Eve ficou ali esperando a aparição de Thor. Ela sabia, ou melhor, sentia que ele estaria ali em alguns segundos. Só esperava que ele não chamasse muita atenção. Ela resolveu não beber mais. Estava quase bêbada, mas devido à genética de seu pai, em menos de duas horas ela estaria totalmente sóbria mais uma vez.

Ela ficou observando o povo que dançava na pista. Estava sentada no banco em frente ao balcão. Tentava pensar no que falar para Thor. Sabia que ele iria ficar irritado, ele tinha algumas razões. Mas ela também tinha as razões dela. Isso não poderia ficar pior. Ela odiava ter que discutir com ele.

A ruiva ficou em devaneio pensando em várias coisas que não a interessavam. Queria fugir um pouco dali. Nem ouvia mais a música que tocava no lugar. Parecia não estar mais ali. Ela não via mais nada ao seu redor. Apenas pensando sobre o que deveria fazer. Podia sentir-se ficar sóbria aos poucos mais uma vez.

Eve foi tirada de seus pensamentos assim que sentiu uma forte presença ao seu lado. Ela piscou algumas vezes e começou a ouvir a música daquele lugar voltar em sua mente. Olhou para o lado e se arrependeu por um segundo. Viu um Thor nem um pouco alegre com aquilo. Sentiu medo de as coisas darem errada aquela noite. A última vez que o viu foi há cinco dias trás. Muito tempo para ela. Parecia mais cinco meses. Ele olhou para ela, quieto. Mas Eve conseguia ver em seus olhos o quanto ele queria falar ou gritar com ela. Porém, ela não tinha culpa. Ela não se sentia culpada por nada daquilo. Isso parecia errado?

- Pode me dizer o que está fazendo aqui?

A voz de Thor era como seus trovões. Eve tinha certo medo daquela expressão dele. Ela sabia que aquilo era ruim. A ruiva procurou manter sua calma. Olhou para ele de uma forma serena. O que o fazia ficar mais furioso com tudo aquilo.

- Me divertindo. E você, o que faz aqui?

Eve falou da forma mais normal o possível. Thor se colocou na frente dela. Ela conseguia ver a raiva dele transbordar. Mas sabia que ele não queria falar nada porque sabia que ela tinha sempre resposta para tudo, e todas sempre eram verdades.

- É assim que você me espera? Festejando com outros humanos?

Eve se sentiu ofendida com aquilo. Ela não estava fazendo nada. A ruiva se levantou do banco e ficou na frente de Thor com uma cara séria.

- Você quer que eu me tranque em casa e fique lamentando porque você não está aqui? Desculpe, mas eu não vou fazer isso! E para a sua informação, não encostei em ninguém desse lugar.

Eve saiu andando e deixou Thor paralisado ali pensando no que ela havia falado. A ruiva sentia ódio agora. Sentia ódio de si mesma. Ela não deveria ter ficado quieta, mas não aguentava ver Thor indo para Asgard sem dizer nada. Era doloroso aquilo. Ela se sentia desprotegida aqui na terra. Isso chegava a ser engraçado porque ela vivia rodeada pelos vingadores. Mas Thor, apenas seu Thor ia para Asgard e a deixava sozinha. Ela precisava dele para se manter. Segundo ela, toda sua vida dependia de Thor. Não sabia, não resistiria viver sem ele.

Ela andava entre o povo. Estava quase cega pela raiva e a tristeza que agora batia em seu peito. Perdeu a vontade de ficar ali, queria ir para sua casa e ficar lá por alguns dias, trancada. Eve passou por uma mesa onde pessoas estavam jogando cartas. Logo viu sua mãe ali no meio. Ignorando algumas pessoas, ela foi até sua mãe que já parecia sóbria também. Tasha olhou para sua filha e viu que ela não estava com uma cara muito boa. Eve resolveu não encarar sua mãe. Pois sabia que ela iria conseguir arrancar algo de sua expressão.

- Mãe, irei para a casa. Divirta-se e cuide de Pep para mim.

Eve saiu daquela mesa de jogos antes que Tasha pudesse dizer algo. Ela sabia que tinha acontecido algo, e sabia que sua filha iria contar para ela amanhã. Eve praticamente correu até a saída daquele lugar. Procurou por Pepper por ali, mas não a encontrou. Rezou para que ela estivesse bem. Mas sabia que ela sabe se cuidar muito bem, afinal, ela é a mais responsável do grupo.

A ruiva se viu na calçada da rua. Viu o carro de Happy ali esperando. Porém ela não iria pegar o carro. Resolveu ir andando para casa. Ela não sabia que horas eram, porém não estava tão tarde assim. Não passava das 0h00m. Porém as ruas já estavam bem vazias. Eve não se preocupava com aquilo. A única coisa que ela tinha com ela era sua carteira que estava no seu bolso, e seu celular também. Ela se sentiu um pouco cansada. Sentia seu corpo pesado. Mas mesmo assim segui até seu apartamento. Levaria mais ou menos uma hora para chegar lá. Uma hora andando pelas ruas escuras.

Quarenta minutos depois ela conseguiu avistar seu edifício. Agradeceu mentalmente por aquilo. Ela já havia arrancado seu salto alto há muito tempo atrás. O carregava em sua mão. Quando chegou na porta, esperou o porteiro abrir para ela. Eve entrou em silêncio sem nem olhar para a cara dele. A segunda porta logo se abriu e ela foi em direção ao elevador. Parecia uma sonâmbula. Ela não pensava. Era praticamente isso.

Esperou o elevador chegar ao seu andar e assim saiu dele. Foi até sua porta e ficou olhando por alguns segundos para ela. Então ela percebeu que faltava uma coisa.

- Você só pode estar de brincadeira comigo!

Eve disse olhando para o teto. A ruiva se encostou à porta e começou a bater sua cabeça levemente nela como se fosse uma louca. Ela não acreditava que havia deixado às chaves em seu carro, que estava na mansão Stark. Isso só poderia ser um pesadelo. Ela não tinha força de ninguém aquele momento. Pelo contrário, nem sua própria força estava boa. Ela estava realmente fraca. Depois de alguns segundos batendo sua cabeça ela percebeu que aquilo não a iria levar a lugar nenhum. Ela se virou deixando seu corpo encostado na porta e foi caindo lentamente no chão. Ficou sentada ali na sua porta olhando para seus próprios pés com sua sandália ao seu lado.

Não era uma boa maneira de vê-la. O que ela queria sinceramente fazer era dar um chute na porta e quebra-la. Porém ela não tinha forças. Também, se ela tivesse forças agora, estaria quebrando esse prédio inteiro com a raiva que ela tinha. Eve ficou ali por alguns minutos se recuperando da caminhada que fez. De 100% do que ela pensava agora, 110% era Thor. E ela odiava isso. Ela queria gritar seu nome. Queria chorar agora. Era uma emoção forte. Talvez fosse o desespero de perdê-lo. O desespero de pensar no pior. O que ele estava fazendo agora? É claro que ela estava pensando que ele poderia estar com outra mulher afogando suas mágoas que ela causou. Aquilo era como o inferno dela.

Ela queria dizer seu nome, iria se rebaixar por isso. Sim, ela era orgulhosa. Queria que ele pedisse desculpas, mas não aguentava aquilo. No final ele sempre ganhava, pois ela não era tão forte ao lado dele. É como se de alguma forma seu poder fizesse um efeito ao contrário. E toda a força dela passava para ele, apenas com aquele toque. Ela queria abraça-lo agora. Queria sentir seu cheiro. Queria sentir o sabor de seus lábios. Aquele sabor que ela não provava há cinco dias. E aquilo a matava por dentro cada vez mais.

A ruiva fechou os olhos e sorriu pensando no beijo doce dele. Ela sabia ali, que se ela dissesse o nome dele, o Deus iria aparecer. Pois ele era não apenas um Deus, mas seu Deus. E se ela sussurrasse seu nome, ele saberia onde ela estaria e sentiria o quanto ela precisa dele nesse momento.

Eve abriu os olhos e se viu de novo naquele chão frio. Sentia-se sozinha e desprotegida. Ela precisava dele. A ruiva suspirou fundo contendo aquelas lágrimas de raiva. Raiva de si mesmo. Sentia sua pálpebra pesar. Estava cansada demais.

- Thor...

Ela sussurrou o nome dele. E em resposta, segundos depois se assustou com um grande trovão lá fora. Sorriu sozinha sabendo que ele viria. Ela fechou os olhos mais uma vez e permaneceu ali sonolenta pensando em sua vida. A ruiva ficou ali sem perceber os minutos se passarem. Logo teve a sensação de alguém perto dela. Mesmo assim ela não abriu seus olhos. Segundos depois ela sentiu aquele perfume. Ele estava ali. Ela sentiu as mãos quentes dele tocarem seu rosto. Ela suspirou fundo e abriu os olhos dando de cara com um Thor meio confuso e preocupado.

- Você está bem?

A voz dele saiu como um sussurro. Ela pode entender, mas não queria responder. Eve apenas se aproximou o bastante para seus lábios se encostarem ao dele. No começo foi apenas lábios selados. Mas Thor não aguentava mais esconder que sentia falta daquele beijo. Ele aprofundou aquele beijo de uma maneira que apenas os dois entendiam. Longos segundos depois, eles separaram seus lábios. Eve sentiu-se protegida por ele naquele momento. Era como se seu mundo estivesse completo.

- Não fique longe de mim, Thor. Eu não aguento isso.