Charlie olhava para o relógio implorando para que aqueles quinze minutos restantes passassem voando. Mas parecia que os ponteiros ignoravam totalmente os seus pedidos.

A menina tentou voltar a se concentrar naquilo que até então estivera fazendo, mas o que era mesmo? Ah! A garota se lembrou, era algum exercício entediante de matemática.

Ela abaixou a cabeça e se concentrou na folha que estava a sua frente. Foi em vão. Ela mal conseguia ler o que o problema pedia sem que sua mente voltasse a se concentrar no motivo que a levara até ali: a sala de detenção do colégio.

Se Charlie havia feito algo de errado que merecesse estar ali? Não na sua concepção.

O que ela tinha feito de mais? Nada! Absolutamente nada.

A menina tentou recapitular tudo o que havia feito até ali, com o único objetivo de passar o tempo.

A quinta-feira começara normal. Ela havia acordado, se arrumado e tomado café como qualquer outro dia da sua vida cotidiana.

Ela tivera que conversar com as meninas, segurar vela para Liam e Olivia, que desde a reconciliação de segunda feira não se desgrudavam mais, e além do mais teve que lidar com os olhares de súplica constantes que Harry lhe lançava, sempre com o mesmo recado: quando ela iria assumir o namoro?

Se Charlie apenas soubesse...Mas ela não sabia, realmente não sabia.

O olhar de Charlie se dirigiu novamente para o relógio. Dez minutos, ainda havia tempo suficiente para continuar com seus devaneios.

O que a trouxera até ali, acontecera depois do intervalo.

Foi na aula de física, ou seria química? Provavelmente fora física, já que tinha o professor mais chato de todos.

A questão era que Charlie estava numa conversa muito importantíssima com Sophie acerca do vestido que usaria amanhã (se é que isso poderia ser considerado importante), quando o professor a interrompeu e lhe fez uma pergunta que ela não soube responder.

Resultado: detenção!

Charlie rabiscavam o canto da página com todas as palavras insultuosas que naquele momento queria dizer ao tal professor. Seus pensamentos continuavam a vagar enquanto fazia isso.

Será que Harry viria lhe buscar? Ela pensava. O menino havia dito que sim, então ela esperava ansiosamente pela sua chegada.

A situação dos dois era, até onde se podia dizer, estável.

Harry não tocava mais no assunto namoro, apesar de Charlie saber do seu real desejo, e também pelo fato de Harry, a cada comentário, gesto, demonstrar o que realmente queria.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo soar da campa. A menina arrumou suas coisas e se levantou. Estava na hora de ir, estava na hora de se encontrar com Harry.

***

Harry acabara de estacionar o carro do outro lado da rua, quando a campa tocou.Sorte a dele, já que ele não planejava esperar por muito tempo.

Alguns minutos depois, pode ver Charlie saindo do colégio com os livros nos braços. Harry acenou para ela tentando fazer com que a menina pudesse enxergá-lo. Mas ela não o estava notando.

Tinha outra pessoa tirando a sua atenção. Outra pessoa que Harry não fazia a mínima ideia de quem poderia ser.

***

Charlie parou assim que Will apareceu na sua frente. O que o garoto estava fazendo ali?

-Posso conversar com você um minutinho?- ele perguntou para ela.

Charlie olhou para os lados procurando enxergar o carro preto da mãe de Harry, onde o menino deveria vir buscá-la, mas ela não viu nada.

Tornou a encarar Will. Ele estava diferente ou era impressão dela?

Não, não era impressão sua.

Will estava mudado. O cabelo castanho estava mais comprido e parte dele caía sobre o rosto do garoto como se fosse uma franja. Os olhos estavam com um brilho a mais, assim como o sorriso. Ele parecia realmente muito feliz em vê-la.

A camisa preta estava com os últimos dois botões de cima abertos, sem abotoarem, o que deixava uma parte do seu peito a mostra, deixando que se pudesse ver o quando sua pele era branca, ou melhor, mas que branca quase translúcida.

Ele estava bonito, essa era verdade. Muito mais bonito do que a primeira vez que o viu na
sala de aula. O rosado das bochechas era encantador, e mesmo não sendo as maravilhosas covinhas do Harry, produziu um efeito parecido. Efeito que a menina não queria ter sentido e até se arrependeu com isso.

Mas não tinha com que se preocupar. Apesar de tudo isso, Will nunca substituiria o lugar de Harry no coração da garota. Ela estava convencida de que nada poderia mudar esse fato, mas nada mesmo.

-Claro- respondeu sorrindo. A única coisa que queria de Will era a amizade, isso era o que realmente esperava conseguir.

-Não é nada muito importante- ele começou colocando as mãos nos bolsos meio envergonhado- Eu só queria lhe entregar isso.

E estendeu a mão onde seu celular estava.

Charlie demorou um tempo para se lembrar de que havia perdido o celular há muito tempo. Tanto tempo que ela nem se lembrava dele.

-Obrigada- disse pegando o celular.

Quando a sua pele tocou a dele, pode sentir um calafrio percorrendo ambos os corpos, mas a menina negou qualquer outra explicação que não fosse a do vento frio que passara por eles naquele exato momento.

-Mas é que...- Charlie riu- Eu já até comprei outro, pensei que esse estivesse perdido para sempre.

-E ele estava- Will não tirava as mãos de onde havia colocado- Michael o achou na casa dele ontem, e pediu para que eu lhe entregasse. Depois de tanto tempo, eu já imaginava que você tivesse com um novo, mas o celular é teu e é meu dever entregá-lo a você.

-Claro que sim!- falou a menina- Preparado para a grande final de amanhã?

Charlie se referia a final da competição. Finalmente, sobravam apenas três bandas daquelas onze que iniciaram a competição. Amanhã era o dia decisivo para elas, seria o dia que descobririam quem iria cantar no tão esperado Baile de Primavera.

Todos apostavam no One Direction, e até mesmo Charlie fazia essa aposta. Além deles, tinha a Never Mind e a Jail, nenhuma das duas bandas, na concepção de Charlie, poderia ganhar dos seus meninos, nenhuma iria ganhar do One Direction.

-É, digamos que sim.

-Boa sorte!- ela falou enquanto começava a se afastar.

Mas o que era para ser um distanciamento acabou se transformando em outra coisa.

Antes que pudesse se dar conta do que havia acontecido, Charlie já estava nos braços de Will e com todos os seus livros espalhados pelo gramado da escola ao redor dos dois.

O que acontecera era que Will havia puxado a menina por um dos seus braços, e agora
segurava a sua cintura impedindo que ela saísse dali. Seu segundo movimento, que Charlie já havia imaginado, foi o de selar os lábios dos dois em um beijo. Um beijo que por sinal, só um deles estava aproveitando, e nesse caso, era Will.

Charlie estava pensando em duas coisas enquanto era beijada quase que a força: uma era na sua estupidez de imaginar que Will quisesse nada além do que amizade com ela, e a outra era no que aconteceria se Harry chegasse naquele momento. Poderíamos dizer que existia um terceiro pensamento, mas esse não era bem um pensamento, era um plano de ação que consistia em sair dali o mais rápido possível.

Mas não precisava ter pressa, Harry já havia visto tudo.

E foi com muita raiva e ódio, que o menino deu a partida no carro e saiu cantando pneu.

Sem que Charlie pudesse notar que um dia estivera ali.