Revenge escrita por Shiroyuki, teffy-chan


Capítulo 23
Capítulo XXIII




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/248873/chapter/23

Capítulo XVIII

Depois de retornar ao acampamento, Stéffanie voltou a agir normalmente, ou o que era normal dentro do possível, e todos entenderam que ela de alguma forma havia se entendido com Nagihiko, ou não… mas que o melhor a fazer, a favor de conservar suas condições de saúde, era não mencionar mais o assunto do beijo. Ela se empenhou na tarefa de preparar o café da manhã, e embora estivesse dividindo o espaço com Nagihiko, os dois não demonstravam qualquer sinal de alteração no seu relacionamento (na verdade, nem mesmo se dirigiam um ao outro) – o que muito decepcionou Yaya, que esperava por algum avanço visível depois do trabalho que teve para fazer acontecer aquele evento.

Logo que eles distribuíram os sanduíches e sucos que seriam o café da manhã, sentaram-se em cantos opostos do tronco de árvore que era usado como banco, e todos iniciaram conversas irrelevantes que sempre acompanhavam as refeições. Mas Stéffanie, que estava determinada na tarefa de se prender a qualquer detalhe para apagar de vez da sua memória certo acontecimento anterior, notou algo muito estranho.

— Ei… Anna, usted no vai comer? – ela apontou para o sanduíche intocado que a inglesa mantinha nas mãos, enquanto fitava o vazio com olhar entristecido. Era algo realmente raro Anna negar qualquer tipo de comida.

— Ahn? – ela acordou do estado de torpor, mas sua expressão cabisbaixa não se alterou – I d-don’t… eu não estou com tanta fome… i’m sorry… - ela murmurou, e então deixou o sanduíche de lado, resolvendo levantar-se e voltar para dentro da barraca.

— Ué, o que aconteceu com a Anna-tan? – Yaya indagou, já com a boca cheia de comida – Ela estava tão bem quando acordou… estava até bastante animada, e ela falou umas coisas engraçadas enquanto dormia…

As palavras de Yaya só fizeram Tadase se sentir ainda pior, por causa daquele sonho estúpido que ele havia tido, mas não havia muito que ele pudesse fazer agora por Anna. Na verdade, na sua mente inexperiente e confusa, ele só conseguia pensar que quanto mais afastado de Anna estivesse, melhor, e que a desanimação dela nada tinha a ver com ele. Mas isso não era bem verdade.

De fato, Anna podia ser distraída e avoada, mas conseguia perceber uma coisa ou outra sobre as pessoas, e desde que acordara, a única coisa que notou foi o quanto Tadase parecia estar distante. Era como se ele estivesse a evitando abertamente, nem mesmo sentar ao lado dela ele se atreveu. Por algum motivo, ela não via como ficar tranquila quanto a isso. Estava acostumada a ser ignorada algumas vezes na escola, afinal sua natureza desastrada não era vista com bons olhos pelas colegas, e pensava que estaria acostumada a esse tipo de situação, mas… por que quando essa indiferença vinha de Tadase, parecia causar tanta dor? Não era apenas aquele desconforto habitual, era mais forte, doía fisicamente, como se seu coração estivesse sendo esmagado.

Prince Charming… - ela sussurrou na barraca, sozinha, e fechou os olhos com força – He… he hates me?

Do lado de fora da barraca, Kukai e Ikuto competiam para ver quem pescava mais peixes até o almoço. Era a hora de Stéffanie e Nagihiko procurarem por batsu-tamas pela floresta, mas como nenhum dos dois parecia motivado a isso, ninguém se pronunciou. Depois de recolherem todas as coisas que foram usadas no café da manhã, Miguel se ofereceu para lavá-las, então eles apenas se afastaram, indo cada um para um lado do acampamento sem nada dizer.

— Eu… eu acho que vou fazer a ronda por agora – Tadase avisou, depois de alguns minutos. Seu semblante estava carregado, e Nagihiko imediatamente compreendeu que ele queria apenas ficar sozinho para pensar no que fazer.

— Mas… a Anna-tan ainda tá lá dentro! – Yaya disse, apontando para a barraca, e cogitando ainda a possibilidade de mandar Tadase até ali para buscá-la.

— Eu vou sozinho – ele respondeu apenas, em um tom tão desprovido de emoção que fez a ás se calar. Depois disso, ele deu as costas para o acampamento e sumiu pela floresta. Ninguém percebeu quando Peach discretamente se esgueirou também para aquele lado.

Nagihiko suspirou pesadamente. Pretendia conversar com Tadase nesse tempo, e ajuda-lo com o problema dele ao mesmo tempo em que buscava por uma solução para o seu, mas se ele ia pensar sozinho em algum lugar por aí, não via o que poderia ser feito. Estar muito perto de Stéffanie o deixava sufocado, e ele queria apenas arrumar alguma coisa para manter sua mente ocupada, por isso resolveu pegar algum mangá que Kukai trouxera para ler na beira do rio.

Quando se aproximou do lugar, uma surpresa. Alguém já havia tido a mesma ideia que ele, e lia calmamente deitada sobre uma esteira, na margem do rio. Era Stéffanie, claro.

Ele hesitou, decidindo se deveria anunciar-se e interrompê-la, aproximar-se sorrateiramente ou apenas se afastar dali antes que ela o notasse. Mas antes de resolver o que iria fazer, surpreendeu-se espiando em silêncio, observando a maneira como ela virava as páginas, como seus olhos moviam-se de acordo com o que lia, como a sua expressão mudava a cada reviravolta na história. Antes que percebesse, ele já sorria, envolvido em algum sentimento terno e afável que o impelia a querer continuar a olhar para a estrangeira.

Ei, Señor Nagihiko… - uma vozinha vacilante e tremida chamou sua atenção. Ele se virou, procurando por quem o chamara, e teve que olhar para cima, onde Setsuna flutuava a poucos metros do chão, com o rostinho preocupado – Podríamos hablar por un momento?

— Ahn… Setsuna? Claro… vamos conversar… - ele respondeu meio incerto, seguindo a pequenina chara para algum lugar um pouco mais afastado sem que a espanhola percebesse. – Você quer falar sobre… sobre o que aconteceu comigo e com a sua dona, não é? – ele disse diretamente, decidindo que o melhor a fazer era ser sucinto.

Sí, eso es correcto. - a chara começou, nervosa, voando de um lado para o outro – Yo quería hablar con usted sobre… ahn ... S-señor Nagihiko, qué te sientes de verdad, por mi dona?

— O q-que? – Nagihiko esperava por esse tipo de pergunta, mas não esperava que fosse ser tão perturbador ser interrogado dessa forma tão rápido.  – E-eu…

No es mi intención te dejar constrangido! – Setsuna disse rapidamente – Yo sólo quiero saber cuáles son tus intenciones, por qué ... por que não quero ver minha dona sofrer! Si usted no siente nada por ella, si aquilo que ocurrió fue um engano ... então esclareça isso luego... Si me dices que no es eso lo que quieres, entonces podemos resolverlo todo muy rápido. Sólo ... sólo no iluda a mi dona, por favor, Señor Nagihiko. Es sólo lo que pido!

O pedido da menina foi tão desesperado e sincero que comoveu o valete. Ele deixou seu peso despencar, sentando no chão e escondeu o rosto no braço. Setsuna voou ao seu redor, esperando por uma resposta.

— Setsuna-chan… eu… eu nunca quis iludir a Stéffanie, claro que não. – ele a tranquilizou, e passou a mão distraidamente nos cabelos da pequenina – Sei melhor do que ninguém o quanto mentiras podem ser prejudiciais, e também não tenho mais condições de sustentar elas na minha vida. Vou ser sincero com você, e comigo mesmo. O que aconteceu… não foi um engano. Em nenhuma das vezes – ele disse, e riu fracamente ao ver o semblante de surpresa e de entendimento da Chara, que não sabia sobre o segundo beijo até agora – Eu poderia ter parado a hora que quisesse, mas… eu quis fazer aquilo, e muito. Então… você não tem com o que se preocupar quanto a isso. Eu gosto da sua dona, se é o que você quer saber. Não sei bem por que ou como isso foi acontecer… mas aconteceu.

— E ahora, o que vai hacer? – Setsuna indagou, encarando-o com aqueles olhos enormes e emocionados. Não queria demonstrar, mas estava absolutamente extasiada com aquela confirmação do valete.

— Eu não sei… - ele confessou, derrotado – Mas, não vou deixar as coisas como estão… Eu só preciso pensar com calma, está bem? Eu vou… tentar dar um jeito. Só deixe tudo comigo. – e então sorriu, um pouco mais confiante, para a Chara – Está bem?

— Hmm ... Bueno, creo que voy a confiar en ti entonces. – Ela assentiu, e então sorriu em resposta. E uma silenciosa cumplicidade havia se formado entre o valete e a Shugo Chara, que compartilhavam uma vontade em comum a partir de agora.

Há alguns metros de onde Nagihiko conversava com Setsuna, Rhythm e Temari se esgueiraram até a beira do rio, onde Stéffanie ainda se esforçava em ler o livro, embora estivesse na mesma página a mais de dez minutos, sem conseguir se concentrar na leitura. Ela se ergueu, deixando o livro de lado,  se agachando até a margem do rio e mergulhando as mãos, para depois passá-las pelo pescoço. Suspirou pesadamente, perdendo a conta de quantas vezes já suspirara somente nessa manhã.

T-todo por culpa d-de esto… - rosnou para si mesma, desejando afundar-se naquelas águas para sempre. Não, ela desejava afundar a cabeça daquele idiota no rio, isso sim!

— Ela parece um pouco com você… - Rhythm sussurrou para Temari, amedrontado enquanto via a Rainha espanhola dar murros na água com o rosto irritado.

— Não sei… eu gosto dela… - Temari divagou, e então aproximou-se do lugar onde a garota estava – Ano… Blanca-san… nós podemos conversar? – chamou polidamente, enfim conseguindo captar a atenção da garota.

— Ah, Temari… - ela ficou surpresa, vendo a pequena Chara de Kimono voando bem ao seu lado. Atrás dela, Rhythm também se acomodava, um pouco menos à vontade – Como puedo ayudar?

— Eu e o Rhythm queremos conversar com você… sobre uma coisa. – Temari começou, cautelosa – Nós estamos preocupados por que… bem, notamos que você e o Nagi estão estranhos um com o outro e…

Mira – Stéffanie logo se inflou, com o rosto colorindo-se de raiva – Si aquele seu estúpido dueño te envió aquí para…

— Não! O Nagi não sabe que a gente tá aqui! – Rhythm se pronunciou, imediatamente – Até por que, se ele soubesse… - um calafrio percorreu sua espinha, só de pensar em ficar preso no ovo para sempre.

Cierto… entonces, o qué ustedes querem?

— Como eu disse, estamos preocupados – Temari recomeçou. – E queríamos saber…

— O que você sente de verdade pelo Nagi? – Rhythm se apressou em dizer, farto de toda aquela enrolação.

A pergunta, feita de maneira tão inesperada, pegou Stéffanie desprevenida. Ela se afogou, iniciando um acesso de tosse, quase caindo no chão, e seu rosto estava tão vermelho que parecia prestes a explodir. Quando enfim se recuperou da tosse, percebeu que os dois ainda esperavam pela sua resposta.

— O que queremos dizer, Blanca-san, é que… se a presença do Nagi te incomoda tanto assim, ainda mais depois do que aconteceu… nós podemos cuidar para que ele não a aborreça mais. É só você dizer, e eu pessoalmente irei me certificar de que o Nagi não vai mais ficar perto de você – Temari disse resoluta, fazendo o queixo de Rhythm despencar. Eles não estavam ali para garantir exatamente o contrário? No que ela estava pensando ao dizer aquilo??

No vai más? – Stéffanie os encarou incrédula e pálida. Temari sorriu para si mesma, percebendo que a sua investida reversa havia mostrado resultados – P-pero ... Yo no he dicho eso ... Quiero decir ... No me importa en realidad, creo que ... no es como ... como ... Yo no odeio ele!

— Então… você gosta dele? – Temari arriscou, da maneira mais delicada que podia falar.

— Gostar? Qué? No! – ela gritou esganiçada, quando enfim entendeu a conotação das palavras de Temari – No me gusta! Yo no o odeio, pero también não gosto dele! ... Bueno, no es que me e-encanta, por supuesto que no, no, em ninguna circunstancia, p-pero…

— Certo, você não quer ele longe, não é? – Temari adicionou com um sorrisinho. O semblante de Stéffanie voltou a ficar perturbado, ruborizando imediatamente.

Su presencia no me afecta en absoluto, entonces usted no necesita ... que ele fique lejos de mi, sabes? – ela disse, cruzando os braços querendo demonstrar indiferença, mas ao dizer isso, sua pose fraquejou por um momento – Yo ... No quiero ... que elle fique… longe de mim…

— Então! Você… gosta dele? – Temari tentou mais uma vez, sutilmente.

— C-creo que… talvez…

— Aaah! Chega disso! – Ryhthm interrompeu, sem pensar duas vezes – Para de enrolação, Temari!! Será que você não vê que essa garota tá caidinha pelo Nagi? Se não tivesse, não estaria com o coração tão hesitante, e também não teria deixado ele beijar ela ontem!!!

As duas garotas viraram-se com olhares furiosos para ele ao mesmo tempo. Os olhos de Temari chisparam, perigosamente, e os de Stéffanie pareciam divididos entre o constrangimento e a irritação. Rhythm engoliu em seco. Havia escolhido um péssimo momento para perder a paciência.

— S-seu… - Temari sibilou, puxando sua pequena naginata – Ela estava quase… EU VOU MATAR VOCÊ, IMBECIL!!!! – Ela gritou, começando a voar com a lâmina virada para Rhythm, que não perdeu tempo em começar a fugir. Os dois sumiram pela floresta, em alta velocidade, deixando para trás uma garota com a mente em conflito, perdida em pensamentos.

De volta ao acampamento, Kiseki voava de um lado para o outro em frente à barraca onde Anna havia se isolado desde o café da manhã. Depois de retomar mentalmente o que pretendia dizer a ela, ele inflou-se, enchendo-se de coragem, e abriu o zíper da porta. Tomou o cuidado de não adentrar o lugar, afinal, um nobre não invade os aposentos de jovens damas dessa forma brusca.

— Atenção, plebeia, eu tenho um importante comunicado a fazer e… o que é isso? – ele interrompeu-se de repente, ao notar finalmente o estado em que se encontrava a sua espectadora.

Anna estava jogada por entre os colchões, com um pacote de biscoitos de chocolate de um lado, e uma pilha enorme de mangás do outro. Em uma das mãos, trazia um dos mangás, e por trás dele, seu rosto vermelho, tomado por lágrimas, parecia ainda mais sentimental e desajeitado do que o normal.

— Oh, Little King…! – ela deixou cair os biscoitos, e se sentou tão abruptamente que seus óculos escorregaram pelo nariz.

— Q-que cena deplorável é essa, Ás? – Kiseki exigiu explicações, embora fosse ele mesmo aquele que se achegara sem ser convidado. Anna ajeitou os óculos e enxugou as lágrimas apressadamente, antes de começar a responder.

I j-just… eu só estava lendo alguns mangás, and… the story era tão emocionante, acabei chorando… - ela explicou, apressando-se em guardar os mangás rapidamente e limpar o rosto sujo com farelos de chocolate.

— Certo, isso não me interessa. Eu vim até aqui para falar com você sobre um assunto importante. Acompanhe-me – ele disse autoritariamente, indicando o lado de fora.

Why? You não pode falar now? – ela replicou inocentemente. Na verdade, não queria ter que sair da barraca e encarar diretamente Tadase, que ainda deveria estar irritado com ela por algum motivo.

— Um rei não vai entrando assim em barracas de garotas! – ele disse, como se fosse evidente – Apresse-se e saia daí, insolente, não temos tempo. Temos que aproveitar que todos estão fora.

— Estão? Where are they? – ela indagou, embora já estivesse engatinhando para fora da barraca, seguindo a ordem de Kiseki.

— O ex-valete e aquele gato ladrão ainda estão pescando. A Rainha estrangeira sumiu, assim como o atual valete… a Ás está perseguindo o Rei português com aqueles vestidos… fracamente, aquele garoto não merece o posto de rei se fica fugindo de uma simples garotinha…

And… the Princ… - ela se lembrou do aviso de não chamar Tadase de príncipe na frente de Kiseki, então engoliu suas palavras antes de continuar – ahn… Mr. Hotori… – ela corrigiu, sentindo o rosto colorir-se drasticamente só em dizer o nome dele.

— Ah, Tadase ainda não voltou da busca por Batsu-tamas. Por isso mesmo quero aproveitar para falar com você a sós, sem que ele interrompa desnecessariamente. Escute bem, menina – ele disse, e Anna se esforçou para prestar atenção, impressionada pela postura séria do pequeno Rei. Ele era tão fofo e parecido com Tadase, que por vezes ela tinha vontade de apertá-lo, e por isso mesmo, logo se distraiu com isso – Eu vim até aqui para verificar você. Quero ter certeza de que é uma boa escolha, e será uma Rainha digna do Tadase.

— Rainha? You say… queen? But… i’m an ace! – ela replicou, confusa. Kiseki bateu com a mãozinha na própria testa, irritado.

— Eu sei que é. Ah, eu tinha esquecido que além de plebeia, você também era meio baka… olha só, eu estou querendo dizer que quero saber se você é alguém capaz de ficar ao lado do Tadase durante o caminho para a dominação mundial. Em outras palavras, quero provar a força dos sentimentos que você tenha por ele. Entende o que quero dizer? – A resposta sincera que Anna deveria dar era “não” por que ela realmente não havia entendido nada, mas antes que percebesse, ela já balançava a cabeça em sinal afirmativo, assustada com a atitude enérgica do Chara. – Certo, estou feliz que tenha compreendido ao menos isso. Espero que tenha em mente que uma rainha deve ter, além de refinamento e boa aparência, também bom senso e compostura para ser capaz de ajudar seu rei nos momentos críticos. Sendo você uma inglesa, eu suponho que essas características venham de berço, correto?

— Of course! – Anna enfatizou seu sotaque inglês ao dizer essas palavras, querendo de alguma forma provar à Kiseki que era adequada para estar perto de Tadase. Ela imaginava que o pequeno Chara estivesse ali para avalia-la por ordem de Tadase, e que ele deveria estar verificando se ela era boa o suficiente para ser amiga dele. Talvez fosse por isso que ele estivesse bravo com ela, e se ela passasse no teste de Kiseki, as coisas voltariam a ser como eram antes. Pelo menos, era isso o que ela pensava.

— Eu ainda tenho minhas dúvidas quanto a isso… – Kiseki franziu a testa – Mas apenas dessa vez, vou confiar um pouco na escolha de Tadase. Agora, sendo forte e destemida, uma rainha deve, acima de tudo, ser fiel ao seu Rei, e obediente a ele. Você está pronta para pertencer inteiramente ao seu Rei, e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para vê-lo feliz?

Happy…? Yes! Eu quero ver ele feliz! So much! – a intensidade nas palavras da ás convenceram Kiseki pela primeira vez.

— E… estaria disposta a satisfazer todos os desejos dele…? Até os mais insanos?

I think so… Eu estaria. – ela ponderou sobre a que se referia esses tais desejos, mas nada veio à sua cabeça.

— Perfeito. Era isso o que eu esperava ouvir. Acho que você poderia ser uma boa rainha para o Tadase afinal. Ele fica com o coração tão alterado só em vê-la, só posso supor que isso seja um sinal. E você parece sincera nas suas afirmações de que fará o Tadase feliz. Está bem, eu aceito esse termos, e dou permissão a vocês dois – ele bradou altivamente, como se estivesse fazendo algum decreto real.

P-permission? For what?

— Agora… só me resta dar um jeito nas questões mais aparentes… - ele disse para si mesmo, ignorando a questão da garota – Começando pela sua postura… Ah, isso vai dar trabalho…

Longe dali, Tadase se embrenhava cada vez mais na mata. Já havia se esquecido do objetivo inicial de buscar por indícios de batsu-tamas. Agora, tudo o que fazia era andar sem direção certa, seguindo a trilha demarcada apenas para não se perder e com os pensamentos girando e girando também sem nenhum rumo.

— O que eu faço…? Ela vai querer fugir de mim se souber… Mas eu também não consigo mais encará-la direito… - Ele murmurava para si mesmo, como se falar em voz alta fosse ajudar em alguma coisa.

So, why you don’t say this for her? – uma vozinha hesitante indagou no ar; Tadase se virou bruscamente, por que por um momento, aquele sotaque inglês o fez imaginar que seria Anna. Ao ver Peach, flutuando bem a frente dos seus olhos, ele suspirou pesadamente, parando de andar.

— Gomen, Peach-san. O que disse?

— Anna thinks you’re bravo com ela – Peach disse tristemente – Ela nem quer talk to me, então pensei que deveria falar with you! Você tem que esclarecer esse mal-entendido, King!

— M-mas… eu não estou bravo com ela, claro que não! - Ele se apressou em dizer, confuso - Eu só… ahn… estou me sentindo um pouco culpado por ter pensado em coisas estranhas… - ele corou furiosamente, voltando a andar na direção do acampamento, seguindo o leve flutuar de Peach.

Ahn… King… what… you feel… pela minha dona? – Peach se esforçou em dizer, corando.

O rosto de Tadase se avivou, ficando vermelho de uma ponta a outra em um instante.

— Q-quando você me pergunta assim tão de repente, eu não sei o que responder! – ele disse, hesitante, desejando poder se misturar à floresta para não ser visto.

But… você sente alguma coisa, correct? – ela arriscou novamente, esperançosa.

— Etto… acho que posso dizer q-que sim… e-eu acho… - ele coçou a bochecha, desviando o olhar para as folhas secas do chão. Ele não sabia ser especifico, nem mesmo se explicar, mas não podia negar que algo acontecia entre ele e Anna, embora não estivesse tão confiante quanto à recíproca. De fato, a sua falta de experiências quanto a esses assuntos o deixavam confuso. Aquilo que ele sentia agora era completamente diferente do que sentiu uma vez, quando imaginou estar apaixonado por Amu. E por causa disso, ele não sabia como proceder corretamente, nem como nomear esse sentimento estranho e turbulento que agitava seu peito.

— Então, tell that to Anna! – Peach se entusiasmou, voando apressada na direção do rosto de Tadase, assustando-o – She is so sad, pensando que você não a quer por perto. Only… diga a ela que não a odeia, please!

— E-eu direi… - ele respondeu, vacilante. Apesar da sua confusão, Tadase não queria de maneira nenhuma que Anna se enganasse a seu respeito, e muito menos que pensasse estar sendo odiada, somente por causa da falta de perícia dele com esses assuntos, então seguiria o conselho da Chara e diria a ela o que pensava. Pelo menos a parte que havia conseguido compreender até agora, e que não era realmente muito, mas que poderia servir para que ela fosse convencida de que não havia feito nada de errado, e que o verdadeiro erro havia sido cometido pelo próprio Tadase. É claro que ele não pretendia contar sobre aquele sonho vergonhoso, em hipótese alguma.

O loiro se apressou em direção ao acampamento, andando rapidamente, com a Chara da estrangeira no seu encalço. Estava assim, quase chegando, quando ouviu um grito agudo se infiltrar através das árvores e chegar até seus ouvidos. A voz era familiar.

— Lewis-san! – ele disse, alarmado, e começou a correr tanto quanto suas pernas aguentavam, por vezes tropeçando nas raízes evidentes, mas sem jamais deixar cair o ritmo das suas passadas. Peach acelerou também o voo, preocupada, mas feliz em ver que essa preocupação também se refletia no semblante do Rei. Talvez eles ainda tivessem alguma esperança…

Chegando ao acampamento, com os pulmões quase explodindo devido ao esforço repentino, Tadase viu tudo, menos o que esperara ao ouvir aquele grito. Não havia batsu-tamas ou qualquer coisa naquele lugar. Do contrário, Kiseki se exaltava, aos berros com alguma coisa que, depois de se aproximar, Tadase conseguiu identificar como sendo Anna. Ela estava caída, e examinava o joelho com olhos chorosos. Ao seu lado, um livro jazia esquecido no chão, e Kiseki ordenava que ela o colocasse na cabeça e recomeçasse a andar.

— Sua desajeitada! Uma Dojikko como você jamais chegará a ser rainha! – ele gritava – Vamos, pare de chorar e equilibre esse livro na cabeça. Não é tão difícil! E tente não cair pelo menos uma vez.

Y-yes, sir! – ela respondeu soluçando, pronta para se levantar e tentar novamente.

— Parem! O que você está fazendo, Kiseki?! – Tadase se aproximou imediatamente, interrompendo a ação, e fazendo Anna cair novamente sentada no chão com a surpresa – Não está vendo que ela está machucada? – ele indicou o joelho ralado de Anna, do qual agora brotavam gotas vermelhas de sangue. Ajoelhou-se em frente a ela, para examinar o machucado, e Kiseki se esgueirou para onde Peach os observava, fugindo antes que a bronca se estendesse por mais tempo.

P-prince Charming… you don’t need… eu estou bem – ela gaguejou, incerta. Não queria obrigar Tadase a cuidar dela mais uma vez, quando ele obviamente não queria sua companhia.

— Vamos cuidar desse machucado… - ele disse apenas, erguendo-a para que sentasse no tronco ali perto, e então correu para uma das barracas, pegar o kit de primeiros socorros. Quando retornou, viu que Anna olhava fixamente para o céu, sem querer visualizar o ferimento que agora estava completamente lavado de sangue – Ah, como o Kiseki foi deixar isso acontecer… - ele resmungou, agachando-se em frente à garota, que o encarava com incredulidade.

You don’t need se preocupar comigo, Prince, i’m fine. I know… você está b-bravo comigo, então não precisa…

— Quem disse que eu estou bravo com você? – ele replicou, começando a tirar algumas bandagens e remédios da caixa. Pegou um algodão e o embebeu em algum líquido, para limpar o ferimento.

B-but… eu pensei que…

— Eu não estou, Lewis-san. Como poderia? Você é sempre tão engraçada, e gentil… - ele ergueu os olhos para ela, sorrindo, mas ao ver sua face corada e surpresa, teve que desviar o olhar – Não fique pensando bobagens sozinha… e também não ouça aquele doido do Kiseki. D-da próxima vez, você pode vir falar diretamente comigo, está bem? Eu sempre estarei aqui para ouvi-la… - ele disse, e começou a passar o algodão no joelho da garota, com leves batidinhas.

Ouch! Isso d-dói! – ela reclamou, querendo se esquivar.

— Não, fique quieta. Isso vai desinfetar seu machucado! – Tadase bradou, segurando a perna dela para continuar o que fazia, embora Anna ainda tentasse se desvencilhar, choramingando por causa da ardência. Apesar disso, a mão quente e suave de Tadase que tocava sua pele, de certa forma a acalmava, embora também a deixasse absolutamente agitada por dentro. Os sentimentos conflitantes deixaram-na perdida, e ela esqueceu-se de reclamar. Tadase assoprou de leve o ferimento aberto, e ela corou furiosamente ao sentir a respiração quente dele fazer o ardor sumir. Depois de limpar e passar um remédio, Tadase preparou um curativo com as gazes, colocando-o por sobre o ferimento. – E agora, está melhor?

A little… - ela disse, e vendo o sorriso ligeiramente convencido de Tadase, fez um beicinho nada maduro – Still… hurts… um pouco… - ela balbuciou desviando o olhar, não querendo se dar por vencida.

— Logo vai passar… - o loiro riu, passando a mão sobre os cabelos da às, que sentiu seu coração bater descontroladamente apenas com aquele toque.

— P-prince… Have no problem estar ao seu lado… c-como eu sou agora? – ela indagou fracamente, forçando-se a encará-lo por trás dos óculos espessos. A luz que refletia nas lentes davam a impressão de que Tadase era muito mais brilhante, e ela quase não aguentou olhá-lo diretamente.

— Claro que não, Lewis-san… - Tadase se sentiu um pouco mais confiante, e permaneceu com a mão acariciado as pontas dos cabelos negros – N-na verdade… - ele corou um pouco – Eu ficaria muito feliz com isso…

Really? – ela sentiu um misto de nervosismo e felicidade inflar o seu peito, enquanto a mão de Tadase ainda a fazia sentir-se confortável e aquecida.

— Hai. E-eu não sei bem por que… mas gosto muito da sua companhia. Então, onegai, Lewis-san, permaneça do meu lado. – ele disse, e antes que percebesse, encarava Anna diretamente nos olhos verdes, que brilhavam refletindo a sua imagem. Ela era tão inocente e frágil… repentinamente, um desejo enorme de protegê-la se fez presente, e Tadase teve vontade de abraçá-la. Por muito pouco, conseguiu se controlar e não o fez, contentando-se em apenas acariciar seu rosto de leve antes de recolher a mão.

Os dois ficaram assim, apenas se encarando, sem nada mais a dizer, por um tempo indefinido. Kiseki e Peach (que estava empenhada em desenhar aquela cena como em uma página de mangá, cheia de brilhos e flores ao redor), não ousaram interromper, e eles continuariam assim por muito mais tempo, se não tivessem ouvido um grande barulho ao longe.

— Aaah, Yaya está com fome!!! – a voz aguda da ás ecoou pelo acampamento inteiro, e os dois se afastaram bruscamente, assustados como se estivessem fazendo algo de errado.

— Claro, fica perseguindo as pessoas por aí – Miguel resmungou mais para si mesmo. Nas mãos, trazia o chicote do seu Chara Change, o que deixava óbvio o motivo pelo qual a garota não estava tentando fazê-lo vestir-se de garota mais.

 — Ah, Anna-tan, você saiu da barraca! O que houve, estava com sono e quis dormir mais um pouco? – Yaya disse ao ver a garota, ignorando as reclamações de Miguel.

Yes… era isso – Anna mentiu muito mal, e a ruiva arqueou a sobrancelha em dúvida.

Logo depois, Stéffanie e Nagihiko apareceram pelo lado da floresta. Como estavam juntos, Yaya teve centenas de ideias diferentes para provocá-los, mas lembrou-se a tempo dos acontecimentos anteriores, e seu senso de perigo alertou-a de que não era um bom momento para brincadeiras. Os dois traziam alguns temperos e outras coisas que encontraram pela floresta para fazer o almoço, já que haviam se encontrado meio que por acaso enquanto retornavam ao acampamento.

Depois os dois garotos retornaram da pescaria. Ikuto ganhara de lavada de Kukai, pescando oito peixes enquanto o ruivo só conseguira um dos pequenos, mas isso apenas por que ele fez o chara change com Yoru e agarrou os peixes com as suas garrar na beira do rio. Stéffanie e Nagihiko começaram a preparar o almoço, que seria um ensopado, e era evidente para alguns que eles estavam ligeiramente diferentes do que estava antes, durante o café da manhã. Era como se Stéffanie estivesse mais consciente da presença de Nagihiko, enquanto o garoto parecia querer instigá-la, tocando-a de leve, roçando seus braços discretamente, ou mesmo chamando-a sempre que tinha a chance.

Assim que foi anunciado que estava tudo pronto, todos acomodaram-se ao redor da fogueira, que a essa altura estava quase se apagando, e deveria ser reascendida quando chegasse a noite, e começaram a comer. Como sempre, estava tudo delicioso e ninguém se preocupou em preencher o silêncio com palavras por algum tempo.

Tadase estava comendo calmamente, quando algo chamou sua atenção. Ele observou Anna por algum tempo, e reparou que ela deixava todos os legumes do ensopado de lado no prato, comendo apenas o peixe e o arroz. Depois de notar isso, ele não conseguiu ficar calado.

— Nee, Lewis-san… - ele chamou, e a garota ergueu os olhos do prato na sua direção – Por que você não está comendo os legumes?

— O q-que? – ela estranhou aquela pergunta repentina – Well… I don’t like to eat vegetables… eles tem…. gosto ruim… - ela disse simplesmente, como uma criancinha que foi pega fazendo algo de errado.

— Não mesmo, isso não está certo – ele a repreendeu, ainda que gentilmente – Você deve comer tudo o que está no prato, principalmente os vegetais! Se não comê-los, não vai ficar forte para caçar batsu-tamas, e também não irá crescer!

B-but… - ela balbuciou, pensando em alguma maneira de se explicar.

— Vamos lá! – ele pegou com seu próprios hashis alguns pedaços de tomate e ergueu na direção da garota – Diga “ah”.

— Mas… eu não quero… - ela choramingou, teimosa.

— Tem que comer tudo! Abra a boca, Lewis-san! – ele insistiu, tocando com a ponta do alimento a boca de Anna, e forçando-a a abri-la. Sem outra opção, ela aceitou a comida, e engoliu, ainda que contrariada – Muito bem. Agora, de novo! – ele fez novamente, pegando outros vegetais, e fazendo-a comer tudo. Ele continuou a fazer isso até garantir que ela havia comido todos os seus legumes apropriadamente.

— Waaaaaaaaa~ que cena mais kawaaii que nós acabamos de presenciar!!! – Yaya foi a primeira a se pronunciar, já que todos assistiam àquele momento em silêncio até agora. Tadase corou furiosamente, finalmente se dando conta do tipo de cena acabara de protagonizar, e Anna parecia decidida a se enterrar em um buraco e não sair de lá nunca mais, ao notar a atenção de todos focada nela assim tão de repente.

— Gostei de ver, Tadase, seguindo os passos do seu Onii-sama! – Ikuto bateu nas costas do menor, fazendo-o engasgar – Aprendeu tudo o que sabe comigo, não é?

— É, o Tadase não é tão pamonha quanto eu imaginava… - Kukai riu alto, depois de dizer isso.

— Ele sabe mesmo como conquistar uma garota… - Nagihiko entrou na onda, rindo do amigo.

— D-d-do que estão falando? – o rei tentou escapar, disfarçando enquanto voltava a comer a própria comida.

— Vejam só! Eles comeram no mesmo hashi!! – Yaya apontou descaradamente para os dois – Foi um beijo indireto, não foi?! – ela disse, e Anna pareceu prestes a desfalecer com aquelas palavras.

— Pare de dizer besteiras! – Tadase tentou, sem sucesso.

— Oh, eles até parecían una pareja de recién casados! – Stéffanie exclamou, satisfeita por ter tido a atenção da ás escandalosa desviada de si mesma.

— Ficam tão fofos assim! Olha só, estão corando! – Miguel incentivou, também querendo sair do pensamento de Yaya.

Stop it, you! – a inglesa arriscou, constrangida, fitando o próprio prato.

Olhou para Tadase de soslaio, e ele parecia tão embaraçado quanto ela, e ainda um pouco culpado por ter feito aquilo. Ele queria pedir desculpas, mas percebeu que qualquer coisa que falasse agora só iria alimentar o entusiasmo de Yaya, que agora estava entrando no seu modo mais descontrolado de animação. O jeito, agora, era esperar que ela esgotasse a sua cota de provocações por hoje… ou que sua atenção se desviasse para outro ponto.

Sendo assim, tanto Anna quanto Tadase voltaram a comer em silêncio, com os rostos em chamas, e fingindo que nada havia acontecido, torcendo para que a energia de Yaya acabasse logo. O que, certamente, não aconteceria tão cedo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Yoo~ Shiroyuki desuu~~ ~
Aaah, eu adorei esse capítulo~ tão divertido, os charas tentando ajudar os seus donos bakas a ter algum avanço... só resta saber se eles conseguiram, não ée?
Espero pelos reviews, minna~ o próximo é com a senpai o//
otanoshimini!!!~



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Revenge" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.