Procuro Um Namorado! escrita por StardustWink


Capítulo 10
Tentativa 10: A festa.


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sou uma autora horrível. Eu desapareço por uns dois meses antes do capítulo 9, posto, digo que vou postar o 10 em breve, e demoro MAIS DE UM ANO para postar. E, ainda assim, recebo recomendações lindas e milhares de comentários. (;v;) Cara, vocês são incríveis.

Mas ok, eu vou explicar o que houve. O capítulo 10 é simplesmente o primeiro que eu pensei quando eu tive a ideia para a fic. Ele é o capítulo de virada da história, e eu queria que ficasse exatamente como eu imaginei que seria, então tinha dias que eu tinha sim vontade de escrever mas não estava conseguindo progredir nem um pouco com ele. Eu fiquei super ocupada durante o resto do ano passado pelo vestibular, viajei por umas duas semanas depois, fiquei sem inspiração e, durante esse início de ano, consegui terminar aos poucos de escrever o capítulo.

E... vamos só dizer que ele alcançou minhas expectativas. Espero que alcance as de vocês, também.

ps. Não me matem, por favor. /foge/



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O pequeno café de mesas convidativas e bolos deliciosos agora jazia caprichosamente decorado para aquela noite. Erza tivera de fechar seu estabelecimento um pouco mais cedo para arrumar tudo em tempo, mas os minutos de sobra que ela tinha para checar tudo fazia valer à pena.

Era a primeira reunião de sua antiga turma de escola, afinal. A ruiva mal podia esperar para rever todos os amigos com que perdera contato, além de ganhar um tempinho para falar com os seus novamente.

De vez em quando, ela sentia falta das noites em que saía com suas amigas, das festas, dos dias em que sua única preocupação era garantir que Natsu e Gray parassem de brigar feito dois idiotas.

Não que eles não brigassem mais - isso seria um milagre, uma verdadeira obra divina, e, infelizmente, impossível – Ela, porém, tinha mais coisas a fazer agora. E, provavelmente, eles também.

É engraçado o que poucos anos podem fazer com sua vida.

A ruiva desviou os pensamentos daquele tópico, voltando-se à sua preocupação usual. Tinha ainda muito o que arrumar, inclusive si mesma, e não podia ficar perdendo tempo em reflexões psicológicas aleatórias.

– Erza? - A voz de seu noivo a fez olhar para o lado. Ele estava com um prato de doces nas mãos, e parecia um tanto indeciso. - Acha melhor deixar esses aqui na frente?

– Ah, claro. - A mulher sorriu. Pelo menos o tempo que tinha lhe tirado a proximidade com seus amigos a recompensara com ele. Depois de tudo, quem diria que estariam tão bem agora?

Ainda assim, ao pegar os doces de suas mãos, a visão do anel de noivado cintilando nas mãos dele deixou-a com um aperto leve no peito. Mesmo negando o fato, Jellal sentia-se culpado de muitas coisas e ela tinha certeza disso.

E tudo bem que eles não estavam nos melhores termos durante os primeiros anos de colegial. Que tinha mentido para ela, e agira de forma totalmente diferente do comum. Que usara um nome falso, e que jogara ela e todas as suas outras memórias de infância fora pelo bem de sua nova vida.

Tudo bem que ele tinha a magoado profundamente, mas será que não via que aquilo também estava a machucando?

Eles se amavam, e isso era certo. Ela tinha o perdoado, também. Então qual era o problema de tomar o último passo? O que estava faltando?

Erza nunca admitiria, mas tinha começado a temer que só aquilo que tinham nunca viesse a ser o suficiente.

xxx

O que antes era um café vazio no momento estava lotado de rostos familiares. Alguns se sentavam nas mesinhas que foram deslocadas para as extremidades do local, outros se encostavam à parede.

A maioria, porém, estava no centro e em grupos, rindo e lembrando-se de antigas memórias. Entre todas elas estava Lucy, que no momento conversava com seu amigo/confidente/rolo-que-durou-só-um-encontro, Loke.

Era estranho referir-se a ele por tudo isso, mas a descrição era essa mesmo. E pensar que a loira nunca achara que poderia ser tão amiga de alguém que flertava como se estivesse dizendo bom dia.

Bom, tem uma primeira vez para tudo, não é mesmo?

– E então, por causa desse detalhe, eu consegui ganhar o emprego. - Ele comentou, virando-se para ela. – Muita sorte a minha, não acha?

– Eh? - A moça murmurou, desviando seus olhos cor de chocolate para o homem à sua frente. - Desculpa, eu não ouvi a última parte.

Ele arqueou uma sobrancelha, e encarou um ponto do outro lado do lugar, onde outras pessoas conversavam em uma das paredes. Entre elas, conseguia ver um borrão rosa mais ao fundo.

– Sabe, Lucy, ficar conversando com um cavalheiro como eu e mesmo assim não tirar os olhos de outro homem não é muito educado. - Murmurou, inclinando-se para fazê-lo bem perto do rosto da mesma.

Ela corou, pulou para trás e deixou escapar um som de surpresa. Depois, olhou na direção de Natsu para ver se ele havia percebido. Quando viu que não, respirou de alívio.

Loke observou a cena com uma sobrancelha arqueada.

– Se você quer ir tanto falar com ele, por que não vai logo? - Comentou, suspirando. - Não sei o que você vê nesse cara para recusar minha companhia, mas não vou discutir dos gostos de uma dama.

Normalmente Lucy gritaria com ele nesse exato momento, dizendo que ela não tinha gosto nenhum, que ela e Natsu eram só amigos, para depois ficar vermelha de vergonha.

No entanto, os olhos achocolatados dela enublaram assim que ele terminou a frase, e a aspirante a escritora abriu um sorriso um tanto forçado.

– Claro, Loke, diga o que quiser.

Isso era definitivamente estranho.

– Lucy, não me diga que... - Ele arregalou os olhos, - Você finalmente percebeu?

–... Falando assim parece que eu sou uma idiota. - A Heartfilia o encarou, um pouco irritada.

Alguma coisa no olhar cético que ele a dirigiu em seguida a deixou com vontade de estrangulá-lo, o que ela certamente faria se não estivesse indisposta.

– Bom, então quer dizer que eu perdi a aposta? – O ruivo bufou, virando-se para um canto do restaurante onde Cana engolia o que parecia ser sua segunda garrafa de uísque. – Droga, eu tinha certeza que...

– Vocês fizeram uma aposta?! – Lucy exclamou incrédula. Ao ver que várias pessoas viraram para encará-la, ela corou absurdamente e murmurou a próxima parte. – Sobre os meus sentimentos?

– Na verdade é sobre você e o cabeça quente ali já serem um casal, mas... – Loke a direcionou um olhar malicioso. – Vocês são sim vizinhos, como ontem foi o seu encontro semanal com ele, então provavelmente...

– Sobre isso... – A loira fitou o chão, o que despertou a curiosidade do ruivo. – Nós não estamos juntos, e... Nós tivemos uma briga ontem, para falar a verdade.

Silêncio de três segundos.

– Vocês o quê. – Ele murmurou, não entendendo mais nada. – Como assim brigaram? Lucy, você finalmente descobriu que gosta dele e ele obviamente gosta de você, então como-

– Loke, para com isso.

O mesmo parou de falar no mesmo segundo. Pelo tom de voz vacilante que ela usara, a coisa tinha realmente sido séria. O ruivo parou para analisá-la de perto e só aí percebeu como seu rosto parecia abatido, mesmo escondido debaixo da camada leve de maquiagem.

– O que aconteceu? – Ele perguntou com a voz baixa, aproveitando para puxá-la para longe da concentração da festa. Lucy surpreendentemente seguiu-o sem protestar, mantendo os olhos no chão mesmo depois que pararam.

– Ah... – Ela começou, parecendo hesitante. Sabia que, apesar de se mostrar um cavalheiro na maior parte do tempo, Loke não era exatamente a pessoa mais confiável para contar uma coisa dessas (por Mavis, ela nem comentara nada com Levy ainda!), mas toda aquela conversa tinha a trazido novamente para o desastre que tinha sido ontem e... Bom, ela precisava de alguém para desabafar.

Quando viu que a loira parecia estar no meio de um impasse interno, ele suspirou.

– Que tal começar pelo motivo da briga?

Lucy levantou os olhos para ele, antes de desviá-los para onde seu melhor amigo se encontrava.

– Bom...

Ela estava com raiva. Não, para falar a verdade, se Lucy fosse descrever a si mesma usando adjetivos, estes provavelmente se alternariam entre “furiosa”, “enfurecida” ou até mesmo “exasperada”.

O motivo? Claro, Natsu. Era engraçado como nesses últimos dias tudo parecia revolver-se nele e em como sua existência a trazia dores de cabeça.

No momento, a pobre garota o esperava para sua maratona de filmes semanal já há quase duas horas. E, para piorar, o idiota tinha deixado seu celular em casa, já que ela conseguia ouvir o barulho do toque dele vindo de sua janela.

Ótimo. Por que eu ainda estou esperando, mesmo? A loira bufou, inclinando-se para frente para alcançar o pote quase vazio de pipoca que descansava um pouco à sua frente no chão do quarto.

Claro que ela sabia a resposta – Lucy sempre faria de tudo pelo seu melhor amigo, não importa o quão exaustivo isso fosse. E, claro, havia também o fato de que ela recentemente havia descoberto ter uma queda por ele, o que só piorava as coisas.

– Onde é que ele foi se meter? – A garota resmungou, trazendo as pernas para perto de si e descansando seu queixo em seus joelhos.

Ela direcionou seus olhos novamente para o relógio, sentindo uma pontada de preocupação em seu peito. Natsu nunca era de se esquecer de seus encontros, e normalmente até chegava horas mais cedo do que o combinado... O que será que havia acontecido?

Lucy engoliu em seco, tentando bloquear as milhares de imagens de seu melhor amigo envolvido no meio de um acidente que assombravam sua mente. Mesmo assim, elas continuavam martelando sua cabeça com preocupação - E se tivesse acontecido um incêndio e ele tivesse se machucado?

Malditas imagens mentais! Ela praguejou internamente, olhando outra vez para o relógio. Esperaria mais uma meia hora. Se ele não aparecesse, a mesma estava pronta para sair de casa e procurar em todos os hospitais da cidade por um garoto idiota de cabelo rosa que não sabia cumprir horários.

Mais cinco minutos.

É, chega. Lucy falou para si mesma, levantando num pulo. Só foi interrompida quando, no caminho de pegar um casaco do armário e tentar não deixar nada cair com seu desespero, viu a luz do quarto em frente à sua janela se acender.

O quê-? – Ela foi correndo até sua janela, abrindo-a toda de uma só vez e inclinando a cabeça para fora. – Natsu? Ei!

Uns dois segundos depois, a familiar visão de seu melhor amigo – com nenhum curativo no corpo, felizmente – apareceu na porta da varanda.

– Lucy! – Ele a cumprimentou com um sorriso, antes de piscar e parecer se lembrar de algo. – Ah, droga, eu me esqueci de hoje!

E foi naquele momento que toda a preocupação que tinha antes se transformou em raiva.

– Você esqueceu? – Ela esbravejou, mal ligando se a vizinhança inteira escutasse o que ela tinha para dizer. – Como assim esqueceu, Natsu?! Nós fazemos isso toda a semana no mesmo horário, lembra? O que você acha que eu pensei quando você não apareceu por duas horas?

– Desculpa, Lucy... – Ele desviou os olhos para o chão, parecendo realmente culpado. – Eu não queria ter esquecido, é só que...

– Que...? – Ela cruzou os braços, impaciente. Foi quando Natsu demorou mais tempo que o normal para responder que ela começou a ficar realmente curiosa.

– É que eu fui visitar a Lisanna hoje, e... – O garoto continuou, coçando a cabeça com uma das mãos, um rastro de rosa colorindo suas bochechas.

Ela arregalou os olhos.

Ah.

Lucy comprimiu os lábios, sentindo seu coração apertar dolorosamente. A voz de seu melhor amigo ecoou como ruídos no canto de sua mente, mas ela não conseguia – não queria – prestar atenção no resto. Ela desviou seus olhos para o chão. De repente, seu ânimo para uma noite de sexta feira tinha desaparecido completamente – assim como a vontade de vê-lo.

– Lucy?

A voz dele a trouxe outra vez para a realidade. O que faria agora? Não poderia deixar que ele a visse desse jeito...

– Se é assim, então está tudo bem, Natsu. – Ela levantou os olhos para encará-lo, forçando um sorriso. – Eu entendo, não precisa explicar se não quiser.

– Eh? – A voz dele soou confusa, - Não é isso, é só que...

– Não tem problema, sério. – Ela forçou uma risada – que soou falsa em seus ouvidos – e controlou-se para não deixar sua voz vacilar. – Desculpa, mas eu fiquei com muito sono depois de te esperar por tanto tempo, então acho que vou dormir.

– Lucy? Tá tudo bem com você? – Ele tinha andado até a grade de sua pequena varanda, inclinando-se o mais perto que podia na direção dela. A preocupação em sua voz só a fez se sentir pior.

– ...Está, sim, só tive um dia cansativo no jornal hoje. Colunas para fazer e tudo mais, sabe? – A garota não conseguia mais olhar para ele, então desviou os olhos para o chão. – Te vejo amanhã, ok?

– Tudo bem, mas...

– Boa noite, Natsu. – E, sem olhar para o garoto novamente, ela fechou sua janela delicadamente, girando o cadeado para trancá-la.

Lucy encarou as portas brancas da janela, tentando visualizá-lo do lado de fora. Ele provavelmente vira por trás de seu disfarce... Mesmo sendo denso como uma pedra, sempre parecia saber quando ela estava com algum problema.

Ela podia imaginar a cena. Ele se aproximaria um pouco mais, sorriria um pouco mais, falaria de coisas aleatórias de um jeito tão óbvio que ela perceberia quase na hora que ele estava tentando a animar. E Lucy sorriria, porque ele não sabia mesmo ser sutil nem nessas horas, aquele idiota, e as preocupações que inundavam sua cabeça se esvairiam como mágica...

A garota sentou-se em sua cama, olhando para o teto. Não podia contar com Natsu naquele momento quando ele mesmo era o problema. Como sequer o encararia depois disso?

– É tarde demais, huh? – Murmurou para o vazio do quarto. O rosto do garoto voltou à sua mente – olhos tímidos, rosto colorido de rosa – e uma lágrima solitária desceu por sua bochecha.

Não precisava ouvir as palavras – mais do que isso, estava com medo de ouvi-las. Com medo de ter certeza de que seu melhor amigo tinha mesmo se acertado com sua amiga de infância e a deixado para trás, logo quando ela finalmente percebera o que sentia por ele...

Uma mão foi pousar-se em sua boca, reprimindo um soluço.

Ele sempre sabia quando ela estava chorando, com aqueles ouvidos estupidamente apurados que tinha. Fora esse o motivo deles terem se conhecido melhor – na tarde depois de seu primeiro dia de aula, quando descobriram que eram vizinhos. Então, pelo bem dele, pelo seu próprio bem, ela não poderia deixá-lo ouvir. A garota deitou na cama, afundando o rosto em seu travesseiro e usando-o para abafar seu choro.

Mais do que nunca antes na vida, Lucy desejou que pudesse voltar no tempo.

Fim do flashback.

– Espera, Lucy. – O ruivo murmurou logo após a mesma terminar de falar, uma mão vindo apoiar-se em seu ombro. – Você não pode achar que os dois estão juntos se ele não falou nada. E se-

– Loke... - Ela o interrompeu, olhos voltados para o chão. –Não. Eu estava lá, eu vi a expressão dele... Natsu é o meu melhor amigo, eu o conheço mais do que todo mundo. Eu saberia.

– Eu só estou dizendo que você podia perguntar diretamente para ele, para ter certeza...

– Eu não posso fazer isso! – A garota falou mais alto, timbre de voz vacilante, para depois se recompor. Depois, continuou num murmúrio. – Eu não posso fazer isso, Loke. E se, depois de contar, ele resolver pedir meus conselhos? E se ele começar a falar dela a todo o momento para mim?

– Lucy...

– Loke, eu não vou aguentar. Eu não quero. – A loira levou uma mão até os olhos, impedindo a lágrima que estava quase caindo de descer pelo seu rosto. – Posso ser uma péssima amiga, mas... Eu prefiro manter as coisas do jeito que estão enquanto eu ainda consigo.

Loke encarou a jovem à sua frente, não sabendo mais o que dizer. Seu inconsciente insistia que havia algo muito errado ali – mas, ao mesmo tempo, não podia obrigá-la a fazer algo que não queria. Além disso, conseguia entender o lado dela...

...Mesmo assim, pensar que o Natsu que conhecia não nutria sentimentos por ela, era... Difícil de acreditar, para dizer o mínimo. Ele teria de investigar isso mais tarde.

– Não fale com ele sobre isso, está bem? – A voz rouca da garota chamou sua atenção, e ele virou-se novamente para ela. – Eu não quero que ele desconfie de nada.

–... Tudo bem. – O ruivo respondeu. Com ele, ela disse, então, tecnicamente, eu ainda posso tentar saber isso por outros meios. Lucy, apesar de nunca ter aceitado seus avanços, ainda era uma das garotas mais incríveis que conhecera na vida - ele não podia simplesmente deixar as coisas como estavam, sem saber mesmo se aquilo era só um mal entendido. Tinha de ter certeza absoluta.

Pelo bem dela.

Mas, por agora... Deu um passo para frente, levando suas mãos até o rosto da loira e forçando-a a encará-lo. – Esqueça isso, está bem? Lágrimas não combinam com uma garota tão bonita como você.

–... Francamente, você tem as piores horas para fazer cantadas. – Lucy desviou o rosto para o lado, livrando-se das mãos que a seguravam, mas um sorriso pequeno se apossou de seus lábios. – Mas obrigada.

– É isso o que eu estava dizendo, Lucy. Você fica muito melhor assim, sorrindo. – Loke pousou uma das mãos novamente em seu ombro. – Agora, acho que essa é uma boa hora para invadir a mesa de doces. Não acha?

– Acho uma ótima ideia. – Ela aumentou seu sorriso, aceitando o convite e deixando-se ser conduzida novamente até a parte central da lanchonete. Por agora, pensou, eu posso esquecer isso.

Nenhum dos dois pareceu notar o par de olhos verde musgo que os acompanhou ao longe.

xxx

Mirajane suspirou, pegando um copo de água da bancada. Tinha sido bombardeada de perguntas pela última hora e meia e, mesmo já estando acostumada com a atenção, era cansativo ter de repetir o que acontecera dias atrás para tantas pessoas.

E, além disso... Ela encarou o copo de plástico. Lisanna estava estranha desde ontem, encarando o nada por alguns segundos e ficando extremamente nervosa toda vez que ela a perguntava se estava tudo bem. Tinha certeza de que algo teria acontecido, mas o que seria...?

A Strauss dirigiu seus olhos para a extensão da cafeteria, procurando até achar o cabelo rosa familiar do amigo de infância de sua irmã. Natsu, também, parecia diferente – tinha alguma coisa errada com sua animação, como se tivesse algo o impedindo de sorrir direito. Ele tinha ido a visitar ontem, tinham até jantado todos juntos na casa de Elfman...

Aqueles dois estavam conversando sobre algo ontem, não era? Hm... A beldade continuou a olhar disfarçadamente o garoto, como se só isso pudesse a fornecer respostas para sua dúvida. Por fim, desistiu, voltando os olhos para o balcão. Bom, eu não posso fazer nada por enquanto. O melhor é esperar até que algum deles fale alguma coisa.

Muito ocupada com seus pensamentos, ela não percebera a porta da cafeteria se abrindo – e tampouco a figura que adentrou por ela. Só agora, ao prestar mais atenção aos seus arredores, que ela percebeu o silêncio estranho que pairava sobre o local.

Ela se virou, curiosa, e parou.

Um homem alto, grande e de rosto intimidador jazia parado em frente à porta da cafeteria.

Os olhos azuis cristalinos dela se arregalaram. Então era por isso que ninguém falava nada por algum tempo. Aquele garoto era... Por causa dele...

A albina, tão distraída com a piada que sua irmã acabara de contar, não percebeu a comoção a alguns metros de distância. Foi quando Lisanna parou de rir subitamente e murmurou seu nome num tom baixo que ela decidiu olhar para frente.

Alunos se aglomeravam no corredor, espiando para dentro da porta da biblioteca com olhares assustados. Ela avisou Laxus parado ao lado da porta, encarando um ponto fixo com o rosto sério, e seus lábios se moveram para pronunciar seu nome.

Foi nesse momento que ela finalmente notou o que estava escrito na parede.

‘Não brinque com fogo, trovãozinho, ou vai acabar se queimando. –J’

– O que você está fazendo aqui?

Ela saiu de seus devaneios ao ouvir a voz de Jet, que tinha dado um passo à frente para se por na frente de Levy. Ele tinha uma expressão de pura raiva no rosto, não ficando muito atrás de algumas outras pessoas que ali estavam.

– Hah? – Gajeel pareceu não se importar com o tom ameaçador, com as mãos ainda em seus bolsos. – Isso não era uma reunião de turma?

– Não importa! – Dessa vez, foi Droy, outro amigo de colegial de sua pequena amiga bibliotecária que deu um passo à frente. – Você não é bem vindo aqui!

O homem encarou os dois, fazendo-os se arrepiarem visivelmente. Justo quando outras pessoas começaram a se aproximar, temendo que uma briga começasse ou coisa parecida, foi que ele falou outra vez.

– Quem são vocês, mesmo? – Gajeel arqueou uma sobrancelha, parecendo honestamente confuso.

– Como-? Ora, seu...! – Isso pareceu ter irritado de vez os dois, que deram um passo à frente, ameaçando fazer algo além... Só que não o fizeram. Foi quando a garota antes escondida por trás de ambos deu um passo a frente que Mirajane pôde perceber as mãos pequenas segurando-os por suas camisas.

– Já chega. – Ela falou em alto e bom som, pondo-se à frente deles. Em seguida, encarou o moreno que parecia ter o dobro de sua altura, mãos fechando-se em punhos.

Ele pareceu reconhecê-la quase que imediatamente, relaxando os ombros, rosto sério sendo substituído por um de leve surpresa.

– Você...

– Fico feliz que tenha me reconhecido, Gajeel. – Levy cortou-o com a voz gélida. A Strauss lembrou-se brevemente dos meses em que a pequena não podia nem olhar no rosto dele direito, e sentiu um alívio imenso por ver que ela tinha superado esse trauma. – É claro que você se lembraria de mim, não é mesmo? Afinal, era eu que estava lá no dia em que você fez aquilo.

– Eu não estou aqui para retomar esse assunto, baixinha. – Ele bufou em resposta.

– Não? Então por que veio aqui, então? Para fazer algo pior? – A garota deu um passo à frente, trincando os dentes. - Para me fazer lembrar, é isso?

– Do que você-! Eu nem queria vir aqui para início de conversa, garota! – Ele rebateu, um pouco ofendido com a resposta. – Não foi ideia minha, e sim...

Não importa!– A exclamação dela, mais alta do que todas as suas anteriores, levou a cafeteria toda a fitá-los surpresos.

Mirajane engoliu em seco, dando um passo involuntário em direção da pequena. Podia sentir a raiva de Levy em sua voz, e sabia o quanto o incidente com a biblioteca de anos atrás tinha a afetado. Céus, ela estava lá, vira o estrago – E, se ela estava perdendo o controle, temia que ele também fosse.

E, da última vez que isso acontecera, as consequências tinham sido desastrosas.

Pôde observar pelo canto do olho quando Natsu deu um passo à frente, assim como Gray, na direção dele. Erza já estava bem próxima, encarando ambos com uma feição séria no rosto. Todos estavam preparados para algo completamente oposto do que aconteceu a seguir.

Gajeel não quis revidar. Pelo contrário; ele simplesmente soltou um ‘tsc’, virando-se em direção à porta.

– Vou esperar lá fora, Juvia. – Foi o que disse antes de sair.

Uma mulher de cabelos azuis – longos, que cascateavam como ondas em suas costas – andou rapidamente até a porta em seguida. Ela virou-se para trás, desculpando-se para a McGarden brevemente, antes de sair.

E todos ficaram encarando a porta, perplexos, incertos do que acabara de acontecer.

xxx

Gray estava confuso. E, surpreendentemente, não era pela cena que acabara de se desenrolar na frente de todos. Não, seus problemas recaíam-se muito além disso.

Para resumir em uma palavra: Juvia.

Ele tinha passado a última hora conversando sobre coisas completamente aleatórias com ela, e nunca se sentira tão confortável. Por deus, aquela era sua chefe, a mulher que se declarara para ele! Como podia o fazer se esquecer de tudo, o fazer sentir tão em casa?

Nunca alguém o fizera se sentir desse jeito. Não, depois de sua mãe, pelo menos. Mas ele não havia se apegado a mais ninguém depois daquele fatídico dia de inverno. Então por quê?

Aquela mulher era como água; adentrando pelas suas brechas, enchendo cada canto de seu ser e gradativamente destruindo as barreiras que ele teimara em construir em volta de si mesmo. Mas, ainda assim, ele não conseguia odiá-la por isso.

Era o contrário; e isso é o que o assustava mais.

Além de que Gray não conseguira compreender porque ela tinha seguido aquele ex-delinquente da sala. Eles se conheciam? E, mais que isso, Gajeel e a azulada pareciam até ser bem próximos...

Não tem como eles estarem juntos, idiota. Ela te fala quase todo dia que te ama! Sua mente o lembrou, e o rapaz suspirou. Ainda assim, é estranho.

E... Por que eu estou me preocupando tanto com isso, mesmo?

...Quer saber? Ele precisava é de um pouco de álcool.

O moreno dirigiu-se para o balcão, praguejando mentalmente sobre seus sentimentos confusos. Sentou-se numa das cadeiras, estendendo o braço para a garrafa de whisky posta ao lado de alguns copos de vidro, quando outra mão decidiu ter a mesma ideia de segurá-la.

– Ah, pode colocar primeiro- Espera aí, cabeça flamejante? – Ele quase caiu da cadeira ao ver que a pessoa sentada na cadeira ao seu lado era ninguém menos que seu antigo rival/melhor-amigo/ele-ainda-não-sabia-definir. – Desde quando você bebe?

– E qual o problema disso, floco de neve? – Natsu o encarou de volta, puxando a garrafa para perto de si e despejando o líquido no copo ao seu lado.

Gray piscou umas cinco vezes seguidas e puxou a garrafa de volta. Ainda com o olhar desconfiado, encheu sua dose e tomou um gole.

– Nenhum... Só tenta não cair no chão depois do seu segundo copo.

– Como se eu fosse fraco que nem você! – O outro bufou.

Gray estreitou ou olhos. Ele tinha acabado de achar a distração perfeita para seu problema.

– Você se acha mais resistente que eu, rosinha? – O moreno segurou seu copo com força, inclinando-se para frente com um olhar ameaçador.

– E se eu disser que sim, stripper? – O rosado rebateu, retribuindo o olhar.

Ele queria guerra? Pois bem...

– Então prove.

Então ele teria.

Ambos se encararam por mais alguns segundos, antes de levantarem seus copos, beberem tudo e uma única vez e brigarem pelo controle da garrafa. Uma mão feminina pousou-se sobre a dos dois, e eles levantaram os olhos para a mulher que estava do outro lado da bancada.

– Espera aí, vocês dois! – Ela comentou em um tom divertido, tomando a garrafa e fitando-os com um brilho traiçoeiro nos olhos. – Se vamos fazer uma competição aqui, faremos ela direito.

Gray piscou outra vez, não sabendo como exatamente Cana tinha surgido ali, mas Natsu pareceu animar-se mais com a palavra competição. E ele definitivamente não ia deixar aquele idiota que normalmente não chegava a cinco metros de álcool ganhar dele quando resolvesse beber.

...Ao pensar sobre o acontecido depois, ele provavelmente deveria ter se perguntado por que exatamente o mesmo fizera isso em primeiro lugar. Mas, bom, se ambos precisavam de uma distração no momento, o que poderia dar errado?

xxx

Ela não tinha a mínima ideia de como aquilo fora acontecer.

Lucy não prestara muita atenção em seu melhor amigo durante a festa inteira – ficara quase o tempo todo com Levy depois do acidente, tentando ao mesmo tempo distrair sua amiga e a si mesma – e acabou não notando a pequena confusão perto da bancada.

Isto é, até que um estrondo fosse ouvido no salão e a voz familiar de Cana Alberona ecoasse até chegar a seus ouvidos.

– Hahahaha! Vocês são muito fracos, garotos! – Ela ria sem dó nem piedade dos dois alvos de suas competições habituais de bebida, um deles com a cabeça enterrada no balcão e o outro caído no chão.

E, tudo bem que Gray tinha mania de se meter nesse tipo de coisa de vez em quando, mas... Natsu? O que vivia reclamando que álcool tinha um gosto horrível?

Ah não, e ela pensando que seus problemas já eram grandes o suficiente.

– O que aconteceu aqui? – A loira abriu espaço pelas pessoas que tinham ido ajudar, bem a tempo de ver Jellal levantando o rosado do chão, que falava algo relacionado a picolés de gelo e dominação mundial.

– Desculpa, Lucy, eu tentei parar esses dois, mas... – Ele a lançou um olhar frustrado, e ela suspirou; sabia o quanto aqueles garotos podiam ser insistentes quando queriam.

Seus irresponsáveis! Quem você acha que vai ter que cuidar dos dois agora, hein?! – A dona da loja deu um passo a frente, lançando um olhar mortal para ambos enquanto eles a ignoravam completamente.

– Erza, eu não acho que eles estejam em condições para levar uma bronca... – Levy, que estava a alguns passos de si, comentou com um sorriso sem graça. – O melhor a fazer é levar os dois para casa e deixar isso para amanhã.

– Ela tem razão, melhor ligar para o Lyon vir buscar esse idiota aí. – Lucy comentou, depois olhando para o outro e engolindo em seco. – Bom... E enquanto ao Natsu...

– Eu posso levar vocês até em casa, não se preocupa.

A loira piscou para Mirajane, que sorria para ela.

– Ah, não era isso que eu ia sugerir...

– Mas, Lucy, você sempre cuida dele quando ele fica doente, não é? Eu me lembro das histórias. – A albina insistiu, um olhar um tanto preocupado – e incaracterístico – no rosto. – Não acho que dê para deixar ele em casa nessas condições.

– Bom, sim... – Ela começou, desviando os olhos por um momento para a Strauss mais nova, que tinha ajudado Jellal a sentar Natsu novamente em sua cadeira enquanto ele ainda falava baboseiras.

Mas e quanto a ela? Não é essa a função dela agora?

Lucy, distraída em seus conflitos internos, ficou alheia ao olhar curioso que Mira a direcionou.

– Me desculpe por ter que te tirar da festa tão cedo, Lucy, mas esse parece ser o melhor a fazer. – Foi o momento em que a Scarlet, que acabara por ligar ela mesma para Lyon, resolveu intervir. – Por favor, grite com ele por mim amanhã, certo?

– Eh...!

– Não se preocupa, Lu-chan, eu vou ficar bem. – Levy acrescentou, sorrindo para ela.

Não, vocês estão entendendo tudo errado! Era o que ela queria responder, mas como explicar o motivo de sua suposta briga com seu melhor amigo sem revelar a sua recém-descoberta queda para todos, inclusive a namorada dele?

– Lucyyy, por que aqueles peixes estão voando? – Ela olhou para o lado, vendo Natsu apontar para o nada com os olhos voltados para seu rosto. A garota abriu a boca para dizer algo...

...E suspirou, desistindo.

– Só vamos logo, ok? – Foi o que disse, esfregando uma mão em sua testa.

A loira não deixou de perceber o olhar significativo que Loke a dirigira enquanto ela estava saindo. Mas o que ela podia fazer? Não conseguira sair dessa situação, e amava aquele idiota o suficiente para deixar seus próprios dramas de lado para ajudá-lo.

Era sempre assim, afinal de contas – não importa o que acontecesse, ela estava lá para Natsu.

Agora... Lucy realmente desejava que ele também pudesse estar lá para ela, como antes.

O trajeto até a casa deles foi no mínimo frustrante – isso porque ela tentara ao máximo não fazê-lo vomitar no carro de Mirajane, mas aquele garoto já ficava enjoado em veículos normalmente, e isso só piorava quando ele estava bêbado.

E, entre as várias tentativas de mudá-lo de posição ou responder suas perguntas sem sentido para tentar distraí-lo ao ponto dele não vomitar, Lucy acabara pondo em prática seu famoso plano C: cafuné.

...E funcionara como sempre, claro. O problema era que ela estava no carro da irmã mais velha da suposta nova namorada de seu melhor amigo, e ter ele deitado em seu colo no banco de trás enquanto ficava deixando escapar sons de satisfação não era a melhor maneira de se comportar numa situação como essa.

Ah, deus, acho que eu vou morrer depois disso. A loira engoliu em seco, xingando Natsu mentalmente quando ele enroscou um braço em sua cintura e se aproximou mais de si, rosto virado para sua barriga.

Como ela conseguiria esquecer esse idiota quando ele continuava fazendo essas coisas?

Francamente, Lucy sentia que começaria a chorar de frustração se isso continuasse.

Por isso, foi um alívio e tanto enfim chegar a sua casa – com o bônus de que sim, por um milagre do destino, o banco do carro de Mira estava limpinho – e sair daquela situação, mesmo que Natsu fora incrivelmente insistente em não largar dela no pequeno trajeto até a porta da casa dele.

– Você sabe onde ele deixa as chaves? – Mira perguntou, enquanto a alcançava depois de trancar o carro.

– Ah, não precisa, a Virgo está cuidando da Wendy para mim. – Ela forçou um sorriso – que ficou muito convincente, claro – tocando a campainha em seguida. Não demorou muito, e a empregada de cabelos rosa curtos apareceu na porta.

– Senhorita, chegou mais cedo? – A mulher piscou, notando em seguida o garoto praticamente agarrado aos ombros dela e a albina ao seu lado. – Aconteceu alguma coisa?

– ...É uma longa história, Virgo. Pode ir para casa, também já estou indo. – Lucy suspirou, para depois se lembrar; - Ah, a Wendy já dormiu?

– Sim, mas foi depois das dez horas. – Os olhos de Virgo brilharam de repente. – Devo ser punida por isso?

–Não, Virgo, tá tudo bem. – A garota respondeu, suspirando. Ela nunca pararia com essa mania? – Deixa que eu cuido do resto.

– Tem certeza que vai ficar bem, Lucy? – Mirajane perguntou quando a outra já se dirigira a casa ao lado e acabara de fechar a porta.

– Tenho, Mira. Como você disse, não é a primeira vez que eu cuido desse idiota. – Ela abriu um sorriso sem graça, arrastando Natsu até dentro da casa. – Obrigada pela carona!

– De nada... – A albina respondeu, acenando uma última vez antes que Lucy fechasse a porta.

A Strauss continuou olhando para frente, tentando processar o que havia acontecido. Sim, tinha algo muito estranho acontecendo – Natsu nunca bebia, Lucy nunca recusava ajudá-lo, mesmo que achasse isso irritante, e ela também nunca tinha parecido tão...

Não tem como eu deixar isso como está. Mira suspirou, girando as chaves do carro entre os dedos. Só espero que tudo fique bem com esses dois.

Ela sentou-se no veículo, fechando a porta e encarando a estrada quase vazia da madrugada à sua frente. Uma memória distante flutuou para a superfície de seus pensamentos por um instante. Não era a primeira vez que ela dirigia por uma rua deserta naquela hora.

Das outras vezes, porém, ela não estava sozinha.

– Eu devia saber que ele não viria. - Mirajane suspirou para si mesma, ligando a ignição.

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– Ok, pela última vez, larga esse sabonete! – Lucy exclamou para o garoto que, ainda com o rosto e cabelo molhados, recusava-se a cooperar com ela.

Se a mesma achava que Erza era a pior bêbada que já conhecera na vida, estava muito enganada – absolutamente ninguém se comparava com Natsu. Ele conseguia ser mais brincalhão que de costume, irritante, infantil, e também não falava coisa com coisa.

– Lucy, olha! Bolhas! – Ela suspirou. Pelo menos ele estava feliz com sua pequena descoberta.

– Que legal, Natsu. Agora vamos para a cama, certo? – A loira o puxou pela mão e o conduziu pelo corredor, quase tropeçando em Happy durante o caminho.

E ela podia jurar que aquele felino idiota tinha olhado para ela de um jeito estranho. Não sabia se era só resultado de suas horas em claro de ontem ou a sua habilidade de compreender as ações daquele gato em particular, mas tinha absoluta certeza de que Happy estava zombando da sua cara.

– Sai para lá, gato idiota! – Ela chiou o mais baixo possível para ele, com medo de que acabasse acordando Wendy que dormia tranquilamente a alguns quartos de distância. Por mais que desejava ter acordado a pequena para ajudá-la a cuidar do idiota que carregava no momento, sabia que ela se preocuparia por nada – então preferiu ir silenciosamente até o quarto de Natsu, abrir a porta e entrar com ele lá dentro.

– Ok, agora é hora de ir dormir! – A loira falou enquanto empurrava o garoto pelas costas até sua cama.

– Mas eu não tô com sono! – O garoto reclamou, parando no meio do caminho e fazendo-a ter de empurrá-lo com todas as suas forças em vão na direção da cama.

– Natsu, só deita aí logo! – Ela praguejou, prendendo os pés ao chão e jogando seu peso para frente para ver se adiantava de alguma coisa. Droga, por que você tem que ser mais forte que eu?!

– Não! Nós ainda temos que ganhar do cérebro congelado na competição de derrotar marmotas gigantes! – Ele reclamou, mantendo-se no mesmo lugar e falando com uma voz deveras infantil.

Marmotas...? Para de falar baboseira! – Ela rebateu, sentindo uma veia brotar em sua testa. – Eu não tenho tempo para isso, Natsu! Só deita aí logo e me deixa ir para casa!

A garota piscou, xingando-se mentalmente por ter falado tão alto. Felizmente, não ouviu nada vindo do corredor – então podia assumir que a irmã mais nova de Natsu ainda estava dormindo.

Ela tentou novamente, surpreendendo-se quando conseguiu fazê-lo andar. Então ele finalmente tinha parado com isso, aquele idiota.

Lucy levou-o até a cama, e ele caiu por cima das fronhas sem protestos, olhos fechados e rosto virado em sua direção. A loira parou por um momento, observando-o respirar calmamente, e franziu a testa.

Ele dormiu assim, do nada? A garota cruzou os braços, chegando seu rosto um pouco mais para perto para ver que, sim, ele parecia estar adormecido. Bom, então meu trabalho acabou por aqui.

Ela olhou em volta, para as paredes familiares do quarto do seu melhor amigo de anos. Avistou de soslaio uma foto, e sorriu ao perceber que era da vez em que Natsu a convencera de ir para o parque de diversões que se instalara na cidade, mesmo tendo seu pequeno probleminha com veículos. Acabou que os dois não foram em quase nenhum brinquedo por causa disso – mas aquela ainda tinha sido uma das tardes mais divertidas de sua vida.

Lucy encarou a si mesma, sorrindo alegremente com um dragão de pelúcia nas mãos enquanto era envolvida pelos ombros por um braço de Natsu, que sorria daquele jeito que mostrava os seus caninos pontudos, o deixava com cara de idiota e reduzia as pernas da loira à gelatina.

Eu não vou poder ter mais isso agora, não é? Ela olhou para o rosado novamente com um sorriso triste. A partir daquele momento, todos as idas a parques, encontros aleatórios em cafés, noites de cinema e partidas de videogame não seriam mais com ela. Seria injusto querer passar um tempo com Natsu quando ela sabia que o mesmo estava tão ocupado com seu trabalho; e, se fosse para escolher, ele definitivamente preferiria passar o tempo com sua namorada do que a amiga, certo?

A garota olhou para ele, dormindo tranquilamente em sua cama, e desejou por um momento que tudo pudesse ser como era antes.

Mas isso seria egoísta, e Natsu poderia passar o tempo com quem bem entendesse. Eu não tenho o direito de mudar isso.

Lucy engoliu em seco, olhando novamente para o rosto sereno do garoto e tentando memorizar por uma última vez desde a curva de sua bochecha até a cicatriz parcialmente visível em seu pescoço. Com um último suspiro, ela se virou.

Porém, uma mão a impediu de ir embora.

– Não vai... – A voz do garoto soou baixinha, quase como um murmúrio. – Lucy...

A loira comprimiu os lábios. Que ironiajusto quando ela estava prestes a deixá-lo ir, outra vez ele a impedira. Ela não queria ir embora; droga, o que mais queria nesse momento era deitar ao lado dele e dormir, como sempre faziam quase todas as noites que ele passava em sua casa.

– Me larga, Natsu. – Ela pediu num tom vacilante. – Amanhã conversamos, ok?

Eu não posso mais fazer isso, por favor.

Silêncio. Ela permaneceu quieta, esperando, até que a mão que segurava seu braço a soltou.

A garota tomou um passo para frente só para ser puxada outra vez, perdendo o equilíbrio e caindo para trás.

Acontecera tudo muito rápido. Lucy podia sentir o colchão fofo em suas costas, assim como o cheiro leve da colônia que seu amigo de infância usava de vez em quando – mas nada se comparava aos olhos penetrantes que a encaravam a poucos centímetros de distância.

– Por que você tá assim? – Ele perguntou com a voz carregada de angústia, respiração fazendo cócegas no rosto da loira. – Você tinha me desculpado por ontem, então por que você me ignorou a festa inteira?

– N-natsu! – Ela arregalou os olhos. Se não fosse pelo bafo leve de álcool, a garota teria certeza de que o garoto estava sóbrio. Então ele tinha percebido?

Isso não importa agora, sua mente a lembrou. A garota estava prensada contra ele em sua cama, e, para piorar, seu melhor amigo estava bêbado. A situação exclamava perigo, e a mesma tinha de fazer alguma coisa antes que ele percebesse o quão forte seu coração estava batendo contra seu peito.

– Eu não suporto ficar longe de você, Lucy. – Ele murmurou, olhos se estreitando. O rosto dela passou de vermelho a escarlate, e a garota tentou empurrá-lo com seus braços trêmulos.

Sua boca estava prestes a pedi-lo para parar, para deixá-la ir, para deter suas esperanças de crescerem quando elas já deviam estar mortas... Quando foi impedida por outra que colidiu desesperadamente com a sua.

A loira arregalou os olhos, mal registrando a situação antes que braços fortes viessem a envolver pela cintura, puxando-a mais para perto do corpo que a prensava contra a superfície macia da cama. Os lábios dele eram quentes e moviam-se com urgência sobre os dela, tirando todo o ar de seus pulmões e borrando os pensamentos lógicos que um dia residiam em sua cabeça.

As faíscas que antes dançavam por sua pele tinham evoluído para chamas ardentes, espalhando calor por toda a extensão de seu corpo. A garota envolveu-o pelo pescoço com um dos braços, afundando uma das mãos em seu cabelo macio e inclinando seu rosto na posição perfeita para aproximar-se ainda mais, e o grunhido que vibrou na garganta dele em resposta pareceu acordar um desejo repentino de um lugar obscuro de dentro de si mesma.

Lucy arfou quando uma língua abriu passagem por entre seus lábios, e respondeu em seguida com o mesmo fervor, parecendo encorajar Natsu a despejar seu corpo por cima do dela, uma das mãos subindo para segurá-la pelo rosto. Isso não era bastante, ela queria mais – não importa o que aquilo poderia implicar no momento. Ela soltou um gemido baixo quando sentiu uma mão quente escapulir para dentro de sua blusa, e foi aí que sua língua finalmente captou o gosto de álcool na boca dele.

Uma sensação desagradável alojou-se dolorosamente em seu estômago. Ele estava bêbado, não sabia o que estava acontecendo, e ela tinha acabado de se aproveitar de seu melhor amigo.

Ela empurrou-o com força para o lado, levantando da cama num pulo e murmurando que “era melhor ele dormir”, antes de disparar para fora do quarto sem olhar para trás.

Lucy correu, quase tropeçando em Happy durante o trajeto – aquele gato estúpido estava fazendo aquilo de propósito, só podia ser – e acabou trombando com Wendy no final do corredor.

– Eh... Lucy-san? – A garota tinha os olhos ainda nebulosos de sono, vestida em seu pijama com estampa de asinhas. – Aconteceu alguma coisa? Eu ouvi barulhos, e...

– Ah... Não, W-wendy... – Ela sorriu, voz fraca. – Não acorde o Natsu até amanhã, ok? Ele acabou bebendo demais, e... – A garota engoliu em seco, - E-enfim, boa noite!

– Ah, espera...!

Ela não esperou mais nenhum segundo sequer para sair dali, correndo até sua casa e subindo as escadas antes que Virgo pudesse dizer alguma coisa. Lucy fechou a porta com um estrondo, deslizando nela com as costas até atingir o chão.

A garota colou uma das mãos sobre os lábios, reproduzindo as cenas novamente em sua cabeça. Não conseguia entender o que tinha acontecido; Natsu parecia tão sóbrio falando com ela, tão desesperado a beijando, que ela esquecera completamente que ele estava bêbado e, para variar, comprometido.

Mas... Será mesmo que ele não sabia o que estava fazendo? Pois parecia ser exatamente o contrário... A memória do corpo quente dele sobre o dela voltou à sua mente, e a garota afundou a cabeça nos joelhos, rosto e orelhas pincelados de vermelho. Argh, não faz sentido! Nada mais faz sentido!

– E agora? – Ela murmurou para o vazio do quarto, sentindo lágrimas de frustração brotarem pelo canto dos olhos. Como ela o encararia amanhã? O que diria para ele?

Lucy temia que ele a odiasse; ou pior, que se afastasse dela. Mas, depois do que tinham feito, seria mesmo possível voltar para o que eram antes? A resposta, por menos que ela quisesse admitir, não era positiva.

Ela tinha sido uma egoísta - e, tão envolta no calor do momento, acabara de fazer o que provavelmente viria a ser a maior idiotice de toda a sua vida.

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Levy não conseguia conter sua animação, saltitando pela sua casa atrás da bolsa e das chaves. Era hoje! Eles finalmente se encontrariam pessoalmente!

Ok, respira. Fica calma. A azulada parou, inspirando profundamente e expirando em seguida. Tinha sonhado com esse momento pela semana inteirinha, e até o desastre que havia sido ontem não estragara sua animação para o primeiro encontro com metal.

Será que ele vai gostar da minha roupa? Ela se encarou na frente do espelho alto de seu quarto, girando o corpo para o lado e observando o vestido listrado de branco e rosa acinzentado balançar levemente com o movimento.

Ela suspirou, ajeitando a alcinha cinza que teimava em cair de seus ombros. Aquele era um dos vestidos mais bonitos que tinha, então era melhor que ele gostasse, oras!

Partindo até a escrivaninha para pegar sua faixa rosa clarinha, olhou uma última vez para o computador, onde acabara de se despedir do garoto misterioso. Tinham combinado de usar faixas para se reconhecerem – ela, uma rosa; ele, uma vermelha. A garota sorriu para o espelho depois de acertar o acessório, finalmente achando sua bolsa e praticamente correndo de sua casa.

Levy queria encontrá-lo o quanto antes. Algo dentro de si mesma lhe dizia que aquele homem faria sua vida mudar por inteiro...

Tão presa a suas fantasias do encontro perfeito, ela não percebeu o que estava por vir até que, quando já chegara ao ponto de encontro e sentara-se numa das mesinhas ao ar livre do pequeno café, ouviu uma voz familiar pronunciando seu nome.

Você é a fairy?

Levy olhou para cima, e arregalou os olhos.

O homem que encarava no momento não era ninguém menos que a última pessoa que ela pensou encontrar naquela tarde de domingo.

Gajeel?


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Notas finais do capítulo

Muahaha. Muahahahahha. MUAHAHAHAHAHAHA-

AHEM. Ok, parei. Gente do céu, vocês não imaginam o quão divertido foi escrever essa última parte!!! (divertido nada, eu quase morro escrevendo cena de pegação, mdeus) E, é, eu vou fazer vocês esperarem o próximo capítulo para ver o ""encontro"" do Gajeel e da Levy. Que virá depois do extra. (uvu)

Falando no extra, vamos aos resultados! Com uma vitória esmagadora de 20 VOTOS, declaro a opção 1: Como o Jellal pediu a mão da Erza a ganhadora!!! Pode deixar gente, eu vou sim falar dos outros acontecimentos no recorrer da fic... Só que nesse eu vou botar mais detalhes, hehehe~ (≖‿≖)

Enfim gente, até mais! Eu prometo que não desistirei dessa fic!!! (owó)/

ps. Quem adivinhar de qual desenho da Rboz a roupa da Levy é ganha um biscoito.