Revenge escrita por Shiroyuki, teffy-chan


Capítulo 29
Capítulo XXIX




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Miguel sentia sua cabeça latejar como se um rolo compressor tivesse passado por cima dela. Seus membros estavam rígidos e paralisados, ele sentia suas pálpebras pesadas, não abriam como ele queria. Tentou mexer alguma parte do corpo, mas nenhuma delas se movia ao seu comando. Sentiu um toque muito fraco e indistinto na testa, como se alguém estivesse passando os dedos sobre sua franja, e seu rosto formigou, reagindo ao contato. Mais uma vez, ele tentou movimentar-se, e sentiu seus dedos mexendo devagar. Aos poucos, conseguiu se tornar consciente do seu corpo, e com mais algum esforço, abriu os olhos.

A claridade que se assomava a sua frente quase o cegou por um momento, mas lentamente ele recobrou a consciência de que aquela era luz artificial, que ele estava em algum lugar fechado e já era noite. Obrigou seu corpo a se erguer, sentindo todas as suas juntas estalarem. Sua mente parecia prestes a explodir. Por quanto tempo esteve desacordado?

Olhou ao redor, movendo os olhos lentamente, pois qualquer movimento brusco faria sua cabeça estourar. Estava na sala de um apartamento, muito pequeno. O chão era coberto por tatames em tons claros, e as paredes, apesar de estarem rachadas, também eram claras. A sua frente, uma mesa baixa de madeira estava coberta por livros e cadernos. Logo ao lado, no chão, uma televisão ligada em um programa qualquer, mas sem som nenhum. Um pacote vazio de salgadinhos bem à frente.

—… Que lugar é esse…? – Miguel balbuciou, e sua fala estava arrastada e difícil. Esfregou a mão nos cabelos castanhos, tentando fazer a cabeça parar de doer, e fechou os olhos novamente, pois a luz machucava.

— Ah, você acordou! – a voz de Shunsuke o fez sobressaltar. Ele apareceu pela porta, trazendo uma bandeja com canecas fumegantes, e repousando-a sobre a mesa ao lado dos cadernos. Sentou-se no chão, a frente de Miguel – Achei que ia acabar dormindo por aqui mesmo! Nós estávamos estudando, e quando eu fui lá dentro buscar alguma coisa para a gente comer, você dormiu!

— Eu não lembro… - Miguel baixou os olhos, tentando forçar a memória. O empenho fez sua cabeça protestar mais uma vez – Quando eu vim para cá?

— Não lembra? – Shunsuke riu – Nós viemos para cá juntos, depois da escola…

— Onde está minha mochila…? – ele olhou para os lados.

— Você deixou com o Souma-san, antes de virmos. Eu disse que não precisávamos de tantas coisas… - Shunsuke completou. Aqui, tome um pouco de café, vai ajudar a despertar…

Miguel aceitou a caneca, aspirando seu aroma e tomando um gole. A cafeína o revigorou, parcialmente. Olhou novamente para Shunsuke, com aquele semblante e confuso. A única lembrança realmente nítida que tinha, era de estar no telhado da escola com ele, e depois disso, tudo era um borrão. Tinha a leve impressão de que tinha algo importante a dizer, ou a perguntar, mas nada vinha à sua memória nesse instante. Havia apenas mais uma recordação, que era forte o bastante, mas parecia mais como um sonho. Miguel fechou os olhos, enquanto mergulhava o rosto na caneca quente, e tentou lembrar com mais detalhes. Shunsuke bem a sua frente, com os cabelos bagunçados… perto… perto demais… e passando a mão pelo seu corpo… NÃO! Isso era um sonho, com certeza tinha que ser. Mas era perigoso demais continuar a ter sonhos desse jeito com seu amigo, certamente…

— Hey, Miguel-kun… - Shunsuke se aproximou, deixando de lado a sua caneca – Você está tão corado… tem certeza de que não está doente? Estou ficando preocupado…

— E-eu estou bem! – Miguel tentou parecer convincente, enquanto ficava ainda mais vermelho, e se encolhia na direção da parede. Shunsuke não acreditou em suas palavras, e se aproximou ainda mais, apoiado pelos joelhos. Ergueu a mão, encostando-a na testa do garoto. Seus rostos quase se tocavam, agora. Miguel engoliu em seco, sentindo sua mente repentinamente parar de doer, pois havia ficado em branco.

Shusuke sorriu, suavemente, deslizando a mão para o rosto do garoto, e se demorando um pouco mais por ali. Naquela posição, e com aquele semblante… parecia que ele estava prestes a beijá-lo! Porém, tão subitamente quanto se aproximou, ele voltou a se afastar. Miguel esvaziou a caneca de café, para disfarçar o nervosismo.

— Parece que não tem febre… - Shunsuke se tranquilizou, levantando-se novamente com um sorriso no rosto. Pegou sua própria caneca, agora vazia, e a de Miguel também, e se dirigiu à cozinha, que era diretamente ligada à sala.

— Acho que é melhor eu ir embora… já é tarde, e eu não sei quanto tempo fiquei aqui…

— Ah, eu o acompanho até a estação. É perigoso você andar sozinho por aqui, sem conhecer as ruas… - respondeu Shunsuke, lá da cozinha – Ainda mais… - ele voltou à sala, fitando Miguel com aqueles olhos verdes, nos quais o português nunca havia reparado realmente, e que transpareciam através das lentes grossas dos óculos. Eram tão familiares… - Ainda mais, alguém como você, Miguel-kun… mesmo sendo um garoto, é bonito demais para andar por aí à noite…

— O q-que…? – Miguel engasgou, e se não estivesse já no chão, teria caído. Seu coração acelerou, mesmo contra a sua vontade.

— Estou só brincando! – Shunsuke balançou a mão, rindo da reação exagerada do amigo – Vamos logo então, ou você perde o último trem…

Miguel levantou-se mais do que rapidamente, e acompanhou Shunsuke para fora da casa. Era um apartamento, e havia pelo menos mais três naquele andar. O lado de fora era todo de um verde doentio, e os apartamentos dividiam a mesma sacada.  Shunsuke se dirigiu direto para a escada lateral, e Miguel o seguiu, olhando para a fachada do prédio e não se lembrando de tê-lo visto antes.

— Ah, querido! – uma voz tremida chamou, era uma velhinha, com quase a metade da altura de Shunsuke que se aproximava, trajando um kimono antigo e meio puído. Trazia um pequeno embrulho nas mãos, e vinha com um sorriso para o lado dos garotos – Eu estava mesmo indo até seu apartamento. Eu fiz tempura, e estava levando para você um pouquinho – ela indicou o embrulho – A sua máquina de fazer arroz, já foi consertada?

— Ahn… s-sim, já foi, oba-chan… - Shunsuke respondeu rapidamente, aceitando o pacote que a velhinha oferecia – Arigatou…

— Ah, não é nada! E esse estrangeiro bonito, é seu amigo? – ela perguntou, curiosa.

— Sim, sim, ele veio estudar para as provas, eu estou ajudando-o com os kanjis – Shunsuke respondeu, cordialmente, e Miguel corou levemente, curvando-se de forma respeitosa à maneira dos japoneses.

— Então boa sorte para vocês, garotos. Eu vou indo – ela tornou a descer as escadas – Ah, Shunsuke-chan, você deve fechar bem a sua casa. É perigoso um garoto sozinho como você, deixar tudo aberto!

— Hai, oba-chan – Shunsuke respondeu, sorrindo novamente. A velhinha acenou, e então sumiu pelas escadas.

— Você mora sozinho? – Miguel perguntou, intrigado, enquanto voltavam a andar na direção das escadas.

— Etto… não. Eu moro com meus pais. Sim… Minha mãe, ahn… é enfermeira. Ela trabalha de noite. E meu pai… viaja muito. Por isso, a maior parte do tempo, eu fico sozinho mesmo – Shunsuke sorriu, bagunçando os cabelos da nuca.

— Ah, entendo… - Miguel olhou novamente para frente. Por algum motivo, aquele sorriso sem graça parecia esconder algo mais, e também causava certa tontura em Miguel. Talvez isso se devesse àquela estranha dor de cabeça que ele ainda sentia. Sim, certamente era por isso.

Os dois garotos finalmente chegaram à estação, e logo o trem chegaria. Shunsuke começou a se despedir.

— Espero que venha outra vez à minha casa, para brincarmos! – ele riu, com as lentes dos óculos brilhando com as luzes dos postes.

— C-claro, eu virei sempre que puder – Miguel respondeu, sem jeito.

— Nós vamos ir muito bem na prova! – ele disse.

— Vou me esforçar… - incerto, Miguel murmurou. Não se lembrava de ter estudado nem mesmo um parágrafo naquela tarde. O trem se aproximava, ao longe, com um brilho forte crescendo gradualmente. Shunsuke voltou a olhar para Miguel, com aquele seu enorme sorriso ainda.

— Matta ashita! – bradou, mais alto que o barulho do trem, e afagou os cabelos bagunçados de Miguel, carinhosamente.

— Sim, até amanhã – Miguel respondeu, se desvencilhando do toque. Ele já era naturalmente mais baixo que Shunsuke, mas aquele ato o fez se sentir ainda menor. Mas não era ruim.

Entrou no trem, quase vazio àquela hora. As portas se fecharam, e uma voz feminina indicava nos autofalantes para que estação estavam indo. Miguel acenou para o loiro, mais uma vez, e o viu se afastando, à medida que tomavam velocidade. Seu coração se comprimiu, e sua mente latejou, dolorosamente, mais uma vez. Miguel apertou os olhos, e a mão sobre o peito. Havia algo que não se encaixava. Algo que ele esquecera, e que lutava para se libertar e ser recordado. Mas o que poderia ser?

-

— Eles estão demorando em la cocina, no? - Stéffanie tentou iniciar algum assunto, incomodada com o silêncio que se formara entre eles. No escuro, ele apenas parecia mais esmagador.

— Assim como nós, eles devem ter ficado presos lá na cozinha. E mesmo que não fosse o caso, não teria como eles entrarem aqui, não é? – Nagihiko respondeu, sensatamente.

— Ah, é verdad… - ela chispou o olhar para o lado, sem mais nada para dizer.

Os dois estavam sentados em uma das mesas da ala principal, um ao lado do outro. Não havia muito que pudessem fazer, sem luz, e aos poucos, o assunto também se escasseava. Stéffanie já estava no limite de sua paciência, com os pés batendo irritadamente no chão, e os dedos tamborilando sobre a superfície da mesa. Nagihiko, pelo contrário, parecia tão calmo quanto de costume. Mais do que isso, ele ainda parecia estar apreciando a situação em que se encontravam.

Nagihiko se movimentou na cadeira, virando-se na direção de Stéffanie, e sem nenhuma cerimônia, começou a mexer em seus cabelos.

— Qué te crees que estás haciendo ? - Ela quase gritou, girando bruscamente na cadeira. Puxou os cabelos, como se Nagihiko fosse algum tipo de ladrão querendo roubá-lo. Seu rosto se coloriu fortemente, e ela não conseguiu manter o olhar de Nagihiko, aparentemente calmo demais, por muito tempo.

— Estou entediado… - ele respondeu, como se isso fosse desculpa – Só pensei que gostaria de fazer algumas trancinhas no seu cabelo… - comentou facilmente, sem se deixar abalar pelo olhar ameaçador que a garota desferia, e voltou a mexer nos cabelos azulados dela, tranquilo. Dividiu em partes menores, trançando-as delicadamente.

— Y, bueno ... esto no es extraño? No conozco nenhum garoto que le gusta hacer las trenzas ... - ela disse, com a curiosidade por aquele fato ganhando da irritação que certamente sentia. - U-usted n-no está pensando en nada estranho, está? - ela se encolheu, lançando um olhar intrigado e acusador, ainda com os cabelos entrelaçados nos dedos curiosamente hábeis do garoto.

— Claro que não, sua boba. Deveria deixar de ser tão desconfiada! – ele rebateu, e sorria para si mesmo enquanto isso – Eu só estou arrumando um jeito de passar o tempo, já que temos que ficar aqui… ah, vire-se, para eu poder fazer do outro lado…

— Pero hay que admitir que es una forma inusual de pasar el tiempo ... – Stéffanie comentou, fazendo o que ele pedia e virando para o lado. Com esse movimento, seu rosto ficava diretamente em frente ao dele, e ter os olhos dourados daquele garoto a analisando de tão perto fez toda a sua guarda cuidadosamente montada ir por água abaixo. Ela baixou o olhar, irritada consigo mesma por se sentir dessa forma.

— Você ficou muito fofa assim… - ele disse como quem comenta sobre o tempo, encarando a garota diretamente. Ela levantou bruscamente, como se a simples presença dele a sufocasse. Seu rosto parecia mais um tomate maduro.

— Deja de decir tonterías!  - ela disse, atropelando as palavras - También, que no es como usted ha hecho un gran trabajo con eso y... - ela olhou para as duas tranças, procurando alguma coisa para colocar defeito, mas não encontrando realmente nada de errado.

— Certo, certo… - ele levantou também. Não conseguia nem se preocupar com aquela reação exagerado, pois havia se habituado completamente com a maneira de ser da espanhola. Sabia que não havia modo de discutir com ela, seja qual fosse o assunto, então bastava concordar com o que quer que ela tivesse dito – Só estava querendo dizer o quanto você fica bonita quando  coopera comigo, e não fica gritando, ou atentando contra a minha vida…

—  Q-qué? Nunca fiz eso!- ela berrou ainda mais alto, batendo o pé.

— Sim, você faz. Sempre. Sempre que não consegue argumentos bons o bastante, você parte para a violência. Nunca reparou? Meu corpo já está cheio das marcas que você causou…

— NÃO HABLES COSAS ASÍ EN VOZ ALTA, ESTÚPIDO!!!!! - A voz de Stéffanie se ergueu ainda mais, e ela deu um tapa bem dado nas costas do garoto. Seu rosto agora parecia prestes a entrar em ebulição, e sua mente mal podia digerir aquela frase mal colocada de Nagi, que poderia dar margens a muitas interpretações. Ele só podia ter feito de propósito, aquele idiota!

— Viu, é disso que eu estou falando… – ele apontou para Stéffanie, que parecia prestes a perder o controle outra vez, aparentemente não sentido nenhum dos tapas que ela desferia. Ela se deu conta do quanto parecia histérica nesse momento, e se afastou. Encarava Nagihiko como se pudesse lançar lasers pelos olhos. – Será que nós não podemos ficar na mesma sala sem brigar…?

— Eres tú que me hace agir de esta manera - ela cruzou os braços, virando o rosto emburrada - Si no fuera tan irritante…

— E se você não fosse tão implicante, não é? – ele riu, parando de súbito ao ver o semblante nada amigável da garota – Tá legal, vamos parar de brigar. Quem sabe, se nós trabalharmos juntos, consigamos encontrar uma forma de sair daqui… - ele ponderou, tentando arrumar outra coisa para focar os pensamentos de Stéffanie, que, de preferência, não causasse outro desentendimento entre eles. Antes que pudesse pensar em algo, no entanto, ouviu um ronco profundo ecoar na sala silenciosa. Stéffanie corou – Você está com fome?

— Por supuesto que sí! Anna y Tadase... Eles poderiam ter se perdido después de traer la comida! Yo también no comer nada durante la tarde ...

— Aqui… - ele puxou a mochila, e entregou um pequeno embrulho à garota. Ela o abriu, contrariada, e revelou quatro onigiris, branquinhos e redondos. – Eu fiz isso hoje, pode comer.

— Isso é irritante! - ela resmungou, embora tivesse mordido o primeiro onigiri sem nenhuma cerimônia - ¿Eres bueno en la cocina, y es bueno para los deportes. Yaya me dijo que sabes dançar, y también sabe arrumar el cabello ... tiene algo que no sabes? - ela rosnou de mau-humor, terminando com o primeiro bolinho e partindo para o segundo.

— Tem sim – ele sorriu, observando satisfeito Stéffanie comendo sua comida – Eu não consigo decifrar o que você está pensando…

— O q-qué? – ela engasgou, empurrando os outros dois bolinhos de arroz para Nagihiko comer - Bueno, yo no es nada impresionante. Los niños no são muito bons em saber lo que las chicas piensan ...

— Não é isso, você não entendeu. Por vários motivos, eu costumo ser bom em entender o pensamento feminino, mas… bem, é você, especificadamente… é só você que eu não entendo. Você é um enigma para mim, Stéffanie de la Blanca…

Stéffanie inflou, embaraçada, desejando que um buraco se abrisse no chão e a engolisse. Pegou um dos onigiris, brusca e irritadamente, e tacou-o na boca de Nagihiko, obrigando-o a se calar. Ele ficava encarando-a com aqueles olhos, e dizendo coisas constrangedoras com aquela voz… desarmando-a e deixando-a sem defesas, aquele estúpido! Desde quando ele era tão… ousado?

— Cállate! - ela se afastou para longe, com um olhar de pura fúria para Nagihiko, como se pudesse perfura-lo dessa forma.

— Hai hai, eu vou parar – ele se afundou novamente na cadeira, conformado. A espanhola se afastou tanto quanto podia, no espaço limitado da biblioteca, e se escorou na beirada da janela, mirando a noite azulada através do vidro.

—  Hm ... no hay ninguna señal de Shugo Charas cerca de aquí, no? - Stéffanie abriu a janela, para tentar olhar além. A escola estava completamente deserta, e apenas a luz da lua iluminava a vista da floresta ao redor da propriedade. A cena parecia desolada e solitária. Seria o cenário perfeito para um livro de romance, ela pensaria nisso, se não fosse ela própria a pessoa a estar presa naquele lugar.

— É… eles provavelmente pensam que nós estamos ocupados… Bom, se tivermos sorte, talvez eles se preocupem e venham nos ver… Se o Rhythm estivesse aqui, eu poderia pular pela janela…

— Pero, e como eu sairia, en este caso? - ela franziu os olhos - *Acaso no estava pensando em dejarme sola, estava?*

— Claro que não. Eu a levaria no colo… – sorriu, e piscou um olho – Como uma princesa… itai! – ele sentiu um golpe bem na cabeça, que o fez se calar por um momento. Stéffanie evitava encará-lo, mas seu rosto voltara a ficar vermelho, como antes. Preferiu massagear o local ferido, antes de fazer qualquer comentário sobre esse fato, ainda que sua língua estivesse coçando para falar inúmeras coisas.

— Idiota… - ela murmurou, tentando disfarçar as sensações que a invadiram somente por se imaginar sendo carregada no colo por Nagihiko. – Si Setsuna estivesse aquí, podría escribir que nós conseguimos escapar, y entonces aconteceria. Sería mucho más efectivo * – ela bradou, com certo orgulho.

— Mas se a Temari estivesse aqui, eu iria arrombar a porta com a naginata, e então nós sairíamos tranquilamente, e de quebra salvaríamos o Tadase e a Anna. – Nagihiko deixou escapar, olhando pela janela como se desconsiderasse a presença de Stéffanie. Fazia isso mais para irritá-la, mesmo, já que era óbvio que jamais conseguiria ignorar que ela estava bem ali ao seu lado.

— Como es arrogante!!! Fica desse jeito solamente porque tiene dois Shugo charas? - ela rosnou, irritada -  Pero sabemos que no todo en la vida puede ser resuelto sobre la base de la fuerza

— Ah… você acha isso? – ele virou o rosto, tendo uma súbita ideia desvairada, e absolutamente atraente. Seus adquiriram um novo brilho, refletindo a luz da lua.

— Qué passa? - ela ficou um tanto abalada por ter sido pega por aquele olhar tão de repente, e desviando o rosto para o chão, continuou a falar - Por supuesto que acho. Creo que el conocimiento vale mucho más que cualquier otra fuerza en el mundo…!

— Mesmo? – Nagihiko riu – Vamos fazer um pequeno teste, nesse caso – ele se aproximou, e Stéffanie engoliu em seco. O olhar dele parecia perigoso, até para ela. O que pretendia fazer? – Se eu a segurar… assim… - ele tomou ambos os pulsos dela, e pressionou seu corpo contra a parede, no espaço entre as duas janelas. Stéffanie ofegou, pasma e assustada. Seu coração acelerou independentemente, sem dar ouvidos à razão. Nagihiko continuou a segurá-la, aproximando seus corpos, e inclinando-se até a altura dela. Chegou com seu rosto até quase tocar o nariz dela com o seu, e podia ver claramente, daquele ângulo, cada sinal do quanto esse gesto a perturbava. De uma maneira boa ou ruim? Era o que ele queria saber. – E então, Blanca-san? – ele sussurrou perto do ouvido dela, e sentiu todo o corpo dela reagindo, trêmulo

— S-suelta-me… - ela sibilou, querendo soar ameaçadora. Parecia muito mais com um felino, encurralado por outro animal maior e mais forte, do qual não tinha escapatória. Tentava empenhar seus braços a se desvencilharem, mas era óbvio que Nagihiko possuía mais força, e a prendia sem muita dificuldade.

— Me mostre como seu conhecimento pode salvá-la agora… - Nagihiko murmurou, abrindo os olhos para encarar profundamente os orbes azuis dela. Ela tremeu, incapaz de esboçar qualquer reação. Sua respiração, descompassada e rápida, se perdia entre as batidas aflitas do coração, que parecia querer tomar asas e sair voando a qualquer momento. Nagihiko permaneceu firme, com o rosto a menos de um centímetro de distância. O sorriso havia desaparecido, pois ele também se surpreendeu perdendo-se naquela proximidade perturbadora. Mais uma vez, sentiu desejo de encerrar aqueles poucos milímetros de uma só vez.

Stéffanie fechou os olhos com força, acuada e vulnerável. A cor que tingia sua pele tornara-se mais intensa, e suas pernas estavam bambas e inúteis. Ela conhecia inúmeros golpes de defesa pessoal, por ler livros sobre o assunto, e que poderia usar nesse momento. Mas seu corpo simplesmente não acompanhava o andar da sua mente. Tornara-se apenas uma marionete sujeita aos sentimentos comuns, e ela não sabia lidar com isso.

Nagihiko compreendeu o quanto Stéffanie estava frágil nesse momento, e decidiu que era hora de parar com aquela brincadeira. Mesmo que estivesse realmente tentado a vencer aqueles últimos milímetros que os separava, não queria que a garota tivesse medo dele, no fim das contas. Soltou as mãos dela, recuando alguns passos. Percebeu que ela parecia incrédula, ao finalmente se ver livre, e nem mesmo o encarava diretamente. Será que tinha ido longe demais?

— Gomenasai – ele disse, andando para o outro lado. Parou na frente de uma estante, como se estivesse examinando os livros dali, com as mãos nos bolsos. – Eu acabei de passar dos limites, sinto muito.

—T-tudo bién - Stéffanie deixou seu peso ceder, escorregando até se acomodar em uma cadeira próxima. Seu olhar estava estranhamente parado. Ela havia mesmo se assustado tanto assim?

Nagihiko correu até ela, preocupado. Ela não deu atenção a ele, e continuou a fitar o chão como se ele fosse realmente muito interessante.

— Ei, eu não quis te assustar, e-eu… - ele começou, incerto… era para ser apenas uma brincadeira, para calar de vez Stéffanie e fazê-la parar de reclamar sobre tudo, mas… aquele resultado não era esperado. – Me desculpe, Blanca-san, eu não devia ter feito isso!

— Deje de quejarse, chico, me está enchendo!- Stéffanie o empurrou para longe, irritada. Nagihiko sorriu fracamente. Pelo menos ela havia voltado a xingá-lo, era um bom sinal – Yo sólo tengo una pequeña sorpresa, eso es todo. No es como las cosas que usted faz me afectan de ninguna manera, no se sinta presunçoso. - ela desviou o rosto, bufando.

— Ah, claro – ele coçou a cabeça, incerto – Eu sinto muito…

— Sólo se me ocurrió estar sin preparación. Usted no debe hacer estas cosas sin preguntar antes! - ela continuou a repreendê-lo, como se estivesse dando uma lição em uma criança levada.

— E como eu deveria avisar? – Nagihiko arqueou uma sobrancelha – “Com licença, Blanca-san, mas eu estou indo beijar você…?”

— Kyaaaaa! – Stéffanie levantou de um salto, dando um chute na costela de Nagihiko, e ainda pulando para longe dele, em um único movimento. Ele caiu para trás, no chão, mal conseguindo respirar. - DEJA DE HABLAR DE ESTAS COSAS, MUCHACHO TONTO, ESTÚPIDO IMBECIL! HE DICHO QUE NO ES ESO!!

— Tá bem, eu entendi – ele tentou se reerguer, notando que o aviso anterior sobre intervenções violentas não havia dado em nada – Mas… tem uma coisa que eu queria perguntar… e, por favor, não me bate de novo!

Stéffanie o fitou de cima, intrigada.

— Bueno, hable de una vez...

— É que eu fiquei um pouco… etto, é que… b-bem… das outras vezes…

—  No fique gaguejando, chico, acaba de decir lo que quieres decir! - impacientou-se Stéffanie, chegando ao seu limite.

— Com essa sua reação… eu pensei que, das outras vezes em que eu… b-beij-

— Não diga essa palavra! – gritou Stéffanie, interrompendo-o. Ele parou subitamente, cauteloso quanto a qualquer outro golpe que poderia receber.

— Certo… da outras vezes… será que… será que foi tão ruim assim? Quero dizer… você… não gostou?

— QUE RAYOS DE QUE PREGUNTA ES ESTA?! Estás loco? No se pregunta una cosa dessas tan de repente! – ela se exaltou, parecendo prestes a explodir. Se eles não estivessem sozinhos naquele lugar, ela já teria há muito sido expulsa da biblioteca por causa dos seus gritos.

— Apenas responda, Blanca-san – ele pediu, comedido – Não é minha intenção, deixa-la constrangida, pelo contrário… eu só quero saber.

— Usted es mismo muito idiota! - ela olhou pela janela, com os braços rigidamente cruzados, e o rosto queimando em brasas. Ela tinha a intenção de negar aquele pedido, e chamar Nagihiko de todos os xingamentos que conhecia em espanhol, japonês e qualquer outra língua que lembrasse… mas a expressão que ele fazia naquele momento… era tão sincera, e suplicante. Ela simplesmente perdeu a vontade de dizer não, em algum lugar entre aqueles orbes cor-de-mel. Respirou fundo, e olhando para a paisagem descolorida de fora, baixou a voz – No es c-como ... bueno, si no lo tivesse hecho ... ah, idiota, me obliga a decir estas cosas vergonzosas! ¿De verdad crees que estaría aquí si eu tivesse odiado lo be-... aquilo!!

— Então… v-você não odiou?

— No! T-tampoco le gusta, claro que no. N ... no foi ruim, pero no era como se tivesse sido bom!! Oh, cállate de una vez estúpido!! - ela gritou, parecendo enfurecida, e prestes a chutar Nagihiko até que ele perde-se aquela pose toda. Bufou novamente na direção oposta, para que o valete não notasse seu estado deplorável.

Nagihiko aceitou aquela resposta, e até se sentiu satisfeito com ela. Segundo o que já conhecia de Stéffanie, aquilo poderia até mesmo ser promissor. Resolveu que não deveria mais provocá-la – por hoje – e sentou-se no chão, bem ao lado da janela aberta.

— Você deveria tentar dormir um pouco. Vamos ter que passar a noite aqui, de qualquer jeito, ficar acordada pela madrugada inteira só vai deixar a prova de amanhã mais difícil…

— Tem razão… - ela admitiu, relutante. Sentou em algum lugar não muito longe, nem perto demais, de Nagihiko, e abraçou os próprios joelhos. Estava óbvio que daquela maneira não conseguiria dormir de forma alguma. Nagihiko soltou o ar, revirando os olhos.

— Você só vai conseguir acordar com uma terrível dor nas costas desse jeito! – ele replicou, avançando para o lado de Stéffanie. Antes que ela percebesse, ele a segurou pelo ombro e a trouxe para si, apoiando-a em seu peito.

— O q-que estás haciendo… - ela se debateu, tentando fugir.

— Shhhhh, sem discutir. Vamos apenas dormir de uma vez. – ele impediu que ela dissesse qualquer coisa (e ela certamente tinha muito para falar… ou melhor, para berrar) e a forçou a deitar confortavelmente ali – Fica bem quietinha, eu estou com sono.

— S-seu… V-vá a me va a pagar por estoo ... - ela rosnou, com os punhos cerrados.

— Claro, claro, tudo o que você quiser. – ele murmurou, cerrando os olhos – Amanhã.

Stéffanie ficou paralisada, ainda cingida pelo braço acolhedor de Nagihiko por alguns minutos. A respiração dele havia diminuído de ritmo, e provavelmente, ele tinha adormecido. Ela ainda estava irritada por aquela atitude pretenciosa e impensada do garoto, mas… podia muito bem deixar para dar uma lição nele no dia seguinte. Até por que… ela estava com sono também. E, mesmo que fosse difícil admitir, o colo de Nagihiko era absolutamente confortável. Antes de perceber, ela já havia adormecido.

-

Tadase estava escorado na janela, pensando em alguma maneira de sair dali. Ele ainda tinha alguma esperança de que alguém visse as luzes acesas naquele andar, e viesse para salvá-los. Anna desviou o olhar dele por um momento, e olhou para o prato vazio sobre a mesa com certa melancolia. Os bolinhos que eles haviam preparado antes já tinham se ido todos, e a inglesa só conseguia pensar no quanto estava com fome agora, apesar de se encontrar em uma situação como aquela.

Tadase pareceu perceber que algo a incomodava, e se aproximou do banco em que ela estava sentada, tão discretamente que ela nem notou sua presença.

— Você está com fome, Lewis-san? – ele disse, e a garota soltou um grito agudo, desequilibrando o banco alto e indo direto ao chão. Tadase se apressou em ir ajudá-la, oferecendo a mão. – Daijoubu? Ah, Lewis-san, eu sinto muito por assustá-la… eu só percebi que você parecia precisar de algo, então…

— I’m fine, Prince Charming, really! – ela voltou a confirmar, espanando a saia pelos lados e ajeitando os óculos no rosto. — This is so… frequente, que eu já me acostumei – ela riu em graça, e Tadase não via como negar essa afirmação.

— Nós podemos preparar alguma coisa, sabe… estamos em uma cozinha afinal, não faz sentido sentir fome em um lugar como esse. – Tadase afirmou, sorrindo.

— Oh… and.. has no problem? – ela indagou, preocupada ainda que pudesse ser punida por qualquer coisa que fizesse, e ainda levasse Tadase junto.

— Claro que não. – Tadase riu da preocupação da garota – Nós somos guardiões, e podemos usar as dependências da escola sem precisar de autorização, essa é uma das vantagens – ele contou, como quem divide um segredo, e Anna arregalou os olhos, em admiração.

— So… I can preparar anything, can’t? – ela se animou um pouquinho, olhando ao redor e imaginando as possibilidades.

— Acho que sim… quero dizer, eu não seria capaz de fazer nada mesmo, então deixo tudo com você, Lewis-san! – ele afirmou com confiança, e Anna sentiu-se impelida a se esforçar. Seu desejo era unicamente agradar à Tadase, de alguma forma.

— Well… Eu participei das aulas de housekeeping in my school… you know, economia doméstica, so…  - ela se distraiu escolhendo os ingredientes na prateleira, e não terminou a frase – Ah, sugar.. flour… Chocolate drops… We can make cookies! – Ela se virou para trás, com um sorriso enorme.

— Hai! Você estudava em uma escola só para garotas, não é? – Tadase indagou, tentando imaginar como Anna era nas aulas lá na Inglaterra. Tudo o que conseguia concluir, era que ela deveria se parecer exatamente da maneira que era ali em Seiyo também. Ele se levantou, ajudando Anna a levar os produtos até o balcão – E no que eu posso ajudar?

— I… don’t know, exactly… - ela hesitou, e corou levemente – In my classes… eles não deixavam que eu fizesse tudo até o final, because always acontecia algum accident…  b-but, eu tenho certeza de que vou conseguir dessa vez! – se animou rapidamente, tentando espantar aquele sentimento melancólico. Tirou o paletó, subiu as mangas da camisa, e com a fita que antes estava no pescoço, amarrou os cabelos em um pequeno rabo de cavalo.

Tadase perdeu algum tempo admirando a determinação da garota, e só acordou dos seus pensamentos quando a ouviu chamá-lo, pedindo ajuda para abrir um saco de farinha. Ela foi então quebrar os ovos, mas eles estouraram na sua mão, e boa parte da casca acabou caindo junto. Tadase riu, sem jeito.

— É cálcio, certo? – ele tentou reanimá-la, mas ela apenas baixou a cabeça.

— S-sorry…

— Ano, Lewis-san… - ele chamou suavemente, sentando-se no banco em frente ao balcão. Fitou Anna, que nesse momento separava em uma vasilha a farinha, acabando com metade nela no seu cabelo e no seu rosto – Você disse que não a deixava participar de certas aulas… por que isso acontecia? – ele disse em voz baixa, temendo estar sendo invasivo demais.

Ela demorou um pouco para responder, pois ainda não se lembrava da quantidade certa de leite que iria na receita. Não conseguia enxergar muito bem, pois havia farinha nos seus óculos também. Depois de algum tempo, começou a falar.

— Bem… t-this is a little complicated… - ela disse, com os olhos fixos na mistura, mexendo-a com uma colher de pau – They… is don’t like eles me excluíssem ou qualquer coisa assim, but, just… por causa da minha família, bem… eles acabavam taking more care with me, treating me differently…  I mean…

— Sua família? – Tadase indagou, cada vez mais curioso. Anna parou de mexer a vasilha, parecendo perdida em pensamentos. Ela hesitou por um momento, como se estivesse analisando se seria bom dizer algo ou não. E então olhou novamente para Tadase (muito embora não enxergasse muita coisa por causa dos óculos sujos), com um sorriso fraco, como se lamentasse por algo.

— My family have a… special condition… - ela vacilou mais uma vez, temerosa. Desviou o olhar, e Tadase teve certeza de que havia algo mais, que ela não queria falar – Well… por causa disso… in the school, the girls acabavam me tratando de forma diferente. And, sometimes, diziam que eu não precisava participar…

— Ah, as suas amigas… faziam as tarefas no seu lugar, é isso…? – Tadase tinha dificuldade de entender aquela história.

— Oh… they… are not my friends, after all… - Anna sorriu novamente, como se recordasse de alguma coisa realmente dolorosa. Pareceu se lembrar do que estava fazendo, e voltou a mexer na massa dos biscoitos – Anyway, I understand… is not like eu pudesse ser como elas eram, também. I always liked de coisas estranhas, e passava meu tempo fazendo other things… - ela riu para si mesma – So… eu nunca tinha nada para conversar com elas, e elas também não pareciam muito a fim de ficar perto de mim… Algumas delas até se aproximavam, but, depois, eu acabava descobrindo que isso era only because my family…

— Lewis-san! Isso não está certo! – Tadase se ergueu, parecendo revoltado. Ele estava irritado, de verdade, com as coisas que Anna contava. Desejava, mais do que tudo, poder retirar aquele olhar triste da garota, e dar uma lição naquelas pessoas que a fizeram ficar daquela maneira. Claro que essas pessoas estariam do outro lado do mundo nesse momento, mas esse detalhe pareceu insignificante, naquela hora – Lewis-san, essas pessoas… - Tadase se acalmou um pouco, ao notar o olhar assustado de Anna pela sua atitude repentina - Essa pessoas enganaram você? É isso?

— Ah, not really… eu sempre soube que elas tinham essa intenção, então… I did not mind… - Anna voltou a sorrir, abrindo um pacote de chocolate e colocando todos os pedaços na massa – Eu nunca me importei com essas coisas de qualquer forma. You know, the condition of my family… eu nunca me encaixei in that world, at last.

Tadase a fitou, surpreso por alguns minutos. Anna reparou no olhar insistente do garoto, e deixou virar quase metade da massa, antes de perceber o que fazia. O loiro se apressou em ajuda-la, colocando de volta no pote. Ela virou de costas, rapidamente, pegando a forma, e Tadase ligou o forno, que ela havia se esquecido de ligar antes. Ele estava ainda absorvendo aquelas informações, e apesar de sentir que estava realmente sendo um tanto indiscreto, desejava poder saber mais sobre Anna. Como se tivesse ouvido os pensamentos dele, Anna continuou a falar, distraída com a tarefa de colocar a massa na forma, em forma de bolinhas.

— Er… Prince Charming... you know… – ela falou com voz baixa, e os olhos perdidos em alguma lembrança distante – Stay in this kitchen with you, de alguma forma, me traz uma lembrança feliz…  - ela olhou novamente para Tadase, limpando um lado da bochecha com as costas da mão, e ficando ainda mais suja com o chocolate – When… my parents faziam parties… Eu sempre escaped and hin, e ia para a cozinha. Eu ficava lá, com os cozinheiros, e eles me davam comida… então, eu não precisava ficar lá com toda aquela gente…  was really funny! – ela sorriu, dessa vez parecendo verdadeiramente alegre com algo. Tadase não conseguiu fazer outra coisa além de sorrir também, e ajudou a colocar a forma no forno, pois tinha certeza de que os biscoitos não sobreviveriam a viagem até lá.

— Eu fico feliz que ao menos tenha trazido uma lembrança boa para você. Sinto muito por ter feito tantas perguntas, acho que fui um incomodo – ele riu sem graça, coçando um lado do rosto.

— Oh, no, absolutely not! – Anna se apressou em dizer, nervosa - I think ... talk about these things with the prince even made ​​me happy, a little ... – ela se embaralhou nas palavras, falando em um inglês rápido que Tadase teve dificuldade para traduzir. Quando enfim conseguiu, sorriu para ela.

— Ah, yokatta… achei que você ficaria brava por eu ter sido tão invasivo…

— Of course not… - ela limpou as mãos em um pano de prato perto, e então foi para o lado de Tadase, pois ali perto do forno havia ficado realmente muito quente - How do you say this in Japanese ... uh ... Oh, yeah! – ela se lembrou, e então encarou Tadase diretamente, pronunciando devagar a palavra – U-ureshii… - ela virou o rosto para o lado, atrapalhada e em dúvida.

— L-lewis-san… - Tadase desviou o olhar, incapaz de resistir àquela figura tão doce. A tentativa de Anna havia o deixado se sentindo estranho, e ele sentia que acabaria perdendo o controle caso ficasse por mais tempo sustentado os orbes verdes e curiosos da garota. Era impressão, ou havia ficado extremamente mais quente ali? – Etto… - ele tentou pensar em algo a mais que pudesse dizer, para disfarçar aquele súbito embaraço. – Essa condição da sua família, que você diz…

— Oh, it’s nothing! If I told you, você pensaria que era a joke, so…

— Você pode me contar qualquer coisa, Lewis-san… - Tadase a encarou confiante, esquecendo-se do efeito anterior imediatamente. Com aqueles olhos vermelhos a fitando de repente, e mesmo sem conseguir ver direito, Anna sentiu algo se agitar em seu peito.

— Eu prefiro… not to tell you… for now… - ela pediu, baixando o olhar para as próprias mãos ainda manchadas de chocolate e farinha.

— Está bem, eu não vou insistir. – Tadase concordou – Mas… diga-me… a sua família, eles não se importavam com essas pessoas que deixavam você de lado na escola?

— My parents don’t know it, I think… Como eu estudava em um internato, eles não tinham como saber, and, de qualquer forma, acho que eles não se importariam tanto, is a normal thing… eles apenas diriam que eu fui imprudente, ou algo assim…  - ela coçou a cabeça, esquecendo que a mão estava toda coberta de farinha.

— Isso não parece certo… - Uma ruga se formou entre os olhos de Tadase, enquanto ele pensava no assunto.

— Don’t worry about this, Prince… não é realmente importante – Anna tentou tranquilizá-lo – And, now… eu tenho você… a-and todos os outros Guardians, que estão sempre comigo, I'm not alone anymore! I’m happy now… b-because… - a voz dela tremeu, enquanto ela falava, com um sorriso desajeitando no rosto. Seus óculos embaçaram, e ela teve a certeza de que estaria a beira das lágrimas agora. Não, isso não podia acontecer, não na frente de Tadase! Que mania chata, essa, de sempre chorar por qualquer coisa…

Ela se esforçou em disfarçar, e antes que Tadase reparasse, enxugou as lágrimas por baixo dos óculos e correu de volta para o balcão, para limpar a bagunça que havia feito anteriormente (e aquele lugar estava mesmo um caos). Antes que ela pudesse, no entanto, ouviu um estouro, e uma fumaça escura começou a sair de dentro do forno. Tadase correu até lá, munido de luvas acolchoadas, e tirou a forma fumegante de dentro, largando na pia.

— Oh, my god… o que aconteceu com os cookies? – Anna engoliu o choro e se aproximou, cautelosamente.

— Eu não sei… eles cresceram rápido demais… e não era para estarem assim tão torrados… Etto, Lewis-san… quanto de fermento você colocou? – ele arriscou, lembrando-se de quando a observara preparando a massa.

— Two tablespoons… - ela murmurou, mostrando as colheres grandes, de sopa.

— E, por acaso… a receita não pedia duas colheres de sobremesa? – ele disse, cuidadosamente, sem querer ferir os sentimentos da garota.

— I made a mistake… So sorry, eu fiz de novo… again… ah, acho que estraguei tudo…

— Não se sinta mal, Lewis-san! – Tadase bradou, sem saber o que fazer com as mãos direito – Veja bem, isso ainda não explica como eles acabaram torrados…

— E-eu… before… eu aumentei a temperatura do forno, para que assassem faster… so… it’s my fault… - ela baixou a voz até um sussurro, com o rosto escondido entre a franja. Tadase queria dizer algo, mas não sabia como consolá-la nesse momento.

Perturbada, ela voltou para perto do balcão, pensando em ao menos limpá-lo, já que a tentativa de cozinhar foi por água a baixo. Tentou pegar o saco de farinha, mas, ainda sem conseguir enxergar direito, acabou esbarrando em um dos bancos, e indo direto ao chão, caindo deitada de bruços, esparramada como uma panqueca. O piso foi tomado pela fumaça branca, que se espalhou, e por um momento, ela não conseguiu ver nada mesmo. Tadase correu ao seu encontro, espanando o pó branco com a mão, enquanto se ajoelhava na direção da garota caída.

— Você está bem, Lewis-san? – ele pronunciou a frase que já estava na ponta da sua língua, de tanto que ele a repetia. – Se machucou?

— It’s all right, eu estou bem – ela aceitou a ajuda de Tadase, ajoelhando-se no chão sobre a farinha. Soluçou, e as lágrimas que ela segurava tão bem, acabaram deslizando por baixo das lentes – E-eu sempre acabo estragando tudo… do not anything right! I’m sorry! I’m so sorry!! As minhas antigas colegas estavam certas em me deixar de lado, this time around, I just blew it ... – ela soluçou mais uma vez, e as lágrimas caíam como cascatas, sem parar. Com as costas da mão, ela tentava contê-las, mas isso só fazia com que caíssem mais – Would be better se alguma delas tivesse vindo no meu lugar!

— Não, Lewis-san, elas não estava certas… você é uma pessoa maravilhosa, e eu não trocaria você por nenhuma delas… - ele acariciou de leve a cabeça da garota. Desceu a mão vagarosamente, limpando a bochecha suja de chocolate dela com o polegar, e enxugando também as lágrimas. Ela continuava a fungar, sem conseguir parar de chorar, e em um ato repentino e impensado, Tadase a trouxe para um abraço necessário, cingindo o corpo diminuto entre seus braços desacostumados, e apoiando o rosto sobre os cabelos negros cobertos de farinha. – Não fique falando dessa maneira, isso me deixa triste também, sabia? Você é minha… a-amiga. É muito importante para mim. Eu não quero ver você chorando… - ele acariciou a garota, gentilmente.

— D-don’t hold me… - ela fungou, tentando se desvencilhar do abraço protetor de Tadase, ainda que fosse muito confortável estar ali. – I’m dirty… vou acabar sujando você também… - ela balbuciou, com a voz embargada pelo choro.

— Eu não me importo. – Tadase manteve a garota bem firme em seus braços – Você está com cheiro de chocolate… - ele contou, em voz baixa, fazendo com que Anna ofegasse, e esquecesse completamente do motivo pelo qual chorava. Ela tentou mais uma vez se soltar, embaraçada, mas Tadase não pareceu notar sua tentativa, e sentou para trás, escorado no pé da mesa, com a garota nos braços, segurando-a como um bebê. Acariciava de leve os cabelos dela, fitando distraidamente a janela logo à frente – Mou, nakanaide… não chore mais, Lewis-san… - ele murmurou, com sua voz doce, até que Anna parasse de chorar de vez, e acabasse adormecendo em seus braços.

Assim que ele reparou que ela havia dormido, levou-a até uma cama improvisada entre as toalhas de mesa, deixando-a bem confortável. Depois, andou até a pia, onde estava a forma com aquela estranha massa negra e uniforme, que ainda fumegava. Tomando coragem, pegou uma porção, tendo que quebrar com uma faca, e mordeu com dificuldade, o primeiro pedaço. O gosto não estava tão ruim, por que o chocolate ajudava a disfarçar, mas o sabor queimado ainda prevalecia. As cascas de ovo faziam ficar crocante. E ele ainda tinha um copo d’água para ajudar a empurrar. Devagar, pedacinho por pedacinho, ele comeu todo o conteúdo. Seu estômago protestava, mas ele não reclamou. Estava tudo bem, se Anna ficasse feliz por isso, quando acordasse no dia seguinte. Foi com esse pensamento, que Tadase sentou no canto do futon de toalhas de mesa, e dormiu, esperando que algum dia aquela queimação estranha na sua barriga passasse.


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Notas finais do capítulo

Yoo minna~san~ Shiroyuki deeeesu yoo nee??

Postando direto da minha cama~~ eu estou resfriada, e sem voz..., e hoje na aula, tive que mexer com tintas, então estou toda colorida também~ pintar é uma ótima terapia, eu estou muito bem-humorada agora, apesar de não conseguir respirar '-' ...

Espero que tenham gostado do capítulo, é um dos meus favoritos! Ficou enorme, eu vejo aqui '-'! E desejo a todo mundo desde já uma feeeliz pascoaa~ E que o coelhinho seja muito generoso com vocês esse ano!!


Era isso... bye bye~