Anna tinha obviamente perdido sua atração principal, já que Kairi tinha se afastado de Kukai, e agora tentava desenhar os dois duelando. Ela até que estava se saindo bem, considerando que os dois se moviam tão rápido, e ficava gritando coisas como "Kyaaa amazing!" ou "It's so cuuuuute!" enquanto movia o lápis na velocidade da luz.

Perto dali, Ikuto tinha enfim conseguido se livrar de Yaya, e agora estava perturbando Amu, querendo dormir no colo dela. A garota se assustou tanto com o a fato de ter um gato gigante lhe agarrando que jogou seus pompons de líder de torcida para o alto, fazendo eles voarem até irem parar do outro lado da sala. Rima agarrou os pompons da garota e agora fazia malabarismos com eles, enquanto tentava se equilibrar em uma perna só. Yaya tinha enfim localizado seu "brinquedo gigante" e, aparentemente gostando da idéia dele, resolveu ir pedir colo pra Amu também. Miguel tinha resolvido apelar pra uma nova tática, e tentar fazer ciúmes em Shunsuke agarrando o primeiro garoto que encontrasse à sua frente, que no caso era Kukai. Ele pulou em cima do ruivo, que deixou a bola de futebol cair com o susto, e se pendurou no pescoço de Kukai em um apertado abraço, enquanto o Valete Vagal reclamava por Miguel ter atrapalhado enquanto ele tentava fazer mil embaixadinhas.

Enquanto isso, do outro lado da sala, Nagihiko tinha encurralado Stéffanie contra uma parede, e cismava em ficar cada vez mais próximo, não importando o quanto ela resistisse.

– Q-Q-Qué estás haciendo, niño tonto... e-está me atrapalhando! - ela reclamava, procurando por uma brecha para fugir dos braços dele e poder voltar a escrever, mas não havia nenhuma, pois Nagihiko a tinha prendido com os dois braços contra a parede
– Eu já te falei. Não vou ficar preso na zona de amizade, de jeito nenhum! - ele exclamou de volta, se aproximando mais alguns centímetros
– Pero que rayos eres esta "zona de amizade" afinal?! - a garota gritou, tentando inutilmente escapar. De repente, arregalou os olhos, parecendo compreender tudo em poucos milésimos de segundo - Espere... usted está hablando que... esto eres como cuando una persona quieres ser mais do que amigo de outra persona, mas esta segunda persona só vê a primeira como amigo?
– Ah.... é, basicamente isso - Nagihiko surpreendeu-se que ela tivesse acertado
– Kyaaaa essa é una ótima idéia pra un libro!! Seria como aquello típico casal hermoso, en que una de las personas es meio tonta e não percebe él amor de la outra persona, não importa o que ella haça! – ela gritou com voz aguda, sem perceber que havia acabado de chamar a si mesma de tonta, avançando de repente na direção dele com a empolgação. Curiosamente, ela nem percebeu que havia enfim se soltado e agora poderia fugir quando quisesse - E... o que la persona que está supostamente presa en esta "zona de amizade" faria para que la otra percebesse sus sentimientos?
– Ah, não se preocupe... eu vou te mostrar exatamente o que essa pessoa deve fazer - o Valete sorriu de canto, segurando o queixo dela entre os dedos, com uma excelente idéia em mente.

Enquanto isso, no duelo de Tadase e Kairi, os dois haviam de alguma forma perdido suas espadas, que agora jaziam do outro lado da sala, e agora tentavam lutar apenas com as mãos nuas, só que, no entanto, pareciam mais dois filhotes de gato se engalfinhando do que garotos brigando. Nenhum dos dois jamais estivera em um briga de rua antes, então obviamente não sabiam como lutar, e moviam as mãos de um jeito engraçado, como um gato movendo a patinha querendo brincar. Ou, como diria Utau, como se fossem duas meninas brigando, um tentando arranhar o outro.

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Por outro lado, Yaya havia enfim desistido de conseguir a atenção de Amu, e agora havia convencido de alguma forma Utau a carregá-la na carcunda. A loira cantava uma canção de ninar para tentar fazê-la dormir, mas a Às parecia mais acordada do que nunca, agitando os braços no ar e cantando junto com Utau. Até que a loira tropeçou em alguma coisa caída no chão e caiu, derrubando Yaya junto. A ruiva voltou a chorar por causa do tombo, enquanto a cantora procurava pela origem da coisa que a derrubou, até que viu Kairi esparramado no chão, e Tadase arfando, visivelmente cansado, de frente para ele.

– Viu... eu disse... que iria ganhar! Nunca... nunca subestime um Rei!! - o loiro gritou, no que pretendia ser uma exclamação vitoriosa, mas estava tão cansado de brigar que parecia que só estava contando vantagem
– Nyaaaa... o que você fez com o meu chibi-samurai ~nya?! - Ikuto surgiu de algum lugar e agarrou Kairi pela cintura, colocando-o de pé, porém sem soltá-lo mesmo depois de o garoto já ter levantado. Notou que o mais novo tinha um arranhão no rosto e lambeu sua bochecha, deslizando a língua comprida até a testa (o que não era realmente necessário) e entortando os óculos do Ex-Valete - Pobrezinho, meu Valete uke se machucou... aquele Rei malvado arranhou o seu lindo rostinho, não é? Mas não se preocupe, eu vou cuidar de você ~nya!
– Saliva não cura machucados, Ikuto! - Kairi gritou para ele, mas era inútil, o neko tinha cismado em lamber sua face corada, ainda envolvendo sua cintura fina com os dois braços. Anna soltou um berro agudo quando viu aquilo, o rosto enrubescendo novamente, e começou a desenhar a cena, movendo a mão tão rápido que chegava a sair fagulhas do bloco de desenho
– É, Majestade... parece que está difícil de você conseguir a atenção da Lewis-chan - uma voz sussurrou no ouvido do loiro, e quando ele se virou, viu que era Shunsuke - Quem sabe se você fizesse o mesmo que aqueles dois, e agarrasse algum garoto, talvez ela te desse mais atenção... se bem que, no seu caso, eu acho que seria mais fácil você ser agarrado do que agarrar alguém né hahahahahaha!
– Está zombando de um Rei, plebeu?! - Tadase andou ameaçadoramente na direção dele, embora o fato de ser uma cabeça menor do que Shunsuke não permitisse que ele metesse muito medo no garoto - Não seja ridículo, eu jamais faria algo tão indigno!!
– Você quem sabe... mas que parece que a Lewis-chan está mais interessada em ver garotos se agarrando do que em você, isso parece - Shunsuke respondeu, deixando Tadase sem argumentos.

Com a discussão, nenhum deles percebeu que Anna já tinha parado de desenhar Ikuto e Kairi (ela tinha terminado um desenho complicadíssimo deles em menos de cinco minutos) e que agora Shunsuke havia de alguma forma convencido Amu e Kairi a brigarem pela atenção de Ikuto, cada um puxando um braço do neko, como se fossem duas garotinhas brigando pra ficar com a mesma boneca. Ikuto miava de dor por ter seus braços puxados em duas direções contrárias, mas ninguém parecia lhe dar ouvidos. Até que ele começou a sacudir os braços e enfim se desvencilhou dos dois mais novos.

– Ei, você não vai fugir!! - Amu e Kairi gritaram ao mesmo tempo
– Mas vocês estão me machucando ~nya! Estão querendo arrancar minhas patinhas fora ~nya?! - ele reclamou com a voz manhosa
– Então escolha um de nós! - Kairi bradou
–

Sim

, escolha! Qual de nós você prefere Ikuto?? - Amu acrescentou
– Ahn... eu.... etto... e-eu escolho... - o mais velho hesitou, sem saber o que responder. Até que uma lâmpada invisível se acendeu sobre a cabeça dele, lhe dando uma súbita idéia - Escolho os dois ~nya!!! - Ikuto agarrou os dois mais novos, envolvendo as cinturas de ambos com os braços
– Os dois não pode!!! - Amu e Kairi voltaram a gritar em uníssono.

Do outro lado da sala, Nagihiko continuava com sua "demonstração de como sair da zona de amizade", e de alguma forma havia conseguido convencer a espanhola de que era uma boa idéia enlaçar sua cintura com os dois braços e encostar a boca no pescoço dela como parte da demonstração sobre o que fazer pra sair da zona de amizade.

– E-Ei, Nagihiko... n-não acha que está... exagerando com esto?– a Rainha estrangeira indagou, o rosto enrubescendo cada vez mais conforme ele se aproximava
– Ah, não acho não... se você quer escrever sobre isso, então precisa saber direitinho o que fazer pra poder sair da zona de amizade - ele sussurrou no ouvido dela, deslizando os lábios pelo pescoço da garota em seguida e beijando o local
–- Kyaaah! - a espanhola deixou escapar um ruído estranho ao sentir aquilo e tampou a boca com as duas mãos, tardiamente - J-J-Já chega de esto, yo já compreendi o que se debe hacer, entonces pode parar por aí! - ela tentou empurrá-lo para longe, mas o garoto não parecia querer se afastar
– Ah, não, eu não terminei ainda... na verdade a demonstração está só começando - ele a empurrou contra a parede, tornando a encurralar a garota
– Y-Yo já hablei que já entendi... n-não precisa mais hacer estas cosas vergonzosas!– ela o empurrou com mais força, fazendo com que ele recuasse apenas um passo, o que não fazia muita diferença na distância entre eles
– E eu já te disse que ainda não terminei - ele avançou novamente, fazendo a garota ofegar com a proximidade
– Me solte, niño incómodo... está me molestando!– ela o empurrou com as duas mãos, com anda mais força, no entanto nem assim o Valete recuou
– Ahh sim, você vai ver o que é "molestar".... - ele deu uma risadinha estranha, usando o outro sentido da palavra.

Nagihiko aproximou ainda mais seu rosto do dela, no entanto, antes que atingisse seu objetivo, Miguel pareceu surgir do nada e pulou em cima do Valete, pendurando-se no pescoço dele.

– Nee, Nagi-chan... o Shunsuke não me dá atenção, não importa o que eu faça! Me ensina como sair da zona de amizade também, por favoooor?? - o português pediu com os olhinhos brilhantes, fazendo um adorável biquinho. Quem fosse mais atento veria até estrelinhas piscando atrás dele
– Me solte, Miguel, eu estou ocupado! - Nagihiko tentou se desvencilhar, mas o estrangeiro era mais forte do que parecia
– Não solto até você me ensinar! - Miguel teimou - Eu sou um Rei também, esqueceu?! Então você deve me obedecer, como um bom Valete!
– Você pode ser Rei lá em Portugal, mas aqui é só um uke metido! - Nagihiko berrou, irritado por ter sido interrompido, tentando afastar Miguel de si com as mãos - Anda, me solta logo, você está me atrapalhando!
– Mas a Stéffanie não estava te dando a menor bola mesmo, então que diferença faz?! Vamos, deixa essa garota magricela pra lá e vem dar aulas particulares pra mim! Eu até deixo você lamber meu pescoço também... - ele deu uma risadinha pervertida, puxando a gola da camisa para baixo numa tentativa de provocá-lo
– Tire... suas mãos yaois... de cima dele!!! - ouviu-se um grito agudo, e Miguel assustou-se ao se ver empurrado pela Rainha estrangeira. Forçado a se afastar de Nagi, ele perdeu o equilíbrio e caiu sentado no chão, enquanto a garota ainda o mirava furiosa do alto - Muchacho atrevido com cara de uke carente... vá procurar seu próprio seme, Miguel Gonçalves!!!
–Awwwnnn... você é uma Rainha muito má! Não fica com ele pra você, nem deixa os outros "brincarem" com ele... sua Rainha egoísta, tem que aprender a dividir! Não sei nem como o Nagi-chan consegue aguentar uma garota violenta e indecisa feito você! - Miguel exclamou de volta, levantando-se. Ele encarou a espanhola por vários segundos, que sustentou o olhar dele, até que o garoto deu de ombros e resmungou - Também, eu não queria mesmo... pode ficar com esse Valete com cara de menina pra você, o que eu quero é um homem de verdade! - ele deu meia-volta e se afastou, à procura de uma nova vítima
– Eu não acredito que você fez mesmo isso - Nagihiko falou boquiaberto, ainda observando Miguel se afastar
– No malinterpreten!– Stéffanie exclamou antes que ele pudesse tirar suas próprias conclusões dessa cena - N-No es que estoy celosa ni nada ... simplesmente no me parece cierto que ele fizesse aquilo com você, ya que era óbvio que no le gustaba – ela resmungou a melhor desculpa em que pôde pensar, obviamente sem conseguir convencer ninguém.

Enquanto isso, Miguel tinha resolvido atrair a atenção de Shunsuke de outra forma, como dançar para ele, por exemplo. Ele havia aproveitado que Utau estava ocupada demais dando atenção para Yaya e roubou o "palco" que ela usava antes. Subiu na mesinha de centro, e começou a cantar, rebolar e dançar uma música um tanto insinuativa:

– Acordo às 4 da manhã por uma ligação
"Onde você foi ontem e com quem?" você diz
Eu só posso dar uma desculpa, evitando a verdade
Adoro ouvir você acreditando no que eu digo

"Você é o único para mim" o que isso quer dizer?
Meu corpo doí...por rir muito
você é realmente ingênuo, não é?

O gosto amargo do meu quente tempero
Só dessa vez deixarei você ter um pouco
Você ama meu gosto, eu sou intoxicante
Você sente isso no seu corpo?

http://www.youtube.com/watch?v=0JlrsbupPYY

Bem, ele havia realmente conseguido atrair a atenção de Shunsuke por alguns instantes, que por um momento fugaz se esqueceu de sua missão de semear a discórdia entre os Guardiões e tinha parado para vê-lo dançando, os olhos arregalados e a boca entreaberta, lhe dando um semblante meio tolo. No entanto, não apenas ele tinha parado para assistir a dança de Miguel, como também Anna, que agora gritava, pulava e se descabelava vendo aquilo, tentando ter o seu ataque histérico ao mesmo tempo em que desenhava o estrangeiro, por algum motivo desenhando os trajes do Chara Nari dele ao invés da roupa que ele usava agora. Logo Utau tinha percebido a dança dele também, e deixou Yaya de lado, que caiu no chão e voltou a chorar. Utau correu até onde o Rei português estava e subiu no "palco" junto com ele, formando agora um dueto, cantando e dançando junto com o garoto, sem nem mesmo precisar de ensaio:

– "Quero falar com você diretamente"
Então você ainda quer meus avanços de novo
você ainda acha que conseguira ir mais longe que qualquer outro?
Abrir a fechadura do labirinto

"Eu te amo" é o que digo para todos
É só uma tática que uso em você no jogo do amor
Que não tem como eu perder, certo?

O gosto do meu xarope muito doce
Esse que você escolheu para lamber
Pele com pele e eu sei qual o seu gosto agora
Por enquanto, isso me satisfaz

Enquanto os dois cantavam, Yaya chorava cada vez mais alto por ter sido abandonada por Utau. Rima correu até ela e começou a contar uma porção de piadas para fazê-la parar de chorar, mas aparentemente a menina não tinha entendido nenhuma, pois continuava chorando. Em um certo ponto, quando Rima tinha se abaixado para fazer o Bala-Balance, a ruiva aproveitou a chance e tentou subir em cima dela, querendo andar de cavalinho, mas como a loira era consideravelmente menor do que ela, obviamente não aguentou seu peso, e desabou no chão, junto com a Às, que recomeçou a chorar. Kukai correu até elas e por algum motivo achou que uma super demonstração de embaixadinhas iria fazer Yaya parar de chorar, então começou a quicar a bola no próprio joelho. Yaya parou quieta um instante, observando o garoto com atenção, até que resolveu que aquilo não tinha graça, e agarrou a bola de futebol enquanto ainda estava no ar, arremessando-a pra longe. A bola atingiu a cabeça de Anna em cheio, que estava ocupada demais desenhando a dança de Utau e Miguel, e não viu aquele objeto grande e redondo vindo na sua direção. Ela caiu no chão, batendo com a cabeça na quina da mesa, e permaneceu ali imóvel.

Shunsuke, que parecia enfim ter "despertado do transe" de ver Miguel dançando, teve uma súbita idéia. Aproximou-se sorrateiramente de Tadase, e cochichou para ele:

– Nee Majestade... não é a sua Princesa ali caída? - ele apontou para Anna, que permanecia imóvel no chão - Essa é a sua chance de conseguir a atenção dela! Você sabe como se desperta as Princesas dos Contos de Fada, não sabe? Como a Branca de Neve, a Bela Adormecida, e sei lá quantas outras... elas sempre acordam com um beijo do seu amor verdadeiro! - ele exclamou, fingindo estar emocionado - Então... por que você não aproveita e faz o mesmo?
– Mas essa... é uma excelente idéia! - Tadase exclamou, se empolgando - Quero só ver ela não me dar atenção depois dessa! Bom trabalho, plebeu, você é um bom súdito! Não me esquecerei disso! - ele deu palmadinhas nas costas de Shunsuke, e saiu andando a passos firmes na direção de Anna.

Se Shunsuke estivesse certo, aquela poderia ser a maior confusão da noite. Ele se lembrava muito bem de como a inglesa tinha ficado abalada da primeira vez que Tadase a beijou (ainda que tivesse sido apenas uma respiração artificial), e por um instante, tanto ele quanto os outros chegaram a pensar que os dois não voltariam a se falar nunca mais de tanta vergonha. Certamente Anna também ficaria abalada da segunda vez. E agora sim ele cuidaria pessoalmente pra que os dois não conseguissem mais fazer as pazes.

Esse era o pensamento que ruminava em sua mente, mas ele se perdeu em algum lugar quando notou que agora Miguel cantava uma música diferente, e que tinha arrancado a camisa fora, no que pretendia ser um strip-tease, e agora fazia poly dance em uma pilastra próxima à escada. Utau tinha descido do palco/mesa e agora estava tendo um sério surto histérico enquanto assistia ao show. Shunsuke acabou se esquecendo do seu objetivo principal e parou um instante pra assistir também.

http://www.youtube.com/watch?v=qgmCGZkqS1M&feature=related

Enquanto isso, Tadase tinha resolvido seguir o conselho dele. Tinha se ajoelhado ao lado de Anna, e agora a segurava em seus braços. Encarou o rosto meio corado da garota por vários segundos, como se quisesse gravar cada traço dela em sua memória, demorando-se um pouco mais nos lábios entreabertos. Inclinou a cabeça para baixo, ao mesmo tempo em que fechava seus próprios olhos, até que sentiu seus lábios encostando nos dela. De alguma forma o Chara Change forçado pareceu tornar aquilo ainda mais prazeroso. Podia sentir com perfeita precisão cada traço dela, toda a maciez dos lábios da Às estrangeira, e desejou ter mais daquilo. Tocou os lábios dela com a ponta da língua e, como ela ainda estava desmaiada, não apresentou resistência, então Tadase avançou. Explorou cada canto do interior de sua boca, que parecia muito melhor agora, sem a hesitação e a incerteza de antes. Acariciou o rosto dela com uma das mãos, enquanto a outra ainda mantinha sua cabeça erguida, enrolando os dedos em suas mechas de cabelo. Até que Anna enfim abriu os olhos. Levou vários segundos para entender o que estava acontecendo, e quando seus orbes verdes enfim localizaram Tadase tão próximo à ela, soltou um grito abafado, sobressaltando o garoto. O Rei se afastou, interrompendo o beijo, e ela também recuou para o outro lado, sem saber como reagir. E antes que ela pudesse falar ou fazer alguma coisa, Kukai havia novamente deixado sua bola de futebol escapar, e acertado de novo a cabeça da Às estrangeira. Ela caiu esparramada no chão novamente, só que dessa vez não desmaiou. Soltou uma exclamação de dor e esfregou o local dolorido com a mão, sentando-se lentamente e ajeitando os óculos em seu rosto. Olhou confusa ao seu redor e viu que todos tinham parado de agir estranho. Amu e Kairi não brigavam mais por Ikuto, Yaya não queria mais saber de nenhum cavalinho, Miguel tinha parado de dançar, Nagihiko havia desistido de assediar Stéffanie, e Rima enfim parara de fazer piadas e agora só queria saber de tomar chá. A inglesa olhou de volta para Tadase, e viu que ele também parecia confuso, e um tanto incrédulo consigo mesmo, como se não acreditasse na enorme besteira que ele mesmo tinha acabado de fazer.

– Was... it just a dream?– Anna perguntou, para ninguém em especial, começando a duvidar se aquele beijo tinha ou não acontecido. No entanto, ainda que fosse apenas um sonho, ilusão, ou imaginação de sua mente criativa, ainda assim parecia embaraçoso demais ficar perto de Tadase agora. Foi tão real.... que nem parecia um sonho

A magia do Batsu Tama havia enfim acabado, mas os estragos ainda estavam ali. Ninguém entendia como ou porque, mas agora Amu, Ikuto e Kairi estavam muito zangados uns com os outros, muito embora não entendessem o motivo. Stéffanie estava absolutamente furiosa com Nagihiko, e não queria nem olhar pra cara dele, que por sua vez, se sentia culpado, como se tivesse tentado ultrapassar algum limite, e agora nem sequer tentava insistir em ficar perto dela. Por algum motivo, a espanhola estava irritada com Miguel também, como se ele tivesse tentado roubar sua roupa favorita ou coisa do tipo. O Rei estrangeiro, por sua vez, estava frustrado e magoado com Shunsuke, como se ele o estivesse ignorando por semanas, não importa o que ele fizesse para atrair sua atenção. Yaya estava igualmente magoada com absolutamente todo mundo como se ninguém lhe desse atenção há dias. Rima estava chateada com a Às também, como se ela tivesse lhe contado suas melhores piadas, e Yaya não tivesse rido de nenhuma. Utau também estava irritada, como se tivesse feito um belíssimo show, mas ninguém tivesse prestado atenção. Tadase estava zangado com Kairi, como se ele tivesse tentado surrupiar seu brinquedo preferido ou coisa parecida, e também não conseguia sequer encarar Anna nos olhos, como se tivesse se aproveitado da inocência dela para fazer coisas imorais (o que não era exatamente uma mentira), enquanto a inglesa ainda se perguntava se aquilo tinha acontecido mesmo ou se foi apenas uma alucinação de sua mente exageradamente fértil. Se tivesse sido um sonho, ela certamente se sentiria muito culpada e envergonhada por andar imaginando tais coisas com alguém tão gentil e puro quanto Tadase. E se tivesse acontecido mesmo... ela não tinha a menor idéia do que fazer quanto à isso.

Shunsuke percebeu que o encanto de seu Batsu Tama havia chegado ao fim, e aproveitou o raro silêncio em que todos se encontravam para falar:

– Ei, pessoal... que tal voltarmos pro hotel agora, hein? O teste de coragem já acabou, então não tem mais nada pra gente fazer aqui
– Ah, sim... tem... tem razão - Tadase concordou, demorando alguns segundos para responder, pois seus pensamentos ainda estavam uma bagunça. Já tinha até se esquecido do motivo de estarem ali. Ele começou a se dirigir lentamente para a porta e, aos poucos, os outros começaram a imitá-lo. Shunsuke notou que todos estavam tão confusos que haviam se esquecido de levar o Batsu Tama que haviam capturado. Precisava alertá-los sobre isso, mas sem denunciar a si mesmo, já que ele supostamente não deveria saber sobre a existência de Shugo Charas ou Batsu Tamas
– Ei, estão esquecendo as lanternas! - ele avisou, apontando escandalosamente para as lanternas deixadas em um canto, que estavam bem ao lado de seu Batsu Tama
– Ah, é claro... como pude me esquecer dele?! - Miguel exclamou, sem nem prestar atenção no que dizia. Pegou o Batsu Tama e o colocou de volta no bolso. Percebeu só então que ainda estava sem camisa, e vasculhou o chão à procura dela, sem nem se lembrar por que raios a havia tirado. Assim que a localizou, vestiu-se rapidamente, ainda tão atordoado que nem lembrou de ficar constrangido. Pegou uma das lanternas e pensou em agradecer Shunsuke por se lembrar das lanternas, mas antes que sua boca proferisse algum som, ele mudou de idéia e continuou andando para a saída. O restante dos garotos o imitaram e pegaram as lanternas restantes também, completamente desanimados e confusos.

O grupo voltou para o hotel em silêncio, todos muito confusos e zangados uns com os outros para conversar sobre o que quer que fosse. Nem se lembraram de pensar em quem tinha vencido o teste de coragem. Sem que ninguém percebesse, Shunsuke sorria na escuridão da noite. Eles tinham ficado muito mais abalados do que o esperado... e certamente demoraria bastante para conseguirem fazer as pazes, isso se eles conseguissem se reconciliar. O poderoso espírito de equipe dos Guardiões estava arruinado, o que certamente os tornaria mais fracos diante de uma luta agora, principalmente se fosse um ataque-surpresa. Em breve, muito em breve... Shunsuke, ou melhor, Matthew, conseguiria derrotar os Guardiões de uma vez por todas.