Para infelicidade de Tadase e Anna, o surto histérico de Yaya se prolongou pelo resto do dia, tudo porque o garoto a obrigou a comer os legumes em seu prato, mas que na mente criativa e fértil da Às tinha sido uma verdadeira prova de amor, terminando com um beijo indireto. Os outros se juntaram à ruiva e também caçoaram deles no começo, todos felizes por não serem o alvo das insinuações maldosas da ruiva dessa vez, mas conforme o dia foi passando, os demais meio que se cansaram disso e deixaram o assunto pra lá, de modo que apenas Yaya continuou com a gozação, sem dar o menor sinal de que iria parar com suas insinuações maldosas e as piadinhas de duplo-sentido. Até que, quando Anna já estava prestes a cair no choro e se embrenhar na floresta, cavar um buraco no chão, se enterrar e nunca mais sair de lá de tanta vergonha, Kiseki ativou o Chara Change de Tadase, dizendo que não aguentava mais ver o dono ser humilhado daquele jeito sem fazer nada para reagir, de modo que o loiro obrigou Yaya a lavar a louça do almoço e fazer todo o resto das tarefas sozinha como punição. Felizmente, o Chara Change dele se desfez antes que ele a obrigasse a preparar o jantar, já que ninguém queria comer alguma coisa feita por Yaya.

Depois de passar a tarde inteira fazendo tarefas chatas e cansativas, Yaya finalmente deu uma trégua e não tocou mais no assunto. Quando terminaram o jantar, no entanto, a energia da ruiva já estava quase praticamente toda de volta, e ela voltou a sugerir um jogo antes de irem dormir, e todos engoliram em seco ao se lembrarem do resultado do último jogo proposto pela Às. Antes que Yaya convencesse alguém a jogar, a mesma percebeu que nesse exato momento, Stéffanie estava lavando a louça da janta e no momento estava com uma enorme faca de cozinha das mãos, então definitivamente não era uma boa idéia reviver essa lembrança da memória da garota agora, de modo que acabou não insistindo na idéia do jogo, e conformou-se em apenas ir dormir cedo só dessa vez. Os demais concordaram com a idéia e, assim que termianram as últimas tarefas, desejaram boa noite uns aos outros, cada um foi para sua barraca (ou kombi, no caso de Ikuto) e foram descansar, apreciando uma rara e desejada noite tranquila naquele lugar.
Ou pelo menos era isso que eles pensavam.

Quase uma hora depois de todos irem se recolher, Tadase acordou com sede, e se arrastou para fora da barraca, com os olhos semi-cerrados, e sonolento demais para perceber qualquer coisa ao seu redor. Assim que bebeu água, caminhou de volta para sua barraca, quase optando por deitar ali mesmo de tão sonolento que estava. E no entanto, não importa quanto sono o garoto estivesse sentido, isso não o impediu de ouvir uma voz doce e feminina chamando seu nome.

Tadase olhou para os lados, confuso, à procura da dona daquela voz melosa que o chamava, mas como não viu ninguém, resolveu deixar pra lá, ainda que tivesse a estranha sensação de que não deveria jamais ignorar a dona daquela voz. Ouviu alguém chamando-o de novo, dessa vez mais alto, e começou a pensar se isso talvez não era algum tipo de sonho maluco. Na terceira vez, ele arregalou os olhos, acordando bruscamente do seu estado de sonolência.

– Hoto... ri... my Prince Charming...

Ah, aquele sotaque era inconfundível, só podia ser ela! Tadase olhou em volta novamente, mas não viu o menor sinal de Anna. Escutou a voz dela outra vez e, seguindo o som da voz, avançou para a direita, ouvindo a voz da garota cada vez mais alto. Até que parou abrupdamente diante da barraca das meninas.

– A voz dela vem daqui de dentro.... mas... por que ela está me chamando a essa hora?! - ele indagou, embora ninguém fosse lhe responder - Etto... L-Lewis-san? O que foi, precisa de alguma coisa? - ele perguntou à porta da barraca, mas tudo que ouviu em resposta foi a voz da inglesa chamando seu nome outra vez. Tadase olhou bem o local onde a garota estava agora: Aquilo era uma simples e frágil barraca de acampamento, até ele poderia arrombar o fecho daquela barraca facilmente se quisesse. Mas ele não podia fazer isso... aquela era a barraca das meninas, ele não poderia adentrar assim o local onde haviam três jovens damas repousando nesse exato momento! Mas... a voz de Anna continuava chamando seu nome cada vez mais alto, e havia um certo tom de súplica em sua voz... Tadase realmente não queria adentrar assim a barraca das meninas, ia contra todos os seus príncipios morais fazer algo assim, mas ele estava realmente curioso pra saber o que Anna queria. Talvez ela estivesse machucada, e não quisesse acordar as amigas.... talvez estivesse precisando de ajuda... ou pior, talvez até ainda magoada por causa das insinuações de Yaya mais cedo! Se fosse isso, seria culpa de Tadase a garota estar assim, já que foi ele quem começou com aquela cena dos legumes afinal! Era sua responsabilidade acudir a garota como um verdadeiro cavalheiro faria, como um homem! Ou melhor, como um verdadeiro Rei faria. Inspirando fundo, como se isso fosse lhe dar coragem, ele enfiou a mão por debaixo da barraca, abriu o zíper todo de uma só vez e entrou.

Assim que teve coragem para olhar o interior da barraca onde estava agora, viu as três amigas adormecidas, enroladas em edredons até a cabeça. Yaya estava abraçada à algum bicho de pelúcia irreconhecível entre seus braços que apertavam o pobre animal sem dó nem piedade, com o mesmo sorriso besta de sempre na cara. Parte da blusa do pijama rosa com estrelinhas amarelas apareciam por debaixo das cobertas, já que ela estava com os braços pra fora. Assim, dormindo e de boca fechada, ela finalmente parecia a garotinha infantil que deveria ser, e não a menina maldosa que realmente era; Stéffanie estava deitada ao lado da ruiva, com os cabelos soltos espalhados para todo lado e um pedaço da parte de cima da camisola azul-clara aparecendo, deixando visível a gola com rendas e um lacinho amarrado no decote. Estava milagrosamente com uma expressão tranquila e serena no rosto, parecendo até estranha sem aquele ar mau-humorado de sempre; E Anna estava de frente para as duas, bem perto da porta (se é que se podia chamar aquele zíper frágil de porta), esparramada em um futón, com os braços jogados um para um lado e a coberta cobrindo apenas sua cintura para baixo, deixando à mostra a blusa do pijama lilás com desenhos de ursinhos panda, e as mangas curtas e fofas, que mal cobriam metade de seus braços. Estava sem os óculos e girava a cabeça de um lado para o outro, os olhos fechados e os lábios se movendo devagar, murmurando o nome de Tadase junto com mais meia dúzia de palavras incoerentes e em inglês.

– Etto... Lewis-san? - Tadase chamou hesitante, se aproximando alguns centímetros da garota - Eu estou aqui, o que foi? Por que estava me chamando?
– My Prince... Prince Hotori... - ela murmurava, ainda movendo-se de um lado para o outro em um sono agitado - No... no, Prince Charming... I do not want to eat the vegetables .... I do not wanna grow up .... I want to stay small forever, just like you...
– O que...? - Tadase murmurou confuso, mal compreendendo a parte sobre os vegetais. Era demais pedir que ele traduzisse frases em inglês no meio da madrugada - Ela está... sonhando? - ele soltou um suspiro aliviado ao constatar de que a garota estava apenas tendo um sono agitado, ainda que fosse meio constrangedor saber que Anna estava estava sonhando com ele. Uma vez que tinha certeza de que a garota não estava com nenhum problema aparente, Tadase já ia se retirar e voltar para sua própria barraca, quando os braços de Anna moveram-se novamente, e enlaçaram a cintura do Rei em um abraço tão forte quanto o que Yaya dava em seu bichinho de pelúcia.

Tadase de repente viu-se caído em cima de Anna, sendo abraçado pela mesma, de modo que não conseguiria se levantar, mesmo se quisesse. Desde quando aquela garota de aparência frágil era tão forte?! Bom... isso realmente não importava... já que o fato de estarem tão próximos agora afugentou rapidamente esse pensamento da mente atordoada do Rei. Seus rostos estavam tão próximos agora... deviam estar a menos de cinco centímetros de distância um do outro! Tadase corou furiosamente ao constatar esse fato, e sentiu seu coração dar um loop completo ao notar que, por algum motivo, queria se aproximar ainda mais da estrangeira. Eles já estavam perto demais um do outro, bem mais do que deveriam... mas as mãos da inglesa ao redor de seu corpo só fazia ele querer aumentar a proximidade entre eles mais e mais... ele moveu a mão direita e acariciou o rosto dela, os dedos esgueirando-se até seus cabelos, e viu o rosto da menina colorir-se de vermelho, mesmo que dormindo. Notou então que os lábios dela estavam entreabertos, e a lembrança daquele fatídico sonho veio à sua mente. Ele não chegou a fazer aquilo no sonho, mas... estava com uma vontade tão grande de fazer isso agora... e ele ainda se sentia meio sonolento, era de madrugada afinal, então talvez tudo aquilo não passasse de mais um dos sonhos insanos que andava tendo. Sim, isso mesmo, aquilo devia ser um sonho... e como Nagihiko dissera, se é apenas um sonho, então não tem problema, ninguém pode controlar seus sonhos, ele não tem culpa de nada. Cerrando os olhos, ele aproximou-se devagar, visando os lábios entreabertos da garota, que de algum modo pareciam ansiar pelos seus... e quando estavam a menos de dois centímetros de distância um do outro, ouviu um berro ensurdescedor que o despertou para a dura realidade:

– Aaaahhhhhhhhhh!!! O Tadase invadiu a barraca das meninaaaaaaaaas!!!! E está atacando a Anna-taaaaaaan!!!!!!!! - o berro de Yaya, que acordara em uma hora muito inconveniente por sinal, pôde ser ouvido por toda a floresta, acordando os demais. A primeira a despertar foi Stéffanie, que já estava prestes a gritar com Yaya por tê-la acordado daquela forma brusca, mas quando notou a situação em que a outra estrangeira se encontrava, começou a berrar alguma coisa em espanhol, fazendo coro com os gritos histéricos de Yaya.

_ Kyaaaaaaaa!! Socorrooooo!! O Tadase se transformou em um maníaco tarado e está atacando a barraca das meninaaaas!! Nos ajudeeeeeeem!!!!! - a ruiva berrava, agora sacudindo-se de um lado para o outro, completamente acordada. Tadase apressou-se em livrar-se dos braços da inglesa, ainda ao redor de seu corpo, e sair de cima dela, mas já era tarde demais, ele já tinha sido visto, e justamente por Yaya. Ele estava completamente perdido
– Seu Reyzinho nanico e imoral... cómo te atreves a invadir la tienda de las niñas enquanto estamos dormindo?! - Stéffanie gritou, sentando-se em seu futón ainda semi-encoberta pelo edredon, dividida entre a vergonha de ter um garoto vendo-a com roupa de dormir e a vontade de espancar Tadase
– M-Mattekudasai, Blanca-san... n-não é o que vocês estão pensando, eu juro...! - Tadase tentou se explicar, mas justamente nessa hora a inglesa resolveu voltar a falar enquanto dormia
– No... I don't want, Prince Charming... no this... no, no touch here!– ela murmurou, ainda envolvida ems eu sonho com os legumes que não queria comer, mas que para as duas Guardiãs acordadas soou como outra coisa que não favorecia em nada Tadase naquele momento
– "Não é o que estamos pensando" né... - Yaya repetiu descrente, um sorriso maldoso se formando em seu rosto - Imagina se fosse, hein?! Que vergonha, Tadase, abusando da pobre menina enquanto ela dorme... devia fazer isso enquanto ela está acordada!
– M-Mas eu já dise que não é nada disso... - garoto tentou gaguejar alguma desculpa qualquer, porém, antes que ele concluísse alguma frase, a espanhola remexeu rapidamente em sua mochila, tirando um frasco vermelho-berrante de lá e apontando para a cara do loiro
– Sabe o que eres esto, su Rey desvergonzado? Eres spray de pimienta... e mais, esto no eres un spray qualquer, eres feito con la pimienta de mío país... sabe cómo las especias de España son fuertes y picantes, no? – ela perguntou com uma cara terrivelmente assustadora, que por algum motivo lembrava o Chara Change de Nagi com Temari
– H-Hai... já ouvi falar... - o loiro respondeu, lembrando-se de que já tinha lido à respeito disso em algum lugar, e engolindo em seco ao perceber aonde a garota queria chegar com aquilo. Um spray de pimenta normal já seria ruim o suficiente, mas um feito com pimenta vinda diretamente da Espanha, que era famosa pelos seus temperos ridiculamente fortes e ardidos, era muito, muito pior.

Para sorte (ou azar) do Rei, os outros garotos também tinham sido acordados pelos berros histéricos de Yaya e as ameaças de Stéffanie, e agora estavam em frente à barraca das meninas, todos sonolentos e cansados, movidos apenas pela curiosidade de saber o motivo de todo aquele escândalo. Assim como as meninas, eles estavam em trajes de dormir agora: Kukai vestia uma camiseta larga sem estampa por cima de uma cueca samba-canção azul; Nagihiko estava com uma calça comprida cinza meio larga nele, caindo pela cintura enquanto ele andava e deixando visível parte da cueca branca, e com uma camisa de manga curta abotoada pela metade, deixando parte do tórax á mostra; Ikuto estaria praticamente despido se não fosse pela cueca preta que vestia, que era a única peça de roupa que ele usava naquele momento; e Miguel, que era o mais comportado, vestia um pijama verde-claro, sendo que a parte de cima tinha mangas curtas, assim como o pijama azul de Tadase. Eles acordaram bruscamente ao se depararem com o Rei dos Guardiões dentro da barraca feminina.

– Waahhh... mas que barulho todo é esse afinal, eu quero dormir... - Kukai falou em meio a um bocejo, só então percebendo aonde o loiro estava - Mas hein...? Por que o Tadase está na barraca das meninas? Não vai me dizer que ele finalmente se rendeu á esse rostinho delicado e essa aparência de menina e resolveu se unir à elas de vez...? - ele sugeriu, com sono demais para rir da própria piada. Miguel deu um tapa na própria cabeça ao ouvir aquilo. Como aquele garoto podia ser tão baka?!
– Eu acho que não é isso, Kukai.... e-eu acho que ele... bem... - o Rei português cochichou alguma coisa no ouvido do ruivo, envergonhado demais para dizer aquilo em voz alta, e se perguntando por que logo ele devia explicar algo assim a outro garoto. Kukai despertou de uma só vez ao ouvir a explicação de Miguel, assumindo o mesmo estado escandaloso em que Yaya se encontrava agora
– O que?! Logo o Tadase?? Não acredito!! - Kukai berrou, tão histérico quanto a Às - Eu pensei que o Ikuto faria algo assim, mas... logo o Tadase?! Cara, por essa eu não esperava!!
– Realmente, também não esperava isso dele... então foi por isso que você não voltou pra barraca, não é Hotori-kun? - Nagihiko indagou retoricamente, encarando o loiro com uma cara de quem o estava condenando à sentença máxima - Quem te viu, quem te vê, hein... invadindo a barraca das meninas na calada da noite, francamente...
– N-Não é nada disso! - Tadase pôs-se de pé, saindo de uma vez da barraca das meninas e desesperadamente tentando fazer com que os outros não pensassem mal dele - E-Eu só ouvi a Lewis-san me chamando, e fui ver o que ela queria, então...
– No seas ridículo, Anna estaba dormindo! Usted queria era se aproveitar de ella enquanto la pobre niña dormia, seu animal! - a espanhola o interrompeu, apontando um dedo acusador na cara do loiro, que se perguntou mentalmente como raios Nagihiko conseguia aguentar alguém tão assustadora como a Rainha estrangeira
– Ora, não seja tão rigorosa! Apesar dessa carinha fofa, o Tadase é um homem afinal, e como tal, até ele deve ter suas vontades e desejos ocultos que não podem ser refreados! - Ikuto exclamou, por algum motivo parecendo orgulhoso do fato do loiro ter invadido a barraca feminina. Ele abraçou Tadase pelo pescoço com uma das mãos e bagunçou seus cabelos loiros com a outra, no que ele pretendia ser um cafuné - Isso aí garoto, gostei de ver! Aprendeu tudinho com seu Nii-san, não é, pode falar!
– Yaya não sabia que o Tadase era um tarado que atacava as meninas à noite... - a ruiva murmurou, ainda encarando o amigo - Kyaaaa kowaiiiii!!! Se continuar assim, daqui a pouco ele não vai mais se contentar com apenas a Anna-tan, e vai querer abusar da gente também, Onee-chan! Salvem a Yayaaaa!! - ela berrou escandalosa, pulando em cima de Kukai e se pendurando no pescoço dele, sem ligar a mínima para o fato do garoto estar vestindo apenas uma camiseta e cueca agora. Kukai piscou várias vezes, meio atordoado, e a abraçou de volta com um dos dos braços, sem saber se levava à sério a acusação da garota ou se ela estava apenas tentando aumentar a confusão como de costume - Onee-chan, é melhor você pedir pro Nagi te proteger também, antes que o Tadase Tarado te ataque!
– Qué?! – Stéffanie ofegou, surpresa que a conversa tivesse ido para esse lado. Olhou de soslaio para Nagihiko, e deparou-se com a parte exposta do corpo dele, visível graças ao pijama abotoado só pela metade, e corou mais ainda - Y-Yo no lo necesito de esto! Yo acabo con este nanico antes de que algo suceda – ela rosnou entre os dentes, colocando-se pé também e voltando a apontar o spray de pimenta para Tadase, que recurou vários passos assustado. Ikuto rapidamente soltou-o do abraço, afastando-se do loiro, antes que a espanhola perdesse de vez a calma e acabasse espirrando o spray de pimenta nele também. O neko só parou de recuar quando sentiu suas costas bater em alguma coisa e, para sua surpresa, sentiu um par de braços abraçando-o por trás. Ficou mais surpreso ainda quando ouviu a voz estridente da pessoa que o abraçava:

– Kyaaaaaaa!! Estou com medo tambéééém!! Esse loirinho é muito fofo, mas tenho medo que ele me ataque quando perceber a verdadeira beldade que eu sou!!! Me protege Ikutoooo!! - Miguel gritou com a voz fina e escandalosa, evidenciando que tinha entrado no Chara Change. O neko tentou se soltar dele, mas Miguel tinha ficado ridiculamente forte pro causa da transformação, e o abraçou com mais força ainda. Até que Ikuto se irritou e, fazendo o Chara Change também, aumentou sua força e conseguiu empurrar o Rei estrangeiro para longe. Miguel cambaleou alguns passos, até parar ao lado das duas garotas despertas - Ai, que gatinho mau, não sabe nem como tratar uma dama... me dá vontade de te disciplinar huhuhuhu...
– Antes de esto teríamos que disciplinar él Rey, no achas? – Stéffanie perguntou retoricamente
– Kyaaa grande idéia!! - Miguel gritou aos pulos, se empolgando rapidamente com a idéia - Vamos ensinar esse safadinho a nunca mais mexer com a nossa amiga! Nem com nenhuma de nós! - ele sacudiu seu chicote com certa excitação, passando a ponta da língua pelos lábios, como se estivesse prestes a saborear um delicioso banquete
– Nee Tadase... eu acho melhor você começar a correr agora - Ikuto cochichou no ouvido do mais novo, quase se dobrando ao meio para conseguir alcançá-lo. Não foi preciso falar duas vezes, Tadase nem sequer respondeu ou agradeceu pelo aviso, apenas seguiu o conselho do mais velho e desatou a correr, afastando-se rapidamente do acampamento. Miguel e Stéffanie correram atrás dele, berrando ameaças, cada um em seu idioma. Yaya logo soltou-se de Kukai e se juntou aos estrangeiros, não querendo perder a confusão. Eles logo desapareceram floresta àdentro, enquanto os outros ainda observavam as árvores por onde eles tinham sumido, com uma gota em suas cabeças
– Então... será isso realmente está certo...? - Nagihiko indagou para ninguém em especial, apontando para as árvores por onde os amigos tinham sumido, sem saber se tentava detê-los, ou se Tadase realmente merecia ser o alvo de uma verdadeira caça ás bruxas desse jeito
– Eu sei lá o que é certo e o que é errado, eu vou é dormir que estou morrendo de sono! - Kukai exclamou de volta, mal contendo um bocejo, e voltando para sua barraca, enquanto Ikuto fazia o mesmo e se arrastava de volta para a kombi. Por fim, o Valete também deu de ombros e voltou para sua própria barraca, rendendo-se ao sono. E enquanto toda essa baderna acontecia, a causadora (ainda que indiretamente) de tudo isso continuava dormindo tranquilamente em sua barraca, ainda aberta, alheia à todo alvoroço que tinha provocado, e sonhando tranquilamente com seu querido Príncipe Encantado.

–---------------------------------

Na manhã seguinte todos estavam completamente exaustos. Queriam dormir um pouco mais, no entanto, com o nascer do sol os animais da floresta despertaram e começaram a fazer uma barulheira infernal, impedindo os jovens campistas de dormir. Para a sorte do Rei, ninguém conseguiu encontrá-lo no meio de toda aquela escuridão que a noite e a floresta fechada provocavam. Tadase havia se refugiado na toca de algum animal e acabou dormindo ali mesmo; Quando o Chara Change de Miguel se desfez, ele logo desistiu da busca e retornou ao acampamento, cansado demais para entrar no modo depressivo pós-Chara Change de sempre; Stéffanie procurou por mais alguns minutos, mas também logo se cansou e voltou para sua barraca, resmungando para si mesma que acabaria com o "tarado nanico" no dia seguinte; E ninguém sabia ao certo que fim Yaya tinha levado, não se sabia nem se ela tinha dormido naquela noite, já que, quando os outros acordaram, ela já estava de pé, exigindo um banquete no café da manhã. Não parecia que tinha conseguido encontrar Tadase, caso contrário, ela estaria se gabando disso, e não brigando por comida.

Tadase apareceu por volta das nove da manhã, praticamente se arrastando de tão cansado, e com visíveis olheiras no rosto. Pelo jeito não tinha dormido nadinha, talvez por medo de ser encontrado, ou por causa do dono da toca onde ele se refugiara, que apareceu no meio da noite e o expulsou de lá.

– Olha só quem finalmente deu as caras... o Rei dos pervertidos - Kukai caçoou, dando uma risadinha
– Você é realmente bom em se esconder, hein... devia ser um pouco mais discreto também, desse jeito nenhum de nós teria notado você ontem - Miguel comentou, olhando fixamente seu peixe, ainda com sono demais pra comer. Tadase o olhou com uma interrogação na cabeça, meio surpreso pelo garoto não parecer estar mais zangado com ele. Quando notou isso, Miguel acrescentou - Ah sim, a propósito, foi mal por ontem... eu estava no Chara Change, então... não leve à sério
– Ahn... certo - Tadase sentou-se em uma pedra, se servindo do peixe que assava na fogueira, e olhou de esguelha para suas outras duas perseguidoras: Yaya estava com a boca cheia demais de comida para fazer qualquer comentário no momento, e Stéffanie terminava de comer o resto do ensopado que tinha sobrado do dia anterior. Uma vez que estava de barriga cheia, ela parecia bem menos irritada do que antes, e também não fez qualquer comentário sobre a noite passada. Tadase soltou um suspiro, aliviado, embora soubesse que aquilo não ia acabar por ali. Se Anna soubesse... se ela descobrisse o que tinha acontecido ontem... ele praticamente a beijou! E não foi um sonho dessa vez, aquilo foi real! Como será que ela reagiria quanto à isso? Se Tadase já estava com medo de lhe contar sobre aquele sonho em que eles quase se beijaram, agora que tinha acontecido de verdade então, era muito pior! Tadase estava realmente decidido a seguir o conselho anterior de Nagihiko e levar essa história para o túmulo, ainda que lhe parecesse terrivelmente errado esconder isso dela, sem falar que não dependia só dele, outra pessoa podia muito bem contar à inglesa o que tinha acontecido.

– E então, Tadase Tarado... domiu bem essa noite, meu amigo? - Yaya perguntou quando terminou seu café da manhã, despertando o loiro de seus pensamentos - Aonde foi que você se enfiou afinal, hein? Reviramos a floresta de cabeça pra baixo, mas não conseguimos te encontrar de jeito nenhum!
– N-Não interessa aonde eu fui... e não me chame assim Yuiki-san! - Tadase respondeu, corando com o novo apelido
– Ora, e por que não? Eres verdad mismo...– Stéffanie replicou, juntando-se à ruiva. Realmente não estava fazendo bem à ela passar tanto tempo convivendo com Yaya
– So, Prince Charming, você realmente passou a noite in the wood? Why?– Anna perguntou curiosa, e um tanto preocupada também. Ela não se lembrava de absolutamente nada do que tinha acontecido na noite passada, o que tornava a situação ainda mais delicada
– E-Eu estava... etto... e-estava procurando Batsu Tamas, é isso! - ele soltou a primeira desculpa que lhe veio à cabeça, e se culpando por dentro por usar a tarefa que ele devia estar fazendo mas não estava cumprindo como desculpa para abafar seu erro
– Caçando Batsu Tamas, sei... pelo amor de Kami, vê se aprende a mentir melhor, Hotori-kun... - Nagihiko resmungou para si mesmo ao ouvir a mentira mal-contada do amigo. Realmente, para um mentiroso experiente como ele, uma desculpa esfarrapada como aquela era quase uma ofensa
– Fujisaki-kun! Fique quieto, por favor! - o loiro sibilou nervoso. Já era suficiente ter aqueles três implicando com ele, não precisava de mais gente pegando no seu pé
– "Mentir"...? - Anna repetiu confusa, inclinando a cabeça para o lado como um fofíssimo filhote perdido - Eu não conheço this word... – ela murmurou, e Tadase deu graças aos céus pela falta de conhecimento da garota quanto ao seu idioma
– Ahh, é muito simples, Anna-tan! - Yaya exclamou, rapidamente se empolgando - Acontece que o "Taradase" aqui...
– Yuiki-san! Mais uma palavra e eu juro que faço o Chara Change e te obrigo a fazer coisas muito piores do que as de ontem! - Tadase sibilou entre os dentes, e a ruiva rapidamente se calou, ainda que um tanto inconformada
– "Taradase"....? - Anna repetiu novamente, corando ao dizer o nome do Rei em voz alta, mesmo aquilo sendo apenas um trocadilho maldoso - I do not understand what you are talking...
– Não é nada, Lewis-san, ela só está falando besteira como sempre - o loiro respondeu, tentando fazer de tudo para parecer natural diante de Anna. Terminou de comer rapidamente, pôs-se de pé e acrescentou - Bem, nós estamos perdendo tempo aqui. Viemos até esse lugar para caçar Batsu Tamas afinal, e não é isso que estamos fazendo. Vamos nos dividir em duplas e voltar a procurar por Batsu Tamas, andem
– Por mim tudo bem, mas... tem certeza de que é uma boa idéia manter as duplas anteriores? Vai que você se empolga outra vez e resolve fazer alguma coisa com a Lewis... - Kukai falou com certa malícia na voz
– What? D-Do things?– Anna repetiu - Do que está falando?
– J-Já disse que não é nada, Lewis-san! - Tadase exclamou, cada vez mais nervoso - Que seja então, se não quer manter as duplas, então vamos todos juntos em grupo, está bom assim??
– Por mim está ótimo... posso ir junto das meninas hehehehe... - Ikuto deu uma risadinha estranha, fazendo os outros se esquecerem por um momento sobre o incidente de Tadase na noite passada.

Assim que os outros acabaram de comer, eles partiram em grupo para dentro da floresta. Andaram em silêncio por alguns minutos, sem rumo definido, todos ainda cansados e com sono demais para conversar por causa da confusão da noite passada. Depois de meia hora andando sem encontrar nada, Yaya estava começando a pensar em sugerir que era melhor eles voltarem, já que não tinha nada naquela floresta além de árvores e animais silvestres, quando eles encontraram: Um ninho enorme de Batsu Tamas, bem maiores e mais sinistros do que qualquer ovo que eles já tenham visto antes. Assim que notaram sua presença, os ovos começaram a atacar, todos gritando em coro "nuri, nuri!". Os ovos voaram na direção deles, que tiveram certa dificuldade em desviar. Esses Batsu Tamas não apenas eram mais rápidos do que o normal, mas eles também estavam exaustos por causa da confusão da noite passada. Um dos ovos acertou o abdômen de Stéffanie de raspão, rasgando a blusa dela e deixando que um filete de sangue começasse a escorrer, manchando sua roupa; Outro derrubou Miguel no chão usando apenas sua aura de energia negativa, fazendo com que o português batesse com a perna em uma pedra ao cair, o que certamente causaria um hematoma roxo em seu joelho mais tarde; Outro Batsu Tama atacou Yaya e teria acertado sua cabeça em cheio se ela não tivesse se jogado no chão, desviando à tempo, mas acabou machucando a perna e ralando o joelho ao se jogar no chão e se machucar sem querer quando esbarrou em uma pedra áspera. E outro Batsu Tama atacou Tadase, lançando-o contra uma árvore usando sua energia negativa. Os ovos rapidamente envolveram os garotos, cercando-os em uma roda que se fechava cada vez mais depressa. E só então Tadase percebeu que tinha sido um erro abissal sugerir a caça aos Batsu Tamas com ele e os amigos nesse estado deplorável. Mas agora já era tarde para perceber seu erro... tarde demais.