Revenge escrita por Shiroyuki, teffy-chan


Capítulo 28
Capítulo XXVIII




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Mesmo depois de todos os estudantes se retirarem e a biblioteca ficar completamente vazia, os quatro Guardiões permaneciam na seção reservada, estudando para as provas. Ou pelo menos era isso que deveriam estar fazendo. O Rei e o Valete bem que estavam tentando explicar sobre o significado de cada kanji, mas suas alunas não ajudavam muito. Anna se perdia no meio da explicação de minuto em minuto, e acabava por ficar admirando as belas feições de Tadase com as bochechas coradas e olhos sonhadores, de modo que ele tinha que voltar na explicação e repetir a mesma coisa várias vezes. E, por mais dificuldade que tivesse para entender, Stéffanie não queria parecer uma tola, então fingia que entendia a explicação de Nagihiko, ainda que não compreendesse nem metade do que o garoto estava falando e consequentemente não soubesse como responder quando ele lhe fazia perguntas sobre a matéria que tinha acabado de explicar. O sol começava a se pôr do lado de fora, fazendo com que os raios que entravam pela janela deixasse a paisagem toda alaranjada, indicando que a noite estava chegando, e a hora deles irem pra casa também, mas ninguém pareceu perceber isso no momento. Até que, devido à proximidade da hora do jantar, o estômago de Anna deu um sonoro ronco.


– ... e esse kanji que parece ter duas pernas significa... ahn... - Tadase parou sua explicação pela metade ao ouvir aquele barulho - Está com fome?
Really? Eu pensei que esse kanji siginificava spring... - Anna respondeu, sem entender a pergunta do Rei
– O que? Não, não! Eu estou perguntando se você está com fome, Lewis-san - o loiro explicou - Aliás, esse kanji significa inverno
– Ah... a-a little... y-you know, não fomos ao Royal Garden today, so eu não comi nada desde a hora do almoço... - ela tentou se explicar
Bién, yo supongo que podemos hacer una pausa para comer - Stéffanie intrometeu-se, rapidamente afastando de si o enorme dicionário de kanjis diante dela
– Talvez seja bom mesmo... assim o cérebro de vocês pode absorver direito o que explicamos até agora - Nagihiko concordou
– Y–Yo no necessito de tiempo para absorver nada! Estoy concordando em hacer una pausa porque Anna está com hambre! Usted quer deixar la niña com hambre, é?? - ela apontou primeiro para Anna, e depois para Nagi, como que acusando o garoto
– Hai, hai... - Nagihiko suspirou, já acostumado com aqueles ataques repentinos - Também estou ficando com fome, então por que não vamos até a cantina comer alguma coisa?
Don't worry, I can ir até lá sozinha e trazer alguns lanches for you – Anna ofereceu-se sorridente, sem perceber que aquilo seria quase uma missão impossível
– Então eu vou com você - Tadase se adiantou, levantando-se
But...
– Lewis-san, seria difícil você carregar quatro lanches sozinha, não acha? - o loiro observou, e ela enfim percebeu que isso seria bem mais complicado do que ela imaginou - Então eu vou junto pra te ajudar. Nós já voltamos - ele falou para os outros dois, e e saiu da seção reservada, sendo seguido por Anna, que tentava não tropeçar a cada dois passos outra vez
Quieres apostar quanto que ella vai derrubar toda la comida antes de chegar aquí? - Stéffanie comentou depois que eles saíram
– Não quero apostar nada, não tenho dinheiro pra perder com isso - Nagi respondeu, ainda observando a porta por onde os amigos desapareceram.


Tadase seguiu mais devagar do que de costume até a cantina, já que tentava fazer com que a garota não tropeçasse a cada cinco passos, mesmo com os corredores estando desertos, e também sem ouvir o que quer que a bibliotecária tivesse gritado ao saírem, imaginando que seria mais uma bronca ou um aviso para eles fazerem silêncio na biblioteca. Quando ela tropeçou em um degrau e quase rolou escada abaixo, ele decidiu que era melhor segurá-la bem firme pela mão até chegarem lá, de modo que os dois andaram de mãos dadas pelo resto do caminho. Quando enfim chegaram na cantina, ela já estava fechada, provavelmente por causa do horário, então eles foram até a cozinha do refeitório para ver se encontravam alguma coisa.


– T-Tem certeza de que podemos entrar aqui? - Anna indagou, ainda com a mão sendo segurada pela do Rei, temendo levar uma bronca de algum professor
– Não tem problema, somos Guardiões afinal - o garoto respondeu simplesmente, sorrindo - Agora vejamos.. - ele soltou a mão da garota para abrir a geladeira e examinar seu conteúdo - Tem bastante comida aqui, mas quase nada pronto... o Fujisaki-kun devia ter vindo também, ele é melhor na cozinha do que eu...
But has dumplings here, é só esquentarmos no microondas, right?– ela falou, apontando para os bolinhos congelados em uma das prateleiras
– Ah sim, isso nós podemos fazer - Tadase se animou, tirando a bandeja de bolinhos da geladeira e colocando alguns no microondas. Programou a máquina e se recostou na parede para esperar que ficassem prontos. O calor da comida começou a preencher todo o ar daquela sala fechada, que já estava quente antes por causa do clima abafado - Estranho... não lembrava da cozinha ser tão quente... - ele comentou, sacudindo a camisa pela gola numa tentativa de espantar o calor, sem nem mesmo perceber isso
Well, here has no air conditioning, so I think que é natural que seja meio abafado... - Anna comentou
– Não, aqui tem ar-condicionado, sempre teve! - Tadase corrigiu, dando a impressão de que já tinha entrado muitas vezes na cozinha que era restrita apenas aos funcionários - Será que está quebrado?
– Estava funcionando quando entramos aqui - ela cometou - Então... acho que desligaram
– Ah que ótimo, era só o que faltava - ele comentou com ironia. Sem pensar muito no que fazia, ele afrouxou o nó da gravata e abriu os dois primeiros botões da camisa, numa tentativa de espantar o calor, e deixando à mostra uma pequena parte sugestiva do tórax.


Anna virou para o outro lado assim que percebeu isso, o rosto irremediavelmente corado. Sentia-se uma boba por reagir assim só por causa disso, ele estava apenas com calor, e ela sabia disso! Afinal, ela mesma também estava com calor. Mas aquela simples ação a fez lembrar do último dia de viagem, quando ela, Stéffanie e Yaya espiaram "sem-quer-querendo" Tadase e os outros garotos no lago durante o banho. Ela viu muito mais o que isso naquele dia... mas, por alguma razão, esse fato apenas servia para deixá-la ainda mais embaraçada.


– Você está bem Lewis-san? - Tadase indagou, reparando no modo como ela agia - Seu rosto está vermelho... não me diga que é por causa do calor??
I-I'm fine... don't worry Prince Charming – ela gaguejou nervosa, esquecendo-se de passar para o japonês até as palavras que ela conhecia, e sem coragem para encará-lo
– Tem certeza...? - Tadase se aproximou dela alguns passos, considerando tocar sua testa para ver se estava com febre. Anna, que que ainda não conseguia encarar Tadase nos olhos e olhava para baixo, acabou tendo uma visão privilegiada de seu tórax quando ele se inclinou para observá-la melhor, fazendo com que a camisa escorregasse um pouco e a garota pudesse ver por dentro do decote dela
– Kyaaaaahh!! - a inglesa soltou um gritinho agudo, escondendo o rosto corado com as mãos
– Lewis-san, o que...? - Tadase em seguida olhou para baixo para saber o motivo do ataque histérico da garota, só então reparando no que tinha feito. O que ele estava pensando, se despindo assim tão despreocupadamente.... e na frente de uma garota ainda por cima! Ele corou furiosamente também, até a raíz dos cabelos loiros e quase tão intensamente quanto Anna. Endireitou-se rapidamente e afastou-se dela alguns passos - Ahh.... g-gomenasai Lewis-san! Eu... é que eu fiquei com calor, e... antes que percebesse, acabei... m-me desculpe, acabei te deixando sem jeito com isso, não é... - ele levou as mãos rapidamente até os botões da camisa para fechá-la outra vez
– Ahh, não se preocupe com isso, Prince Charming!– Anna enfim tomou coragem para encará-lo - Eu... n-não me incomodo com isso, de maneira nenhuma... I just... err... w-well, eu fiquei surpresa, é só isso... mas se você está com calor então pode ficar assim, não tem problema
– Mas...
– É sério, eu não me importo, nem um pouco! - ela tornou a afirmar, embora fosse óbvio que ela se importava, e não apenas porque aquilo era embaraçoso. Em seguida, o microondas começou a apitar, indicando que os bolinhos estavam prontos - Ahh look! The food is ready! Depressa, temos que voltar, the Spanish Girl and the Long hair Boy também devem estar com hungry - ela adiantou-se, tentando sair daquele assunto constrangedor, mas quase queimou as mãos ao tentar pegar o prato de bolinhos no microondas sem uma luva ou pano
– Deixe que eu faço isso. Abra a porta pra mim, por favor, Lewis-san - Tadase sorriu sem jeito, também querendo encerrar aquele assunto. Ele pegou um pano de prato e retirou o prato de bolinhos do microondas enquanto ela corria até a porta, mas ao tentar abrí-la, tudo que conseguiu foi fazer um esforço inútil, pois parecia que ela estava grudada contra a parte
It's so hard ... I can't get...! – ela murmurou, puxando a maçaneta com as duas mãos, sem sucesso
– Espere, deixe eu tentar - o Rei colocou o prato de comida em cima da mesa e adiantou-se para a porta, puxando com as duas mãos também. Nada aconteceu, ela não se moveu um milímetro sequer - Que estranho... por que não abre? - ele se abaixou um pouco, até a altura da fechadura - Essa não...
– What happened?
– Estamos trancados - ele se levantou, encarando a garota sério - A porta foi trancada pelo lado de fora, não podemos sair
– What?!- a Às estrangeira soltou um grito agudo, perguntando-se se tinha entendido direito, mas pela cara séria que o Rei fazia, ela tinha sim - N-Não pode ser... why?! Why trancaram a gente aqui?? - ela perguntou, desesperando-se rapidamente, e se perguntando mentalmente se isso era algum tipo de castigo por mau comportamento. Tudo bem que ela sempre tropeçava e caía por aí, desarrumava as prateleiras e bagunçava tudo na sala de aula, sempre causava problemas para os professoras, mas... isso não era motivo para trancarem Tadase junto com ela, o garoto era um aluno exemplar!
– Olhe pela janela Lewis-san - ele a despertou de seus devaneios, apontando para a janela, daonde podia-se ver o céu alaranjado lentamente tornar-se mais azul, e por onde podia-se ver a lua começar a despontar no céu - Já está anoitecendo, e o horário de aulas terminou há muito tempo... eles devem ter fechado a escola
– Essa não... what do we do now?! – ela exclamou de novo, olhando de um lado para o outro desesperada, como se esperasse que uma solução caísse magicamente sobre ela
– Bem... - Tadase suspirou pesadamente, preparando-se para verbalizar a única solução viável em que podia pensar - Acho que não temos escolha além de passar a noite na escola.







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Ellos están se demorando demasiado – Stéffanie reclamou pela terceira vez em menos de cinco minutos - Acha que puede ter sucedido algo? - ela especulou, começando a imaginar coisas
– No máximo a Anna-chan pode ter realmente tropeçado e derrubado toda a comida no chão, e eles estão tendo que preparar tudo de novo - Nagihiko respondeu, sem dar muita atenção ao assunto
No es bem esto que yo estava imaginando... - ela murmurou, ainda perdida em pensamentos
– O que você anda lendo pra imaginar esse tipo de coisas, hein garota?? - ele virou-se para encará-la, com uma gota na cabeça
– N-Nada de mais... sólo unos pocos libros, sabe... lo de siempre – ela tentou disfarçar, mas era óbvio que andava lendo bem mais do que isso. Talvez o livro que a própria Anna lhe deu de presente no Natal tivesse dado idéias estranhas à garota. Ela em seguida se cansou de esperar pelos amigos e se levantou, começando a examinar as prateleiras da biblioteca, tentando se distrair com outra coisa - Pero aquí tem tantos libros... histórias de ficção, cuentos de hadas... ahh, literatura clássica! Yo amo esto!– ela agarrou um dos livros e o puxou para fora da prateleira, tão rápido que Nagihiko mal pôde ver a mão dela se movendo. Notou como os olhos dela brilhavam enquanto examinava minuciosamente cada detalhe da capa do livro, como se fosse um tesouro precioso, e sorriu de canto
– A biblioteca da escola sempre foi muito rica mesmo... mas de que adianta ter tantos livros aqui, e você ficar tão encantada com eles, se não consegue entender os kanjis para poder lê-los? - ele observou, e só então Stéffanie reparou nesse detalhe. Folheou rapidamente o livro em suas mãos, comprovando que a observação dele estava correta, já que ela não entendia nem metade do que estava escrito ali. Colocou o livro no lugar rapidamente e voltou a se sentar em seu lugar, bufando irritada - Vamos, vamos, não precisa ficar com essa cara... se você prestar mais atenção nas explicações e aprender melhor a ler os kanjis, logo vai poder ler os livros daqui também - ele tentou animá-la, sem sucesso
Yo no necessito de esto! Já presto atenção en las aulas, ouviu bem?? - ela exclamou, dando um murro na mesa de raiva
– Se realmente presta atenção, então porque ainda não sabe ler kanjis mesmo depois de estar tantos meses no Japão, hein? - ele comentou, erguendo uma sombrancelha. Stéffanie inflou de raiva, as bochechas se avermelhando, incapaz de dar uma resposta que o calasse de vez como ela gostaria
– E-Esqueça esto, vamos ver porque aquellos dos están demorando tanto afinal! - ela mudou rapidamente de assunto, se levantando depressa da cadeira. Coisa que não deveria ter feito, pois, na pressa, acabou pisando em falso, escorregando e caindo deitada no chão. Nagihiko tentou segurá-la, mas não foi rápido o suficiente, e acabou caindo junto, de bruços e deitado em cima dela.


Após o choque do tombo, levou alguns segundos para tanto Nagi quanto Stéffanie perceberem, tanto o que tinha acontecido quanto a situação em que se encontravam. Agora, a espanhola estava estatelada com as costas no chão frio, os braços esticados, cada um para um lado, e os olhos cerrados por causa da pancada. Quando os abriu, viu um par de orbes dourados encarando-a atônito, com um misto de choque e assombro refletido neles, encarando diretamente seus olhos azuis, que transmitiam tanto choque quanto os dele. A fraca luz do luar que entrava pela janela e refletiam-se nele, deixava suas madeixas longas, antes arroxeadas, com um tom azulado semelhante ao do cabelo dela, e pendiam para a frente por cima de seus ombros, fazendo cócegas no rosto da garota. Os braços dele estavam agora apoiados no chão, um de cada lado de seu corpo, impedindo-a de se levantar, e suas pernas estavam entrelaçadas, roçando uma na outra ocasionalmente. Um tom avermelhado começou a se espalhar por toda a face da garota, de tão corada que ela ficou ao compreender o tipo de situação em que se encontrava. A Rainha estrangeira não se lembrava de jamais ter estado tão perto assim dele antes, ou de qualquer outro garoto, exceto pela vez em que Nagihiko lhe roubou um beijo, e sentiu seu coração acelerar perigosamente ao constatar esse fato. A vermelhidão que se apossara do rosto dela pareceu vazar para o do Valete, que também corou furiosamente ao se dar conta de que havia uma garota embaixo dele. Inevitavelmente, também acabou se lembrando da última vez em que estivera tão perto assim de Stéffanie, e foi tomado por uma vontade insana de ficar ainda mais próximo dela. Estava dividido entre a vergonha e a racionalidade que o mandava se levantar, e o desejo irracional de acabar logo com aqueles poucos centímetros que os separavam, quando a ouviu dizer:


– A-Até cuando pretende ficar arriba de mí? Está me molestando – ela virou o rosto para o lado, cortando o contato visual entre eles, tentando manter seu tom de voz inabalável
– Molest...?! - Nagihiko interrompeu a frase pela metade, despertando para a realidade pro causa da acusação da garota. Levantou-se rapidamente, o coração batendo rápido por causa dessa série de acontecimentos, rápida demais para ele acompanhar. Pensou em estender a mão para ajudá-la a levantar, mas ela ficou de pé sozinha antes que ele o fizesse - Etto... v-você se machucou?
Estoy bién – ela disse simplesmente, sacudindo a poeira da saia
– Certo... o-olha... - ele fez uma pausa, meio nervoso, e corando com o que estava prestes a dizer - Eu não fiz aquilo de propósito, viu? Foi um acidente. Não pense que eu sou um... u-um pervertido que sai molestando garotas por aí...
– Do que estás hablando?! – Stéffanie interrompeu - Yo disse apenas que usted estaba me... ahh como era la palabra para esto...? - ela fez uma pausa, tentando se lembrar de como se traduzia aquilo para o japonês - incolo... incomu... i-incomodar... sí, creo que es esto... esto mismo, disse que usted estaba me "incomodar", apenas esto
– Ahh, quer dizer "incomodando"?? - Nagihiko consertou a frase para ela, surpreso em saber que a palavra "molestar" significava "incomodar" no idioma dele - Eu entendi uma coisa completamente diferente...
Deje de piensar en tonterías e vamos luego ver porque aquellos dos están demorando tanto! - ela mudou de assunto de novo e dirigiu-se até a porta a passos apressados. Quando puxou a maçaneta, porém, não conseguiu abrí-la. Puxou com as duas mãos, chegando a colocar o pé na porta, como se isso fosse ajudar, mas nada aconteceu - Yo no creo... está trancada!
– O que?! Tem certeza?? - Nagi adiantou-se e tentou abrir a porta também, sem sucesso - Droga, não acredito... ahh, mas pensando bem, naquela hora em que o Hotori-kun e a Anna-chan saíram, a bibliotecária gritou alguma coisa, não foi? Acho que ela estava avisando que ia fechar a biblioteca
– E só agora usted notou esto?! – Stéffanie exclamou - Qué haceremos ahora?!
– Bom, nós estamos no terceiro andar, então não dá pra sair pela janela... e nossos Charas não estão aqui... acho que teremos que esperar até alguém abrir a biblioteca amanhã e passar a noite aqui mesmo.






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Enquanto isso, Miguel corria apressado por ruas desertas e estreitas que ele não conhecia. Nas poucas vezes em que encontrou uma pessoa que não parecia muito suspeita na rua, parou para perguntar o caminho, e depois de se perder quase três vezes, finalmente chegou ao endereço indicado por Shunsuke. Parou ofegante diante da porta, sendo tomado por um repentino receio de descobrir a verdade. Aquilo tinha que ser algum engano, só podia ser isso... mas se suas suspeitas estivessem corretas... se Shunsuke fosse quem ele pensava que fosse... então Miguel realmente não sabia o que faria quanto a isso. Respirando fundo, ele bateu na porta três vezes, e em seguida ouviu a voz familiar do amigo gritar lá de dentro "entre, está aberta". Respirou fundo mais uma vez como se isso pudesse lhe dar coragem e abriu a porta, adentrando o apartamento. O lugar estava vazio e mal iluminado, com as luzes apagadas e sendo iluminado apenas pelos raios do luar que entravam pela janela aberta. Tinha poucos móveis, de aparência simples, mas bem cuidado. Shunsuke estava do outro lado da sala, ajoelhado diante de algo que podia ser uma mesa ou um altar, que Miguel não podia ver já que o garoto estava na frente. Levantou-se rapidamente e se virou de frente para o português.


– Então você veio mesmo, Miguel-kun! Seja bem-vindo! - ele exclamou rapidamente, ajeitando os óculos em seu rosto, embora parecese que só os estava colocando agora
– Desculpe a demora, foi difícil encontrar esse lugar - Miguel andou mais alguns passos na direção dele com cautela, receando se aproximar demais - Escuta, Shunsuke... tem uma coisa que eu preciso te perguntar...
– Depois. Teremos muito tempo pra conversar mais tarde, mas agora precisamos estudar. Foi pra isso que você veio aqui, não foi? - o outro perguntou, puxando sua mochila, que ainda estava largada no chão da sala, para perto, e tirando de lá o primeiro livro que encontrou. Não estava nem um pouco afim de estudar, mas tinha a impressão de que isso seria melhor do que deixar Miguel fazer a pergunta que ele queria
– Sim, eu sei, mas... eu realmente preciso te perguntar uma coisa primeiro - o português insistiu, sem saber como começar aquele assunto - Bem... s-se lembra da semana passada, quando eu estava a viajar com os outros Guardiões...
– Ah sim, claro que lembro! - o outro interrompeu, falando mais alto do que o necessário, tanto que sua voz chegava a ecoar naquele apartamento quase vazio - Apesar de que eu também faltei muito nessa semana então quase não percebi isso...
– Sim, exato - o Rei português continuou - E sabe, durante essa viagem, eu... bem, eu meio que tive um sonho.... e você estava nele
– Ora, você sonhou comigo, Miguel-kun? - Shunsuke o encarou, tentando parecer brincalhão - Que coisa... se você fosse uma garota eu diria que isso foi até romântico hahahahaha!
– Err... b-bom... - Miguel se remexeu incomodado, corando um pouco com o comentário - E-Enfim, no sonho, eu estava... err... estava me b-banhando em um lago durante a noite, e... e outro garoto aparecia lá. No início eu pensei que era... - ele fez uma pausa, pensando em como explicar aquilo. Não podia contar sobre Matthew para ele, ainda mais se nada daquilo fosse verdade e não passasse de um sonho maluco - B-Bom... pensei que fosse um cara que não gosta dos Guardiões, tipo um delinquante que tem nos dado trabalho, sabe... mas quando vi melhor o rosto dele, percebi que era você. Nós meio que conversamos um pouco, até que a coisa começou a ficar meio perigosa, e... - inconscientemente, Miguel levou os dedos aos lábios, corando ainda mais, sem saber se contava ou não aquilo ao amigo - E no final... n-nós meio que...
– ...se beijaram? - Shunsuke interrompeu abrupdamente, encarando sério o "amigo". Mesmo através das grossas lentes dos óculos era possível notar o quanto ele estava sério agora - Então você se lembra... droga, e eu que pensei que tinha te enganado direitinho - Shunsuke passou a mão pelos cabelos loiros, em sinal de frustração, e bagunçou-os um pouco. Agora que não estava com os cabelos jogados para trás como de costume era possível notar a incrível semelhança que ele tinha com Matthew - É isso mesmo, "Miguel-kun"... você acertou. Finalmente descobriu a verdade... demorou, hein? Francamente, e depois dizem que os loiros é que são burros - ele tirou o óculos que escondia parcialmente seu rosto, dando um sorriso maldoso que lembrava terrivelmente o modo com Ikuto sorria.


Aqueles orbes verdes e ofuscantes, aquele sorriso sarcástico, os cabelos loiros e macios como seda.... não havia dúvidas, Miguel estava diante de Matthew agora. E estava diante de Shunsuke também. Isso porque Shunsuke nunca existiu de verdade, ele era Matthew o tempo todo. E o enganou por todo esse tempo.


– Não... não pode... ser... - Miguel recuou vários passos, sem acreditar no que via. No fim, suas suspeitas estavam certas, e Shunsuke e Matthew eram realmente a mesma pessoa todo esse tempo. Por mais óbvio que isso parecesse agora, ainda era difícil acreditar. Como um garoto tão divertido e amigável quando Shunsuke podia ser o cretino sarcástico e pervertido que atacou ele e os outros Guardiões com Batsu Tamas todo esse tempo?! - Você... v-você é... Matthew?!
Yeah... eu mesmo, baby – o mais alto respondeu, dando uma piscadela. Aquele sotaque, aquela voz arrastada... não restava a menor dúvida, ele era mesmo Matthew. Miguel sentiu uma dor dilacerante no coração, como se alguém tivesse enfiado uma estaca em seu peito. Então era apenas isso. Se ele era Matthew o tempo todo, significava que ele estava apenas usando e enganando Miguel todo esse tempo. Ele apenas o usou para se aproximar dos outros Guardiões, e descobrir suas fraquezas, para derrotá-los mais facilmente. Eles nunca foram amigos de verdade... e, naturalmente, jamais poderiam ser mais do que isso
– Por que?! - Miguel perguntou, embora a resposta fosse óbvia - Por que você fez isso?? Você... se infiltrou na escola, me enganou esse tempo todo, fingindo ser meu amigo... quando na verdade ria pelas minhas costas enquanto me usava para descobrir os pontos fracos dos outros Guardiões, é isso??
– É, basicamente isso - o maior admitiu - Agora, eu imagino que você esteja esperando que eu diga algo como "no início eu me aproximei só por causa do trabalho e pra completar meu objetivo, mas com o tempo acabei gostando de você de verdade! Por favor, acredite em mim!". Não é, Micchan?
– Você... v-você s-sabe... - o português recuou mais um pouco, chocado em saber que Matthew/Shunsuke sempre soube o que ele era, e se aproximou dele mesmo assim. Ele poderia simplesmente ter escolhido se aproximar de uma das meninas estrangeiras, já que o objetivo era apenas coletar informações, e tentar conquistar uma delas para conseguir obter as informações que desejava. Mas não, mesmo havendo outras duas garotas Guardiãs estrangeiras, e também as Guardiãs japonesas, ou até mesmo Utau, ele escolheu se aproximar de Miguel, e não delas. Isso fez o coração do Rei dar um desconfortável salto, e ele recuou mais um pouco, até sentir suas costas baterem contra uma parede
– Ahh Micchan... não era pra você ter descoberto isso agora, é muito cedo pra isso ainda - Matthew comentou como quem fala do tempo, andando lentamente na direção do garoto, como se realmente lamentasse que Miguel tivesse descoberto a verdade - Você devia ter me ouvido e ficado apenas estudando "com o Shunsuke" como um bom menino, assim sofreria menos... olha só o que você fez, agora terei que calar sua boca pra que você não conte isso aos outros Guardians. Ahh, e lamento, mas não pense que vou te calar com um beijo ou coisa parecida, já basta o acidente daquela vez - ele acrescentou, fazendo o português corar ainda mais. Miguel sabia o que ele estava fazendo, estava tentando deixá-lo desconcertado para perder a linha de raciocínio e ficar em desvantagem. E o pior era que estava conseguindo.


Miguel levou as mãos aos bolsos, apalpando a calça, e depois ao bolso da camisa, mas seu celular não estava lá. Ele tinha deixado em sua mochila, que Kukai tinha levado pra casa, e desse jeito ele não poderia nem mesmo pedir ajuda aos outros. Esse pensamento o deixou ainda mais desesperado por um momento, até que notou que agora Matthew estava parado diante dele, a poucos centímetros de distância, fazendo o português perder a linha de raiocínio.


– O que foi Micchan? Não vai chamar sua Chara? - ele indagou despreocupadamente, apoiando uma das mãos na parede e encurralando Miguel ali - Como é mesmo o nome dela...? Grace, não é? Aquela é com certeza a Shugo Chara mais pervertida que eu já vi hahahahahahaha!!
– Grace não está aqui - o Rei respondeu simplesmente, fazendo o possível para manter o tom de voz firme. Por um momento pensou em defender sua Chara, é claro, mas isso de nada adiantava se ela era mesmo uma completa pervertida, Matthew só estava dizendo a verdade mesmo - E se você sabe sobre a existência dos Shugo Charas... significa que também deve ter um Chara, não é? Pensando bem, eu sempre o vi rodeado de Batsu Tamas, mas nunca com o seu próprio Shugo Chara. Aonde ele está afinal?
– Isso não é da sua conta - o outro respondeu secamente, não querendo prolongar esse assunto. Era a primeira vez que Miguel se lembrava de ver o garoto assim tão sério. Mas, pela reação dele, ao menos conseguiu deduzir que Matthew realmente possuía um Chara, não importa onde estivesse
– Então você tem mesmo um Shugo Chara, não é? - o Rei insistiu, querendo arrancar o máximo de informações possíveis dele. Seu peito ainda dóia, como se tivesse sido traído ou coisa do tipo, ele sentia um nó na garganta e sua mente girava com a avalanche de informações recém-descobertas, mas, já que tinha se metido nessa situação, era melhor tirar o máximo de proveito possível dela - Me diga, Shunsuke... não. Me diga, Matthew, aonde está o seu Chara? Por acaso ele não aguentou a vergonha de ter um dono mentiroso e delinquente e fugiu de você? Ou morreu de desgosto por ser o Chara de alguém tão cruel e manipulador, hein?
– Cale a boca!!! - o maior gritou, e Miguel se encolheu, apertando os olhos com força e se calando, como se quisesse se fundir à parede na qual seu corpo estava colado - Você... você não tem o direito de dizer isso... não ouse falar assim dele, ouviu?! - Matthew gritou, perdendo a calma. Em seguida notou, tardiamente, que estava deixando escapar informações sobre si mesmo que Miguel não deveria saber, e respirou fundo, tentando se controlar - Não é importante se eu tenho ou não um Chara, Micchan... você não precisa saber de nada disso - ele pressionou então o peito de Miguel com a mão livre, empurrando-o ainda mais contra a parede, e a deslizou suavemente pelo corpo do português, deixando-a passear do tórax para o abdômen, tocando-o displicentemente por cima do tecido da roupa, até parar em sua cintura, apoiando-a ali. Miguel ofegou, surpreso com o atrevimento do mais alto, e mordeu os lábios numa tentativa de não soltar nenhum ruído estranho. Fosse ou não esse o plano de Matthew, o fato é que essa simples ação tinha feito o Rei estrangeiro esquecer completamente o assunto sobre ele ter ou não um Shugo Chara - Ehh... então quer dizer que, mesmo numa situação preocupante dessas, você ainda gosta disso, é Micchan? Isso é perigoso, viu? - o loiro comentou, voltando a sorrir maliciosamente - O que será que acontece se eu te tocar assim? - ele deslizou então a mão até as costas de Miguel, adentrando sua camisa e o tocando diretamente na pele, e a desceu de novo, segurando outra vez sua cintura, dessa vez com mais firmeza, de modo possessivo. Miguel ofegou novamente, cerrando os olhos com força, e dessa vez sim deixou escapar um fraco gemido. Ao notar isso, corou furiosamente e levou as mãos à boca, tardiamente. Matthew riu abertamente da reação dele, e continuou seu discurso, dessa vez aproximando a boca de sua orelha e sussurrando no ouvido dele - Que gracinha... you are so cute quando fica assim corado, Micchan... parece uma garota. É uma pena que você não esteja no Chara Nari agora, aquela sua roupinha apertada realmente me tira do sério... sem falar que assim eu poderia me divertir um pouco mais com você. Mas já chega de brincadeiras.... você descobriu muitas coisas hoje Micchan... coisas que não deveria jamais saber... então faremos com que seja como aquela noite do lago... e transformaremos tudo isso em um "sonho".


Miguel estava tão perdido nas sensações que Shunsuke/Matthew lhe provocava com apenas esses simples toques que mal conseguiu ouvir o que ele disse. E quando enfim se deu conta do que o outro havia falado, já era tarde demais. Antes que o português notasse, Matthew havia tirado um Batsu Tama particularmente grande e poderoso do bolso, e o apontou direto para a cabeça do Rei estrangeiro. Antes que o português pudesse sequer abrir a boca pra falar, o ovo começou a desprender uma fortíssima energia negativa, que envolveu todo seu corpo, atingindo principalmente a cabeça. Matthew havia se afastado dele tão rápido quanto se aproximou, e agora observava a cena de longe. Miguel urrou de dor, levando as mãos à cabeça, como se isso pudesse ajudar em alguma coisa. Começou a ficar tonto e sua visão embaçou, ele perdeu o controle sobre suas pernas e logo tombou no chão. Reparou vagamente na mesinha para qual Shunsuke estava de frente quando ele chegou ao apartamento, e notou que aquilo de fato era um altar, com um incenso, algumas flores simples e a foto de uma mulher loira e sorridente, de olhos verdes muito parecidos com os de Shunsuke. Essa foi a última coisa que Miguel viu antes de fechar os olhos e perder a consciência de vez.



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Notas finais do capítulo

Konbawa! Teffy-chan~ desu! o/
Bom, primeiramente, parabéns pra quem adivinhou a verdadeira identidade do Shunsuke! Awwnnn me deu tanta pena do Micchan nesse capítulo, tadinho dele... esse garoto não dá sorte mesmo =/
E agora, o que será que vai acontecer com o Miguel? E como será que está o pessoal que ficou preso na escola? Descubram no próximo capítulo, nesse mesmo horário, nesse mesmo canal, e nesse mesmo site! õ/
Tá, me empolguei... enfim, o próximo capítulo é com a Shiroyuki-chan!! /o/
Leiam também nossa outra fic onegai!!!
http://fanfiction.com.br/historia/198965/Yakusoku/
Deixem reviews onegai e façam de mim uma autora feliz!!! *o*