Anna olhou para todos os que a observavam, atônitos, e seu rosto queimou em brasas. Terrivelmente embaraçada, ela se levantou. Tonta pelos movimentos bruscos, e ainda mais sem os óculos, ela saiu correndo pela praia quase caindo, passando por cima das pessoas, e destruindo castelos de areia. Ninguém sabia o que dizer, ao vê-la se afastar, e menos ainda sabia Tadase, que apenas encarava as próprias mãos, incrédulo pelo que havia acabado de fazer.

Ikuto ia soltar uma piada qualquer, mas Utau o deteve a tempo. Todos começaram a se dispersar, sem mais nada a acrescentar, cada um indo para um lado. As meninas resolveram ir atrás de Anna, enquanto os garotos ficavam para juntar as coisas. Nikaidou resolveu ir com elas, para distribuir as chaves dos quartos, já que eles ainda não haviam organizado bem as duplas que os dividiriam. Stéffanie e Utau correram até o quarto onde haviam trocado de roupas antes, enquanto Yaya, Rima e Amu ficavam para trás, para ajudar Nikaidou com as divisões, mas não encontraram ninguém lá. Correram então, de volta pra o saguão, onde os garotos já haviam chegado. Nenhum deles encontrou nenhum sinal de Anna também. Por fim, acharam que seria melhor deixar que ela se acalmasse e colocasse os pensamentos em ordem sozinha mesmo, onde quer que ela estivesse. Provavelmente a encontrariam de novo na hora do jantar, ela apareceria quando estivesse com fome.

Tentando puxar algum assunto mais descontraído para acabar com aquele clima tenso, Utau lembrou que eles ainda precisavam dividir os quartos. Depois do que aconteceu, a idéia anterior da cantora de deixar as estrangeiras dividirem o quarto com Nagihiko e Tadase foi por água abaixo, embora Yaya ainda insistisse que não havia motivo para a espanhola não ficar no mesmo quarto que o valete. Porém, quando percebeu que Stéffanie estava prestes a espancá-la por sugerir isso, logo desistiu da idéia também. No entanto Miguel não teve tanta sorte assim: Ele era um garoto afinal, e era o melhor amigo de Shunsuke e quem melhor o conhecia ali, não havia motivo para eles não dividirem o quarto. Ele protestou várias vezes, mas como não encontrava argumentos sólidos, no fim acabou aceitando sua incrível má sorte (embora, na opinião de Yaya, ele fosse a pessoa que teve a melhor sorte de todas). O resto dos quartos ficaram divididos assim: No primeiro, ficariam Utau e Yaya; no segundo Miguel e Shunsuke; no terceiro ficariam Ikuto e Kairi (claro que o mais novo também protestou infinitamente quanto a essa escolha, mas ninguém estava muito afim de dividir o quarto com Ikuto, então acabaram condenando o pobre coitado a se sacrificar pela causa maior, seja ela lá qual fosse); depois viriam Amu e Rima; no quinto ficariam os três meninos restantes, Kukai, Nagihiko e Tadase; e no último Stéffanie e Anna, isso se esta última resolvesse dar as caras, já que nem pra jantar ela apareceu. Eles esperaram o máximo que puderam, mas quando ficou muito tarde para ficarem perambulando pelo hotel, eles tiveram que se recolher, desejando boa noite uns aos outros ainda um tanto relutantes, e todos se perguntando aonde raios Anna teria ido.

Mas ninguém estava mais preocupado do que Tadase. A vontade dele era de sair correndo daquele quarto de hotel e revirar a praia de cabeça para baixo se fosse preciso até encontrar Anna. Só não fazia isso porque não tinha a menor idéia do que faria quando a encontrasse. Mesmo agora, ali sentado em seu beliche, ouvindo vagamente as vozes de Kukai e Nagihiko falando alguma coisa sobre esportes, ele não conseguia parar de pensar no que tinha feito. Como foi cometer o erro abissal de roubar o primeiro beijo de uma garota enquanto ela estava inconsciente?! Ela devia estar morrendo de ódio dele agora, com toda a certeza!! Mas o pior é que, por mais culpado e constrangido que ele se sentisse pelo que tinha feito... ele não conseguia se sentir arrependido. Claro que sabia que aquilo era necessário, certamente teria se arrependido, e por algum motivo se irritado também se deixasse que outra pessoa fizesse aquela respiração artificial no lugar dele, mas por alguma razão tinha a sensação de que foi melhor mesmo que ele tivesse feito aquilo. Lembrava-se claramente da sensação de ter aqueles lábios doces tocando os seus, tão macios, tão quentes... ele ainda podia sentir o gosto da garota em sua boca. Claro que isso só servia para deixá-lo ainda mais envergonhado de si mesmo, mas também causava uma agitação em seu peito, fazia seu coração bater mais forte, o rosto afoguear-se... era como se, de repente, ser apenas um dos amigos de Anna já não bastasse, ele queria ser mais do que isso. Só não sabia bem "o que" ele queria.

– EI, TADASEEEEEE!!! - um berro em seu ouvido despertou o loiro de seus pensamentos, que pulou para longe assustado, gritando também - Até que enfim! Tá no mundo da lua, é garoto?! - Kukai gritou, encarando-o. Pelo jeito já estava chamando ele há bastante tempo
– S-Souma-kun... não faça isso, você me assustou - ele reclamou, coçando o ouvido pelo qual Kukai tinha gritado - O que foi?
– Bem, nós queremos saber se você está bem... quero dizer, depois daquilo que aconteceu com a Lewis, você não falou mais nada o resto do dia... nós ficamos preocupados - Kukai explicou, e Tadase notou que Nagihiko estava ao lado dele, aparentemente também curioso pra saber como o amigo estava, e se perguntou quando foi que o assunto sobre esportes tinha ido parar no incidente dele com Anna
– E-Eu estou bem, não se preocupem... só estou... pensando - ele desviou o rosto, falhando miseravelmente em esconder sua preocupação óbvia
– Hotori-kun, eu acho que já te disse isso antes, mas vou dizer de novo: Você é um péssimo mentiroso - Nagihiko declarou - Sério, você é horrível pra contar mentiras, tanto que não consegue nem disfarçar o quanto é óbvio que não está nada bem com isso. Então é melhor desabafar e falar tudo de uma vez
– Está bem... - o Rei suspirou, pensando que talvez, se ele falasse sobre isso com alguém se sentisse melhor, embora duvidasse muito disso - É só que... e-eu não sei o que fazer depois de tudo aquilo que aconteceu. Lewis-san desapareceu e não veio nem jantar, ela deve ter ficado muito abalada com o que aconteceu! E deve estar... me odiando agora... - ele abaixou a cabeça até que sua franja cobrisse os olhos escarlates que transbordavam pura tristeza e preocupação
– Abalada, sim - Nagihiko concordou - Ela sofreu uma tentativa de afogamento e teve seu primeiro beijo roubado pelo Rei dos Guardiões afinal, qualquer menina ficaria abalada com isso, eu acho. Mas não acho que ela esteja com raiva de você
– Não acha?! - Tadase ergueu a cabeça para ele, surpreso
– Não, não acho. Se ela estivesse com raiva, teria te batido, te xingado, feito ameaças... você sabe, como a Blanca-san costuma fazer o tempo todo - ele exemplificou, para que o loiro entendesse mais rápido - Mas ela não fez nada disso, então não acho que ela esteja zangada com você. Apenas... deve estar muito constrangida pra aparecer na sua frente por enquanto, eu acho. Você sabe, essas coisas são bastante importantes para as garotas
– Uau... isso foi incrível, eu não teria dito coisa melhor! Por acaso isso foi a Fujisaki Nadeshiko falando? - Kukai perguntou com um sorrisinho
– Talvez - Nagi admitiu à contragosto
– Ahahahahaha isso até que é bem útil nessas horas! - riu-se o mais velho - Mas eu acho que o Fujisaki tem razão. Ela pode estar meio abalada agora, mas com o tempo isso vai passar, você não precisa ficar assim, Tadase!
– É que... o problema não é só esse... - o loiro murmurou, sentindo a face voltar a esquentar
– Hein? Então qual é o problema??
– É que... d-desde que eu... b-bem, vocês sabem... desde aquela hora, eu não consigo parar de pensar no que aconteceu... não consigo parar de ficar lembrando do... err... d-da sensação de quando eu... f-fiz o que eu fiz... e isso está me deixando angustiado! Sinto que estou deixando algo importante escapar, mas não sei o que é!
– Ehh... quer dizer que você gostou de ter beijado ela, é? - Kukai abriu um sorriso tão grande e sugestivo que poderia muito bem ser comparado ao de Ikuto
– Eu... t-talvez eu... t-tenha gostado um p-pouquinho... o Rei murmurou num tom quase inaudível, levando a sério a pergunta do ruivo sem perceber que era apenas uma provocação - Quero dizer, acho que foi melhor eu ter feito aquilo do que deixar outra pessoa fazer... se fosse o Ikuto-niisan por exemplo, ele teria acabado com ela, e isso seria um desastre! Mas eu... sinto que não é só isso... é como se faltasse uma peça pra completar um quebra-cabeça, só que eu não sei que peça é!
– Ahn... ok, isso está ficando complicado demais pra mim - Kukai falou, se perdendo no meio das comparações confusas do amigo - Você que é o especialista no assunto aqui, tem alguma coisa a dizer, Fujisaki?
– Não sou especialista em nada, se fosse não estaria nessa situação lamentável - Nagihiko bufou - Mas... eu acho que essa tal "peça" que está faltando... bem, acho que todos nós... ou pelo menos a maioria - ele olhou para Kukai de esguelha, que pelo jeito continuava sem entender do que eles falavam - já perceberam que peça é essa. Só que infelizmente não podemos te falar, ou não terá significado nenhum. Infelizmente isso é uma coisa que você precisa descobrir sozinho Hotori-kun
– Droga, vocês ficam deixando a parte mais difícil pra mim - Tadase bufou como uma criança mimada - Não tenho idéia de como resolver isso... não faço idéia nem daonde a Lewis-san está! Aposto que ela deve estar desaparecida, perdida em algum canto da praia até agora!

Nesse momento, o celular de Nagihiko começou a tocar. Ele o tirou da cômoda rapidamente e leu a mensagem. Digitou alguma coisa com pressa e enviou a resposta.

– Bem, parece que ao menos ela não está mais perdida em um canto qualquer da praia, Hotori-kun - ele falou para o loiro - Blanca-san me mandou uma mensagem. Ela acabou de voltar para o quarto.

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– Who are you calling? – a voz chorosa de Anna perguntou lá de sua cama. Não tinha nem virado o rosto para falar com a amiga, e ainda encarava a parede oposta sem expressão alguma
– Ah... n-não estava ligando para ninguém, estava solamente desligando él teléfono – a espanhola mentiu, rapidamente deixando o celular de lado. Sentou-se em sua própria cama, que ficava de frente para a da outa garota, e a encarou de um modo que ela pretendia ser disfarçado - Entonces? Usted está... bem?
– I'm fine – Anna respondeu ainda sem demonstrar qualquer reação
– Mismo? Porque usted não parece nada bem - a espanhola insistiu, começando a se irritar com aquela falta de reação dela - Quero dizer, usted fugiu depois do que sucedeu... y no és que te culpe por isso, pero... b-bem, los otros estão preocupados contigo, entonces...
– Está dizendo que você está preocupada comigo? - Anna enfim ergueu os olhos para ela, surpresa
– Y-Yo no disse esto!– por algum motivo a espanhola sentiu-se envergonhada com isso - Es só que... b-bem, las otras niñas se preocupam contigo, ellas são suas amigas e se importam com usted, sabe... y tambiém... quizá... q-quizá yo me p-preocupe... só um pouquinho... com usted... mas é só um pouco, ouviu?! Não vá ficar convencida por causa disso!
– Pff... hahahahahahaha!! - por algum motivo Anna tinha caído na gargalhada com aquilo - The Long hair Boy is right, you are so funny quando fica envergonhada!! - ela deixou escapar, e Stéffanie teve vontade de mandar outra mensagem de texto, dessa vez com uma declaração de guerra, avisando que trucidaria Nagihiko amanhã. No entanto, ela não sabia como, mas tinha conseguido fazer aquela garota que estava parecendo um robô inexpressivo até agora sorrir de novo. Talvez ela pudesse deixar passar a provocação só dessa vez
– Bién, ao menos usted sorriu de nuevo – Stéffanie suspirou derrotada, sem saber como lidar com aquela garota - Anna, por acaso... usted está enojada de Tadase?
– What?! – Anna parou de rir abrupdamente, sendo pega de surpresa com a pergunta - No, no, absolutely not! Não é que o... err... h-his kiss was... bad or disgusting... não mesmo, nada disso! N-Na verdade foi até um pouco... w-well, very... g-go-good...
– No es esto que estoy hablando – Stéffanie interrompeu o gaguejar da garota antes que ela acabasse falando algo ainda mais comprometedor - O que quero dizer é... ahn, como se habla esto... se usted está... z-ze... zing... z-zangada com ele - ela enfim encontrou a palavra certa para traduzir aquilo
– Ahh, you mean angry! – Anna exclamou - No, no realy... não estou zangada com ele, de modo algum!
– Mismo?– Stéffanie pareceu surpresa - Extraño... quizá tenga sido sólo yo – ela murmurou baixinho para si mesma, lembrando-se de quando algo parecido aconteceu com ela
– Well... I'm not really angry with him – Anna reafirmou - Sei que ele fez aquilo para me s-salvar. But... that was my f-first k-k-kiss, so... I do not know what to do
– Três - a espanhola corrigiu
– What?
– Ele fez a respiração artificial três vezes antes de usted acordar, entonces... él te beijou três vezes
– Ohh my God... – Anna caiu sentada na cama, sem forças nem para se manter em pé. Ter que conviver com o fato de que seu primeiro beijo tinha sido roubado por Tadase já era embaraçoso o suficiente, mas ter que lidar com isso três vezes era muito pior!
– Vamos, vamos, não fique assim! - Stéffanie exclamou, percebendo tardiamente a besteira que tinha falado - Quero dizer, não foi só ele quem roubou seu primeiro beijo... há una una gran posibilidad de que usted tenha roubado o primeiro beijo dele también, no es?
– I... I stole the first k-kiss of the Prince?– ela exclamou, ainda mais chocada
– Ahn... b-bem, não encare isso como se fosse uma coisa ruim - Stéffanie se apressou a dizer. Tinha pensado que isso serviria de consolo para Anna e a acalmasse um pouco, mas por algum motivo só a tinha deixado ainda mais perturbada - Quero dizer... es como una Troca Equivalente, ustedes ahora estão quites!
– Você anda assistindo animes demais, Spanish Girl – Anna falou simplesmente
– T-Talvez usted tenga razón– Stéffanie admitiu - De qualquer modo... ustedes necessitam conversar sobre o ocorrido. Durma bem e descanse esta noche, y mañana converse direito com él acerca de esto
– Yeah, I guess... - Anna deitou-se, lentamente deixando-se vencer pelo cansaço - Good night Spanish Girl...
– Sí, sí... buenas noches – a outra apagou a luz e deitou-se também, concluindo que aquela seria uma noite muito mais longa para a amiga do que para ela.

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Na manhã seguinte todos podiam sentir a tensão no ar. A maioria tentava brincar e se divertir, como se nada estivesse acontecendo, mas era claro que ninguém poderia se divertir de verdade enquanto Tadase e Anna não resolvessem essa situação. A inglesa fingia estar construindo um castelo de areia há mais de meia hora, embora aquele monte de areia molhada não tomasse forma por mais que ela remexesse nela com a pá. Depois de vários minutos pareceu enfim se lembrar de que ela estava tentando construir um castelo de areia, e deixou sua obra inacabada de lado, indo para debaixo do enorme guarda-sol de Nikaidou e remexendo na bolsa deixada ali com os brinquedos de praia, sem nem saber ao certo o que estava procurando.

– Procurando o protetor solar, Lewis-chan? - uma voz chamou de repente, sobressaltando a garota. Quando ela se virou, viu que era Shunsuke quem a chamava - Eu ia passar, mas pode usar primeiro se quiser
– Ah... t-thanks – ela pegou o frasco que o garoto lhe estendia, apesar de não ser isso que ela estava procurando. O rapaz lembrou-se das ordens que tinha recebido anteriormente, e ainda que parecesse um tanto relutante quanto a isso, sabia que era possível que estivesse sendo vigiado, então achou melhor pelo menos fingir que estava seguindo as instruções recebidas
– Nee, Lewis-chan, quer que eu passe o protetor solar em você?
– W-What?!– Anna engasgou-se com as palavras, recuando vários passos assustada. Tinha ficado com o rosto tão vermelho que parecia um camarão queimado no sol
– Você sabe, nas suas costas! - o garoto explicou - Você não deve alcançar sozinha, então pode deixar que eu passo!
– Lewis-san! - outra voz a chamou, sobressaltando ainda mais a estrangeira, que percebeu que era Tadase dessa vez. O loiro não estava com uma cara nada feliz, como se tivesse comido alguma coisa com gosto horrível, como brócolis, ou jiló, ou qualquer um dos outros legumes que ela tanto odiava - Eu... posso falar com você um instante? - ele perguntou, e por um momento ela se sentiu tão desesperada de se afastar de Shunsuke e suas investidas embaraçosas que se esqueceu do incidente anterior ocorrido entre eles, e não hesitou em correr para o lado do Rei - Sinto muito, Shunsuke-san, mas eu preciso mesmo falar com ela agora - ele falou para o garoto apenas por educação, já que na verdade não sentia muito coisa nenhuma
– Ah não, imagine! Eu vou usar o protetor solar primeiro então. Vejo vocês depois - ele deu de ombros, e Tadase se afastou, com Anna em seu encalço. Não se passaram nem cinco segundos e outra voz o chamou
– Eu vi o que você fez - Miguel falou de cara amarrada, se aproximando do amigo. Trazia em uma das mãos uma caixa contendo a gaiola com o Batsu Tama enfraquecido que eles tinham capturado, já que se deixasse só na gaiola daria muito na vista, por puro costume de andar com ele - O que pensa que está fazendo?
– Eu? Apenas sendo gentil e me oferecendo para ajudar uma amiga, oras - Shunsuke falou, fazendo-se de inocente, fingindo não reparar na caixa nas mãos do amigo que ele sabia que continha seu Shugo Tama
– "Ajudar", sei - o português falou descrente, estreitando os olhos - Também reparei no jeito como você falou com ela ontem depois que aquela garota com cabelo de croissant veio nos provocar. Eu não acho uma boa idéia você ter esse tipo de envolvimento com a Anna
– Ehh... o que é isso Miguel-kun? Está com ciúmes? - o outro provocou, sorrindo de canto
– C-Ciúme?! - Miguel repetiu, corando quase tanto quanto Anna - N-Não seja ridículo! Por que eu teria ciúmes afinal?! Eu apenas... a-apenas não acho isso uma boa idéia porque... b-bem, você sabe, o Tadase parece que gosta dela, e... acho que a Anna também... bom, eles são praticamente namorados, só que são lerdos demais pra perceber que se gostam, então não seria uma boa idéia uma terceira pessoa se meter entre eles, só iria complicar ainda mais as coisas, é por isso!
– Ah sei, então é por isso... - Shunsuke suspirou, fingindo acreditar. Olhou de esguelha de novo para a caixa com seu Shugo Tama, tão perto, e ainda assim, tão longe dele - Bem, se é assim, tudo bem então - ele desviou os olhos distraído para a direção onde Tadase e Anna tinham ido, pensando em várias cosias ao mesmo tempo. Sabia que precisava seguir as ordens recebidas, mas realmente não estava com vontade nenhuma de fazer aquilo, e se Miguel era contra, por algum motivo parecia ser uma razão ainda maior para desistir daqueles joguinhos inúteis com a inglesa - Nee Miguel-kun... por que você carrega essa caixa pra todo lado? O que tem aí?
– O que?! - o português sobressaltou-se, recuando um passo - N-Não é nada de mais, é só uma caixa
– Se é "só uma caixa", então por que não me deixa ver? - o maior avançou, tentando tomar a caixa das mãos dele, mas Miguel recuou ainda mais, sendo surpreendentemente rápido
– Eu já disse que não! Deixe de besteiras Shunsuke-kun! - o português exclamou, estranhando o repentino interesse dele por aquela caixa. Inconscientemente, fazia uma expressão como a de uma criança teimosa, que insistia em tentar proteger algo precioso de alguém obviamente maior e mais forte do que ele, o rosto meio corado mas ainda assim demonstrando determinação. E por algum motivo, na opinião de Shunsuke, aquela expressão era completamente adorável. Miguel estava tão fofo nesse momento que por instante o maior de esqueceu completamente do motivo pelo qual queria roubar aquela caixa
– Ok, ok... já entendi, não vou mais tentar pegar essa porcaria de caixa, tá bem? - ele deu-se por vencido, resolvendo que não faria mal deixar Miguel ficar com seu Shugo Tama por mais algum tempo. E se ele estava com Miguel agora, ao menos ele estaria em boas mãos - Então, Miguel-kun... já que a Lewis-chan está ocupada demais com o outro Rei... que tal eu passar protetor solar nas suas costas?
– O que??! - assim como Anna tinha feito antes, Miguel recuou vários passos, entre assustado e envergonhado, o coração acelerando perigosamente - D-Da-Daonde foi que surgiu essa idéia?!
– Hehehehe... vai saber. Apenas me deu vontade de fazer isso - Shunsuke sorriu ainda mais abertamente ao ver que sua provocação tinha funcionado, e antes que Miguel fugisse, ele o empurrou, fazendo o Rei estrangeiro deitar de bruços sobre a toalha de praia estendida na areia, e sem dar atenção aos protestos de Miguel, ele sentou-se sobre as costas dele, colocando uma perna de cada lado para impedir o garoto de fugir. Ele encheu uma das mãos com uma enorme quantidade de protetor solar, e anunciou - Agora é tarde demais pra fugir, Micchan! Prepare-se, aí vou eu!

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Enquanto isso, há alguns metros dali, em um canto mais isolado da praia, Anna e Tadase tinham se afastado dos outros. Agora que o susto causado pelas provocações de Shunsuke tinha passado, ela se lembrou do incidente ocorrido entre ela e o Rei no dia anterior, e tudo o que mais queria era cavar um enorme buraco naquela areia, se enterrar nele e nunca mais sair, mas no fundo sabia que precisava conversar com ele para esclarecer o que aconteceu, por mais difícil e embaraçoso que fosse.

– Ano... Lewis-san - Tadase chamou com a voz soprada, sobressaltando a garota - Eu acho que... q-que precisamos conversar sobre o que aconteceu ontem - ele falou o mais coerente possível, e a encarou de soslaio. Anna nada disse, apenas assentiu minimamente com a cabeça, esperando que ele prosseguisse - A-Aquilo que eu f-fiz... bem... e-eu quero que saiba que eu não tive intenção de me... m-me aproveitar de você, nem nada do tipo... você estava desmaiada afinal, e nós estávamos desesperados pra te fazer abrir os olhos. Só alguns poucos ali sabiam fazer respiração artificial, sabe, o Nikaidou-sensei sabia mas disse que seria um crime se ele fizesse algo assim em uma aluna, o que eu acho que é verdade... nenhuma das outras meninas quis fazer, é claro. Acho que o Fujisaki-kun sabia fazer também, mas parecia que a Blanca-san mataria ele de pancadas se ele tivesse feito isso... e o Ikuto-niisan também sabia, mas ele é meio... bem... e-ele provavelmente não teria nenhuma delicadeza ou consideração com você se tivesse feito isso, e com certeza tria sido bastante... err... b-bruto, e feito muito mais do que apenas o necessário, sabe, então não achei uma boa idéia deixar ele fazer. Os outros garotos não sabiam como fazer, então...
– I understand Prince Charming – Anna murmurou num fio de voz - Também sei que você jamais iria... err, as they say? A-A-Abusing me... sei que você não é o tipo de pessoa que faria algo assim. É só que... t-that was my f-first k-k-kiss, so...
– Eu sei - Tadase a interrompeu, o rosto quase tão corado quanto o dela - Sei que não devia ter roubado o p-primeiro b-beijo de uma garota assim, sem nem pedir seu consentimento antes... sei que isso foi completamente errado e i-indecente, de várias formas, e sinto muito por isso, mas... n-naquela situação, eu não sabia o que fazer! Estava tão desesperado pra te fazer abrir os olhos de novo... eu fiquei com medo... fiquei apavorado, pensando que talvez você nunca mais fosse acordar, e eu nunca mais ouviria sua voz novamente. Então eu... bem... q-quando vi, já tinha feito. E... b-bem, não sei se serve de consolo, mas... aquele foi meu p-primeiro beijo também
– Why does everyone think que isso serve de consolo?! - Anna deixou escapar, parecendo enfim recuperar a voz - Isso só me faz me sentir ainda mais culpada... you lost your first kiss was my fault! You... d-devia estar guardando para alguém especial, alguém que you like... but... for my fault, now you...
– Lewis-san, olhe pra mim - ele segurou a ponta do queixo da garota, obrigando-a a levantar o rosto e encará-lo nos olhos. Encarou os olhos chorosos dela com seus orbes escarlates, que de repente transbordavam determinação - Eu perdi meu primeiro beijo pra você, é verdade. Mas não me sinto nem um pouco triste, irritado, ou arrependido disso. Na verdade me sinto até um pouco... feliz com isso. Q-Quero dizer... bem, você é uma garota tão doce, tão meiga... até mesmo quando está com problemas, você coloca os sentimentos das outras pessoas acima dos seus. E eu não sei se é por causa do meu caráter de querer ser um Rei capaz de proteger á todos, mas... às vezes tenho a sensação de que você é como... c-como as Princesas dos Contos de Fada. Uma garota adorável e frágil, que precisa ser protegida à qualquer custo. E isso... por alguma razão só me dá mais vontade de proteger você. Eu não poderia ter perdido meu primeiro beijo para alguém melhor. Você é a única que poderia tê-lo roubado, Anna Lewis-san
– P-P-Prince... C-Charming...! – Anna parecia que ia desmaiar a qualquer momento, seu rosto tão escarlate que parecia que ia entrar em ebulição, o coração batendo tão forte que ela tinha certeza de que Tadase podia ouví-lo - So... y-you are not angry or... s-sorry for saving me?
– É claro que não! Por que eu me arrependeria de uma coisa dessas?! Se eu não quisesse salvar você, eu simplesmente não teria feito aquilo! - ele exclamou, surpreso com a pergunta da garota - E você também não está... z-zangada comigo?
– What?! Por que eu me zangaria com você? - ela indagou confusa - You save me. O que me lembra... e-eu ainda não te agradeci por isso, não é? Thank you, Prince Charming... thanks for save me – ela se esforçou para esboçar um pequeno sorriso, que foi mais do que suficiente para deixar Tadase mais aliviado
– Não tem de quê - ele sorriu de volta, meio sem graça - Então... estamos bem de novo, não é? - ele perguntou incerto
– Yes! - ela exclamou, se animando de novo aos poucos - So... can we go eat something together? Me deu uma fome de repente... - ela falou, lembrando-se de repente que, por causa do ocorrido ela não tinha jantado, e não comeu quase nada no café da manhã
– É claro. Podemos comer o que você quiser - ele sorriu de volta para a garota, sentindo um enorme alívio preenchendo seu peito, e também uma repentina compreensão. De repente tudo parecia tão óbvio que ele chegava a sentir raiva de si mesmo por não ter percebido antes. É claro que ele nutria um sentimento muito forte pro Anna, e que ia além de amizade. E de repente esse sentimento havia ganhado um nome, como se uma nuvem, que antes nublava seus pensamentos, houvesse se dissipado, e seus pensamentos estivessem se clareando aos poucos. Aquilo tinha um nome, e agora ele sabia qual era
– Hurry, Prince Charming! Come on!! – Anna chamou, a alguns passos à sua frente, estendendo a mão para ele, um sorriso iluminando seu rosto como se nada tivesse acontecido. Tadase se apressou para acompanhá-la e segurou a mão que a garota lhe estendia, feliz e um tanto agitado por dentro por enfim conseguir nomear aquele sentimento que parecia preencher seu peito desde sempre.
"Amor".